Anunciação do Senhor (EFC)

Lucas 1,26-38

MARIA É CHAMADA PARA SER A MÃE DO SENHOR

O anjo lhe disse: “Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus; Eis que conceberás e darás a luz um filho, a quem porás por nome Jesus”

O personagem central do relato de hoje é Maria. Sua vocação para ser a mãe do Messias é única, mas permanece como o modelo para cada um de nós que estamos chamados a “encarnar o Verbo” em nossa vida cotidiana.

O relato inicia situando-nos no tempo (seis meses após da concepção de João) e no espaço (Nazaré, cidade da Galileia). Logo nos apresenta o personagem central, Maria, e nos dá algumas informações sobre ela (seu casamento com José, da descendência de Davi, e sua virgindade). Com todos estes dados iniciais, o relato se concentra na narração do chamado que Deus, por meio do Anjo Gabriel, faz a Maria para cooperar no plano de Deus:

  1. Experiência de fundo sobre a qual se apóia o chamado que o Senhor faz a Maria (1,28-29)

O primeiro que destaca o relato é que a vocação de Maria se apóia na ação de Deus. Em cada uma das três palavras da saudação do Anjo (“Alegra-te”, “cheia de graça”, “o Senhor está contigo”) encontramos um conteúdo profundo no qual se delineia o que Deus faz nela (ver 1,28):

  • A alegria: “Alegra-te!”- O anjo antecipa a Maria: (a) que o anúncio será para ela motivo de imensa alegria; (b) que a palavra do Senhor vai tocar o mais íntimo de seu ser; e (c) que sua reação, ao final, não poderá ser outra que a exultação. É de notar que a alegria de Maria não é imediata, mas que inicia, a partir de agora, um caminho interior que culmina no canto feliz do “Magníficat”: “meu espírito se alegra em Deus meu salvador” (1,47). Pode-se dizer que a alegria caracteriza uma autêntica vocação.
  • A plenitude da graça divina: “És plena de graça!”: Este é o motivo da alegria, Deus lhe faz conhecer a imensidade de seu amor predileto por ela, como tem posto seus olhos nela, cumulando-a de seu favor e de sua complacência. Seu amor é definitivo e irrevogável. Esta afirmação é tão importante que e anjo a vai a repetir em 1,30. A confiança que se necessita para poder responder ao Senhor quando nos chama vem da certeza de seu amor.
  • A ajuda fiel de Deus: “O Senhor está contigo!”: Porque Deus ama intimamente a Maria, se põe a seu lado e se compromete a ajudá-la de modo concreto em sua missão. Deus fez esta promessa também aos grandes vocacionados da Bíblia (Jacó, Moisés, Josué, Gedeão, Davi, Jeremias…).

O que se anuncia em Lc 1,28 se realiza em 1,35, onde se diz como Deus socorre Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”. Com sua potência vivificante, criadora, Deus faz Maria capaz de colocar-se a serviço da existência de Jesus. A ação do Espírito nos remete a Gn 1,1.

Maria é o lugar onde se cumpre a ação poderosa do Deus criador, e Jesus é o novo começo onde se oferecerá esta vida plena, que vem de Deus e nele se realiza. Com esta promessa Maria é interpelada: “não será impossível nenhuma palavra que provêm de Deus” (1,37, que traduzimos literalmente) e um sinal disso é o que tem feito em Isabel, a mulher que não podia dar vida.

  • A missão concreta de Maria com a pessoa do Messias (1,30-33)

Maria é chamada para colocar-se totalmente a serviço de Jesus dando-lhe existência humana a partir de sua capacidade natural de mulher: “Vais conceber e dar a luz um filho” (1,31). Mas sua missão não se limita só a isto, Deus lhe pede ainda que dê um “nome” ao menino, “porás o nome de Jesus”.

Nesta frase Deus lhe está solicitando que se ocupe do desenvolvimento plenamente humano do Filho de Deus, que o eduque. Assim, o serviço de Maria implica entrega total no dom de todo seu ser, de todo seu tempo, de sua feminilidade, de seus interesses, de todas as suas capacidades, de todo seu projeto de vida a serviço de Deus.

  • A ação criadora do Espírito Santo no ventre de Maria (Lc 1,34-35)

Quando Maria pergunta ao Anjo: “Como será isto, visto que não conheço varão?” (1,34), o Anjo lhe responde com o anúncio da ação do Espírito Santo que fecunda seu ventre virginal (1,35).

Retomemos as palavras do Anjo:

  • “O Espírito Santo virá sobre ti…” – O profeta Isaías fala anunciado que o Espírito Santo devia “repousar” de maneira especial sobre o Messias (cf. Is 11,1-6; 61,1-3;). A frase nos recorda a ação criadora de Deus em Gn 1,1-2: o Espírito de Deus gera vida.
  • O poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra – A ação eficaz de Deus põe Maria “sob sua sombra”. Esta frase nos remete ao Êxodo 40,35, onde aparece a imagem bíblica da “shekiná”, que é a glória de Deus que desce para habitar no meio de seu povo na “tenda do encontro” ou “tenda das citas divinas”.  Trata-se de uma imagem muito significativa.

Retomando o essencial podemos dizer que a ação do Espírito em Maria é a expressão concreta:

  • Do auxílio de Deus na missão que deve cumprir: ser mãe do Salvador;
  • Do poder de Deus criador;
  • Do tipo de relação que Deus quer estabelecer com ela e a humanidade: uma proximidade quase total, um abraço amoroso que dá plenitude a sua existência ao mergulhá-la em sua própria glória.

Em conclusão

Tudo o que o Espírito faz em Maria está em função de Jesus: o Messias entra na história humana por meio da ação do Espírito criador de Deus em Maria. Desta maneira o relato da vocação de Maria ilumina nossa compreensão do mistério do Filho que toma carne na natureza humana. Tudo se faz possível graças ao “sim” de Maria.

Hoje contemplamos em oração, guiados pela Palavra do Evangelho, o mistério desta vocação que mudou a história do mundo. A Palavra suscita em nós uma grande ação de graças e ao mesmo tempo a consciência profunda de que cada um de nós tem um chamado para participar ativamente na obra da salvação. O que se espera é que nossa resposta seja tão clara e decidida como a de Maria (ver Evangelho do 8 de dezembro).

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