ESTUDO BÍBLICO NA 8ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO B 2021
ESTUDO BÍBLICO NA 8ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO B 2021
Comunidade Católica Paz e Bem
SEGUNDA FEIRA APÓS O PENTECOSTES (SANTA MARIA MÃE DA IGREJA)
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FESTA DE MARIA MÃE DA IGREJA
Na primeira segunda-feira após Pentecostes, a Igreja celebra a memória da Virgem Maria Mãe da Igreja, um título que tem raízes profundas, e que foi inserido no Calendário Litúrgico em 2018, por desejo do Papa Francisco
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EVANGELHO Jo 19, 25-34
compreender a palavra
Maria está junto à cruz. É o momento mais doloroso de toda a sua vida porque é também o momento mais incompreensível da vida de Jesus, o seu Filho. Naquele cenário, o olhar da mãe e do Filho encontram-se no olhar do discípulo perdido na desilusão pelo final de um projeto que sonhara com Jesus. No discípulo encontram-se o amor de Deus revelado na cruz e o amor da Mãe que conhece a ternura de Deus revelada em seu Filho. Não foram necessárias muitas palavras para a Mãe compreender até onde deve chegar o amor por seu filho e João levou-a para casa porque a partir daquela hora, a Mãe do seu divino Mestre seria o amparo no seu caminho de mensageiro do amor revelado na Cruz.
rezar a palavra
Virgem Santa Maria, Mãe da Igreja e minha Mãe, o teu olhar projeta-se em mim no olhar misericordioso de teu Filho Jesus Cristo. Na mesma cruz tu e Ele redimem o meu coração e o coração da Igreja que tantas vezes são levados pela tormenta do mundo em tempestades de incerteza. Acolhe-me no teu olhar e preenche-me com o teu amor de Mãe.
A maternidade de Maria e a maternidade da Igreja
“Todas as palavras de Nossa Senhora são palavras de mãe”, desde o momento da “Anunciação até o fim, ela é mãe”. O Papa Francisco o havia dito na Casa Santa Marta, na primeira Missa celebrada em memória da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, em 21 de maio de 2018. E explicava como os Padres da Igreja haviam entendido que a maternidade de Maria era a maternidade da Igreja.
Ao salientar a dimensão feminina da Igreja e também a importância da mulher, afirmou: “Sem a mulher a Igreja não vai em frente, porque ela é mulher, e essa atitude da mulher vem de Maria, porque Jesus assim o desejou”.
Naquela ocasião, Francisco indicou a ternura como aquela atitude materna que deve distinguir a Igreja, acrescentando: “também uma alma, uma pessoa que vive essa pertença à Igreja, sabendo que também é mãe, deve seguir o mesmo caminho: uma pessoa mansa, humilde, terna, sorridente, cheia de amor”.
As raízes profundas do título de Maria Mãe da Igreja
Se o título de Maria Mãe da Igreja tem raízes nos primeiros tempos do cristianismo – e já está presente no pensamento de Santo Agostinho e São Leão Magno, no Credo de Nicéia de 325, e já os Padres do Concílio de Éfeso (430) haviam definido Maria como “verdadeira mãe de Deus” – ele retorna ao Magistério de Bento XIV e Leão XIII.
Mas foi o Papa Paulo VI, no final da terceira sessão do Concílio Vaticano II, em 21 de novembro de 1964, a declarar a Bem-Aventurada Virgem “Mãe da Igreja, isto é, de todo o povo cristão, tanto dos fiéis como dos pastores que a chamam de Mãe amantíssima”.
Mais tarde, em 1980, João Paulo II inseriu nas Ladainhas Lauretanas a veneração a Nossa Senhora como Mãe da Igreja, até chegar o Decreto desejado pelo Papa Francisco que, na memória de um ano atrás, em 10 de junho de 2019, escreveu em um tweet que continua atual: “Maria, mãe da Igreja, ajuda-nos a entregar-nos plenamente a Jesus, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e de cruz, quando nossa fé é chamada a amadurecer”.
compromisso
Deixo-me olhar por Maria reconhecendo-a como minha Mãe e Mãe da Igreja.
TERÇA-FEIRA
Marcos 10,28-31
DEIXAR TUDO PARA GANHAR TUDO:
“No mundo futuro receberá a vida eterna”.
Acabava de se passar a cena do homem rico, que não havia tido a suficiente fortaleza e entusiasmo para deixar tudo e havia voltado atrás, ante o chamado de Jesus.
Os discípulos sentiam que esse não era o caso deles, porque eles, para seguir a Jesus, haviam deixado suas posses, pequenas ou grandes, não só no que se refere aos bens materiais, mas, também, laços familiares, trabalho, etc.
Pedro, ao dirigir-se a Jesus, manifesta-lhe que, contrariamente ao homem rico, eles deixaram tudo e o seguiram. Em Marcos, não aparece explícito o interesse de Pedro por saber o que receberão eles, como aparece em Mateus 19,27.
