LECTIO DIVIVA: Segunda Semana do Advento (08 à 14/12/2019)

BAIXAR EM PDF LECTIO DIVINA 2 SEMANA DO ADVENTO ANO A (2020)

DOMINGO, 08 DE DEZEMBRO DE 2019- 2ª SEMANA DO ADVENTO – ANO A

Lucas 1,26-38 (A anunciação)Lendo a passagem da anunciação na solenidade da Imaculada Conceição, merecem particular atenção duas expressões da saudação do anjo Gabriel a Maria. Entrando em sua presença, a chama: ”Cheia de graça”. O termo grego Kecharitoméne explica bem o significado da palavra: literalmente significa “a agraciada”, que foi cumulada de graça. Maria é a criatura humana redimida por Deus de modo radical, perfeito. Sua imaculada concepção é obra da graça do Redentor, que, nela, oferece, a todos os homens, a imagem e o modelo da vocação da humanidade. Logo o anjo disse a Maria: “O Senhor está contigo”, usando a expressão tão frequente no Antigo Testamento e que tem acompanhado o caminhar do povo eleito ao longo dos séculos. O Senhor sempre esteve com seu povo, ainda que o povo nem sempre tenha estado com seu Deus. Com frequência se afastou, duvidou, sentiu-se abandonado, como na ocasião da rebelião no deserto, chegando ao seu cume naquela pergunta: “Deus está conosco?” (Ex. 17,7b). Aqui, estas perguntas assumem um sentido pleno, como se o anjo dissesse: ”Tu estás sempre com o Senhor; tu estás unida a Ele na medida em que é possível a uma criatura”. Não se trata de um momento de graça particular que, lentamente, se debilita; ao contrário, é uma união que vai se fazendo mais e mais íntima. Às palavras do anjo, indica o evangelista, Maria “perturbou-se” (v.29). Não é o temor que teve Adão, consciente de seu pecado; aqui se trata do sagrado temor ante a misteriosa realidade de Deus; é o sentimento que invade tanto mais à criatura quanto mais pura ela é. Em sua perfeita humildade, Maria compreende a grandeza da missão recebida, a gratuidade do dom, a desproporção entre a própria debilidade e a onipotência divina. O sim que Maria dá como resposta ressoa como a exaltação perfeita da criatura, eco fiel do “aqui estou, Senhor, para fazer tua vontade” (Sl 39,8), com o qual, o próprio Jesus aderiu à vontade salvífica de Deus. No encontro destas duas obediências se cumpre o plano da salvação.

 

 

Gn 3,9-15.20 (O relato do paraíso) – No capítulo terceiro de Gêneses se descreve o drama mais profundo da humanidade: a queda original que introduz a morte na criação. Após a consumação do pecado por Adão e Eva, há um momento de silêncio no qual se ouve só a Deus, aproximar-se pelo jardim. Não é precisamente motivo de festa e encontro. Agora Adão se oculta. Porém a voz lhe interpela: “Onde estás?” (v.9b). Adão sai de seu esconderijo, porém não responde à pergunta, mostrando que não está à altura, não está em Deus. Suas palavras dão testemunho desta triste realidade. Em primeiro lugar declara abertamente que lhe domina o medo e a vergonha: a criatura, até bem pouco, livre, sente-se, agora, escrava. Logo, indiretamente, manifesta o estado de solidão no qual se encontra: a relação com a mulher e a criação, antes fundada na amizade e a ajuda recíproca, agora está sujeita ao engano, a suspeita, a oposição. Frente ao Criador, com o qual havia gozado com a beleza da criação, aparece um universo feito fragmento, radicalmente afetado pelo mal. Depois de escutar aos três culpados, Deus pronuncia a sentença. O leitor que tem seguido desde o começo o desenrolar do drama sagrado, esperaria a condenação à morte (de acordo com Gn 2,17). Pelo contrário, se propõe um castigo que aparece como um caminho de purificação com vistas a uma salvação prometida (v.15). Deus, que começa a revelar-se como o Misericordioso, se pôs da parte do homem contra a serpente, símbolo do mal, que recebe a maldição. A humanidade será certamente ferida, porém, só o calcanhar, quer dizer, em uma parte rígida e fácil de curar; a serpente, pelo contrário, será ferida na cabeça, esmagada, derrotada definitivamente. Por isso se tem definido este versículo como “protoevangelho”, primeiro anúncio da vitória do homem sobre o pecado e a morte. A vitória é atribuída à “linhagem da mulher”. Enquanto a versão grega dos Setenta (a Vulgata) compreendeu “linhagem” em sentido individual, o primitivo cristianismo leu o texto em chave messiânica, como profecia da encarnação de Cristo. A Vulgata atribui, diretamente, a vitória, à mulher; dai a difundida representação de Maria esmagando, com o pé, a cabeça da serpente. Notemos, finalmente, o nome novo que o homem dá à mulher: Eva, mãe dos viventes (não dos mortais). Podemos ver aqui a prefiguração de Maria, a nova Eva que cooperará na obra de restauração da humanidade pecadora, e Jesus a tomará como mãe da Igreja nascente, justo na hora de sua morte na cruz.

 

Ef 1,3-6.11-12 (O plano divino da salvação) – A carta aos Efésios inicia com o que se tem definido como o Magnificat de Paulo, o qual está vivendo seus duros anos de prisão pela fé. Enquanto tem ocasião de escrever a outros cristãos, deixa brotar de seu coração um canto de louvor e exaltação a Deus, invocado, não como “Deus de Abraão, de Isaac e Jacó”, mas como “Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Cristo é o único Mediador: Cristo é o Messias, plenitude da espera de Israel. No hino se exalta o plano de salvação, contemplado não seguindo uma exposição ordenada e doutrinal, mas cantado e admirado em suas múltiplas facetas por quem experimenta sua atuação, a partir da própria história pessoal. Quanto ao que Paulo refere de si mesmo, vale para qualquer cristão e, de modo preeminente, para Maria. Nela se realiza, em plenitude, o plano divino de fazer-nos “santos e irrepreensíveis ante Ele, por amor”, quer dizer, consagrados exclusivamente a seu serviço (“santos”), separados de tudo que é mundano e pecaminoso (“irrepreensíveis”).  Tudo isto, não por capacidade humana, mas por puro dom. Nenhum mérito, esforço ou ascese poderiam jamais reparar o mal que corrompe a humanidade desde suas raízes. A reparação só pode receber-se como “herança”, ou seja, como um bem recebido gratuitamente, porém que nos faz responsáveis. Maria, a virgem Imaculada, não é um ser supra-humano, é a eleita para ser morada do Verbo, foi preservada do pecado original “em previsão aos méritos de Cristo Redentor”, como reza a definição do dogma, em razão de sua própria vocação. Por Maria chega ao cumprimento o plano o qual nos tem “predestinados a serem seus filhos adotivos”. Trata-se de uma expressão paulina, que recolhe uma boa notícia: a vida do homem não foi abandonada a sua sorte, nem está destinada ao nada; tem um sentido: é a vida de comunhão com Deus, vida de plena liberdade, no amor, na exaltação, na glória.

 

Sl 97/98 (O juiz da terra) – Os hinos de louvor à grandeza de Deus são um tema recorrente no Livro dos Salmos. Com sua leitura, somos convidados a nos unir ao canto, à sua glória e beleza. Deus se faz presente em tudo, basta olhar ao nosso redor: Ele está nas flores, nos frutos, no soprar do vento e dentro de cada um de nós. Devemos seguir o exemplo dos santos, que souberam reconhecer a presença do Senhor no dia a dia, como Francisco, que cantava a grandeza e a misericórdia de Deus nas flores e no canto dos pássaros, e João da Cruz, que glorificava com rara beleza e força poética a beleza da criação com o Cântico Espiritual 4: Ó bosques e espessura, Plantados pela mão do meu Amado! Ó prado de verduras, De flores esmaltado, Dizei-me se por vós ele passou! Assim também somos chamados a despertar do sono e entrar plenamente em comunhão com o Senhor que está sempre entre nós. Deus fala hoje como ontem e falará como amanhã, cabe a nós saber ouvir sua voz e reconhecer seu rosto encoberto por trás dos acontecimentos e das criaturas.

