Somos os braços de Cristo (EFC)
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Mateus 9,32-38
“Cristo não tem atualmente sobre a terra nenhum outro corpo senão o teu. Não tem outras mãos senão as tuas. Não tem outros pés senão os teus. Tu és os olhos com os quais a compaixão de Cristo deve olhar o mundo. Tu és os pés com os quais Ele deve ir fazendo o bem. Tu és as mãos com os quais Ele deve abençoar os homens de hoje.” (Santa Tereza d’Ávila)
UM BOM PASTOR, MISSIONÁRIO DA MISERICÓRDIA.
“Ao ver a multidão, sentiu compaixão, porque estavam como ovelhas sem pastor”
Após narrar o 9º milagre, a cura de dois cegos (9,27-31), Mateus nos leva ao cume das manifestações do poder do Reino com o décimo milagre (9,32-33), resumo de sua atividade em favor do povo necessitado, onde brilha seu coração de pastor (9,35-36) e com o convite final aos discípulos para que peçam operários para a messe (9,37-38). Abre-se, assim, o espaço para a missão dos discípulos.
- O cume dos milagres: a cura de um endemoninhado mudo (9,32-33)
Chama a atenção a curta narração. Na frase “Começou o mudo a falar” (9,33a) se diz as palavras precisas para descrever o ponto culminante dos milagres realizados pela fé, depois das duas mulheres e os dois cegos, no qual a fé tem “voz”. Agora, a ação do maligno é incapacitar para proclamar a fé. A inclusão de relatos vocacionais em lugares estratégicos da narração nos leva a notar que Jesus, não só dá forças para caminhar, como no caso do paralítico perdoado e curado, mas, também, dá voz para proclamar a fé: os dois elementos são componentes essenciais do seguimento de Jesus.
Ante o milagre as opiniões se dividem. Há duas vozes, as que proclamam a fé e as que a negam:
- As que proclamam a fé: do povo – o novo Israel que vai se formando ao redor da prática de misericórdia de Jesus. Proclama, com admiração, uma afirmação muito próxima à confissão de fé: “Jamais se viu coisa igual em Israel”. Reconhecem a novidade absoluta da obra salvífica de Jesus;
- As que a negam: dos fariseus – sempre expressando sua resistência frente à novidade do Reino, permanecendo em seu rigorismo legal, fazem um diagnóstico religioso completamente errado da pessoa de Jesus: “Pelo Príncipe dos demônios expulsa os demônios”. Fecham-se ante a evidência dos sinais de Deus e preferem pensar que, por trás de Jesus, está agindo uma força maligna.
Estas duas reações polarizadas que soam como dois coros – e chama a atenção o fato de que não há meios termos – recolhem bem o impacto que tem a obra de Jesus com os marginalizados; estas continuarão, inclusive, a propósito da missão dos apóstolos, que está por começar.
- A atividade de Jesus, missionário da misericórdia, se multiplica:
Os dez milagres narrados não ficam em casos isolados, mas se multiplicam; sua função era descrever a constante da missão de Jesus em seu empenho por reunir o novo povo de Deus. O resumo de Mt 9,35 recorda qual é o tema central da missão: a Boa Nova do Reino anunciado com palavras e ações poderosas que promovam a vida. Seu marco geográfico: “Todas as cidades e aldeias”.
Mas, aparece também num quadro-resumo, o sujeito da missão. Emerge ante nosso olhar surpreso de leitor o panorama trágico que sacode as entranhas de Jesus: “Sentiu compaixão” (9,36b). Que estava impregnado na retina de Jesus? Uma multidão “ferida” e “desamparada”, uma imensidão de feridos espalhados num campo de batalha, sem assistência. Jesus percebe a gravidade da situação.
Jesus se apresenta como um bom pastor que “vê”, “sente compaixão” e empreende uma ação: o envio de missionários. A tarefa é reunir, curar e reconduzir o povo de Deus disperso pela inércia de seus líderes. Estes, levados por uma visão rígida da Lei, eram os verdadeiros causadores do mal estado em que se encontrava o povo de Deus, já que estes praticavam injustiças, roubavam o que era de todos, inclusive suas consciências de filhos de Deus.
Urge a missão profética e restauradora que anuncia a “justiça do Reino”, proclamada no Sermão da Montanha, com os critérios da misericórdia que acompanharam os milagres Jesus.
- A oração pela missão (9,37-38):
Os discípulos passam agora ao primeiro plano: Jesus necessita de seus braços. Para isso primeiro os convida a orar “ao dono da messe (o Pai) para que envie obreiros à sua messe” (9,37). Logo os enviados sairão destes mesmos orantes. A missão amadurece primeiro no coração orante.
Ver como os discípulos vão, aos poucos, tomando maior espaço. Justo após os três primeiros milagres vem o chamado “Segue-me”(8,22), e igual após os três milagres seguintes(9,9). Respondendo, eles, ao chamado, Jesus, não só os faz pessoas novas (9,16-17), mas também participar estreitamente em sua missão. Do “seguimento” passa-se ao “envio”. Mas a verdadeira raiz da evangelização dos discípulos será anunciada em Ez 34 e Zc 13,7-9: serão missionários da misericórdia.