Lectio divina da 13ª semana comum (São Pedro e São Paulo)

COMUNIDADE PAZ E BEM -LECTIO DIVINA

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(Giorgio Zevini y Pier Giordano Cabra)

DOMINGO, 30 DE JUNHO DE 2019- SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Mateus 16,13-19 (Profissão de fé e primado de Pedro) A confissão de Pedro é um texto de grande impor­tância para a vida do cristianismo e se compõe de duas partes: a resposta de Pedro sobre o messianismo de Je­sus, Filho de Deus (vv.13-16); e a promessa do primado que Jesus confere a Pedro (vv.17-19). Sobre a pergunta que dirige Jesus a seus discípulos, po­demos sublinhar dois pontos de vista: o dos homens, com sua apreciação humana: (“Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”; v.13:) e o de Deus, com o correspondente conhecimento sobrenatural (“E vós quem dizeis que eu sou? v.15). A opinião do povo do tempo de Jesus reconhecia nele um profeta e uma personalidade extraordinária (v.14). A opinião dos doze, ao contrário, é expressada pela confissão de fé de Pedro: Jesus é o Messias, o Filho de Deus (cf. v.16). Mas, essa revelação é fruto exclusivo da ação do Espírito Santo, “pois isso não te revelou nenhum mortal, mas meu Pai, que está nos céus” (v.17). Por causa desta confissão, Pedro será a rocha sobre a qual Jesus edificará sua Igreja. A Pedro e a seus sucesso­res foi confiada uma missão única na Igreja: são o fundamento visível dessa realidade invisível que é Cristo ressuscitado. Ambos constituem a garantia da indefectibilidade da Igreja ao longo dos séculos. De outro lado, o poder especial outorgado, por Jesus a Pedro, expressado pelas metáforas das chaves, do «atar» e «desatar» (v.19), indica que terá este autoridade para proibir e permitir na Igreja.

 

Atos 12,1-11 (Prisão de Pedro e sua libertação miraculosa) Estamos em tempos da perseguição contra a Igreja por obra de Herodes Agripa, nos anos 41-44. Pedro, como Jesus, foi arrastado durante os dias da páscoa judia e encarcerado (cf. Lc 22,7). Lucas nos faz compreender a sorte que havia correspondido a Pedro se o Senhor não tivesse intervindo com um milagre (vv.1-4). Este tem lugar com a libertação da morte certa por meio de um anjo.                  O evangelista põe de relevo, a seguir, a grandeza da libertação de Pedro, toda ela obra de Deus, até tal ponto, que os cristãos não podiam dar crédito a seus olhos. Deus manifesta, assim, sua benevolência com os primeiros cristãos de modo extraordinário. O relato da libertação do apóstolo se divide em duas partes. A primeira nos conta o que acontece na prisão, onde dorme Pedro confinado, e o procedi­mento de sua libertação por meio do anjo (vv.7ss). Na segunda se descreve como o anjo e Pedro percorrem os caminhos da cidade, enquanto as portas se abrem facilmente à sua passagem. Depois disto, desaparece o anjo libertador (vv.9ss). Uma vez salvo, disse Pedro: “Agora me dou conta de que o Senhor enviou a seu anjo para livrar-me de Herodes e das maquinações que os judeus haviam tramado contra mim”, e se reúne com sua Igreja, que estava orando por ele (cf. v.5). Para Lucas, esta é a páscoa de Pedro, quer dizer, a libertação definitiva do mundo judeu, e a libertação do cabeça dos apóstolos se converte em sinal concreto da salvação que devem levar também aos gentios.

 

2 Tm 4,6-8.17ss (Solene admoestação) O texto nos apresenta o testamento de Paulo, que sente, agora, próxima, sua morte. Após fazer algumas recomendações a Timóteo, o apóstolo nos faz conhecer seu estado de ânimo: sente-se só e abandonado pelos irmãos, mas, não vítima, pois tem a consciência tranquila e o Senhor está com ele. Conservou a fé e a vocação missionária, fiel ao mandato recebido. É consciente de que «combateu o bom combate, concluiu sua carreira» (v.7). Compara-se, então, com a «libação» que se derra­mava sobre as vítimas nos antigos sacrifícios: quer morrer como um verdadeiro lutador, tal como viveu, consciente de ter se doado por completo a Deus e aos irmãos. É consciente de que agora lhe espera a vitória prometida ao servo fiel e, também, a todos os que «esperam com amor sua vinda gloriosa» (v.8). A conclusão do trecho sublinha os sentimen­tos pessoais do apóstolo dos gentios, seu amor pela causa do Evangelho, sua imitação da pessoa de Cristo, e sua consciência de ter levado a obra de salvação aos gentios, à qual havia sido cha­mado pelo Senhor (v.17).

 

Salmo 33/34 (Louvor à justiça divina) Deus é vida e amor, mas precisamos estar atentos, pois estamos cercados de situações que nos levam à morte: o mal, a violência, o ódio, as guerras. Além disso, vivemos um momento em que a vida está sendo destruída já no seu nascer, por meio do aborto. Há também uma morte que engana, pois não parece morte, mas igualmente pode matar: a injúria, o ódio, o rancor, a inimizade, a calúnia. Quem se decide a seguir o Senhor deve viver de acordo com a Palavra.

Ó meu Senhor Jesus Cristo, que eu seja coerente no meu dia a dia, defenda a vida e me faça presente e nunca falte as minhas orações por todas as iniciativas e realizações que busquem resplandecer o teu amor e a tua justiça.                  A pedagogia do seu amor nunca se altera: os ricos que não partilham passarão fome e os pobres que te amam sempre serão saciados do teu amor e da tua paz. Amém.