Senhor, nós somos festivos. Qualquer coisa entra em nossa vida e nos faz dançar de alegria. O nosso povo é festivo… tudo é ocasião para cantar e dançar: festa de aniversário, celebrações litúrgicas, encontros. O sabor da festa está conosco, por isso queremos ser ainda mais festivos para ti, sabendo que tu estás presente entre nós e andas conosco pelos caminhos da vida. Tu és vida, a vida merece ser celebrada e cantada. Deixe que meu coração cante em todas as circunstâncias, mas que não cante sozinho, que se uma a todos os meus irmãos de comunidade, de caminhada. Com o canto o caminho se faz mais breve e mais doce, com o canto somos todos animados. Que animemos uns aos outros, como fazia o povo de Israel. Amém.

 

 

MEDITATIO: Na festa da Imaculada Conceição, mais que falar de Maria, sentimos o desejo de aproximar-nos a ela para que nos introduza no mistério de sua virgindade, que é um mistério de silêncio; no mistério de sua inocência absoluta, que é um mistério de gozo. Maria já está revestida com vestes de salvação, tem sua veste alvejada no sangue do cordeiro antes de seu nascimento. O Pai, de algum modo, a batizou, de antemão, no mistério da morte e ressurreição de Cristo, para apresentá-la ao mundo, totalmente pura toda formosa. A fascinação de Maria está em ignorar sua própria beleza: sua humildade, sua transparência, que a fazem viver olhando fora de si mesma, toda doação. Maria, virgem e mãe, imprime, ao mistério cristão, seu aspecto mais sugestivo e fascinante: um sensível reclamo à pureza e à inocência. Até mesmo o homem mais experimentado no mal, dificilmente pode subtrair-se à fascinante atração da inocência e da virgindade da Virgem Maria. Nosso amor a Maria, essencialmente, deve traduzir-se no desejo de viver profundamente, sinceramente, seu mistério; desejo mais vivo, mais profundo, de submergir-nos em sua pureza, como um batismo em sua inocência, para sair purificados, revestidos com vestes de salvação. Para qualquer alma, o contato com a virgem santa é um contato que purifica e salva. De algum modo, é mesmo um contato com a humanidade do Senhor que se tomou carne nela. Nós, que nos sentimos tão pobres e frágeis, devemos buscar, pela fé, descobrir, cada vez mais, o milagre da presença de Maria entre nós.

 

ORATIO: Ó Maria, toda santa, todo o paraíso goza em ti. Com tua beleza consoladora reafirma nosso coração, para que saibamos compreender a esperança, à qual Deus nos tem chamado o tesouro de glória que nos espera, na eterna comunhão dos santos. Ó Maria, ícone da interioridade, te admiramos em tua humildade e fiel recolhimento sob o olhar de Deus, abandonada ao poder do Altíssimo. Por tua maternal intercessão faz que se derrame, abundantemente, a graça do Senhor, sobre nós, que contemplamos o inefável mistério de tua beleza, para viver, também nós, profundamente, ali onde emana, com perene juventude, a fonte do amor. Ó virgem puríssima, que nos geraste no Filho Unigênito de Deus, filhos teus por adoção, ensina-nos o caminho da caridade sincera, do humilde serviço e zelo infatigável, para que também nossa vida seja fecundada na graça a fim de que todos nós cheguemos à presença do Altíssimo “santos e irrepreensíveis pelo amor”.

 

CONTEMPLATIO: Imaculada é tal qual dizer fulgor de aurora. Preservada imune da contaminação original, Maria foi plena de graça desde o primeiro instante de sua concepção. Já desde o seio materno, a alma de Maria esteve penetrada de luz divina; após a noite de longos séculos transcorridos desde a culpa dos progenitores, se ergue esta estrela matutina, límpida e pura, transparente e inviolada, enquanto no céu aponta a promessa do iminente dia. Imaculada significa visão do paraíso. Aquela graça, que a ela foi concedida em grau perfeito e supereminente, desde o primeiro instante de sua existência terrena, e que, a nós, também é dada, se bem que em medida, certamente, inferior, é somente em virtude da beatitude eterna; para o dia em que cairão os véus da fé, que escondem a visão de Deus, e contemplaremos face a face ao Senhor. A Imaculada preanuncia a aurora daquele dia eterno, e nos guia e mantém no caminho que ainda nos separa d’Ele. A este último fim, coroação da vida de graça, devem tender os desejos de nosso coração e os mais generosos esforços de fidelidade cristã. (João XXIII, discurso do dia 7 de setembro de 1959).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Alegra-te, Maria cheia de graça, o Senhor está contigo(Lc 1,28)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – A aurora é um momento fabuloso que precede o sair do sol. De início só um leve empalidecer do céu no oriente, apenas visível na noite. Segue um clarear crescente, lentamente ao começo, logo mais rapidamente, sempre mais rapidamente. Finalmente um instante no qual o surgir da luz é tão vistoso e ardente, o esplendor tão ofuscante aos olhos habituados à noite, que poderíamos crer ante o mesmo sol: apenas um instante depois, como um relâmpago, sua luz ardente surge no fio do horizonte. E finalmente o sol. Até esse momento, podíamos nos ter enganado, pois já se transparentava no que só era a aurora. O mesmo acontece com a Imaculada Conceição. Primeiro, ao longo dos séculos precedentes, se tratava da aurora de Cristo, dos começos de sua pureza e santidade, já maravilhosos considerando que se realizavam na natureza humana, porém ainda obscuros respeito a Ele. Maria é o cume da aurora, o surgir do dia. Porém sua luz ilumina a todos. A Imaculada Conceição distingue Maria dos demais humanos só para uni-la mais a Cristo, que pertence a todos (…). Após o decreto que estabeleceu a vinda de Cristo, se dá esta longa preparação que já a realiza inicialmente e que enche toda a história antiga da humanidade. Agora bem, toda esta preparação leva a Maria, porque ela (…) é portadora de Cristo. A preparação é imensa: é a única obra de Deus mesmo neste mundo; se compromete com todo seu amor: fazendo confluir, em virtude de sua graça, tudo o que em nossos esforços humanos há de verdadeiramente bom: se plasma uma natureza humana que será a sua. Chega um dia em que tudo está preparado. Na Virgem tudo se reúne para passar dela ao Filho (…). Maria é a figura absoluta e total, e o é para sempre, porque, sendo Mãe de Deus, é a que une o Homem-Deus com a humanidade (É. Mersch, La tléologie Du Corps mystique, I Tournai 1944).

SEGUNDA-FEIRA, 09 DE DEZEMBRO DE 2019- 2ª SEMANA DO ADVENTO – ANO A

Lucas 5,17-26 (Cura de um paralitico) =Mt 9,1-8; Mc 2,1-12 Os espectadores do presente episódio evangélico ficam surpreendidos pelo fato de Jesus, ante este enfermo que lhe apresentaram, um mudo um tanto enroscado, não o cure imediatamente, mas lhe dirija, antes, palavras de perdão: «teus peca­dos estão perdoados» (v.20). Sem dúvida, o próprio texto proporciona um indicio que ajuda a su­perar o assombro: «Jesus, vendo a fé que tinham, disse…». Lucas nos indica, com este detalhe, que é a “fé” destes padioleiros que não se detêm ante nenhum obs­táculo, que Jesus pode dizer algo semelhante. Só quem tem fé sabe reconhecer que o problema mais gra­ve do homem é o pecado. Para eliminar dos homens esta cegueira Jesus está como obrigado a fazer o milagre (v.22). Certamente a objeção secreta dos escribas parece oportuna, porém, desmascara sua indiferença, seu sentir-se superiores aos demais. Segundo julgamento dos escribas, Jesus é um blasfemo porque atribui a si um poder que compete só a Deus (v.21). Porém, tais pensamentos e seu desafio interior a Jesus lhes impedem ver duas coisas: qual é o verdadeiro mal que aflige ao enfermo e o fato de que Deus não é ciumento de seu poder de perdão. Com a vinda de seu Reino deseja provocar uma prática profunda e universal de perdão, tendo como modelo e fonte o perdão que o Filho do homem veio trazer (v.24). Isto é o que deve suscitar a exaltação, indicada, pontualmente, por Lucas, o evangelista da oração.