Jesus lhes assegura que, quem tem deixado tudo por Ele e para o Evangelho (casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terras (trabalho), que, traduzido, soaria como o indispensável para viver bem), garante para si, o presente e o futuro. Pois, no presente receberá cem por um em casas, irmãos, irmãs, mães, pais, filhos e trabalho e, no futuro, receberá a vida eterna.
Jesus põe um ingrediente, quase como um ponto final, que é conveniente ressaltar. Todo o anterior, no presente, se receberá com perseguições. Como se isto fosse o que, popularmente, chamamos “pedra de toque”, que avalia a pureza do ouro.
De fato, há ai um verdadeiro seguimento. Esta é a cruz da qual nos falava Jesus em dias anteriores. Cruz que se deve tomar, ao segui-lo. O futuro também estará assegurado ao dizer “quem deixou tudo, no mundo futuro terá vida eterna”.
Jesus termina com uma frase, que pode soar como advertência para não dormir nos louros do ”haver deixado tudo”: “Muitos dos primeiros serão últimos e muitos dos últimos, primeiros” (v.31). Como quem diz: É preciso estar atentos, pois, pode-se pensar que, por haver-se deixado tudo, somos dos primeiros, quando podemos ser dos últimos.
Ou o contrário, pensar que somos dos últimos, quando, aos olhos de Deus, somos os primeiros. Aqui conta muito o desprendimento, não tanto pelo que se possa deixar, ou se possa receber, mas pelo amor com o qual seguimos a Jesus.
Para cultivar a semente da Palavra na vida:
- Que significado tem hoje as promessas de Jesus a quem tem deixado tudo por Ele e pelo Evangelho?
- A que coisas estou mais apegado/a (casa, família, trabalho, dinheiro)? O que me está impedindo dar uma resposta a Jesus?
- Quando se vive um cristianismo medíocre e sem compromisso, as perseguições não existem. Qual é a qualidade do cristianismo que estou vivendo?
QUARTA-FEIRA
Marcos 10,32-45
A VERDADEIRA GRANDEZA ESTÁ NO SERVIÇO:
“O Filho do homem não veio para ser servido”
Seguimos, passo a passo, o caminho de formação de Jesus com seus discípulos, o qual coincide com a subida a Jerusalém. Chegamos à lição central que se desprende do discipulado da Cruz: o serviço aos demais, ainda que com sacrifício.
Jesus propõe àqueles que querem ser grandes, que assumam a função de servidores daqueles que querem superar e que desçam até o mais baixo grau na escala social, até se fazerem escravos. O Mestre é o modelo deste ensinamento: Ele dá sua vida para redimir a humanidade.
Aqui nos é proposto uma passagem muito válida para estes tempos em que, para algumas pessoas, o que conta é o êxito a todo custo, o sobressair-se acima dos demais e o afã na busca de postos.
O evangelista Marcos, extraordinário pedagogo da fé, continua mostrando-nos as implicações da vida nova no seguimento de Jesus, ou seja, de estar entrando no Reino de Deus. Hoje o faz colocando sobre a mesa o tema humano, humano até demais: o “poder”. Quais os critérios de ação de um discípulo a respeito?
Não percamos de vista que Jesus já indicou a direção do seguimento ao dizer: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34), e que implica um discernimento de espíritos para escolher, dentre as múltiplas atrações que a vida exerce sobre nós, o que está em sintonia com a opção da Cruz (8,35-38).
Depois de Pedro (ver o evangelho do domingo passado), tomam a palavra os dois irmãos, filhos de Zebedeu, Tiago e João, também chamados “filhos do trovão” (talvez pelo temperamento forte; 3,17) pertencentes ao grupo chamado no primeiro dia do evangelho (1,16-20). É de se esperar que estes discípulos, que “deixaram tudo e seguiram” a Jesus, estejam já em um alto nível de discipulado e, portanto, capazes de diferenciar-se dos demais no âmbito da liderança e do exercício da autoridade na comunidade. Mas parece que não.
Como se estivessem tratando de algo profissional, de uma carreira administrativa, os dois discípulos temperamentais pedem a Jesus os postos mais altos no Reino de Deus: “Concede-nos, na tua glória, sentarmo-nos, um a tua direita e outro a tua esquerda” (v.37). O pedido suscita uma reação forte, tanto da parte de Jesus (v.38) como do resto da comunidade (v.41). Também, aqui, notamos, dentro do texto, um laço que une a petição inicial com a resposta final, enquanto que, no desenvolvimento do texto, vão se desmontando os velhos hábitos, ao mesmo tempo, que se formam as atitudes que caracterizam aqueles que estão “entrando no Reino” pela via do seguimento “tomando a Cruz”.