 

 

MEDITATIO A Igreja celebra, através destes dois apóstolos, seu fundamento apostólico, mediante o qual se apoia diretamente na pedra angular que é Cristo (cf. Ef 2,19ss). São Pedro e São Paulo são os «fundadores» de nossa fé; a partir deles se trava o diálogo entre instituição e carisma, a fim de fazer progredir o caminho da vida cristã. O pescador da Galileia iniciou sua extraordinária aventura seguindo o Mestre de Nazaré, primeiro, na Judéia e, a seguir, após sua morte, até Roma. E ali ficou não só com sua tumba, mas com seu mandato, quer dizer, naqueles que têm subido à «cátedra de Pedro». São Pedro continua sendo, nos bispos de Roma, a «rocha» e o centro de unidade, sobre o qual Cristo edifica sua Igreja. São Paulo, o Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, converteu-se, de perseguidor de Cristo em zeloso missionário de seu Evangelho. Tomado pelo amor ao Senhor, Jesus Cristo chegou a ser para ele sua maior paixão (2 Cor 5,14), até o ponto de dizer: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo quem vive em mim» (Gl 2,20). Seu martírio revelará a substância de sua fé. A evangelização destas duas colunas da Igreja não se apoia em uma mensagem intelectual, mas em uma experiência profunda, sofrida e testemunhada com a palavra de Jesus.

 

ORATIO: Ó Deus, que com inefável sacramento quiseste pôr na sede de Roma a potestade do principado apostólico, para que dela a verdade evangélica se difundisse por todo o mundo, concede que o que se tem difundido por sua pregação em todo o orbe seja seguido com toda a devoção cristã.

 

CONTEMPLATIO […] nos apóstolos Pedro e Paulo quiseste dar a tua Igreja um motivo de alegria: Pedro foi o primeiro em confessar a fé; Paulo, o mestre insigne que a interpre­tou; aquele fundo, a primitiva Igreja com o resto de Israel, este a estendeu a todas as gentes. Desta forma, Senhor, por caminhos diversos, ambos congregaram a única Igre­ja de Cristo, e a ambos, coroados pelo martírio, ce­lebra, hoje, teu povo com uma mesma veneração (Missal romano, prefácio da missa do dia).

AÇÃO: Repete hoje com frequência orando com São Pedro e São Paulo:

«O Senhor me assistiu e me revestiu de forças» (2 Tm 4,17)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL A liturgia fixa, hoje, alguns momentos na rica e agitada vida dos dois apóstolos. Domina, sobretudo, a cena de Cesareia de Filipo, descrita no texto evangélico. Que reteremos, em particular, deste episódio tão célebre? Estas palavras: «Tu és Pedra e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja». A Igreja, pois, não é uma sociedade de livres pensadores, mas é a sociedade, ou melhor, a comunidade dos que se unem a Pedro na proclamação da fé em Jesus Cristo. Quem edifica a Igreja é Jesus Cristo. É Ele quem elege, livremente, um homem e o põe na base. Pedro não é mais que um instrumento, a primeira pedra do edifício, enquanto que Jesus Cristo é quem põe a primeira pedra. Sem dúvida, de agora em diante, não se poderá estar verdadeira e plenamente na Igreja, como pedra viva, se não se estar em comunhão com a fé de Pedro e com sua autoridade; ou, ao menos se não se tende a estar. Santo Ambrosio escreveu umas palavras vigorosas: «Ubi Petrus, ibi Ecclesia», «Onde está Pedro, ali está a Igreja». O que não significa que Pedro seja, por si só, toda a Igreja, mas que não se pode ser Igreja sem Pedro (R.Cantalamessa, La Parola e Ia vita).

 

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 01 DE JULHO DE 2019 – 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM  ANO PAR

Mateus 8,18-22 (Exigência da vocação apostólica) A passagem do Evangelho de hoje se abre com a ordem de Jesus de “que partissem à outra margem”. Sem dúvida, a execução da ordem está interrompida por dois episódios que faltam no Evangelho de Marcos e que estão colocados em outro lugar no evangelho de Lucas. Ambos ilustram as condições requeridas para seguir a Jesus, as exigências da fé. A possibilidade do seguimento deve assumir o sofrimento, as adversidades e a paixão como passo obrigatório. A frase “as raposas têm suas tocas e os pássaros do céu ninhos, porém o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” está constituída segundo o uso oriental de fazer seguir uma imagem negativa a duas positivas: o termo “Filho do homem”, que tampouco tem um significado unívoco, indica aqui a precariedade de Jesus, seu carecer de casa e de raízes, de referência e de refúgio. A contraposição entre Jesus e os “mortos” expressa de maneira adequada à ruptura que “o que vive” insere na trama da experiência do homem. Aquele que é a “Vida” indica o “Caminho”. Não ter onde reclinar a cabeça (para dormir ou para morrer) é a condição para restituir sua verdade à vida.

 

 

Amós 2,6-10.13-16 (Judá; Israel) Com o mais típico procedimento da sabedoria, ou seja, por sucessão numérica progressiva do três e o quatro, que serve para indicar a medida transbordante do delito, aparece solenemente em Amós o “julgamento contra a nação” de Israel. Um procedimento que teve grande acolhida na literatura profética posterior. Aqui, a denúncia do pecado lhe segue a recordação dos benefícios divinos e, por último, a ameaça do castigo. O pecado constitui a alteração das relações de justiça e de respeito entre os homens, à substituição das pessoas por coisas, a opressão do pobre, a perda da dignidade nas relações. A profecia não pode deixar de recordar tudo que Deus havia garantido a Israel, dando-lhe este último as costas. Agora chama Deus a atenção sobre a vaidade do fechamento de Israel; ninguém poderá resistir por seus próprios méritos se, se subtraiu a relação com Deus, uma relação que se afiançará no dia estabelecido. O pedido de perdão pela infidelidade do povo atravessa a denúncia do salmo conexo, que se encerra aludindo à feliz relação entre Deus (que mostra a salvação) e o homem que honra a Deus (seguindo pelo caminho reto).

 

Salmo 49/50, 16-23 (Para o culto em espírito) Este Salmo tem o sabor de um exame de consciência violento, daqueles que nos obriga a parar e a olhar dentro de nós para vermos se ali existe o bem ou o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. O mesmo fazem os seus profetas. Deus nos mostra o mal para que possamos nos converter e tomar resoluções novas de uma vida santa. Deus não critica os louvores que lhe são oferecidos, exceto quando a nossa atitude de louvá-lo não condiz com a nossa vida cheia de pecados. De que serve sermos religiosos, frequentarmos a Igreja, se negamos tudo isso diariamente com as nossas atitudes?