 

 

Is 35,1-10 (O triunfo de Jerusalém) – Na breve escatologia profética deste capítulo de Isaias encontramos um autêntico “canto à alegria” pela renovação cósmica e, sobretudo, antropológica, que afeta à debilidade do corpo mutilado e do âni­mo exaltado. Trata-se de uma renovação que leva a cabo o Senhor, criador e salvador. Não se trata, simples­mente, de uma celebração da volta dos deporta­dos, mas de uma proclamação de fé que reconhece, no atuar do Senhor, o cumprimento dos mais autênticos desejos humanos, esse anseio de felicidade que se abriga no fundo do coração. Este regozijo contrasta com o árido deserto e a este­pe. É a oposição entre o gozo que vem do Senhor e que perpassa, rega e vivifica toda a existência, e a dor e a aflição que pesaram sobre o povo duran­te o desterro. O motivo último da alegria é a in­tervenção do Senhor, que deu um giro na história e agora guia seu povo por um caminho segu­ro. Com a ajuda do Senhor, o caminho do povo é ágil, até tal ponto que os coxos não só caminham, mas que «saltam», e os mudos não só falam, mas «can­tam». A beleza poética do texto vai se iguala com sua profundidade teológica ao reler o texto à luz do Novo Testamento. Deus tem se aproximado a nós, carregou nossas misérias, deu um giro na história, morrendo pelos homens.

 

Sl 84/85,9-14 (Oração pela paz e pela justiça) – Este Salmo é um hino de louvor que brota do coração de um povo que se vê livre da opressão e do sofrimento. Atualmente, acreditamos mais na ciência e na medicina que no poder de Deus. No entanto, esquecemo-nos que foi o Senhor que criou a medicina, assim como os médicos que operam e aos quais recorremos com frequência. A ciência não é onipotente, por isso, com o auxílio da medicina, devemos confiar no Senhor. Deus não é inimigo da ciência; ambos caminham juntos, porém só Ele é a fonte única de todo saber. Do mesmo modo devem caminhar a verdade e a justiça: uma deve caminhar ao lado da outra. A verdade não existe sem que a procuremos com amor e insistência, e Deus se revela aos que incansavelmente o procuram. Mesmo em situações difíceis, na dor, no sofrimento e perante a justiça, é preciso esperar que as sementes da verdade brotem nos nossos desertos áridos e sem vida. Todo desejo de verdade e de amor encontra a sua resposta plena e total na pessoa de Cristo.

Senhor, quero assumir hoje o compromisso de buscar sempre a verdade, que está escondida em Cristo e que passa sempre através da cruz, da morte e resplandece na ressurreição. A verdade veio habitar entre nós, fez sua morada entre nós, mas nossos olhos não a souberam reconhecer e nossa inteligência se fecha à luz e ao amor. Vivemos, Senhor, num tempo de espera paciente em que a verdade, a misericórdia e a justiça devem florescer na humanidade sedenta de amor, mas que, em razão de tantos falsos profetas, percorrem caminhos obscuros que levam à morte e não à vida. Ajuda-me, Senhor, a recusar corajosamente toda cultura da morte, seja qual for: morte física, espiritual ou intelectual. Que eu busque somente defender a vida. A Virgem Maria nos ensina a abrir-nos à verdade e dizer no nosso dia a dia o sim que motiva continuamente a presença de Cristo Jesus entre nós. Somos luz no Senhor… “Outrora éreis trevas, mas agora sóis luz no Senhor. Procedei como filhos da luz. E o fruto da luz é toda espécie de bondade e de justiça e de verdade” (Ef 5,8-9).

 

 

MEDITATIO: O fato de que Jesus responda com palavras de per­dão à busca dos padioleiros que levam confia­ntes o paralítico, talvez acabe sendo, também a mim, um tan­to decepcionante. E, sem dúvida, se tivesse de verdade fé em Jesus, aprenderia a compartilhar seu modo de enfocar os “problemas” da humanidade e compreenderia que o perdão é mais urgente que qualquer outra coisa, porque o pecado é a maior das desgraças que atormenta a humanidade. Seu Reino se manifesta, sobretudo, como reconciliação de meu ser com Deus, como nova possibili­dade, dando-me a graça de voltar a empreender o cami­nho depois da paralisia de minha liberdade, causada por minha culpa. «Que é mais fácil?» (v.23). Os que não têm fé em Jesus talvez sigam pensando que são outros e mais sérios os problemas humanos: a defesa da saúde, a economia, a gestão do poder, o subdesenvolvimento, os desequilíbrios ecológicos, etc. A Palavra de Deus ressoa como condenação de minha cegueira espiritual, que torna meu coração incapaz de descobrir os autênticos sinais do agir divino em nossa história. A Palavra não se li­mita a denunciar meu pecado, mas que me oferta, por sua vez, a grande notícia do perdão. Por esta razão meu de­serto floresce e a estepe árida germina com nova vida.

 

ORATIO: Hoje quero unir-me a meus irmãos na exultação do paralítico perdoado e curado por Ti e proclamar a grandeza de teu dom: o perdão dos pecados. Com frequência, também tenho pensado que meus problemas fossem de outro tipo. Era um insensato sem compreensão! Agora tua Palavra me manifestou meu verdadeiro mal e me levou a Ti, minha salvação e guia. Agora meu deserto floresceu e minha estepe abun­da de tua água. Como o salmista, também eu posso procla­mar: «Feliz o que vê esquecida sua culpa e perdoado seu pecado… Reconheci ante ti meu pecado, não te encobri minha fal­ta; disse: “confessarei ao Senhor minhas culpas”, e tu perdoaste minha falta e meu pecado» (Sl 32).

 

CONTEMPLATIO: Tu o menor dos humanos queres encon­trar a vida? Mantenha a fé e a humildade e… ai en­contrarás ao que te custodia e vive secretamente junto a ti (…). Quando te apresentas a Deus, na oração, seja teu pensamento como a formiga, como algo que se arras­ta por terra, como uma criança que balbucia. E não digas nada ante Ele que pretendas saber. Aproxima-te a Deus com coração de criança. Põe-te ante Ele para receber os cuidados de pai que velam por seus filhinhos. Tem-se dito: «O Senhor guarda aos simples» (…). Quando Deus vir que te fias mais dele que de ti mesmo (…), uma força desconhecida te pene­trará interiormente. E sentirás, em todo teu ser, o poder do que está contigo (Isaac de Nínive, Discursos ascéti­cos).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Ânimo! Nosso Deus vem salvar-nos» (Is 35,4)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – O Senhor Jesus não virá rapidamente, mas o esperamos com ardor. O que fará acontecer a Parusia é uma acumulação de desejos. Cristãos, encarregados, após Israel, de conservar viva sobre a terra a chama do desejo, tão só vinte séculos depois da Ascensão, que temos feito da espera? Qual é o cristão no qual a nostalgia impaciente por Cristo chega não a fundir (como deveria ser), mas tão sequer a equilibrar seus cuidados de amor e seus humanos interesses? Onde está o católico tão apaixonadamente vertido à esperança da Encarnação, que há de estender-se, como estão muitos humanitaristas, aos sonhos de uma cidade nova? Seguimos dizendo que velamos em expectação do Senhor. Porém, na realidade, se queremos ser sinceros, temos de confessar que já não esperamos nada. Há que reavivar a chama a qualquer preço. A todo custo é preciso renovar em nós o desejo e a esperança do grande Advento (P. Teihard de Chardin, El médio divino, Madrid 1967).

 

 

TERÇA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2019- 2ª SEMANA DO ADVENTO – ANO A

Mateus 18,12-14 (A ovelha desgarrada) A parábola da ovelha perdida em Lucas (15,3-7) é uma exortação a compartilhar a alegria do perdão que Deus outorga aos pecadores que se convertem e, por sua vez, dispor-nos ao perdão. No texto de Mateus, a mesma parábola faz parte do discurso eclesial (cap.18), no qual Jesus comunica aos discípulos algumas indicações preciosas acerca da vida comunitária: o esforço por fazerem-se pequenos, disponibilidade à acolhida, atenções para o que vacila na fé… Em coerência com tal contexto, para o primeiro evangelista a parábola da ovelha perdida não fala di­retamente de Deus que se põe a buscar a ovelha, mas da comunidade, que deve ser “sinal do rosto de Deus”, de Deus que vai em busca da ovelha perdida com uma solicitude pastoral pelo “pequeno” e mais ainda pelo que tem se extraviado, pelo pecador. Deixar as noventa e nove ovelhas para buscar uma é uma loucura; porém assim é a loucura de Jesus e deve ser a loucura da comunidade (v.14). A comunidade não deve deixar-se guiar por critérios de eficiência, mas pelo “cuidado” como pequeno, como insignificante, como marginalizado ou distante, pelo motivo que for. Não se assegura automaticamente o êxito (v.13: «consegue-se encontrá-la…»), porém se exorta à comunidade a não esquecer nunca o buscar a ovelha perdida, porque será fonte de grande alegria: «vos asseguro que se alegrará por ela mais que pelas noventa e nove que não se extravia­ram» (v.13).