O núcleo do texto está relacionado com o domingo passado: a conversão pascal. Por isso a esta passagem precede o 3º anúncio da Paixão e Ressurreição (v.31-34) e tem sua expressão culminante na última frase de Jesus: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (v.45). Para um discípulo, o único caminho possível para exercer a autoridade é esvaziando-se a si mesmo no caminho da Cruz, dando vida com sua própria vida.
Então, à sombra da cruz, as relações de influência sobre os outros são vistas com outra lente: primeiro, a cruz põe em severa crise os interesses de fundo de cada um e, segundo, por ser um dar-se, orienta todos os melhores esforços humanos em função de um único objetivo, que é a vida que cresce e realiza seu projeto como Deus quer e num âmbito de liberdade (=o “resgate”, v.45). É confrontando-nos com o crucificado que podemos discernir se a influência que exercemos sobre os demais é subserviência que “mata” ou entrega amorosa que “vivifica”.
Relendo atento e devagar o texto, vejamos os pontos relevantes da Boa Nova de Jesus sobre o poder-serviço:
- Jesus não rejeita, de início, as aspirações dos dois discípulos. Ele não deseja discípulos covardes, sem iniciativa e sem projeção, por isso admite que se chegue a ser “grande” e “o primeiro” (vv.40.43-44;). O problema não está no “que”, mas no “como” e “para que” (em função de que);
- Jesus questiona a atitude egocêntrica: quando o interesse pelo êxito terreno, o prestígio e a honra pessoal é a aspiração fundamental. O individualismo vaidoso e egocêntrico, que leva uma pessoa a querer sobrepor-se aos demais, é a fonte da maior parte dos conflitos da convivência, como bem o ilustra a indignação de uns contra outros, que brota imediatamente entre os doze (v.41);
- Jesus responde, não com uma teoria, mas sobre o fundamento de sua própria vida: Ele é o critério último do agir do discípulo. As aspirações espontâneas (ou naturais) dos discípulos (v.35-37) e os modelos de comportamento da sociedade (v.42) se confrontam com a instrução de Jesus que indica como é que devemos segui-lo (vv.38-40 e 43-45);
- Jesus ensina, não pela coação de uma lei, mas pelo exemplo de sua própria vida. Sua autoridade não é exercida por imposição, mas pela atração do exemplo (ver “assim como” que introduz v.45);
- Jesus reorienta o olhar dos discípulos para a radicalidade da paixão, momento cume de seu ministério e de sua revelação. Desta forma eles aprendem que a comunhão com Jesus, ou é total ou simplesmente não existe. Se ela é total, então inclui o caminho da cruz, da qual se derivam os princípios que determinam seu comportamento. Veja os vv.38.39 sobre o “cálice” e o “Batismo”;
- Jesus revela que se, do ponto de vista externo, experimentou a cruz, como agressão do poder religioso e político que tentaram anulá-lo, do ponto de vista interno, a viveu ativamente como um serviço à vida (v.45 em relação com os vv.33-34);
- Jesus indica a partir da palavra-chave “servir” (v.45), que o caminho do prestígio e da grandeza está no constituir-se “servidor” e “escravo” (vv.43-44). O posto mais alto é o mais baixo, só se é primeiro se, se ocupa o posto dos últimos. O discípulo é o que faz das necessidades dos demais o centro de suas preocupações. O centro não é ele mesmo, mas os outros;
- Jesus revela o perfil do discípulo com tons que tem os termos. O “serviço” é o da mesa, que indica tudo que contribui a formação da comunidade (v.43). O “ser escravo” é um modo de enfatizar que o serviço é gratuito, não espera salário, se faz por ter um sentido profundo de pertença (v.44);
- Jesus visualiza ainda a comunidade e assinala os destinatários do serviço. Não só os de dentro (o “vós” e o “vosso”, v.43), mas também os de fora. No serviço cristão não há fronteiras (o “de todos” do v.44, que faz eco ao “muitos” do v.45). Mas é verdade ainda que o amor ao próximo não pode ser substituído pelo serviço aos que estão longe (tentação do ser “luz na rua” e “treva em casa”);
- Enfim, Jesus e os que lhe seguem estreitamente, vão, profeticamente, na contramão dos interesses econômicos e políticos de toda sociedade, cuja ética do poder exclui, marginaliza, mata ou nega a pessoa. No ouvido fica ressoando a frase: “Entre vocês não deve ser assim” (v.43).
A passagem de hoje põe de relevo que a natureza essencial da renúncia a si mesmo é o dom de si mesmo no serviço. Então, na vida cristã há carreira, porém, só pela rota e no exercício da Cruz.
3. Para cultivar a semente da Palavra na vida:
- Os filhos de Zebedeu manifestaram suas aspirações no seguimento de Jesus. A que aspiro na vida? Que determina meu comportamento: meus impulsos pessoais, a maneira de ser, o exemplo de Jesus? Que é “beber o cálice” e “ser batizado no batismo de Cristo”?
