3º DOMINGO DA PÁSCOA ANO B (Estudo Bíblico)

Lucas 24,35-48

Introdução

O Evangelho deste terceiro Domingo de Páscoa nos apresenta a aparição de Jesus ressuscitado a seus onze apóstolos reunidos enquanto comentavam o que haviam contado os discípulos de Emaús.

Os apóstolos discutiam o que fora dito por esses discípulos baseando-se no testemunho de Pedro:            “É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (v.34). Entretanto, quando Jesus ressuscitado aparece a eles mesmos, a reação é esta: “Sobressaltados e assustados, acreditavam ver um espírito” (v.37).

Jesus mostra a eles que sua volta à vida é “ressurreição da carne”: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu!” (v.39). E para maior demonstração comeu diante eles:

  • “Eles o ofereceram um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e o comeu diante deles” (vv.42-43).
  • “Então, abriu-se suas inteligências para que compreendessem as Escrituras e lhes disse: Assim está escrito: que o Cristo devia padecer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia” (vv.45-47).

Se revisarmos o Antigo Testamento (nesse tempo o Novo Testamento ainda não havia sido escrito), não encontramos em nenhuma parte a afirmação explícita de que o Cristo devia padecer e ressuscitar ao terceiro dia. Por isso, foi necessário que Jesus lhes abrissem as inteligências para que compreendessem que isso estava escrito. E nós, o compreendemos?

Jesus nos dá uma pista. Ele assegura que isso estava escrito na Lei de Moisés (o Pentateuco), nos profetas e nos Salmos.

O primeiro anúncio da salvação se encontra na Lei de Moisés (no Gênesis), imediatamente depois do pecado de Adão, quando Deus anuncia um Salvador futuro dizendo à serpente: “Ele te esmagará a cabeça” (Gn 3,15).

Que havia feito à serpente? Havia introduzido a morte no mundo, induzindo Adão a desobedecer a Deus, como o resume claramente São Paulo: “Por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte e assim a morte alcançou a todos os homens” (Rm 5,12).

Para demonstrar que a serpente estava vencida e o homem salvo, o Salvador teria que vencer a morte. Desfazendo a consequência do pecado (a morte), demonstra que o pecado está expiado (foi oferecida a satisfação exigida) e que o diabo (a antiga serpente) está, agora, vencido.

Acolhendo o Salvador o homem recupera a vida, mais ainda, lhe é dada uma vida melhor: “Tanto amou Deus o mundo que deu seu Filho unigênito, para que todo o que creia nele não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

São Paulo demonstra haver compreendido a Escritura quando disse: Se Cristo não ressuscitou,… estais ainda em vossos pecados” (1 Cor 15,17) e agregamos: na morte e sob o poder do demônio. A ressurreição de Cristo demonstra que nossos pecados foram perdoados e que fomos libertados dessa escravidão.

Onde está escrito que Jesus ressuscitará “ao terceiro dia”? O profeta Oseias expressa à salvação do povo nestes termos: “Dentro de dois dias nos dará a vida, ao terceiro dia nos fará ressurgir e viveremos em sua presença” (Os 6,2).

É certo que o disse no plural; porém se entende do Salvador, porque na ressurreição dele temos ressuscitado todos.

Assim o entende o apóstolo São Paulo: “Sepultados com Cristo no batismo, com Ele também haveis ressuscitado pela fé na força de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2,12).

+ Felipe Bacarreza Rodríguez, Obispo de Santa María de Los Ángeles

  1. O contexto

O relato se situa em um lugar de Jerusalém que o autor não determina, no entardecer do domingo da Ressurreição. A Lucas interessa ressaltar tão somente a cidade: Jerusalém.

Jerusalém significa, para Lucas, o final de uma etapa e o começo de outra que começa com o desapecimento físico de Jesus.

Dois discípulos acabam de chegar de Emaús e estão contando, aos onze e aos seus acompanhantes, que viram Jesus.

Os discípulos estão reunidos dando seus testemunhos do encontro com o ressuscitado.

Por quantos acontecimentos dramáticos passaram estes pobres homens:

  • A última ceia na quinta-feira última…
  • a prisão no jardim de Getsemani,
  • o julgamento e a morte de cruz de Jesus,
  • Judas, um deles, traidor e sua morte enforcado, passando, o grupo a ser “onze”.