Ó Senhor, dá-me a coerência de vida. Que eu te ofereça sacrifícios e que seja atento aos teus preceitos, mas nunca permita que a minha vida renegue a minha fé. Dá-me força de ser fiel, e que a minha felicidade seja a melhor pregação e a melhor evangelização. Palavras nada servem se não forem comprovadas e consagradas pelos atos. Amém.

 

 

MEDITATIO: Profeta é quem deixa um novo espaço para a Palavra de Deus, quem permite que Deus possa voltar a falar, fazer-se ouvir ainda, chegar a ser de novo significativo. Esta palavra, que é palavra de liberdade e de amor, é também, por necessidade, uma palavra exigente. Posto que o homem esquece os benefícios de Deus, sua libertação, os cuidados que lhe tem dispensado, e prefere celebrar o ódio, a injustiça, o abuso. Ante a declaração “Eu vos tirei do Egito”, os homens oscilam entre dois excessos: “Antes estávamos melhor”, ou bem: “Sempre fomos livres”. A infidelidade à liberdade recebida como dom se parece muito à facilidade (quase à maneira “simplória”) com que se pensa a possibilidade da fidelidade. Seguir a nosso Mestre por onde Ele vá, como pretendia o mestre da Lei, significa alcançar arduamente o que se requer para o Reino de Deus. Mas, esse empenho, oferecido de maneira gratuita e assumido de maneira responsável, é a liberdade da fé, a gratuidade da obediência, a ressurreição através da cruz.

 

ORATIO: Ó Deus, que libertaste a teu povo e lhe deste o gosto da liberdade, és eterno porque nunca nos falta teu amor fiel. No Espírito de teu Filho unigênito, Jesus, que nasceu, viveu e morreu por nós, sancionas tua fidelidade não só para todos os tempos e todos os homens, mas tomaste também sobre ti o compromisso de tua indefectível companhia no trabalho de nossa resposta, fazendo leve nossa carga. Ó Senhor, tua graça nos surpreende, e unida à resposta obediente de teu servo Jesus, que, no Espírito, foi outorgada a todo cristão: ambas, unidas, iluminam a escuridão de nossa infidelidade, convertem as angústias de nossa insensibilidade e nos põe após os passos do Ressuscitado, com o justo desprendimento de tudo aquilo que há podido distrair-nos de seu seguimento.

 

CONTEMPLATIO: Senhor meu Deus, ensina meu coração onde e como buscar-te, e onde e como encontrar-te. Senhor, se tu não estás aqui, onde te buscarei ausente? E se estás em todas as partes, por que nunca te vejo presente? […]. Olha, Senhor meu Deus, escuta-nos, ilumina-nos, mostra-te a nós. Volta a dar-te a nós para que estejamos bem: sem ti estamos mal. Tem piedade de nossas fadigas, de nossos esforços para contigo: sem ti não valemos nada. Ensina-me a buscar-te e mostra-te quando te busco: não posso buscar-te se não me ensinas, nem encontrar-te se tu não te mostras. Que eu te busque desejando-te e te deseje buscando-te, que te encontre amando-te e te ame encontrando-te (Anselmo de Canterbury).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20b)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Como o homem poderia chegar a dar-se conta do mal e como poderia chegar a tomar a sério, com toda sua gravidade, seu pecado e o dos demais, por muito claro que possa estar ente seus olhos? […]. A resposta está na cruz. O peso do pecado, a atrocidade da corrupção humana, a profundidade do abismo em que vai a precipitar-se o homem que faz o mal, podem medir-se pelo fato de que o amor de Deus há podido e querido responder ao pecado, superá-lo e eliminá-lo, e salvar assim ao homem, só entregando-se a si mesmo em Jesus Cristo, sacrificando-se para executar o juízo sobre o homem fazendo-se julgar em seu lugar e deixando que morra em sua pessoa o homem velho do pecado. Só quando se tem compreendido isto, quer dizer, quando se tem compreendido que Deus nos reconciliou consigo a preço de si mesmo, na pessoa do Filho, só então deixa de haver lugar para a confortável ligeireza que quisera ver nossa maldade limitada por nossa bondade (K. Barth, Dogmatica ecclesiale, Belonia 1980).

 

 

TERÇA-FEIRA, 02 DE JULHO DE 2019 – 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Mateus 8,23-27 (A tempestade acalmada) A Igreja é uma barca em meio da tempestade enquanto Jesus dorme. A experiência do abandono do Senhor – da Igreja que abandona seu Jesus e de Jesus que abandona sua Igreja – marca até o fundo esta página evangélica. Rogar ao Senhor, aproximar-se dele e despertá-lo (“Desperta, Senhor; por que dormes?», cf Sl 44,24) e implorar-lhe: «Senhor; salva-nos, que estamos perecendo», significa: (a) voltar a encontrar a nós mesmos, como cren­tes, como fieis, como discípulos, e (b) encontrar a Jesus, como Senhor e como Cristo. A tempestade da paixão, o triunfo da morte, dissipam-se ante a pre­sença de quem recompõe, com autoridade, a ordem da graça. De modo diferente aos paralelos de Marcos e de Lucas, sem dúvida, aqui Jesus reprova, aos discípulos, a pouca fé antes de acalmar as ondas. O senhorio de Jesus e a fé dos discípulos se reclamam reciproca­mente, ainda que não possa haver, entre eles, uma perfei­ta reciprocidade. O fato de que Jesus durma indica, ao mesmo tem­po, o drama da morte do Filho do homem, que é um desafio para a fé da Igreja, e a serena confiança no Pai por parte daquele que «se fez obediente até a morte e morte de cruz» (Fl 2,8).

 

 

Amós 3,1-8;4,11-12 (Eleição e castigo; A vocação profética é irresistível) A aliança entre o Senhor e Israel, que é «saída» e «libertação» do Egito, não pode ser motivo de fuga de seu compromisso para o povo de Israel, que não pode sentir-se com direito a excessos, assegurados por um Deus indiferente ou cúmplice. O Deus de Israel se preocupa com seu povo e o liberta para que se torne semelhante a Ele, a fim de que o imite e o siga. É Pai, não suplente; é protetor, não cúmplice. As sete perguntas retóricas do texto levam a entender a necessidade que tem Deus de falar e o profeta de profetizar. O que se sobressai é, sem dúvida, a verdade da relação de aliança entre o Senhor e seu povo. Este está sujeito à eleição, e não Deus. Deus é fiel a si mesmo, corresponde a si mesmo e, ele­gendo a Israel, o compromete a assumir uma responsa­bilidade superior. Por tudo isso, o encontro com seu pró­prio Senhor é, para Israel, tanto para o antigo como para o novo, sempre maravilhoso e sempre terrível, ao mesmo tempo perturbador e apaixonante.