- Estou consciente de que todas as relações devem estar sustentadas pela vontade de servir? Cumpro com meus deveres de boa vontade, por amor?
- Limito meus serviços ou tenho como critério o “todos”, não importa que a pessoa seja feia ou atrativa, amiga ou inimiga, benéfica para meus interesses ou não? Quais os elementos de uma ética do poder a partir do Evangelho? Como se aplica no âmbito da família, das comunidades eclesiais, da vida social, da política?
QUINTA-FEIRA
Marcos 10,46-52
UMA CATEQUESE SOBRE A FÉ COMO ESSÊNCIA DO DISCIPULADO
“Vai, tua fé te salvou”
O Evangelho de São Marcos nos vai dando, aos poucos pistas concretas sobre a sua organização interna. A seção sobre o discipulado na subida a Jerusalém (8,27 – 10,52), por exemplo, está caracterizada por duas curas de cegos:
- A cura do cego de Betsaida (8,22-26), que conclui a primeira parte do ministerio de Jesus na Galileia e ensina que o “ver” se alcança processualmente e graças à ajuda dele. Logo ocorre a confissão de fé de Pedro, que manifesta, em poucas palavras, o que viu e entendeu na pessoa de Jesus.
- A cura do cego de Jericó (10,47-50), chamado Bartimeu, com o qual se conclui a subida a Jerusalém. Imediatamente depois temos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalem. Tambem Bartimeu faz uma confissão de fé no messianismo de Jesus e segue-o pelo caminho.
Por certo, a de Bartimeu e a do jovem possuído pelo demônio (ver 9, 14-28), são as únicas curas que Jesus realiza nesta seção do Evangelho. Ambas estão relacionadas com o caminho da fé.
Tenhamos presente, alem do mais, a conexão com a passagem imediatamente anterior: a cura de Bartimeu ocorre depois que Jesus disse que veio para servir (10,45).
Jesus aqui presta um serviço concreto, contrapondo-se ao grupo de discípulos que, ao contrario, negam o serviço tentando desfazer-se do cego que havia se tornado incomodo a eles. 89708395 Priscila
A narração constitui um itinerário de fé, no qual podemos distinguir três partes:
(1) Descrição da situação: o cego “sentado” a beira do caminho (10,46);
(2) O caminho de Bartimeu até Jesus (10,47-50); e
(3) O caminho de Bartimeu junto com Jesus (10,51-52). Assim, Bartimeu se converte em um novo discípulo,
precisamente o último que Jesus chama, antes de entrar na fase final de seu ministério.
Analisemos alguns detalhes.
“Chegaram a Jericó”. As vésperas de sua entrada em Jerusalém, e tendo em vista a páscoa dolorosa que se aproxima, Jesus passou a noite como peregrino na cidade de Jericó, a “cidade das palmeiras”, muito próxima ao rio Jordão e ao Mar Morto.
Agora Jesus está saindo da cidade e tomando a costa empinada de 30 km que atravessa o deserto de Judá e leva à Cidade Santa: “E quando saia de Jericó…”.
Jesus não vai sozinho, o acompanham “seus discípulos” e “uma grande multidão”. Todos eles estão a ponto de coroar a meta de sua peregrinação a Jerusalém para celebrar a Páscoa hebréia.
De repente, à beira do caminho, aparece Bartimeu, cego e mendigo, que foi acomodar-se no lugar exato aonde passavam os peregrinos. Nesta época do ano, o povo é mais generoso e o cego espera receber mais esmolas. Sabe a estratégia para conseguir e por isso está ali, em seu “lugar de trabalho”.
É curioso que nos dê o nome do cego: “Bartimeu”. Isto só ocorre nos primeiros relatos de vocação: os chamados por Jesus ao discipulado têm nome próprio; ao contrário, quando se trata de milagres, ao menos neste Evangelho, nunca se dá o nome, exceto neste caso.
Nenhuma outra pessoa curada no Evangelho foi descrita com tanto detalhe. Uma vez mais notamos: isto ocorre normalmente com as pessoas que vão ser chamadas ao discipulado (1,16-20;2,14).
A rotina do mendigo se rompe, e para sempre, quando tem a informação e descobre que muito próximo dele passa Jesus (10,47ª).
A escuta
O passo do caminho de fé de Bartimeu é o “ouvir” (se usa o verbo grego akouō). Ele leva a sério o anúncio. É tudo o contrário dos outros discípulos a quem Jesus repreendeu dizendo-lhes: “Ainda não compreendeis nem entendeis?… Tendo olhos não vêem e tendo ouvidos não ouvis?” (8,17).
Isto tem outro antecedente no Evangelho: quando em uma ocasião a pregação apostólica chegou ao
palácio do rei, Herodes depois de ouvir, não conseguiu captar a verdadeira identidade de Jesus e não deu o passo da conversão e da fé (Mc 6,14-16).