 

 

Is 40,1-11 (Anúncio da libertação) – No desterro da Babilônia a desconfiança e a tristeza oprimem o coração dos deportados. Perguntam se o Senhor se esqueceu de seu povo, se é válida ainda sua Palavra, se subsiste um fio de espe­rança para Jerusalém. É então que o Senhor sus­cita um profeta anônimo, cujos oráculos se acrescentam ao livro do profeta Isaías, porque, de algum modo, prolon­gam sua mensagem. Destes oráculos (Isaías, do capitulo 40 ao 55), a leitura de hoje é a abertura, antecipando o tema de todo o conteúdo de sua atividade profética. Deus pede ao profeta e a seus discípulos que sejam portadores da boa notícia que lhes confia (v.9). A consoladora notícia consiste em uma relação renovada com o Senhor, em uma aliança res­taurada. E para o segundo Isaías um sinal visível desta renovada relação amorosa com o Senhor é o re­gresso dos desterrados à pátria, que se levará, não em tom menor, mas de modo triunfal, em meio de uma criação festiva, com o Senhor que caminha à frente do povo, como triunfante guerreiro e carinhoso pastor. O papel do profeta e dos que aderem à sua mensagem será, preparar esta vinda do Se­nhor (v.3).      O ânimo do povo, rendido como um terre­no acidentado pelas provas, sofrimentos, desilusões e infidelidades, poderá, agora, acolher a revelação da glória de Deus, igual e mais que a glória manifestada no caminho do êxodo (v.5). E, ainda que o homem seja frágil e suas promessas efêmeras (vv.6-8), a Palavra do Senhor é estável e seu compromisso com a humanidade é eterno: o povo deportado deverá confiar nesta esta­bilidade da promessa do Senhor.

 

Sl 95/96,1-3.10-13 (Iahweh, rei e juiz) – O salmista convoca solenemente todos os povos e todos os que têm fé para que, juntos, elevem um grande hino de glória, louvor e ação de graças ao Senhor, o Deus que está acima de todos os deuses e tem o poder de destruí-los. O centro deste louvor é a grandeza de Deus, o Senhor dos exércitos. Juntemo-nos a este grande clamor e não nos calemos diante do Pai. Ofereçamos a Ele toda a nossa adoração!

Senhor muitas vezes se faz difícil o louvor; reconheço a existência de resistência dentro de mim, na minha família, na minha comunidade. As pessoas não querem me escutar e há momentos em que me consideram fanático pelas minhas ideias e minha insistência, mas o teu convite é amor. Senhor, ajuda-me a convidar a todos para conhecer a tua grandeza, a tua força, a ser anunciador corajoso diante de todos, a não ter medo e a ser sempre um profeta destemido e corajoso. Amém.

 

 

MEDITATIO: Uma das imagens mais singelas e profundas do Deus bíblico é a do “bom Pastor”. Sugere-nos sua soli­citude e a força de sua intervenção para vencer os inimigos da liberdade e da dignidade de seu povo; disse-nos que é um guia seguro para o difícil e espinhoso ca­minho de nossa vida. Em nosso viver, como comunidade de discípulos, ex­perimentamos, diretamente, o consolo de nosso Deus, o ser levados, delicadamente, sobre os braços de sua terna solicitude pastoral. Esta é a razão última que impulsiona-nos a buscar, constantemente, ao que tem se per­dido. De fato, nós somos os primeiros em sentir o consolo do Senhor, e experimentamos a fidelidade do Pai com o pequeno e o desgarrado. Enquanto comunidade de discípulos, nós estamos chamados a manifestar, a todos, o rosto do Pai misericordioso, buscando a quem, nas vicissitudes da vida, perdeu a fé e a esperança. Somos os consolados que de­vem ser consoladores, fazendo-nos companheiros de via­gem de quem tem o coração abatido, fatigado pela dor ou pela culpa. Podemos fazer na consciência de que o consolo não procede de nós. Somos car­ne, frágeis como erva e flor do campo. Mas que pro­vém da Palavra de Deus, que é a única que perma­nece para sempre (Is 40,8).

 

ORATIO: Teu anúncio, Senhor, é “Evangelho” porque nos traz o consolo, a nós, débeis desgarrados, escravos de tantos outros senhores. «Sobe ao alto de um monte, Tu que levas boas no­tícias a Sião» (Is 40,9). Também hoje diriges esta men­sagem de amor ao coração de teu povo, porque és o Deus da aliança. Tu és o divino Amante que nos dirige seu convite amoroso e nos fala ao profundo de nosso coração. Tu, Senhor, és o Pai de todo consolo, que a nós, peregrinos na terra, prometes o céu e a terra nova. Faz que, também nós, possamos con­solar aos demais com o mesmo consolo com que Tu nos consolas. Impulsiona nossos corações para que nos ponhamos, contigo, à busca do que estava per­dido: Tu és o Pastor que quer salvar à ovelha per­dida, infinitamente amada por teu coração. E se estamos perdidos, se estamos distantes de Ti, concede-nos escutar os chamados da voz de teu Filho, manso e humilde de co­ração, que nos exorta a voltar a teu redil, à verdadei­ra vida que só é possível contigo.

 

CONTEMPLATIO: Vem, Senhor Jesus, busca teu servo, busca tua ovelha inválida. Foi-se, errando, tua ovelha, saias Tu percorrendo os montes. Deixa as noventa e nove e vem buscar essa que está perdida. Vem sem cães, vem que já faz tempo que espero tua vinda. Já sei que estás para chegar. Vem sem bastão, porém, com amor e ati­tude clemente. Vem a mim, que tenho estado vagando distante de teu rebanho, pelos montes. Busca-me, porque eu ti busco. Rodeia-me, encontra-­me, levanta-me, leva-me. Tu podes encontrar o que buscas. Tu aceitas levar sobre ti o que tens encontra­do. Não te dá enfado um peso de amor. Vem, pois, Senhor, porque tu és o único que podes fazer voltar uma ovelha vagabunda, sem contristar às que tens deixado no aprisco, pois, também elas, se alegram do retorno do pecador. Vem executar a salvação na terra, a glória no céu (Santo Ambrósio, Comentário ao Salmo 118).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«O Pai do céu não quer que se perca nenhum des­tes pequenos» (Mt 18,14)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Obrigado, Senhor. Se me tivesse contentado com o desejo que me levava a buscar-te, sem saber onde houvesse podido Te encontrar, estaria ainda caminhando com meu desejo insatisfeito ou com a ilusão de ter encontrado. Encontrei-te de verdade porque Tu saíste ao meu encontro, em meus caminhos de pecado: homem entre os homens, corpo bendito ao qual eu mesmo ajudava a despojar ou flagelar: rosto santo, ao qual meus lábios, como os de Judas, beijaram: coração que atravessei… Nenhuma sede criou nunca as fontes nem fez brotar água da areia. Tua sede, pelo contrário, saciou-me, porque se Tu não tivesses vindo por meus caminhos, se Tu não te tivesses deixado crucificar por mim, teria, talvez, te buscado, porém, não teria te encontrado nunca (Primo Mazzolari).

 

 

 

 

Mateus 11,28-30 (Jesus é o mestre com fardo leve) No texto anterior (11,25-27), estreitamente vinculada com o de hoje, Jesus ensina que o real conhecimento de Deus como Pai é possível porque o Filho introduz, nesta familiaridade, seus próprios discípulos. Mas, estes, para acolher, de verdade, esta paternidade divina e a amizade do Filho, devem fazer-se “pequenos”. E Jesus nos indica o verdadeiro “pequeno”: só o que crer que Jesus «manso e humilde de coração» é o único caminho para introduzir nos segredos de Deus, e que, para aprender, se aproxime a Ele, iniciando um caminho de seguimento: «Vinde a mim…». Como a Sabedoria no AT convida à sua escola, prometendo «descanso», quer dizer, essa plenitude capaz de sossegar o coração inquieto da humanidade, assim, Jesus capaz de sossegar o coração inquieto da humanidade, convida à sua apaixonante escola, na qual descobrimos que somos filhos de Deus. Portanto, é preciso entrar em sua escola, aproximando-se a Ele, que fala do Pai aos próprios amigos, e descobrir que a familiaridade com Jesus é uma escola exigente e continua, mas, também, capaz de curar, de dar paz ao coração. Certamente, Jesus não exime o discípulo do compromisso pleno e perseverante na observância da lei de Deus, (nos fala de «jugo» e de «carga»). Porém, promete que será um peso proporcionado, adequado a quem o deve levar e que se manifestará como uma experiência de liberdade.