 

Salmo 5 (Oração da manhã) Deus é o Pai dos pobres e dos justos. Diante dele toda a maldade está sempre desmascarada. Somente os que vivem a justiça e praticam a verdade permanecerão de pé diante do Senhor. Não há nada mais emocionante do que deixar-se iluminar pela Palavra de Deus e, por meio dela, orientar-se em todos os momentos. Com ela, entraremos e estaremos sempre na casa de Deus, que é o nosso refúgio e proteção.

Senhor, ajuda-me a fugir de toda a maldade. Dá-me a graça de viver na tua presença e na tua casa. Que eu nunca me afaste de ti e que, cheio de amor, possa me prostrar diante de ti, permanecendo em adoração da tua vontade mesmo quando ela se manifesta de maneira difícil em minha vida. Amém.

 

 

MEDITATIO: As esplêndidas perguntas com que está tecida a passagem tomada do livro de Amós conduzem, idealmente desde a sabedoria à profecia, desde a observação atenta da realidade natural à irrupção de uma palavra e de uma ação que expressam seu sentido e verdade. Ao final, a profecia, a necessidade de profetizar, aparece como uma nova evidencia, como uma impelente necessi­dade para Israel: «Fala o Senhor: quem não profetizará?». A Palavra de Deus e a do homem, a do Senhor do céu e da terra e a do pastor-profeta, chegam de imediato a um acordo: o mesmo acordo que se tornou acessível a cada homem em Jesus. O novo Israel, a Igreja gerada também pelo Espírito de Cristo, não pode dormir, não pode morrer; Está confusa e desconcertada pelo silencio profundo desde o que seu Senhor faz subir sua Palavra autorizada e seu gesto resolutório. A fé que falta à Igreja é a confiança em seu Senhor, a mesma confiança que o sono de Jesus anuncia dramática e serenamente.

ORATIO: Ó Senhor, tu foste capaz de dormir, foste capaz de morrer. Ensina-nos a descobrir em tua obediência o segredo de nossa liberdade, em tua morte o segredo de nossa vida, em teu sono o mistério de nossa vigilância. Ó Espírito do Ressuscitado, ajuda-nos a prestar ouvido à voz da profecia que se eleva desde os lugares mais inesperados da terra, desde o mar, desde o céu; es­tes lugares repetem inconscientes as notas mais profun­das de tua indefectível solicitude. Ó Pai de todos nós, concede-nos uma palavra firme nas incertezas e um olhar clarividente entre as ondas, a fim de que a autoridade de teu Filho possa fazer-se presente no Espírito, que visita e anima sempre a tua Igreja.

 

 

CONTEMPLATIO: Portanto, também o sono de Cristo é sinal de algum mistério. Os navegantes são as almas que passam este mundo em um madeiro. Também a aquela embarcação fi­gurava à Igreja. Cada um, de fato, é templo de Deus e cada um navega em seu coração. Se seus pensamentos são retos, não naufragará. Ouviste uma afronta, eis ai o vento. Ficaste irritado, eis ai a agitação. Soprando o vento e encrespando-se a agitação, se acha em perigo a embarcação, periga teu coração, flutua teu coração. Ouvida a afronta, desejas vingar-te. Vingaste e, cedendo à injuria alheia, naufragaste. Qual é a causa? Porque dorme em ti Cristo. Que significa: dorme em ti Cris­to? Esqueceste-te de Cristo. Desperta, pois, a Cristo, recorda-te dele, esteja desperto em ti: pensa nele (Santo Agostinho, Sermão 63).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Fala o Senhor: quem não profetizará?» (Am 3,8b)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Consideremos a insônia […]. A insônia se caracteriza pela consciência de que esta situação não acabará nunca, isto é, que não existe nenhum meio para sair da vigilância à que estamos obrigados. Vigilância sem objetivo […]. Contudo, é preciso que nos perguntemos se a consciência se deixa definir pela vigilância, se a consciência não é, melhor dizendo, a possibilidade de subtrair-nos à vigilância; se o sentido próprio da consciência nãoo consiste, talvez, em ser uma vigilância posta ao abrigo de uma possibilidade de dormir; se o particular modo de ser do eu não consiste no poder de sair da situação da vigilância impessoal. A consciência participa já, com efeito, na vigilância. Sem dúvida, o que a caracteriza de modo particular é o fato de reservar-se sempre a possibilidade de retirar-se «atrás», para dormir. A consciência é o poder de dormir. Nesta fuga plena consiste, em certo sentido, a paradoxal mesma da consciência (E. Lévinas, El tiempo y el otro).

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 03 DE JULHO DE 2019 – 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

João 20, 24-29

 O martirológio jeronimiano do século VI coloca no dia 3 de Julho a transladação do corpo de S. Tomé para Edessa, na atual Turquia. Este apóstolo, também chamado Dídimo, é-nos dado a conhecer sobretudo por S. João evangelista. É Tomé que convida os outros apóstolos a acompanharem Jesus para a Judeia, para morrerem com Ele (Jo 11, 16). É a pergunta de Tomé que leva Jesus a definir-se: ”

Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.” (Jo 14, 5s.). Finalmente, Tome, com a sua incredulidade, ajuda-nos a fortalecer a nossa adesão a Jesus, por meio de uma profissão de fé muito clara: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 24-29).Como escreve S. Gregório Magno, “A incredulidade de Tomé foi mais útil à nossa fé do que a fé dos discípulos crentes”. Após o Pentecostes, partiu em missão. Mas não temos dados precisos acerca do seu apostolado.

Lectio

Primeira leitura: Efésios 2, 19-22

Evangelho: João 20, 24-29

Naquele tempo, Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio.25Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.» 26Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» 27Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» 28Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» 29Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!»