E retomando a parábola do semeador, vemos como com o cego aconteceu tudo o contrário: ainda que a semente caia à beira do caminho ele se faz boa terra que sabe ouvir (4,15.20).
A “escuta” desacomoda. De fato, Bartimeu não permanece como o discípulo imóvel, que sabe de tudo sobre Deus, porém, não dá passos significativos na vida.
O relato vai por esta linha: o encontro com Jesus muda, radicalmente, a vida de Bartimeu: da cegueira passa a visão e da marginalidade no caminho passa a ser seu ativo peregrino (confrontemos vv.46-52).
Poucas palavras, apenas as necessárias, e muita decisão de ambas as partes, constituem o relato. Cada detalhe do processo de aproximação está carregado de significado e vai se formando como um resumo das lições fundamentais do discipulado no evangelho.
O grito de fé
Brota então o grito de ajuda que os discípulos não haviam se atrevido a pronunciar (4,38-40; 8,14-21; 9,19). Os discípulos passaram por sérias dificuldades, não compreendem a cruz, porém não pedem ajuda, mas, ao contrario, até repreendem ou ignoram ao Senhor. Em contraposição Jesus havia proposto o modelo do pai de família que faz “a oração da fé” (ver 9, 24.28).
O evangelista faz notar que o clamor do cego vai aumentando gradualmente, não só na intensidade da voz (10,48: “porém ele gritava muito mais”), mas na invocação de Jesus.
Bartimeu clama misericórdia. Sua oração tem como fundo o Sl 51 (miserere), em sua primeira linha, mas também a promessa messiânica de Isaias 35,2-5: “Eles verão a glória de Yahveh, o esplendor de nosso Deus. Fortalecei as mãos abatidas, revigorai os joelhos cambaleantes. Dizei aos corações conturbados: ‘Sede fortes, não temais! Eis que vosso Deus vem para vingar-vos; trazendo a recompensa divina. Ele vem para vos‘. Então se abrirão os olhos dos cegos, e os ouvidos dos surdos se abrirão…”.
É de se notar que, à invocação de “Jesus de Nazaré”, o cego lhe acrescenta dois títulos:
(1) “Filho de Davi”, quer dizer que o reconhece como o Messias, e
(2) “Raboni” (meu Mestre), sinal de apreço, de relação estreita de comunhão e de confiança. Ao contrário do homem rico, que também o chamou “Mestre” (com o complemento adulador “Bom”), este pobre deixa que Jesus seja, efetivamente, seu Mestre, porque estar disposto a obedecer-lhe.
Se Pedro havia reconhecido Jesus como “Cristo” (=Messias; ver 8,29), o cego Bartimeu o confessa como “Filho de Davi”, um título com valor messiânico (12,35).
A superação de obstáculos
Bartimeu enfrenta obstáculos. Além de suas duas primeiras limitações, a cegueira e a indigência, é reprimido para que se cale (10,48). É visto como alguém que não tem valor para os demais, como a criança que perturba a dignidade do Mestre (10,13).
Ele é imagem do que entra no Reino despojado, abandonado, com absoluta confiança na presença e na palavra de Jesus. E, a diferença do homem rico que exibe santidade (10,20), o mendigo se apresenta como pecador contrito, como alguém afastado da comunhão com Deus, mas que suspira por tê-la.
O despojamento é, ainda, mais radical, quando faz dois gestos:
(1) “Joga o manto” (10,50ª): o manto é o maior bem de um pobre, o único que tem (Êx 22,25-26), é sua proteção para a noite, seu abrigo para o frio, seu recipiente para a esmola. É o contrário do homem rico, relutante ao seguimento, precisamente por este obstáculo (10,22), e a imagem viva do que “deixa tudo para seguir a Jesus” (10,28). E
(2) “Dá um salto e vem até Jesus” (10,50b): seu salto (inaudito para um cego!) é um gesto de confiança total, expressão de apoio na palavra de Jesus.
O homem rico não creu em Jesus, que em sua palavra de chamado para o seguimento havia um novo apoio que manteria com maior qualidade sua vida (ver 10,29-30). A resposta de Bartimeu não pode ser mais completa. O cego alcança seu objetivo: Jesus se detém ante ele (10,49ª) e o chama (v.49b). Não passa indiferente no caminho do mendigo, mas se interessa por ele.
Começa agora o diálogo direto entre Jesus e Bartimeu. O encontro pessoal começa com uma pergunta. A pergunta “Que queres que te faça?” (10,51) nos recorda outra similar dirigida a Tiago e João no relato anterior: “Que querem que faça por vós?” (10,36). A resposta de Bartimeu é bem diferente da dos discípulos que queriam poder, este, no entanto, queria poder “ver”. Esta é a petição mais apropriada para um discípulo (ver 4,11-12; 8,14-21).