 

 

 

 

Is 40,25-31 (A grandeza divina) O segundo Isaías é o primeiro testemunho bíblico que afirma claramente um monoteísmo teórico e prático. O profeta não chegou a esta conclusão com raciocínios filosóficos ou lógicos, mas meditando a história de salvação e a experiência de fé de Israel. Este monoteísmo se expressa, frequentemente, em um discurso sábio, que revela a inquestionável unidade do poder salvador do Senhor e seu peregrinar por caminhos virgens e inéditos para socorrer a seus fieis (cf.v.25). O discurso sobre Deus no Segundo Isaías se guia sempre pela necessidade urgente de convencer a seus ouvintes de que Deus pode e quer salvá-los, melhor ainda “consolá-los”, demonstrando que cuida, eficazmente, de seus fieis. Sim, assim é o Deus de Israel, não há motivo para que o povo eleito duvide e se sinta abandonado pelo Senhor, ainda que se encontre na dura situação do desterro. Porém leva consigo a renúncia a todo tipo de autossuficiência, ilustrada com a metáfora das forças que chegam a faltar, até a jovens e adultos (v.30), e o reconhecimento da própria debilidade e fragilidade ante o Senhor. Só assim Israel se dará conta de que sua força vem do próprio Deus (v.31) e poderá reviver a experiência do êxodo, quando o socorro divino lhe faça sentir-se ajudado a subir e levado “nas asas de águia”, no tempo do duro caminhar pelo deserto (cf.Ex 19,4).

 

Sl 102/103 (Deus é amor) Por meio de um canto suave, o salmista goteja afeto e amor ao Senhor e canta suas maravilhas e atos de ternura para conosco. Devemos meditar este Salmo, saboreando cada palavra que nos introduz nos ministérios do coração de Deus. Quando o oramos com fé, o Senhor nos fortalece e conorta. Todo o amor de Deus Pai nós podemos contemplar na pessoa de Jesus: “Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pela humanidade” (Tt 3,4) O Pai nos enviou o seu único Filho, Jesus, por puro amor a nós e para que Ele nos ensinasse o caminho da vida plena. O grande hino de ação de graças que podemos oferecer ao Pai em resposta à sua generosidade não é realizado por meio de palavras, mas sim com a própria vida. Tocam-me profundamente as palavras deste Salmo: “[O Senhor é] lento para a cólera e rico em bondade”. Ele tem pressa em nos amar, em nos perdoar. Não perca tempo, o Senhor está lhe esperando! Se você compreende melhor este Salmo, leia e medite Lucas 15. Bendize minh’alma e não se esqueça de nenhum dos benefícios do Senhor. Senhor, como é maravilhoso parar um pouco com as minhas atividades e pensar em quantos benefícios até hoje tenho recebido do teu amor. Deixa que minha alma, como a do salmista, se expanda, se dilate e cante “bendize minha alma ao Senhor por todos os benefícios e não esqueça nenhum”. Quero-te agradecer por me ter criado; como é bela a vida; mesmo mesclada pelo sofrimento, com decepções; com dores, vale a pena viver e agradecer com todas as batidas do meu coração, com todos os meus tons e repertório. Que tudo cante o teu louvor. Bendigo-te por minha família, pelos pais, por todas as pessoas que passaram hoje na minha vida: obrigado, Senhor. Senhor, animado pela força da fé, te quero também bendizer pelas cruzes, pelos sofrimentos e por todas as pessoas que me fizeram sofrer e que me ajudaram a amadurecer na minha caminhada. Com Santa Teresinha quero te dizer “tudo é graça”; agradeço-te com a lucidez que hoje tenho, Senhor, por tudo o que vier até a minha morte; dá-me a força para sempre dizer: muito obrigado por tudo. Amém.

 

 

MEDITAÇÃO: Sinto a necessidade de repetir, ao meu coração, a verdade de minha filiação, porque sempre me fica a suspeita do amor de Deus. É a suspeita, que a serpente invejosa de nossa dignidade, semeou em nossos corações humanos, desde o começo. Trata-se de uma suspeita que se alimenta, continuamente, ao apresentar-me um rosto de Deus, inimigo de nossa liberdade, ciumento de nossa felicidade, juiz duro e severo, incapaz de compreender nossa fraqueza. Escutando o convite de Jesus de ir a Ele, exorta-me a voltar ao grande amor com que Deus tem me amado, para poder considerar-me tal como sou na realidade, quer dizer, seu amigo e filho do Pai. Para compreender minha filiação e a paternidade de Deus em minhas relações, devo aproximar-me do coração de Jesus. Assim, poderei escutar essas suas palavras que palpitam na plenitude de seu coração (cf.Mt 12,34). Do contrário, minha religiosidade será mercenária, um cansaço desaprovado e estéril, de práticas e observâncias incapazes de pacificar meu coração. Na contemplação e escuta de Jesus «manso e humilde de coração» é onde me liberto do peso de uma religião tecida, unicamente, de méritos, obras, deveres. Porque, em Jesus, se manifesta o rosto amável de Deus, capaz de saciar meus mais profundos desejos. A fé se converte, então, em experiência de ser revestido da força do alto, de um correr sem fatigar-se, porque sou como que levado a subir e voar sobre as asas de uma águia ao encontro de um amor preexistente e, precedendo-me, me ensina a desejar tua promessa.

 

ORAÇÃO: Senhor Jesus, Tu nos convida a ir a Ti. Que formoso é, descobrir que nos queres próximos, alunos de tua escola, que desejas fazer-nos partícipes do mistério de teu Pai, reconhecendo-nos amados e irmãos teus. Ir a Ti! Ir a tua escola exigente e fascinante. Ir a Ti para aprender de Ti que és manso e humilde de coração. Ir a Ti! Não com nossos méritos, mas com nossos cansaços e opressões. Ir a Ti sem fingimentos, sem ocultar nossas misérias e debilidades. Ir a Ti para poder abrir-te nosso coração e contar-te nossas fadigas e nossas culpas. Ir a Ti! E em Ti recobrar as forças e encontrar a paz tão desejada. Teu querer não nos esmaga porque teu jugo é suave e teu peso leve. Realmente, é esplêndida tua promessa, pela qual te louvamos e bendizemos.

 

CONTEMPLAÇÃO: “Vinde!” Jesus, convidando, sabe que o verdadeiro padecimento tende a fechar-se em solidão e a remoer-se em muda desolação. Em seu convite, Jesus não pode esperar que os infelizes, oprimidos pelo peso de seus males, vá a Ele; os chama, amorosamente. De fato, dizendo «Vinde a mim», é Ele quem vai a eles. Ó, se aceitasses seu convite! Supõe que os desgraçados estejam tão fatigados, desalentados, esgotados, que esqueçam até a existência de um consolo. Jesus o sabe muito bem: não existe consolo nem ajuda fora dele. Por isso nos dirige seu convite: «Vinde!». Não importa que estejais exausto de percorrer o caminho, tão largo e tão vazio, que tenhas percorrido, até agora, buscando ajuda. Ainda que te pareça que não podes mais, nem sequer, manter-te de pé, nem por um só instante, sem desmaiar, dá um passo a mais e gozarás o descanso. «Vinde!». E se alguém se encontra tão enfadado que, nem sequer, possa mover-se, bastaria um suspiro, pois se suspiras por Ele, significa, já, vir a Ele. (S. Kierkegaard).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Vinde a mim, todos os que estais fatigados e vergados, e eu vos aliviarei» (Mt 11,28)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Guia-me, luz benigna, em meio das trevas: guia-me adiante. A noite está escura e estou longe de casa. Por favor, rogo: guia-me. Vela meu caminho. Não te peço que possa ver um horizonte distante, um só passo me basta. Nem sempre foi assim, nem rogava que me guiasses. Gostava eleger por mim mesmo e percorrer por minha conta a vida. Porém agora, te rogo: guia-me. Gostava-me o sol radiante e, apesar dos temores, me guiava o orgulho. Não recordes os dias passados. Teu poder me abençoou amplamente, e estou seguro de que me seguirás guiando por lugares pedregosos e lamaçais, rochas e torrentes até que chegue o dia. Reaparecerão na manhã os rostos dos anjos, tão amados, que ainda não vejo (J. H Newman, Méditations et Prières. Paris 1906)

 

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2019- 2ª SEMANA DO ADVENTO – ANO A

Lucas 1,39-47 (A visitação) – O Evangelho de hoje narra o prodigioso e feliz encontro entre duas mães e seus filhos na montanha de Judá, encontro que se repetirá na história de Maria e João Diego na colina de Tapeyac, do México. Maria, já em Nazaré, fez o seu primeiro caminhar missionário. Havia sido visitada por Deus e vai encontrar-se com Isabel. Ambas foram chamadas para dar vida. Deus irrompeu em suas vidas, e, por isso, se regozijam e o comunicam. A fonte do gozo de cada uma é o Espírito Santo. Incrível, mas real. Quando Deus visita, enche de vida a quem o recebe. Com sua chegada, se faz possível o impossível, a esterilidade se torna fecunda, o que, na pessoa e no mundo, era improdutivo, como terra sem cultivar e o roseiral sem florescer, se torna vida, benção, e desperta vida em outros. Deus tem entrado em nossa história e a faz feliz de geração em geração.