A incredulidade de Tomé, como referimos na introdução a esta festa, citando S. Gregório Magno, foi “mais útil à nossa fé do que a fé dos discípulos crentes”. Aproveitando o episódio, João abre diante de nós uma pista nova para chegarmos à libertadora experiência da fé em Jesus ressuscitado. Na aparição seguinte aos seus discípulos, Jesus convida Tomé a percorrer o caminho de busca, que os seus colegas já tinham feito. Tomé, disponível e dócil à ordem de Jesus, chega a um ato de fé claro e convicto: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28). A bem-aventurança, que Jesus proclama em seguida, dirige-se a nós que, percorrendo um itinerário de fé, em atitude de completo abandono, chegamos a Jesus morto e ressuscitado.

Meditatio

No episódio narrado no evangelho, Tomé não é, certamente, um modelo para nós. Jesus di-lo claramente: “Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!” (v. 29). Mas, como já referimos, a sua incredulidade foi útil para nós.
O que mais impressiona é que Tomé acompanhara Jesus, tal como os outros apóstolos. Conhecia bem o seu rosto e as suas palavras. Mas, agora, para acreditar, quer ver os sinais da Paixão: “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.” (v. 25). Mas, exatamente nisto, Tomé torna-se modelo para nós, pois sabe discernir o que carateriza Jesus. Depois da Paixão, Jesus é caraterizado pelas suas chagas. Esses sinais do seu amor são suficientes para O reconhecermos. Por isso, as conserva na sua carne gloriosa: “Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.” (v. 27). Tomé, podemos dizê-lo, foi o primeiro devoto do Coração de Jesus. Quis contatar, também fisicamente, com esse Coração trespassado por nosso amor. Quantos cristãos contemplaram o Lado aberto e o Coração trespassado de Jesus. O P. Dehon compara-o ao livro escrito por fora e por dentro, referido no Apocalipse, e que nos fala só de amor.
A contemplação do Lado aberto e do Coração de Jesus levou Tomé à sua fortíssima expressão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28). Que essa mesma contemplação do mais expressivo sinal do amor do nosso Salvador nos leve a uma fé clara, decidida, forte, apostólica.

Oratio

Meu Senhor e meu Deus! Quero tirar das vossas chagas a bebida da salvação. Sede condescendente comigo como fostes com S. Tomé. Emprestai-me as vossas mãos e os vossos pés para que aí cole os meus lábios. Tenho tanta necessidade de forças. Ousarei mesmo aproximar-me do vosso Coração para dele tirar o arrependimento e o fervor. Perdoai-me! (Leão Dehon, OSP 3, p. 297).

Contemplatio

  1. Tomé exprimiu a sua fé: «Meu Senhor e meu Deus!». Meu Senhor, é o Filho do homem, é o Cristo, é o Messias. Meu Deus, é o Filho de Deus, é o Verbo incarnado. A fé é completa e explícita. «Tu és feliz, Tomé, diz-lhe Nosso Senhor, viste e acreditaste; mas mais felizes, isto é, mais meritórios, serão os que acreditarem sem terem visto». Eu devia ser destes, Senhor. Não vi as chagas, mas tenho tantos motivos de fé: o testemunho do Evangelho, a Igreja e as suas graças, os santos, a ação sobrenatural sempre viva na Igreja. E não toquei, por assim dizer, com o dedo a vossa ação e a vossa graça, em mil circunstâncias da minha vida, seja em mim mesmo seja nas almas com as quais estive em contacto? Não seria mais culpado do que Tomé, se não tivesse uma fé viva? E porque é que a minha fé é ainda tão fraca, tão inerte e quase morta? Creio, mas vivo como se não tivesse fé. Quero hoje pedir o milagre da minha conversão às cinco chagas. Contemplo-as em espírito. Aproximo delas os meus lábios. Queria beber nestas fontes de água vivificante de que fala S. João. (Leão Dehon, OSP 3, p. 296s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28).

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 04 DE JULHO DE 2019 – 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Mateus 9,1-8 (Cura de um paralitico) A admiração da multidão, que dá glória a Deus por ter “dado tal poder aos homens”, encerra de maneira significativa este episódio da cura do paralitico. Nele, a ação de Jesus tem que ser vista de modo radical com o pecado e com a cura do homem e nesta dimensão se encontra a Igreja a si mesma. Agora bem, a tensão entre a autoridade de Jesus e a reação dos homens segue sendo muito aguda: como ao longo do Evangelho, a incompreensão e a rejeição se tornam tanto mais profundas e obtusas quanto maior se apresenta a divergência entre Jesus e os investidos de “autoridade”. A acusação de blasfêmia, que começa a filtra-se explicitamente nas reações dos mestres da Lei, antecipa o juízo inapelável que levará Jesus à cruz. A reconciliação e o perdão, no choque entre o poder do pecado e a vida recuperada em sua plenitude, são, ao mesmo tempo, glória de Deus e pedra de tropeço para o homem.

 

 

Amós 7,10-17 (Conflito com Amasias. Amós expulso de Betel) A persuasão de ter a Deus de sua parte comporta imediatamente, no caso de Israel, uma grande dificuldade para tomar a sério as palavras do profeta. O choque, entre o sacerdote Amasias e o profeta Amós, que alcança com grande probabilidade à dura experiência histórica de Amós, documenta também, não obstante, a redução da função profética de Amós no “dossiê” que Amasias apresenta a Jeroboão: o profeta aparece nele como alguém que “atenta” contra a casa real e a instalação do povo em sua própria terra. Não dedica sequer uma palavra ao verdadeiro fundamento das ameaças, ou a denúncia do pecado e à exigência da conversão. Frente a esta ação de ilegitimidade e de intento de proscrição, responde Amós com o testemunho de uma identidade transformada e querida por Deus. De vaqueiro e cultivador de figueiras, quis Deus torná-lo em profeta, quer dizer, que da voz a sua Palavra. Por isso o tomou e lhe “fez deixar o rebanho” para que profetizasse do mesmo modo que havia feito com Davi, “detrás das ovelhas” (2 Sm 7,8). A identidade do profeta deriva, portanto, do senhorio absoluto de Deus, de seu poder; que tem transformado sua vida e imposto uma tarefa. O que o sacerdote havia referido ao rei como cargos contra o profeta o repete este como “castigo de Deus” e afirmação do senhorio de Deus.

