“Aquele que come deste pão viverá eternamente”. (EFC)

João 6, 51-59

Jesus em fim fala abertamente sobre o grande dom que ele deixará para os cristãos: A Eucaristia! “Quem como deste pão viverá eternamente”.

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Associação da Comunidade Paz e Bem

Jesus chega ao ponto crucial e diz textualmente para não deixar qualquer dúvida: minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Como alguém pode dar a sua carne para comer? Assim os judeus discutiam entre si, e até hoje muita gente não crê nestas palavras de Jesus. Será que Deus não poderia realizar tal obra? Ou não somos capazes de aceitar Deus como ele é?

A beleza da fé católica está em ser capaz de crer em toda revelação, por mais dura que seja, e de interpretar corretamente as escrituras à luz do Espírito, mantendo-se fiel a sagrada tradição apostólica. Esta carne e este sangue que Jesus nos dá, é a Eucaristia da qual a Igreja vive e se alimenta.

Se queremos permanecer em Jesus, precisamos da Eucaristia. Precisamos comungar do seu corpo e sangue, alma e divindade.

Aprofundemos:

A dificuldade de compreensão dessas pessoas, judeus acostumados à rígida observância de vários preceitos, é natural, considerando o contexto, a cultura e a mentalidade da época. No entanto, trata-se de equívoco, que não se desfaz com a sistemática tentativa de aprofundar na racionalidade. É preciso saltar para a fé.

Para entendermos um pouco mais a mentalidade dessas pessoas, transcrevo aqui duas prescrições do AT, quanto ao consumo de carne animal: “A vida de todo ser vivente está no sangue, e é por isso que Deus diz aos israelitas que não comam o sangue de nenhum animal, pois o sangue é a vida. Quem comer sangue será expulso do meio do povo de Israel” (Lv 17, 14); “Mas não comam o sangue: a vida está no sangue, e vocês não devem comer carne com vida” (Dt 12, 23).

Para a lei mosaica, alimentar-se de carne sacrificada, depois de ela assada, não significava alimentar-se da vida. O termo holocausto, do grego holókautos ou holókaustos, significa, exatamente: “o sacrifício em que a vítima é inteiramente queimada”.

Podia-se comer a carne do animal sacrificado em holocausto, mas não o seu sangue. Este deveria ser reservado para Deus, derramado no altar para expiação das faltas. O pecador oferente deveria colocar as mãos sobre o animal, a fim de transferir para ele, simbolicamente, suas faltas. Porém, para receber a benesse pretendida, o sangue do sacrifício deveria ser aspergido no altar, simbolizando a entrega daquela vida a Deus. A vida jamais podia ser dada a Deus e tomada de volta para si. Por isso, a proibição de se comer o sangue do sacrifício.

Tudo isso é o que compreendiam e praticavam aquelas pessoas. Sua convocação, Senhor, soou-lhes estranha, contrária ao que sempre fora assimilado e praticado. Seu discurso se tornou duro demais, mesmo para seus discípulos (Jo 6, 60). Quem seria capaz de se desprender do jugo da lei e dar o salto necessário para a fé?

Entendo que comer a sua carne, Senhor, seja mais que receber a benesse do sacrifício. Seja participar, por meio do sacrifício de sua vida livremente ofertada, da benesse da salvação. Mas você pede mais. Pede que, além de sua carne, verdadeira comida, bebam também o seu sangue, verdadeira bebida.

Alimentar-se do sangue vivo, não passado pelo fogo, significaria, neste sentido, alimentar-se da vida. Esse sangue vivo guarda características próprias, não alteradas por nenhum processo humano. Ao nos pedir que bebamos o seu sangue, Senhor, você nos pede adesão à sua forma radical de vida, sem interferência nossa para amenizar palavras e atitudes suas. Tal como o sangue vivo, preservado em suas condições naturais, sua vida não nos é aprazível ao paladar. Sua  vida nua e crua é difícil de ser vivida. Quem poderia beber este cálice? Poucos querem isso, muito poucos dão conta. “Receber a benesse do sacrifício vicário de Jesus, ou seja, a salvação, todos queremos, beber da Sua vida, entretanto, poucos desejam” (Clériston Andrade).

Para aqueles judeus e discípulos, aprisionados à lei, esse seu estranho convite era de fato muito duro. E para nós? No dizer de Paulo, não mais somos prisioneiros da lei, pois sua chegada significou o fim dela e inaugurou o tempo da fé (Gl 3, 23-25).

Hoje, ao participarmos do memorial de sua paixão, comungamos o pão e o vinho, simbolicamente entendidos como seu corpo e seu sangue, sabendo que não é isso que nos garante a salvação. Comungar não é um ritual domingueiro, cumprido apenas como obrigação, rico em gestual reverente de corações apartados de seu ensinamento. Participar de sua mesa, Senhor, é participar de sua vida e fazê-la nossa vida. Certamente, um desafio para nós, mas um apelo seu renovado a cada celebração eucarística.

Você nos convoca a renovar nossa natureza humana, sacrificar nosso ego habituado à satisfação dos sentidos, que não exige renúncia, aceitação ou morte. A grande benesse recebida por nós com sua morte, sacrifício perfeito, é a sua vida a nós entregue para que a vivamos.

A exemplo do apóstolo Paulo, que experimentou a morte do homem velho, a ponto de poder dizer que já não era ele quem vivia, mas Cristo nele, possamos, também nós, comungar do corpo e sangue de Cristo com coragem, alegria e gratidão. Amém!

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