 

 

Gl 4,4-7 (Filiação divina) – Paulo vê realizada a promessa feita a Acaz, no tempo de Isaias, em Maria e Jesus. A vinda de Jesus ao mundo assinalou a plenitude do tempo e cumpriu as antigas promessas. Deus teve a iniciativa de enviar seu Filho, nascido de uma mulher, e assim o homem foi elevado, de novo, à dignidade de filho. Paulo, nas figuras domésticas de uma família e sua servidão, nos revela o autêntico sentido da vida e a nossa possibilidade de chegar a sermos filhos adotivos do mesmo Pai. Não servos, mas livres, com liberdade de filhos de Deus. Além do mais, com a confiança que inspira o Espírito, para chamar a Deus de “papai”. E a mulher eleita como instrumento privilegiado para todo este projeto foi Maria.

 

Sl 95/96,1-3.10 (Yahweh, rei e juiz) – O salmista convoca solenemente todos os povos e todos que têm fé para que, juntos, levem um grande hino de glória, louvor e ação de graças ao Senhor, o Deus que está acima de todos os deuses e tem o poder de destruí-los. O centro deste é a grandeza de Deus, o Senhor dos exércitos. Ofereçamos a Ele toda a nossa admiração!

Senhor, muitas vezes se faz difícil o louvor; reconheço a existência de resistência dentro de mim, na minha família, na minha comunidade. As pessoas não querem me escutar e há momentos em que me consideram fanático pelas minhas ideias e minha insistência, mas o teu convite é amor. Senhor, ajuda-me a convidar a todos para reconhecer a tua grandeza, a tua força, a ser anunciador corajoso diante de todos, a não ter medo e a ser sempre um profeta destemido e corajoso. Amém.

 

 

MEDITAÇÃO – O elogio de Isabel a Maria nos convida a refletir sobre nossa fé. A fé de Maria se caracteriza por sua adesão ao projeto de Deus. Ela quer o que Deus quer. O mistério de Deus se oculta naquele menino da promessa. Fiando-se, começou a constatar como Deus é fiel em realizar sua promessa. Também isto é certo para nós: se não cremos, não experimentaremos nunca como o dom de Deus, misteriosamente, pode ir formando-se em nós. A fé de Maria se manifesta também no fato de ir visitar a Isabel; não tanto porque necessita ajuda em sua gravidez, mas, sobretudo, para contemplar o que Deus está fazendo aos outros. Quanto, desta atitude, nós devemos assimilar! Devemos abrir mais os olhos e olhar, no profundo dos demais, para ver e reconhecer o que Deus faz na história dos outros. E, se olharmos para o alto da colina de Tepeyac, que não seja por mera curiosidade, mas para contemplar a bondade de Deus, realizada no encontro de Juan Dieguito e a Senhora do céu. Maria e sua prima Isabel têm isto em comum: sabem dialogar sobre o que Deus faz nelas. Nenhuma fala de si mesma, mas do que Deus tem feito uma na outra. Esse reconhecimento leva-as ao grandioso hino do Magnificat. A fé de Maria nos exorta a inserir-nos no clima próprio dos pobres de Iahweh, quer dizer, das pessoas humildes e simples que se entregam a Deus, aceitam sua vontade e cumprem sua Palavra.

 

ORAÇÃO: Santa Maria, mãe de Deus, roga por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.

 

CONTEMPLAÇÃO: A missão maternal de Maria para com os homens não obscurece, nem diminui de nenhuma maneira, a única mediação de Cristo, mas mostra sua eficácia. Porque, todo o influxo salvifico da bem-aventurada Virgem, em favor dos homens: (a) nasce do divino beneplácito e da superabundância dos méritos de Cristo; (b) apóia-se em sua mediação, depende totalmente dela e da mesma tira toda sua virtude; e longe de impedi-la, fomenta a união, imediata, dos crentes com Cristo. A bem-aventurada Virgem, predestinada, junto com a encarnação do Verbo, desde toda a eternidade, qual Mãe de Deus, por desígnio da divina providência, foi na terra a esclarecida Mãe do Divino Redentor e, de forma singular, a generosa colaboradora, entre todas as criaturas, e a humilde escrava do Senhor. E esta maternidade de Maria perdura, sem cessar, na economia da graça, desde o momento em que deu fiel consentimento, na Anunciação, e o manteve, sem vacilação, ao pé da cruz, até a consumação perfeita de todos os eleitos. Pois, uma vez recebida nos céus, não deixou seu ofício salvador, mas que continua alcançando-nos, por sua múltipla intercessão, os dons da eterna salvação. Com seu amor materno cuida dos irmãos de seu Filho, que peregrinam e se debatem entre perigos e angústias e lutam contra o pecado, até que sejam levados à pátria feliz. Por isso, a bem-aventurada Virgem é invocada, na Igreja, com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, mediadora. A Igreja, não duvida, em atribuir, a Maria, esse ofício subordinado: o experimenta, continuamente, e o recomenda ao coração dos fieis, para que, apoiados nesta proteção materna, se unam, mais intimamente, ao Mediador e Salvador (Concilio Vaticano II, Lumen Gentium 60-62).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Maria, bendita és ente todas as mulheres!”

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Em 1979 P. Callahan, da Universidade da Flórida, junto a especialistas da NASA, analisou a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe estampada no manto do índio Juan Diego. Desejavam ver se a imagem era fotografia. Não era fotografia, pois não havia impressão no tecido. Fizeram mais de quarenta fotos infravermelhas para verificar como era a pintura. Constataram que a pintura não está colada ao manto, mas se encontra três décimos de milímetro distante do mesmo. Mais surpresas: verificaram que, ao aproximar os olhos a menos de dez cm do manto, não se vê a pintura ou as cores dela, mas só as fibras do manto. Talvez o que mais intriga os cientistas sobre o manto da Virgem de Guadalupe são os olhos dela. De fato, desde que, em 1929, o fotógrafo Afonso Gonzalez descobriu uma figura minúscula no olho direito, não cessam de aparecer às surpresas. Considere que os olhos da imagem são muito pequenos e as pupilas ainda menores. Nela parecem treze figuras! Um cientista e especialista no processamento digital de imagens, dá três motivos pelos quais essas imagens não podem ser obra humana: elas não são visíveis a olho nu, salvo a figura maior, um espanhol. Ninguém poderia pintar silhuetas tão pequenas; não se sabe que materiais foram utilizados e a imagem não está pintada, ninguém sabe como foi estampada no manto; as figuras estão nos dois olhos. O tamanho de cada uma delas depende da distância do personagem em relação ao olho esquerdo ou direito. Esse engenheiro ficou seriamente comovido ao descobrir que, assim como os olhos da Virgem refletem as pessoas diante dela, os olhos de uma das figuras refletidas, a do bispo Zumárraga, refletem, por sua vez, a figura do índio abrindo sua tilma e mostrando a imagem da Virgem. Qual o tamanho desta imagem? Um quarto de mícron, ou seja, um milímetro dividido em 4 milhões de vezes. Quem poderia pintar uma figura de tamanho tão microscópico? A mais recente descoberta: a imagem, que mostra Nossa Senhora grávida, ao ser, auscultada por meio de um estetoscópio, ouve-se as batidas de um coração, como de uma criança no ventre de sua mãe.