 

Salmo 18/19,8-11 (Iahweh, sol de justiça) Quais os princípios que nos orientam? Se eles forem pecaminosos, toda a nossa vida será injusta; mas se eles forem justos, o nosso agir será reto. Os Salmos nos convidam a ter nossas vidas coerentes com a Palavra. A doçura da Palavra de Deus sacia o nosso coração. Que a nossa boca não fale mentira, que o nosso falar seja reto e honesto.

Senhor, preserva-me do orgulho de ser santo e melhor que os outros. Que eu sempre tenha no coração a humildade. Se faço o bem, é por ti; se fujo do mal, é pela tua bondade. Nada sem ti podemos fazer. Contemplar e fazer o bem são os maiores desejos que temos dentro de nós. O bem está presente em todas as pessoas, portanto dá-me olho para enxergá-lo e coração para amá-lo. Amém.

 

 

MEDITATIO: A palavra do juízo e a palavra de reconciliação e de perdão soam hoje de uma maneira surpreendentemente dissonante. Contudo, existe uma incontestável continuidade entre a terrível profecia de Amós sobre Jeroboão e o que disse Jesus ao paralitico. Na leitura do livro de Amós se intercambiam duras palavras o sacerdote, o rei e o profeta. Agora bem, detrás dessas palavras se vislumbram o duro caminho pelo qual se pode filtrar a Palavra de Deus. A reconciliação de Deus com seu povo está assegurada por uma Palavra que, como uma espada de duplo fio, divide e purifica. Em Jesus, sacerdote, profeta e rei, realiza-se a reconciliação de Israel, uma reconciliação que se estende a todos os homens. O perdão do pecado, realizado de uma maneira plástica pelo levantamento do paralitico, expressa o poder do Filho do homem na terra, que inaugura uma nova criatura, um novo povo, novos céus e uma nova terra.

 

ORATIO: Talvez, Senhor, tua Palavra seja muito forte, muito pura, para que nosso coração possa resistir frente a ela. Talvez, oh! Jesus, teu amor pelo homem seja muito grande para que possamos fazer-nos verdadeiramente capazes dele. Talvez, oh! Pai, tua misericórdia siga parecendo-nos só debilidade e teu juízo se apresente a nossos olhos como demasiado duro. Oh! Deus, envia teu Espírito para que assista a nossa escuta, afim de que sejamos capazes de dar-nos conta da responsabilidade que temos em teu juízo e de nossa fragilidade em teu perdão: assim encontraremos sempre as palavras com as quais te dar graças e louvar-te pelas bênçãos que continuamente nos reservas.

 

 

CONTEMPLATIO: Minha alma bendiz ao Senhor. Diz à tua alma: ainda estás nesta vida, ainda levas sobre ti uma carne frágil e um corpo corruptível que a traz para o solo; ainda que, pese à integridade da remissão, recebeste o remédio da oração… No entanto curam bem tuas debilidades: Perdoa-nos nossas dívidas. Dize, pois, a tua alma, vale humilde, não colina erguida; dize a tua alma: Bendize minha alma, ao Senhor Jesus Cristo e não queira esquecer nenhum de seus favores. Que favores? Di-los, enumera-os e agradece-os. Ele perdoa todos os teus pecados. Isto aconteceu no Sacramento do Batismo. E agora? Ele cura todas tuas enfermidades. Isto agora o reconheço. (Santo Agostinho).

 

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Animo, filho, teus pecados estão perdoados” (Mt 9,2b)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL O tempo de Deus não é o nosso. Tu não podes contar a Deus os anos e os dias; Deus é fiel. Posso perceber os sinais deste dia como sentinelas postos durante a noite anseiam os sinais da aurora […]. Esta graça tem um preço muito elevado, não é uma graça barata. Requer esvaziamentos e abandonos, requer que respondamos de modo franco à pergunta que emergiu na cultura mais recente: “Não serei talvez, pelo fato de ser, um assassino?” Ou seja, se me isolo em meu eu, convertendo meu próprio ser no bem absoluto e no centro de tudo, não suscito, assim, o ressentimento do outro, que se põe ante mim como inimigo? Pensai no que disse frei Cristóbal a Lorenzo ante o leito tosco de Don Rodrigo, que morre no leprosário: Talvez a salvação deste homem e a tua dependam agora de ti, de um sentimento teu de perdão, de compaixão… de amor. Compreendeis? Amar ao que lhe havia arruinado a vida (I.Mancini,Ter follie, Milán).

 

 

 

SEXTA-FEIRA, 05 DE JULHO DE 2019 – 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Mateus 9,9-13 (Chamado de Mateus; Refeição com os pecadores) A provável unificação de dois relatos originariamente diferentes assume no Evangelho de Mateus a força de uma catequese sobre o pecado e sobre a reconciliação. O primeiro se centra na vocação do pecador-cobrador Mateus, chamado por Jesus (isto é já algo surpreendente), que se determina a seguir-lhe (o que é ainda mais inconcebível). O segundo confirma esta relação entre Jesus e os pecadores na modalidade da refeição. Jesus anuncia a misericórdia, que é o elemento eminente que se encontra acima inclusive de algo que se observava com maior assiduidade no plano religioso, precisamente o sacrifício. A interpretação da citação de Oséias: “Quero Misericórdia e não sacrifícios” não deve ser exacerbada e radicalizada, posto que, corresponde, assim mesmo, desde o ponto de vista literário, a uma superioridade que se expressa em forma de contraposição: para expressar o primado da misericórdia sobre o sacrifício, se nega o segundo com a primeira.

 

 

 

Am 8,4-6.9-12 (Contra os defraudadores e exploradores) A primeira parte do texto do profeta delineia o quadro das “prioridades” daqueles que, pecando esmagam o pobre e tratam de eliminar os humildes. Mediante um discurso direto, como para referir seus próprios pensamentos, retrata-se toda uma mentalidade, toda uma orientação de vida. É central aqui a revolta contra a medida mensal e semanal do tempo, que impede seu comércio e se converte em oportunidade de fraude. A segunda parte elabora a reação do Senhor a esta infidelidade com a aliança concluída com Ele. O pôr do sol ao meio dia constitui o grande sinal do “dia do Senhor”, em que dominará o duelo e no qual, entretanto, a “pena” mais grave é a “extinção da profecia”, a de uma insaciável fome e sede da Palavra de Deus. A retirada de Deus do mundo, como a luz da terra, será o desenlace dos que errarão sem meta, “buscando a Palavra do Senhor, e não a encontrarão” (v.12b).

