“Quero a Misericórdia” (EFC)

Mateus 12,1-8

A MISERICÓRDIA ACIMA DE TUDO

Se tivesses compreendido… não condenarias os que não têm culpa”

Vejamos no texto de hoje como é que Jesus dá o verdadeiro “descanso” (o Shabat) e faz ligeira a carga da Lei. O texto nos apresenta a primeira controvérsia sobre o estrito cumprimento da lei do descanso “sabático” (cuja norma se encontra em Êxodo 20,8-11).

A cena acontece em meio ao campo. Os interlocutores são os fariseus.

Os fariseus reprovam Jesus que seus discípulos façam em dia de sábado algo que não é permitido pela lei: “Olha, teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em sábado” (12,2). Eles se referem expressamente ao “arrancar espigas e comê-las” (12,1; ofício proibido fazer em sábado).

Eles só se fixam na norma, não na fome dos discípulos (“sentiram fome”, v.1) nem na misericórdia de Jesus que lhes permite romper a norma para remediar a necessidade (“quero misericórdia…”, v.7).

Os fariseus esperavam que Jesus lhes fizesse caso e repreendesse seus discípulos, porém, não aconteceu assim. De fato, se os discípulos fizeram isto foi porque os incentivou seu Mestre.

A resposta de Jesus, seguindo o mesmo esquema dos debates dos fariseus, cita duas passagens bíblicas na qual o remédio de uma necessidade foi mais importante que a rigidez da norma:

  • Jesus lê 1Sm 21,2-7, onde o sacerdote Ajimélek permite a Davi comer o pão que havia sido destinado para o Templo e os sacerdotes (Ex 25,23-30), já que não havia pão profano para comer ( Mt 12,3-4);
  • Logo apela a um argumento jurídico tomado do mesmo livro da Lei: quando um sacerdote está no exercício de suas funções no Templo nem todas as estritas normas do descanso sabático aplicam (Mt 12,5-6 citando Nm 28,9-10). Do qual Jesus conclui: “Eu vos digo que aqui há alguém maior que o Templo” (12,6).

Isto quer dizer que se o Templo dispensa da Lei do descanso, Jesus pode dispensar seus discípulos eventualmente de uma norma que impedia a caridade.

Jesus, “Deus-conosco”, é “maior que o Templo” (12,6) e “Senhor do Sábado” (12,8). Estas afirmações são surpreendentes. Para os fariseus soam como blasfêmia inaceitável.

Para os discípulos de Jesus soaram como resposta à pergunta pela identidade de Jesus, o verdadeiro “Ungido” e “Templo” de Deus, e ponto de partida de uma nova atitude frente ao aparato legal hebreu.

Jesus deixa entender que nenhuma instituição pode estar acima da nova notícia da caridade do Reino que vem ao mundo por meio da pregação, os milagres e os gestos de misericórdia de Jesus.

A citação “Quero Misericórdia, não sacrifício” (Os 6,6), introduz uma nova crítica de Jesus à rigidez espiritual dos fariseus. Uma das “queixas” (11,28) do povo era o sentimento de culpa por haver tido que fazer algo urgente que remediara suas necessidades passando por cima das normas estabelecidas.

O verdadeiro culto a Deus não está nos ritos externos, mas no ter um coração como o dele, o qual era a finalidade primeira do culto externo, pregaram os profetas.

Quando isto não é claro, se pode cair em posturas condenatórias que, se bem são coerentes com a norma escrita, podem não coincidir com a prioridade de Deus que é a vida plena do homem.

Por isso Jesus disse onde está à verdadeira falta dos que creem que nunca cometem faltas: “Não condenarias os que não têm culpa” (12,7). A autêntica experiência religiosa aponta sempre para a comunhão com Deus.

O sacrifício do Templo tinha esta finalidade. Não se podia esquecer que o fundamental está no coração: “Pois não te agrada o sacrifício…. O sacrifício a Deus é um espírito contrito…” (Sl 51,18-19).

Segundo isso, qual é o verdadeiro rito que Deus espera de mim: o amor ou a norma? Se por acaso respondemos o segundo, poderíamos terminar, não sacrificando-nos para Deus, mas sacrificando seu amor e “aos que não tem culpa” (12,7).

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