 

 

 

 

SEXTA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 2019- 2ª SEMANA DO ADVENTO – ANO B

Mateus 11,16-19 (Julgamento de Jesus sobre sua geração) – O evangelista São Mateus nos transmite um dito de Jesus Cristo acerca da radical incapacidade de seus contemporâneos de aceitar a bondade do tempo presente, porque não es­tão dispostos a desejar nada que seja realmente diferente. São como crianças que não entram no jogo, que nem sabem lamentar-se nem divertir-se. A parábola apresenta dois gru­pos de crianças em conflito, porque o segundo grupo perdeu o interesse pelo jogo, inclusive antes de ter começado (vv.16-17). A dupla reação dos contemporâneos com o profeta João Batista e com Jesus (v.18), sua má vontade explícita, lhes assemelha às crianças capri­chosas da parábola. Em Mateus a sentença final oferece uma resposta a essa reação contraposta dos estilos de devoção: o estilo sábio de Deus foi reconhecido, justamente pelos que tomam seriamente, em consideração, seu modo de agir. Jesus é a sabedoria de Deus, a qual se mani­festa em suas obras (v.19). Em definitivo, pretende sacu­dir as consciências de seus ouvintes para dispor-lhes a acolher a “hora desconhecida de Deus”. Suas palavras so­bre o Batista concluem com um chamado à compreensão de fé, equivalente a uma decisão do projeto salvífico de Deus, em sintonia com seu modo de atuar e de revelar-se na história.

 

 

Is 48,17-19 (O destino de Israel) – Em seu anúncio, o Segundo Isaías se concentra na revelação do Senhor, como Deus de Israel, oferecendo uma espécie de “rosário” dos nomes de Deus. Além de “redentor”, aparece aqui o título «Santo de Is­rael», expressão que cita sete vezes (41,14;43,3.14;47,4;48,17;49,7;54,5), sempre para defini-lo como o Deus que resgata o seu povo. A ação salvífica que manifesta a santidade divina se realiza também ao doutrinar, intimamente, o coração do povo, para que possa seguir o caminho da aliança e para que alcance o conhecimento do desígnio amoroso, salvador e gratuito de Deus com a humanidade, que, com vistas à sua realização criou o mundo (v.17). Esta realidade leva o profeta a fazer uma espécie de balanço da história passada da aliança, como tem­po, no qual, a falta de escuta da Palavra divina e a transgressão de sua lei de vida arrastaram Israel para longe da prosperidade das promessas incluídas na aliança. Porém, agora Deus dispensa, novamente, sua Palavra efi­caz para que, obedecendo-a, produza efeitos profundos e duradouros, levando Israel a viver na justiça de­rramada por Deus ao povo (v.18), garantindo o cumprimento da promessa feita aos pais (v.19; d, Gn 12,2-3; 22,17).

 

Sl 1 (Os dois caminhos) – A vida é como uma encruzilhada. Existem duas estradas à nossa frente.    A nós cabe a escolha de qual caminho devemos nós seguir: o caminho do bem ou o caminho do mal. Se seguirmos o mal, encontraremos a infelicidade, enquanto que se seguirmos o bem, seremos para sempre felizes. Qual caminho vamos escolher?

Senhor, dá-me a coragem de não me deixar dominar pelo mal? Que eu saiba ser corajoso e escolher sempre o bem. Não permita que eu caminhe sozinho… O importante é que eu esteja contigo e tu comigo. Amém

 

 

MEDITATIO: Reconhecer a hora de Deus, o tempo oportuno, é um sinal de sabedoria (cf. Eclo 3,1ss). Como os contemporâneos de Jesus Cristo, também a mim, convida a figura do evangelista São João, a fazer sinceras obras de penitência. Reconhecer a hora de Deus é para mim, antes de tudo, renunciar a entrin­cheirar-me em minhas múltiplas desculpas, que dissimulam meus desinteresses e minha resistência ao convite à conver­são, que a Palavra de Deus, incessantemente, me dirige. As reiteradas admoestações proféticas me exortam a caminhar pela justiça e pela fé operativa e sincera. Porém, a hora de Deus não é só a da penitência e mudança de vida, é também a do gozo que nos traz o Evangelho de Jesus Cristo. O gozo evangélico nascerá, em mim, ao reconhecer que Ele não se envergonhou de ser chamado “amigo de publicanos e pecadores». Que o perdão que me anuncia não se reduza a uma mera palavra ou uma notícia genérica de Deus em minhas confrontações, mas em aconteci­mento desconcertante de vir a celebrar uma festa comigo que sou pecador. Não se trata de uma festa que posso deixar para amanhã (como quiseram as crianças caprichosas da parábola evangélica); para mim é hoje!

 

ORATIO: Senhor Jesus, tua Palavra me faz, hoje, pensar e refletir sobre mim mesmo. Sei que há um tempo para cada coisa debaixo do sol: tempo de chorar e tempo de bailar. Porém, des­cubro, com frequência, que sou pouco sábio, distraído e incapaz de reconhecer tua hora em minha vida. Queria fazer tudo ao meu estilo, decidir os tempos ao meu gosto e, por desgraça, devo reconhecer-me entre as crianças capricho­sas que não entraram na brincadeira. Temo chegar a ser, eu também, vítima de uma teimosa obstinação que me impede julgar retamente. Rogo-te, pois, Senhor que não deixes de dirigir tua Palavra ao meu coração obstinado e duro, assim, poderei compreender teu desígnio sobre mim e chegar à verdadeira sabedoria. Re­preende-me, inclusive, com dureza, quando queiras que es­cute os chamados do Batista à penitência e à conversão. Ajuda-me a saber reconhecer que este é o tempo de tua graça, pois és: «O Senhor meu Deus que me ensina para meu bem e me guia pelo caminho que devo seguir».

 

CONTEMPLATIO: A alma que perdeu a paz deve arrepender-se, e o Senhor lhe perdoará os pecados, e então achará o gozo e a paz. Que mais devemos esperar? Pedir que alguém cante músicas celestiais? No céu tudo vive por obra do Espírito Santo e a nós na terra nos foi dado o mesmo Espírito e, se o conserva­mos, nos libertará de toda treva e permanecerá em nós a vida eterna. O Senhor ama ao homem e se lhe manifesta como lhe apraz. E a alma, quando vê ao Senhor, se regozija humil­demente da misericórdia de Deus. Para conhecer ao Senhor não se necessita ser rico ou sábio, mas obediente, sóbrio, ter um espírito humilde e amar ao próximo. O Senhor amará a essa alma, e ele mesmo se lhe manifestará e ensinará o amor divino e a humildade, e lhe dará todo o necessário para encontrar repouso em Deus (Archimandri­ta Sofronio,).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Eu sou o Senhor teu Deus, te ensino para teu bem» (Is48,17)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Sou um traidor, se tu não me ajudas, Jesus meu misericordioso. Tu me conheces, Senhor: não te fies de teu servo: porque se tu não o guardas, fugirá, enganado por outro: uma besta dourada será seu deus, porém, se tu lhe ajudas, Senhor, se não lhe privas da luz de teu rosto adorável, se além do mais ele não foge de teu olhar, temerá e tremerá e ficará contigo. Jesus, sobre minha cabeça está à marca de teu sangue e, se o mundo tenta encantar-me, que esse sangue resplandeça aos distantes e o mundo se apartará, sem ter estendido sua mão (G. Gezelle, em A.Mor–J. Weisgerber, Milán 1968).

 

 

 

SÁBADO, 14 DE DEZEMBRO DE 2019–2ª SEMANA DO ADVENTO – ANO A

Mateus 17,10-13 (Uma pergunta a respeito de Elias)= Mc 9,9-13 – Após a transfiguração, Jesus, descendo do monte, mantém com seus discípulos uma sobre um dos personagens da visão: Elias. Referindo-se às discussões rabínicas do papel de Elias, sobre a verdade e significado de seu regresso anunciado por Malaquias, Jesus declara concordar com os que afirmam a necessidade de uma vin­da de Elias antes do julgamento. Mas, Jesus nega qualquer visão fantástica, comumente difundida, de um regresso de Elias e convida os discípulos a discernir o plano de Deus que está manifestando-se ante seus pró­prios olhos. Portanto, afirma que Elias já veio, porém, não o conheceram, e que a sorte de Elias anuncia a do Filho do homem (v.12). Para levar os discípulos à compreensão da ur­gência da conversão, da cura das relações intrapessoais e da relação com Deus, Jesus identifi­ca, expressamente, a Elias, como o Batista. Os discípulos compreendem tal identificação (v.13). Resulta, assim, claro, que tal identificação não se desprende, automaticamen­te, das Escrituras, mas que se revela a quem, desde a docilidade da fé, está disposto a acolher a pregação de João, com seu convite a converter-se e preparar-se ao encontro do que vem. Por um momento, os discípu­los parecem, pois, compreender; ainda que rapidamente cai­am, de novo, na incompreensão, em sua obstinada in­credulidade (Mt 15,20).