 

 

Sl 118/119, 2.10.20.30.40.131 (Elogio da lei divina) Esta é uma oração sem fim. Provavelmente é obra não só de uma pessoa, mas de várias, que elogiam por meio de muitos artifícios literários a Palavra de Deus, a lei do Senhor, como fundamento de todo o agir humano. É um Salmo belíssimo que deve ser “saboreado” lentamente, um versículo por dia. Assim, teremos por mais de meio ano assegurado nossa meditação. Deus se comunica conosco não para nos oprimir ou dominar, mas para ensinar-nos os caminhos mais fáceis da felicidade. Felizes os que vivem a Palavra e a ensina aos outros. Medite dia a dia este Salmo e sua vida, sem dúvida, será diferente, sendo fortalecida não por palavras humanas, mas pela Palavra de Deus.

Senhor, não quero fugir de tua Palavra nem desprezá-la. Quero amá-la como Lâmpada para os meus pés e luz no meu caminho. “Lâmpada para meus passos é tua palavra e luz no meu caminho. Jurei, e o confirmo guardar tuas justas normas. Meu sofrimento passa dos limites, Senhor, dá-me vida segundo tua palavra. Senhor, aceita as ofertas dos meus lábios, ensina-me tuas normas. Minha vida está sempre em perigo, mas não esqueço a tua lei. Os ímpios me armaram laços, mas não me desviei de teus preceitos. Minha herança para sempre são teus testemunhos, são esses a alegria do meu coração. Inclinei meu coração a cumprir teus estatutos, desde agora e para sempre”. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: Ter fome e sede não de pão e água, mas da Palavra do Senhor constitui a grande experiência dos profetas e também do profeta que há em cada cristão. “Não só de pão vive o homem”, disse Jesus quando é tentado no deserto. A verdadeira tentação para o homem é a perda da percepção da fome da Palavra de Deus que faz viver, acima da fome do pão que o alimenta. Sem dúvida, o castigo sobre Israel procede de um pecado que poderíamos definir como “redução do tempo” (o novilúnio, o sábado) para cálculos oportunistas e pessoais, como ocasião para concluir negócios, para obter benefícios imediatos. “Converterei em duelo vossas festas, e em lamentações vossos cânticos”: não tem que fazer grande coisa o Senhor Jesus para infligir este castigo. O homem obtém por si mesmo seu próprio castigo. Perde o sentido do tempo como amor e misericórdia e o recupera, sem dúvida, na “refeição com os pecadores”, no compartilhar a necessidade de perdão que lhe abre à salvação e a felicidade.

 

 

ORATIO: Faz Senhor, que, quando nos aproximemos de tua mesa, nos recordemos sempre de nossa dupla vestimenta: nós te acolhemos como hóspede para que tu nos acolhas como hospedes teu. Só assim, através deste mistério de comunhão, que é superação do pecado e dom de salvação, poderemos evitar que nosso culto se mude em lamento, em um cumprimento vazio ou em uma repetição alienadora. Que tua Palavra e teu sangue, oh! Jesus, nos tornem impetuosos ao desígnio que preparaste para nós: tu realizaste o que nós temos ainda adiante como tarefa, porém nos acompanha em nosso trabalho cotidiano. Faz que possamos descobrir sempre em nossa tarefa teu dom.

 

CONTEMPLATIO: Se desejamos interpretar, mais fundo este episódio, diremos que Mateus não só oferece ao Senhor da terra um banquete material em sua casa, mas que, lhe prepara um banquete muito mais agradável em sua morada interior graças à fé e ao amor, segundo o que Ele mesmo, Cristo disse: “Olha que estou chamando à porta. Se alguém ouve minha voz e abre a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). O Senhor está à porta e chama quando infunde em nosso coração o chamado de sua vontade, tanto através da palavra de um doutor como por inspiração direta […]. Entra para sentar-se à mesa, Ele conosco e nós com Ele (Beda, el Venerable, Holimias).

 

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Por que vosso mestre come com os publicanos e os pecadores?” (Mt 9,11)

                                                                              

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL A fome é meu lugar nativo na terra das paixões. Fome de comunhão, fome de retidão; comunhão baseada na retidão, e retidão alcançada através da comunhão. Só a vida poderá responder às perguntas expostas pela vida. Esta fome se associa só plasmando a vida de modo que minha individualidade seja uma ponte para os outros, uma pedra no edifício da retidão. Não temos de temer a nós mesmos, mas viver nossa própria individualidade de maneira acabada, buscando o bem. Não temos de seguir aos outros para adquirir a comunhão, não temos de erguer as convenções em leis em vez de viver a retidão. Livre e responsável. (D. Hammerskjold)

 

 

 

 

 

SÁBADO, 06 DE JULHO DE 2019 – 13ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Mateus 9,14-17(Discussão dobre o jejum) Também neste texto   Mateus trata a relação de Jesus com o pecado e a reconciliação. No centro, como no texto precedente, se encontra o ato da refeição, não já considerado como âmbito de relação, mas enquanto tal, enquanto possível ato de renúncia, de sacrifício e tristeza. Na realidade, o eixo do Evangelho de hoje é a relação entre o novo e o velho, que havia caracterizado já ao Evangelho de Mateus no extenso “sermão do monte”. O jejum não enquadra com a presença do esposo no meio da comunidade. Jesus é o esposo, o ressuscitado, presente no meio da Igreja “até o fim do mundo”. O jejum experimenta, assim, para o cristão, graças também a estas expressões, grande transformação: de expressão de luto se converte em manifestação da expectativa confiada pelo retorno do Senhor. O cristianismo celebra realmente a morte do próprio Senhor ressuscitado cada vez que come e bebe o pão e o vinho: não é o jejum, mas a refeição o que permite e simboliza a memória da cruz, vitória sobre o pecado e dom de salvação.