Neste contexto tem lugar a desconcertante “ressurreição”.

Esta aparição aconteceu no mesmo dia, o domingo, pela tarde, provavelmente na casa de Maria, a mãe de São Marcos, onde os discípulos usavam para se reunir.

Evidentemente, os “onze” como todos os demais até aqui, foram incrédulos. Todos os relatos sublinham essa “dúvida”.

Para esses semitas que nem sequer têm idéia da distinção do “corpo e da alma”, se Jesus vive, deve ser com toda sua pessoa: querem assegurar-se de que não é um fantasma, e para isso é necessário que tenha um corpo…

A ressurreição não pode reduzir-se a uma idéia “de imortalidade da alma”.

  • O texto

O texto parte de uma situação idêntica à do domingo passado em Jo 20,19-30: era fim de tarde do domingo, os discípulos reunidos em um local de Jerusalém, a chegada inesperada de Jesus.

O texto bíblico – Lucas 24, 35-48 – que a liturgia nos apresenta hoje tem três partes:

  • v.35:  Informa a narração, por parte dos dois discípulos de Emaus, do encontro com

          Jesus no caminho e como o reconheceram na fração do pão;

  • (vv.36-43): Jesus aparece no meio dos apóstolos;
  • (vv.44-48): Jesus dá suas últimas instruções aos apóstolos.
  • Aprofundando o texto com Pe. Fidel Oñoro

O anúncio da Ressurreição de Jesus não provém de uma teoria, mas da experiência dos que foram testemunhas dela mediante os encontros com o Ressuscitado e logo afirmaram: “Nós o temos visto. Ele apareceu. Ele vive”.

No relato de hoje vemos como os discípulos chegam à fé na ressurreição por meio de uma experiência suscitada pelo próprio Jesus.

A iniciativa provém d’ Ele. Jesus se apresenta e se mostra aos discípulos.

O primeiro que ocorre no encontro com Jesus ressuscitado é a saudação da paz: “A paz esteja convosco” (24,36).

A paz é seu dom pascal (ver Evangelho do próximo domingo).

Por sua parte, os discípulos devem vencer o medo, as dúvidas e suas reflexões pouco claras, para convencer-se de que não se trata de um fantasma, mas de Jesus em pessoa.

Logo o texto nos mostra três gestos de Jesus:

  • Jesus mostra as mãos e os pés: os sinais de sua morte na cruz (24,39ª). Desse modo lhes mostra que é o mesmo que morreu na cruz;
  • Jesus lhes dá permissão para que o toquem (24,39b);
  • Jesus come peixe diante deles (24,41-43). Deixa claro que não é um fantasma, mas que está diante deles numa realidade concreta.

Porém, a ressurreição de Jesus Cristo não significa que Ele tenha regressado da morte à vida terrena, ficando exatamente igual a como o conheceram antes de sua morte.

Se assim fosse, Jesus teria que morrer de novo. E a ressurreição de Jesus é muito mais que isso: significa que Ele, que morreu em uma cruz e foi sepultado, Deus deu uma vida nova e definitiva, que supera a morte.

Os discípulos não se deixaram enganar por um espírito, nem por uma ilusão: trata-se de Jesus, em pessoa, o que conheceram antes da cruz, o mesmo, porém, ao mesmo tempo, gloriosamente diferente.

Ele vem ao encontro de seus discípulos com uma existência e realidade novas e definitivas.

Jesus, por iniciativa própria, os tem convencido de que superou a morte e que realmente vive. Dá de si mesmo e de sua vida poderosa, o conteúdo e a essência do testemunho de seus discípulos.

Logo, em 24,44-48, vemos como o Ressuscitado explica a seus discípulos que seu destino se compreende desde o plano de Deus e lhes ajuda a entender o sentido das Escrituras, assim como já havia feito antes com os discípulos de Emaus.

Com sua morte e ressurreição, Jesus completou o conteúdo da mensagem que deve ser anunciado a todos os povos.

No nome de Jesus, é o testemunhá-lo, a partir de tudo o que se tem manifestado através de sua obra e de seu caminho até a cruz e a ressurreição, devem ser anunciados a todos a conversão e o perdão dos pecados.