Sublinha-se que, em última instancia, a fé é deixar Jesus “agir”, é a abertura total à salvação pela via que Ele, como Mestre e Filho de Deus, vêm assinalando, e à qual os discípulos têm posto resistência. Além do mais, um aspecto importante da relação de discipulado é ter clara nossas expectativas, frente ao Senhor, por essa via a fé se purifica e se vai longe.
Diferente de outros relatos de milagre, nesta ocasião não há nenhum contato físico, é suficiente a palavra de Jesus para que o cego veja.
Curiosamente, entre todos os que Jesus tem curado ao longo de seu ministério, este é o único que inicia um caminho de seguimento: “lhe seguia pelo caminho” (10,52). Agora Jesus tem um novo discípulo, que recebeu o dom da vista e se caracteriza por sua fé.
Observemos, ainda, que as últimas palavras de Jesus (v.42ª) contêm:
(1) um envio;
(2) uma declaração de salvação e
(3) uma exaltação de sua fé.
Na recuperação da vista de Bartimeu se explica a força salvífica da fé. A fé que o “salvou” tem7 características. É uma fé que:
(1) parte do reconhecimento radical da necessidade de Jesus;
(2) clama humildemente ajuda;
(3) vai crescendo progressivamente na relação com Jesus;
(4) supera os obstáculos;
(5) impulsiona ao abandono absoluto nas mãos de Jesus;
(6) ilumina os próprios motivos; e
(7) leva a decisões radicais (“jogar a capa”, “dar um salto”, decidir “ver”) e que se converte em seguimento
real (deixar-se conduzir pele Mestre).
É assim como a fé se faz seguimento. Bartimeu escolhe, finalmente, o caminho da Cruz. Assim se conclui a escola de discipulado no caminho a Jerusalém: a confissão de fé de Pedro, ao inicio do caminho (ver 8,27-30), se concretiza, ao final, com um gesto orientado à aceitação da Cruz, a de um filho de Davi exaltado pelo caminho da humilhação.
A história do cego Bartimeu relata um caso de êxito no discipulado. E foi, precisamente, porque:
(1) Partiu do reconhecimento de seus limites mais profundos, particularmente de seu pecado: “Pôs-se a gritar
“Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim!” (10,47-48);
(2) Jesus o chama (10,49);
(3) Deixa o único que tem em meio de sua pobreza: o manto no qual recolhe a esmola (10,50);
(4) Acolhe o “fazer” de Jesus (10,51) como um ato concreto de fé: “Tua fé te salvou” (10,52ª); e
(5) Entra na rota da cruz sem “mas” nem “porém”: “no mesmo instante… seguiu-lhe” (10,52b).
O cego Bartimeu, o homem que necessitava tudo, nos deixa uma profunda lição: muito tem que ser feito nesta vida, porém a comunhão com Jesus é a única coisa necessária. Permita-me reforçá-lo: nosso relato trata de algo mais que a simples cura de um cego.
Observando bem, veremos que muitos temas tratados nas passagens anteriores aqui são retomados:
- A identidade de Jesus: A principio vimos Pedro confessando a fé em Jesus como “Cristo” (8,29), agora, é Bartimeu o primeiro a chamar Jesus “Filho de Davi”, título que tem um sentido messiânico (10,47-48). Na passagem seguinte, a entrada triunfal em Jerusalém, este messianismo é proclamado com força(11,1-10);
- O caminho da salvação. A principio, Jesus ensinou o caminho para a vida, para a salvação (8,34-9,1; 10,17-31). Agora Bartimeu afirma que a fé o salvou e o conduziu para a salvação (10,52);
- A necessidade da fé. No exorcismo do jovem (9,14-29), Jesus afirma que é preciso a fé para a comunhão com o poder salvador de Deus (9,19.23.24.29). Agora diz: “Tua fé te salvou”;
- O serviço ao pequeno e marginalizado. Os discípulos impediam as crianças aproximar-se a Jesus (10,13). Agora é o cego Bartimeu quem experimenta a mesma dificuldade (10,48). Nos dois casos Jesus não aceita esta atitude, sua missão é o serviço (10,45); pois bem, isto mesmo devem fazer os discípulos: acolher e servir a todos sem exceção (9,35; 10,43-44);
- Os encontros com Jesus no caminho. O rico foi ao encontro de Jesus no caminho (10,17). Agora é Bartimeu quem vai a Jesus no caminho (10,46). O rico é chamado por Jesus ao seguimento, mas disse não. O cego não é chamado explicitamente e, sem dúvida, segue a Jesus;
- Jesus escuta as petições, porém não responde da mesma maneira. Dois discípulos fizeram uma solicitude a Jesus, porém sua petição foi rejeitada (10,35-41). Agora é Bartimeu quem faz uma solicitude a Jesus e Ele lhe responde positivamente (10,46-50). Agora sabemos o que um discípulo deve pedir e o que não deve pedir. Contudo, Jesus sempre escuta; notemos que em ambos os casos a pergunta de Jesus é a mesma: “Que queres que faça por ti?” (10,36.51).