 

 

 

Amós 9,11-15 (Perspectivas de restauração e de fecundidade paradisíaca) O livro se encerra com estes versículos carregados de esperança e promessas, muito diferentes do tom áspero e severo do resto do livro. Deus agracia, perdoa e resgata a Israel; prepara um dia que será de plena reconciliação, de verdadeira paz, de profunda harmonia. A restauração de Israel assume assim traços indubitavelmente messiânicos, com imagens do mundo agrícola, de arraigo na terra e de permanente residência nela. Comer e beber em paz na própria terra: esta é a imagem do futuro reconciliado de Israel; a ideia do retorno e da impossibilidade de qualquer “desarraigo” ulterior reafirmam ao final a graça, a fidelidade e a misericórdia infinita de Deus.

 

 

Sl 84/85 (Oração pela paz e pela justiça) Hino de louvor que brota do coração de um povo que se vê livre da opressão e do sofrimento. Atualmente, acreditamos mais na ciência e na medicina que no poder de Deus. Esquecemo-nos que foi o Senhor que criou a medicina, assim como os médicos que operam e aos quais recorremos com frequência. Com o auxílio da medicina, devemos confiar no Senhor. Deus não é inimigo da ciência; ambos caminham juntos, mas Ele é fonte única de todo saber. Do mesmo modo devem caminhar a verdade e a justiça: uma deve caminhar ao lado da outra. A verdade não existe sem que a procuremos com amor e insistência, e Deus se revela aos que incansavelmente o procuram. Mesmo em situações difíceis, na dor, sofrimento e perante a justiça, é preciso esperar que sementes da verdade brotem em nossos desertos áridos e sem vida. Todo desejo de verdade e amor encontra a sua resposta plena e total na pessoa de Cristo.

Senhor, quero assumir hoje o compromisso de buscar sempre a verdade, que está escondida em Cristo e que passa sempre através da cruz, da morte e resplandece na ressurreição. A verdade veio habitar entre nós, fez sua morada entre nós, mas nossos olhos não souberam reconhecer e a nossa inteligência se fecha à luz e ao amor. Vivemos, Senhor, num tempo de espera paciente em que a verdade, a misericórdia e a justiça devem florescer na humanidade sedenta de amor, mas que, em razão de tantos falsos profetas, percorrem caminhos obscuros que levam à morte e não à vida. Ajuda-me, Senhor, a recusar corajosamente toda cultura da morte, seja qual for: morte física, espiritual ou intelectual. Que eu busque somente defender a vida. A Virgem Maria nos ensina a abrir-nos à verdade e dizer no nosso dia a dia o sim que motiva continuamente a presença de Cristo Jesus entre nós. Somos luz no Senhor… “Outrora éreis trevas, mas agora sóis luz no Senhor. Procedei como filhos da luz. E o fruto da luz é toda espécie de bondade e de justiça e de verdade” (Ef 5,8-9).

 

 

 

MEDITATIO: A restauração de Israel e as bodas de Cristo com a Igreja estão intimamente relacionadas com a Eucaristia, como contexto no qual é proclamada a leitura. A expectativa de Israel se cumpre no mistério pascal do Filho de Deus. O jejum, como tensão para o banquete do final dos tempos, já é plenamente possível, já foi autorizado, ainda que só como memória da morte do Senhor. O crucificado ressuscitou, porém o Ressuscitado segue sendo o Crucificado, com suas chagas. O âmbito para um jejum cristão já não é o da expectativa de um acontecimento absolutamente novo: esse acontecimento já está dentro da história. O jejum cristão orienta à vigilância, à paciência, à reserva histórica, ao “ainda não” daquele “já” que foi afirmado, de uma vez por todas, na cruz de Cristo.

 

ORATIO: Ó Senhor, ensina-nos o jejum festivo, mostra-nos a alegria do luto, guia-nos à vida através da morte. Ó Deus, se com a paixão de teu Filho assumiste todo nosso sofrimento, se na ressurreição de Jesus resgataste todo nosso morrer, conduz cada um de teus filhos ao encontro com o Esposo, que está sempre presente em tua Igreja, templo de seu Espírito e esposa daquele que é ontem, hoje e sempre. Pedimos-te sem descanso: “Vem sempre, Senhor!”

 

CONTEMPLATIO: Os discípulos de João tinham um bom mestre. Um mestre que havia sido o precursor destinado a preparar os caminhos do Senhor, agora bem, posto que, ignoravam o mistério da encarnação do Senhor, não podiam saber a razão de que não fosse oportuno que os apóstolos jejuassem. O jejum é, certamente, um uso devoto, porém não pode servir ao homem para sua salvação sem o conhecimento da verdade, isto é, sem a fé no nome de Cristo. Por isso jejuavam os discípulos de João e os fariseus não só com o corpo, mas com o ânimo, ignorando o pão celeste que havia vindo para alimentar os corações dos crentes (Cromacio de Aquileya, Comentario a Mateo, 46,1).

 

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Podem estar tristes os amigos do noivo enquanto ele está com eles?” (Mt 9,15)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Vem de noite, porém em nosso coração sempre é noite: portanto, vem sempre, Senhor. Vem no silêncio, pois nós já não sabemos que dizer-te: portanto, vem sempre, Senhor. Vem na solidão, porém cada um de nós se encontra cada vez mais sozinho: portanto, vem sempre, Senhor. Vem, filho da paz, pois nós ignoramos que é a paz: portanto, vem sempre, Senhor. Vem libertar-nos, pois nós seguimos sendo cada vez mais escravos: portanto, vem sempre, Senhor. Vem consolar-nos, pois nós estamos cada vez mais tristes: portanto, vem sempre, Senhor. Vem buscar-nos, pois nós andamos cada vez mais perdidos: portanto, vem sempre, Senhor. Vem, já que nos amas ninguém está em comunhão com seu irmão se antes não está contigo, Senhor. Todos nós estamos distantes, perdidos, não sabemos quem somos, nem o que queremos: vem, Senhor. Vem sempre, Senhor. (D. M. Turoldo, “Lungo i fiume…”. I Salmi, Cinisello B).

 

 

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