Todos os homens, pois, estão chamados a converter-se a Deus que, através do caminho de Jesus, tem compartilhado nosso destino humano até a morte na cruz e a ressurreição vencedora da morte.

Todos os homens estão chamados a converter-se ao Deus que lhes demonstrou seu amor e seu poder.

A conversão se realiza no apoiar-se, com confiança, nas mãos deste Deus, então perdoará todos os pecados e dará a plena comunhão com Ele.

O encontro com o Ressuscitado faz dos discípulos verdadeiros testemunhos.

Todo anúncio deve partir deste testemunho e não de especulações, idéias ou opiniões pessoais, mas sim sobre o fato e sobre as instruções pascais do Senhor Jesus.

Toda transmissão da mensagem pascal depende deste fato: de que os apóstolos são testemunhos oculares, dignos de fé, e prestaram um serviço fiel a sua Palavra.

Em síntese, Jesus:

  • convence a seus discípulos da realidade de sua vida nova,
  • leva-os à compreensão da Escritura e de seu caminho.
  • Mostra-lhes o conteúdo do anúncio e em que consiste sua tarefa missionária e
  • confirma-os como seus testemunhos.

Sobre esta base se faz a experiência de Jesus ressuscitado.

  • Aprofundando com os padres da Igreja

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e doutor da Igreja.

“Vede as minhas mãos e os meus pés: sou mesmo eu”

Ao entrar no Cenáculo com todas as portas fechadas, Jesus Cristo mostrou uma vez mais que é Deus por natureza e que não é diferente daquele que antes vivia com os discípulos.

Ao descobrir o seu lado e ao mostrar a marca dos cravos, manifestava com evidência que reergueu o templo do seu corpo que tinha estado suspenso da cruz, destruindo a morte corporal, pois, por natureza, Ele é a vida e é Deus…

Quando chegou o momento de transformar o seu corpo através de uma glória inexprimível e prodigiosa, vemo-lo que se preocupa tanto em confirmar a fé na ressurreição futura da carne que quis, de acordo com o plano divino, aparecer tal como era antes.

Assim ninguém pensaria que Ele tinha então um corpo diferente do que tinha morrido na cruz.

Mesmo se Cristo tivesse querido manifestar a glória do seu corpo diante dos discípulos antes de subir para o Pai, os nossos olhos não teriam podido suportar tal visão.

Compreendê-lo-eis facilmente se vos recordardes da Transfiguração que anteriormente tinha ocorrido sobre a montanha…

Por isso, a fim de cumprir exatamente o plano divino, o nosso Senhor Jesus apareceu ainda, no Cenáculo, sob o seu aspecto anterior e não segundo a glória que lhe é devida e que convém ao seu Templo transfigurado.

Não queria que a fé na ressurreição se baseasse num aspecto e num corpo diferentes dos que recebeu da Santíssima Virgem e em que morreu, depois de ter sido crucificado segundo as escrituras.

Com efeito, a morte só tinha poder sobre a sua carne, de onde iria ser expulsa. Porque, se não foi o seu corpo morto que ressuscitou, que espécie de morte foi, então, vencida?

  • Para cultivar a semente da Palavra no coração:
  • Se revisarmos o Antigo Testamento (nesse tempo o Novo Testamento ainda não havia sido escrito), não encontramos em nenhuma parte a afirmação explícita de que o Cristo devia padecer e ressuscitar ao terceiro dia. Por isso, foi necessário que Jesus lhes abrissem as inteligências para que compreendessem que isso estava escrito. E nós, o compreendemos?
  • Por que Jesus se mostra com tanto realismo aos apóstolos?
  • Qual é o conteúdo do anúncio que devem transmitir os apóstolos?
  • Em que se baseia este anúncio?
  • Qual espécie de morte foi vencida com a ressurreição de Jesus?

“Olhai como surge Cristo transparente: no meio dos homens se perfila seu corpo humano, corpo do amigo desejado, serena companhia. O que queira apalpá-lo, aqui se aproxime, entre com sua fé no Homem que humaniza, de asas ao amor, seu gozo diga”. (Da Liturgia das Horas)

Fonte: www.homiletica.org

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