Padre que venceu as drogas perdeu pra COVID

“O crack foi a devastação da minha vida e da minha família. O que eu procurei desde os 11 anos de idade nas drogas, encontrei em Deus”

Ex-usuário de drogas que se converteu a Cristo e passou a ajudar os dependentes químicos e moradores de rua na maior metrópole do Brasil, o pe. Gilson Frank dos Reis, de 45 anos de idade e 4 de sacerdócio, morreu de covid-19 no último sábado, 21 de agosto.

O sacerdote da arquidiocese de São Paulo conhecia em primeira pessoa a dura realidade das pessoas a quem servia mais diretamente. Durante mais de uma década, em sua juventude, antes de se tornar padre, ele próprio viveu no submundo das drogas. Fumou seu primeiro cigarro aos 11 anos, depois da separação dos pais, e, ao longo da adolescência, passou a consumir maconha, cocaína e crack.

“O crack foi a devastação da minha vida e da minha família. Eu roubava coisas de casa, morei na rua, na Cracolândia, até que um dia alguém passou, bateu nas minhas costas e falou: ‘Olha, Jesus te ama’. Foi quando tive força de me levantar e procurar ajuda”.

Em 1998, Gilson passou 9 meses numa clínica de recuperação de dependentes químicos no Rio Grande do Sul. De volta a São Paulo, conseguiu emprego, ficou noivo e começou a frequentar a Igreja. Fez parte dos fundadores de um grupo que ajudava outros jovens a vencerem o vício em drogas.

Foi nesse contexto que Gilson conheceu o pe. Gianpietro Carraro, que viria a fundar em 2005 a Missão Belém, uma associação de fiéis que realiza o seu trabalho pastoral principalmente junto à população em situação de rua e com dependência química. Gilson foi percorrendo um processo de discernimento vocacional que o levou à decisão de se tornar missionário.

“Entendi que aquilo que eu procurei desde os meus 11 anos de idade nas drogas, encontrei somente em Deus”.

Padre ex-usuário de drogas

Quando dava seus depoimentos, Gilson costumava contar, naquela época:

“Deus está tirando um homem que era da Cracolândia e levando para trás do altar para ser padre”.

Ele queria “enfatizar que não somos diferentes”: se essa mudança tinha acontecido na sua vida, então “outros irmãos podem conseguir, porque um homem que tem objetivo chega aonde Deus quer”.

Em suas declarações ao jornal O São Paulo, da arquidiocese paulistana, Gilson afirmou:

“Tenho um desejo no coração de ser o sacerdote dos pobres, mostrar com a minha vida aquilo que Deus fez”.

De fato, Gilson recebeu a ordenação sacerdotal em 3 de dezembro de 2016. Foi um dos primeiros membros da Missão Belém.

Neste fim de semana, a comunidade teve uma dolorosa notícia a comunicar ao público:

“É com o coração apertado que comunicamos que nosso querido e amado Pe. Gilson Franklin dos Reis veio a falecer”.

O sacerdote estava internado havia algumas semanas, contaminado pela covid-19. Ele faleceu em decorrência da doença.

No domingo passado, 22 de agosto, a Missa de corpo presente do pe. Gilson foi celebrada na capela Nossa Senhora Aparecida, no bairro paulistano do Brás. Antes da celebração, o pe. Gianpietro Carraro testemunhou:

“O pe. Gilson tem um percurso que é o emblema da Missão Belém. Conheceu a vida de rua, dos vícios, mas encontrou a Deus e um dia se ajoelhou, se prostrou e pediu a Deus que entrasse na vida dele. Deus entrou e fez um padre. Portanto, o pe. Gilson é o símbolo da Missão Belém, o que Deus faz quando a gente se abre”.

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