 

 

Eclo 18,1-4.9-11 (Elogio ao profeta Elias) – O elogio dos pais é a seção mais original de toda a obra do Sirácida. O autor relê o passado com uma função didática para o presente e brinda-nos com uma galeria de “medalhões” dos grandes personagens da história bíblica, bons e maus. Entre estes heróis encontra-se a figura de Elias. Por seu zelo e sua paixão ardente pela causa do Senhor, o Deus de Israel, é comparado ao fogo. Sua vida, de fato, dedicou toda ao serviço do Deus de Israel, em cuja presença vivia continuamente (cf. 1 Re 18,15). Além de sua ardente pregação, para levar o povo ao único Deus, os traços delineados pelo Sirácida su­blinham-lhe os aspectos miraculosos, de acordo com as tradições populares de sua época (vv.2-4). Porém, o cu­me do elogio a Elias está na consideração de seu destino singular (o rapto no carro de fogo: v.9), vis­to como uma vitória sobre a morte, por obra do amor de Deus. Sua figura é, pois, estímulo para esperar uma vida além da morte, uma bem-aventurança plena que espera aos que, como Elias, «morrem fieis ao amor». À motivação de seu arrebatamento ao céu na tradição judia (cf. Ml 3,24) se associa o da espera de seu regresso, a fim de preparar os filhos de Israel para a chegada dos tempos messiânicos (v.10). O Novo Testamento herdará esta tradição judia do regresso de Elias, vendo seu cumpri­mento na pessoa do Batista.

 

Sl 79/80 (Oração pela restauração de Israel) – Cada um de nós traz dentro de si não só as suas próprias preocupações, mas também as dos outros e as do próprio país. Em especial o povo de Israel. O salmista, por meio de sua oração, suplica a Deus que não abandone a nação, que cuide de seu destino. O povo é como uma vinha bem escolhida, bem plantada por Deus em terreno fértil, mas que, infelizmente, está sendo devastada pela idolatria, pelo mal, pelos inimigos. O salmista se pergunta: por que esta videira está tão maltratada? Sentimo-nos assim quando olhamos nosso país: grande desolação invade nosso coração; vemos o avanço da idolatria, do mal, da violência, do desrespeito aos direitos humanos, falta de amor e solidariedade. Jesus é a videira verdadeira, representado na terra pela Igreja, e nós somos os seus ramos. Para que a videira produza frutos abundantes, deve ser cuidada e “regada” com amor. É nosso dever impedir que ela seja infestada por pragas que podem devastá-la. Una-se ao clamor do Senhor e proteja a videira, que é fonte de vida. Senhor, olha a videira que tua destra plantou. Tu construíste um muro de proteção para que não fosse devastada pelos “animais selvagens”, mas não raramente os inimigos não estão fora, mas dentro da mesma Igreja, comunidade e família. A oração deve ser sempre uma súplica a todas as necessidades, não só para as nossas. O verdadeiro orante não se fecha sobre os seus problemas, não reza só para si mesmo, mas abre os seus olhos e vê as dores dos outros e quer, como Jesus, carregá-los. O pedido de quem sofre é: “Deus, mostra-nos o teu rosto e seremos salvos; faz-nos retornar aos caminhos certos de tua lei e teu amor.“ A felicidade está sempre na constante conversão, no abandono do pecado e no retorno à vida em Deus. Longe de ti, Senhor, há trevas, noites e desespero; perto de ti encontramos a verdadeira paz. Dá-nos a tua paz. Amém.

MEDITATIO: A figura do profeta João Batista predomina nas leituras destes dias de advento. Mais que pôr-me a considerar questões históricas do personagem, hoje me sinto chamado a meditar no significado de sua pessoa na minha vida, sua comparação com o profeta Elias, manifes­tada no Evangelho. A missão de João Batista trata, em analogia com a de Elias, de dois pontos capitais, tam­bém para minha vida: minha relação com Deus (que me pede voltar a Ele) e a curar minhas relações com o próximo. Devo deixar-me interpelar por Batista, cuja voz proclamava, com valentia, como o profeta Elias, o direito de Deus sobre nossa humanidade: prestar culto somente a Ele e buscar uma adesão integral de vida à aliança com o Senhor. Neste sentido, Batista é como Elias, fogo irresistível, profeta, cuja palavra ilumina meu ca­minho e o de minha comunidade e se ergue como julgamento seve­ro contra o pecado e contra qualquer infidelidade à aliança. Além do mais, o fato de que Elias e João fossem perseguidos pelos poderosos e não compreendidos por seus contemporâneos me expõe o sério risco que corro, também, de colocar obstáculos ao caminho da Palavra divina, às vezes incômoda e desestabilizadora, mas, me recorda que, apesar de todas nossas oposições humanas, a Palavra de Deus sairá vito­riosa.

 

ORATIO: Senhor Jesus, obrigada pela esperança que ilumina nossas vidas e dá sentido a nossas fadigas e es­forços para amar. Saber que vieste encarnar-te em nossa frágil humanidade, para possibilitar-nos uma vida plena e eterna contigo, nos transborda de alento e gratidão. Obrigada porque és o Deus que ve­m em nosso auxilio, para trazer-nos salvação e felicidade. Obrigada porque não tens permitido que faltassem, em nossas vidas, pessoas que, como os profetas Elias e João Batista, prepararam, de mil modos, nosso en­contro contigo. Obrigada por sua constância nos esforços, apesar das desilusões, e te pedimos perdão se te­mos sido surdos aos chamados que nos diriges por me­io das palavras e vida de tantos irmãos. Obrigada por estes testemunhos que nos têm falado de Ti e que, como fogo de seu amor, tem iluminado nosso caminho. Que teu Espírito nos inflame, para que, também nós, possamos ser fogo teu no mundo. «Felizes os que te viram e morreram fieis ao amor! Também nós, certamente, viveremos».

 

CONTEMPLATIO: Se entramos com um coração dócil na Sagrada Escritura, ca­minharemos, de claridade em claridade, sob o firmamento da Palavra sagrada, alegrando-nos com ela pelos desígnios eternos que se desdobram aos nossos olhos, admi­rando, cada vez mais, a Jesus Cristo que se aproxima, esperan­do-o com os patriarcas, vendo-o vir com os profetas. Sob este prisma, o cristão alcança uma compreensão da vida que nenhuma outra experiência poderia dar-lhe. Deus nunca se afasta de sua obra. Sinta-se abrigado na ten­da de nosso patriarca Abraão, o mesmo que escala o Sinai, entre re­lâmpagos que anunciam sua presença (…). Tudo está pleno dele. É possível voltar desta peregrinação sem se sentir comovido?  É possível, para quem tem seguido estas pegadas, à luz da fé, não ser melhor? A Bíblia sagrada é a fonte profunda dos consolos da humanidade, a boca de Deus que fala ao seu coração; e, sobretudo, é o Cristo Jesus, Filho de Deus, que lhe deu a salvação (H. D. Lacordaire, Deuxiemelettre a Emmanuel).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Felizes os que te viram e morreram fieis no amor» (Eclo 48,11)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Estás muito preocupado por eleger bem seu trabalho. Tens tantas opções que estás constantemente incomodado pela pergunta: Que devo ou não fazer? Se te pede que respondas a muitas necessidades concretas (…). De muitas formas, ainda queres decidir tu próprio a ordem do dia. Atuas como se tivesses que escolher entre muitas coisas, todas igualmente importantes. Porém não te hás rendido completamente à direção de Deus. Empenhas-te em pelejar com Deus sobre quem tem o controle. Tenta entregar a ordem do dia a Deus. Diz constantemente: “Que se faça tua vontade, não a minha”. Entrega teu coração inteiro e todo teu tempo a Deus: aonde ir, quando e como responder. Deus não quer que te destruas. O esgotamento total, o sentir-se queimado e a depressão são sinais de que não estás fazendo a vontade de Deus.  Ele é todo amor. Deseja dar-te um sentido profundo de segurança e amor. Uma vez que consintas em experimentar esse amor completamente, poderás discernir com mais exatidão a quem hás sido enviado em nome de Deus. Não é fácil entregar tua ordem do dia a Deus. Porém, quanto mais o faças, o “tempo de teu relógio” se converterá mais em “tempo de Deus”, e este é sempre a plenitude do tempo (H.J.M Nouwen, La voz interior Del amor, Madrid, 1997, 117-118).

 

 

 

 

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