Enfim… Uma e outra vez, no caminho para Jerusalém, os discípulos mostraram sua dificuldade para compreender Jesus e seu caminho.
Entretanto, ao chegar ao final do caminho um personagem que não havia aparecido antes no Evangelho, porém que tem nome próprio, assim como os primeiros discípulos, se converte em modelo de um discípulo de Jesus:
(1) é modelo de uma pessoa de fé;
(2) ele pede o que todo discípulo deve pedir;
(3) ele, já vendo, empreende a rota do seguimento até Jerusalém, o lugar onde ocorrerá o evento da Cruz,
uma Cruz que conduz à plenitude de vida.
O verdadeiro discípulo é aquele que vê com os olhos de Jesus e, desta maneira, compartilha, decididamente, de seu caminho missionário até o final.
4. Para cultivar a semente da Palavra na vida:
- Este é um relato carregado de detalhes sobre o cego. Que quer dizer isto no evangelho de Marcos? Que indica cada detalhe?
- O cego fez um processo que o levou da marginalidade á beira do caminho ao seguimento de Jesus em seu mesmo caminho e junto com o resto dos discípulos. Que passos deu para consegui-lo?
- Como se entende a “fé que salva” neste relato?
- Comparando o relato com o hoje de minha comunidade: Tem se repetido alguma vez o gesto dos discípulos que tentam afastar o mendigo por ser incomodo para o grupo?
- Que novas lições tiro para minha vida de discipulado, a partir da leitura do relato de Bartimeu?
SEXTA-FEIRA
Marcos 11,11-26
DOIS GESTOS SIMBOLICOS DE ORIENTAÇÃO PROFÉTICA
“Nunca, jamais ninguém coma fruto teu”
Jesus havia acabado de fazer sua “entrada em Jerusalém”. A liturgia saltou a página correspondente a essa “entrada triunfal” porque deve ser lida só no domingo de Ramos.Entrou no Templo e, depois de havê-lo examinado todo, sendo já tarde, saiu para Betânia com os doze.Jesus entrou no templo em um momento em que ali não passava nada. Isso é raro. A manifestação messiânica se passou em branco! É estranho.
Sem dúvida, antes de sair, Jesus percorre todo o lugar e observa todas as coisas detalhadamente. Este olhar de Jesus está cheio de significado: o que vai fazer no outro dia está bem premeditado… é o olhar de um homem que está preparando sua jogada: a expulsão dos “vendedores do templo”.
Na manhã seguinte saíram de Betânia para Jerusalém novamente.Logo sentiu fome. Vendo de longe uma figueira dirige-se em sua direção, mas não encontrou nela, senão folhas, porque não era tempo de figos. Disse à figueira: “Que ninguém jamais coma fruto de ti” (v.14). E os discípulos o ouviram.
Estranha maldição. Se Jesus tratava de saciar a fome, este gesto seria de um demente: encolerizar-se contra uma árvore, por não encontrar frutos quando, por cima, nem era tempo! Não é, pois, nesse nível material que se deve interpretar esta maldição.
Jesus quis fazer um gesto “enigmático” e Marcos sublinha: os apóstolos “ouvem”, porém não querem crer e ficarão muito surpresos no dia seguinte, ao ver que a maldição se realizou. A solução do enigma se dará mais tarde. E não será por acaso o fato de que a “purificação” do Templo esteja inserida, como “um recheio” entre as duas metades do episódio da “figueira amaldiçoada”.
Chegam a Jerusalém.Jesus entra no templo e se põe a expulsar os que vendiam e compravam. Derruba as mesas dos cambistas e os assentos dos vendedores… “E os ensinava dizendo: ‘Não está escrito: Minha casa será casa de oração para todas as nações’? Vós, porém, fizeste…” (v.17).
Jesus cita o profeta Jeremias: “Falais sempre do culto, dizendo: “Santuário de Deus, santuário de Deus, santuário de Deus”, porém oprimis o estrangeiro, o órfão e à viúva. Roubais, matais e vinde logo a pôr-se diante de mim… É este Templo um covil de bandidos?” (7,11).
É preciso reler todo o contexto dessa citação: o profeta reprova os homens de seu tempo pelo fato de participar no culto com o fim de assegurar-se… o culto do templo é falaz, pois as pessoas não se convertem. Jesus cita também o profeta Isaías: “Trá-lo-ei ao meu monte santo e os cobrirei de alegria na minha casa de oração” (56,7). É a afirmação surpreendente de que o Templo judeu vai ser “aberto às nações pagãs”. Isto se liga ao tema missionário, habitual em São Marcos.
Jesus faz um gesto messiânico anunciado pelo profeta Zacarias: “Já não haverá mais mercadores no templo do Senhor, nesse dia” (14,21). É a purificação do lugar onde Deus está presente. Jesus quer devolver ao Templo sua pureza primitiva, seu destino sagrado, e ressalta que este lugar está “destinado a todos”: abertura universalista. Que sentido eu tenho da oração, do sagrado, de Deus presente?
Tudo isso chegou aos ouvidos dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas. Buscavam um modo de eliminá-lo… Ao cair da tarde, saiu da cidade. Dissemos que Jesus havia preparado sua jogada. Tratava-se de um gesto essencial para Ele. Era uma provocação lúcida. Será “a partir disto” que morrerá! Voltando de novo a Betânia,passando de madrugada, viram que a figueira secou pela raiz.
Eis aqui a chave do estranho enigma da véspera: Jesus, na verdade, não se dirigia à figueira, mas ao Templo. Porque o Templo já não respondia à espera de Deus, este suscita a “cólera de Deus” e será destruído totalmente e definitivamente (Mc 13,2).
(NOEL QUESSON)
Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:
- Jesus amaldiçoa a figueira e o poder de sua palavra a seca no fim de um dia. A razão desse ato é a falta de fruto da planta, porém o evangelista mesmo explica: “não era tempo de figos.” Que é isso? É um acesso de ira próprio de alguém que tem desequilíbrio?
- E no caso do Evangelho de hoje o ensinamento se refere à esterilidade, como o mostram os fatos e, como tal, está condenada a secar e morrer. Diante dessa reflexão pergunto-me: Como anda a minha fé? Por acaso não estará como esta figueira estéril?
- E a minha casa interior? Está preparada para receber uma visita de Jesus a qualquer momento?
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SÁBADO
Marcos 11,27-33
O ÚLTIMO EMBATE
“Com que autoridade fazes isso?”
Jesus está novamente em Jerusalém, no templo.Reações à denúncia do templo feita no dia anterior, por Jesus, são previstas.Ainda que os dirigentes tramem sua morte (v.18), Jesus passeia sozinho pelo templo, já que no texto não se menciona seus discípulos. Enquanto os dirigentes têm medo d’Ele (v.18), a recíproca não é verdadeira: Ele não tem deles.
Aproximam-se d’Ele, agora, os três grupos que compunham o Sinédrio ou Grande Conselho, expoentes dos três poderes: (a) O religioso-político (os sumos sacerdotes e aristocracia sacerdotal); (b) O intelectual (os letrados, teólogos e juristas); (c) O econômico (os senadores e aristocracia civil).
A presença dos três grupos, o Conselho pleno, indica a gravidade da situação. Fazem-lhe duas perguntas: (a) a primeira quer saber que tipo de autoridade se atribui para fazer o que faz; e (b) a segunda quer saber quem lhe deu tal poder.
Por ocasião de sua entrada em Jerusalém Jesus foi aclamado como Messias, e a expulsão dos mercadores era fácil de interpretar como um gesto messiânico.
Os dirigentes não consideram, por um momento, se a atuação de Jesus estava justificada, se sua denúncia correspondia a um abuso real. Porém, como representantes e guardiões da instituição, afirmam ter autoridade legítima, procedente em último termo de Deus, e têm direito a saberem da boca de Jesus, que títulos ostentam que justifiquem sua atuação. Tentam levá-lo ao terreno jurídico.
Jesus quer desmascarar a má vontade dos dirigentes, que impede toda possibilidade de diálogo. Faz sua pergunta, ainda que preveja que não vão respondê-la (respondei-me e os direi), porque qualquer resposta os comprometeria.
Os dirigentes querem julgar sobre a procedência do messianismo de Jesus, porém não podem fazê-lo sem definir-se antes sobre a procedência do batismo de João, precursor de Jesus. Pede a eles uma opinião sobre a atividade de João Batista, que também, como Ele, não tinha credenciais jurídicas, nem sacerdotais, nem teológicas.
A pergunta que faz a eles é esta: Era coisa de Deus ou coisa humana? É a mesma que pode fazer-se sobre sua pretensão messiânica. E está claro que eles, os administradores do «covil de bandidos», não fez caso da exortação de João à emenda, à mudança de vida.
Os dirigentes se mostram inseguros, ponderando os “prós” e os “contras” de cada alternativa. Queriam dizer que o batismo de João era coisa humana, porém não se atrevem, têm medo do povo que não aceita os que contradizem uma persuasão arraigada de quem havia sido um profeta. De um lado ou de outro, veem ameaçado seu poder.
Optam por não pronunciar-se, mostrando sua má fé. Suas motivações nada têm a ver com Deus, cujo convite tem recusado na pessoa de João: buscam conservar seu poder e salvaguardar seus interesses. Para isso, o mais conveniente é manter uma postura ambígua que não os comprometa.
Com isso, sem dúvida, não poderão condenar o messianismo de Jesus nem desautorizá-lo. Terão que tolerar seu ensinamento e, mais tarde, prendê-lo por meio de traição. Jesus não responde à má fé.
Padre Juan Alarcón Cámara S.J/ www.homiletica.org