ESTUDO BÍBLICO NA 4ª SEMANA COMUM ANO C 2022

ESTUDO BÍBLICO NA 4ª SEMANA COMUM ANO C 2022

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA:

Marcos 5,1-20

SABER VENCER O MAL

 “Espírito imundo: sal deste homem!”

Os Evangelhos destes três dias – ontem, hoje e amanhã – nos apresentam quatro grandes prodígios de Jesus que poderíamos dizer, em ordem de importância:

(1) Jesus que vence as forças da natureza (4,35-41);

(2) Jesus que vence as forças do mal (5,1-20);

(3) Jesus que vence a enfermidade (5,21-34); e,

(4) Jesus que vence a morte (5,35-43).

Jesus que vence as forças da natureza (4,35-41), foi o Evangelho de sábado passado, onde vimos Jesus  que acalma a violenta tempestade que já ameaçava virar o barco enquanto Ele dormia.

Hoje nos deteremos em Jesus que cura um endemoninhado (5,1-20), vencendo o mal que, com frequência, se aninha no coração do homem. Neste caso trata-se do assim chamado “endemoninhado de Gerasa”.

O primeiro que faz o evangelista ao iniciar o relato é uma apresentação bastante detalhada do endemoninhado: quem é o homem, onde vive que haviam feito por ele e qual era seu comportamento. São os cinco primeiros versículos (vv.1-5). Trata-se de um homem com um espírito imundo que tem sua morada nos sepulcros. Como se nos quisesse assegurar que ao estar sob o espírito do mal já está morto e sua lógica morada é o cemitério.

Ao que parece já haviam feito muitos esforços para poder dominá-lo e fazê-lo voltar à razão, mas a força do mal é mesmo difícil de dominar. Ademais, ele já havia rompido com seus familiares e semelhantes; inclusive, como adiante diz, nem sequer podia consigo mesmo, pois “dava gritos e se feria com pedras” (v.5).

Ante esta situação de incomunicabilidade com os outros e consigo mesmo, é muito lógico que a relação com Deus tampouco funcionaria. O endemoninhado, ao ver Jesus não foge como seria de esperar, mas “corre, se prostra ante ele e diz com forte voz” (v.6). Ao mal só o submete o bem. Fugir não serviria de nada. Prostra-se, porém para reconhecer que ele não tem nada a ver com Jesus; outra relação que se rompeu.

A expressão dele revela a identidade de Jesus. Aquela que muitas vezes os próprios discípulos não compreenderam: “Que tenho eu contigo, Jesus Filho de Deus Altíssimo?” (v.7). Satanás o reconhece. E não só isso; a frase que se segue é muito especial e significativa: “Conjuro-te por Deus que não me atormentes” (v.7).

Jesus sabe que ante qualquer tipo de mal, o melhor é identificá-lo bem para logo poder vencê-lo. É por isto que lhe pergunta o nome. O demônio lhe responde que seu nome é legião, pois são muitos, e lhe suplica que não os lancem fora da região; preferem ir parar em uma piara de porcos que estava próxima. O mal a todo custo resiste a ser eliminado e prefere seguir subsistindo em uns porcos.

Para nós é difícil imaginar dois mil porcos despencando e caindo ao mar. É menos difícil imaginarmos ao endemoninhado como o descreve o texto “sentado, vestido e em são juízo” (15). Isto foi o que encontraram os que chegaram ao lugar, alertados pelos que cuidavam de porcos.

De todos os modos, uma situação desta causa muito temor. Assombra o pensamento de que as pessoas, ainda que, constatando o milagre, peçam a Jesus que se afaste da região. Muitas vezes não estamos preparados para reconhecer, nos outros, a ação de Deus e preferimos seguir como antes.

Jesus decide partir dali e sobe numa barca. Então, o que havia sido curado pede a Jesus que lhe permita ir com Ele, quer dizer, lhe pede que o deixe segui-lo; porém, Jesus tem para ele outros planos e o texto nos diz: “Não o concedeu” (v.19).

Deu-lhe a missão de ser, entre os seus, testemunha de tudo que lhe havia acontecido; tudo que o Senhor havia feito a ele. É uma missão bela, ainda que não seja fácil, devido às circunstâncias anteriores em que se encontrava. De todos os modos, o texto nos diz que assim aconteceu e que ao soar de suas palavras todos ficavam maravilhados.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Que nos quer dizer Jesus com a cura do endemoninhado?
  2. Em que momentos especiais de minha vida, eu tenho constatado que a relação comigo mesmo, com os demais e com Deus tem uma estreita relação?
  3. Quando vemos que uma pessoa tem mudado, melhorado suas atitudes, qual é nossa reação e comportamento para com ela?

TERÇA-FEIRA:

Marcos 5,21-43

EM JESUS HÁ SALVAÇÃO E VIDA: UM CAMINHO DO TEMOR À FÉ

 “Não temais somente tem fé”

Depois de ter vivido o tempo do Natal, começamos o chamado “Tempo Comum”. Neste tempo seguimos, passo a passo, Jesus na sua cotidianidade, contemplando seu rosto, deixando que todos os aspectos de sua missão iniciada com seu batismo tenham impacto salvífico em nossa existência, impulsionando em nós um crescimento contínuo, dando valor e sentido a tudo que fazemos.

O Evangelho que nos acompanha desde o início é o de Marcos. A Igreja nos convida a ler seguindo seu itinerário próprio. Nas três semanas anteriores lemos os primeiros quatro capítulos deste Evangelho. Ontem iniciamos o capítulo 5, com o relato do exorcismo do endemoninhado de Gerasa, o qual terminou pondo de relevo como no milagre se manifestava a misericórdia de Deus: “Anuncia-lhes o que o Senhor fez contigo e que há tido compaixão de ti” (5,20).

Depois da história deste homem que passou de uma vida totalmente arruinada a uma nova e se torna testemunha de Jesus, nos encontramos hoje com dois relatos que, partindo da solicitude inicial de um pai de família atribulado por sua filha moribunda (5,21-24), põe de relevo como Jesus dá vida a duas mulheres (5,25-34 5;35-43). Os dois relatos se entrelaçam e deixam ver também um caminho de fé.

Notemos como ao longo do relato aparece um aglomerado de gente em torno a Jesus, como aos poucos vai alternando-se com pequenos grupos e ao fim de tudo fica sempre cara a cara com uma só pessoa:

  • As multidões (5,21.24.31);
  • Pequenos grupos: discípulos (5,31); alguns da casa do chefe sinagoga (5,35); Pedro, Tiago e João (5,37); as mulheres que choram o morto e zombam de Jesus (5,38.40a); os pais da menina (5,40);
  • Pessoas: Jairo que abre passagem em meio à multidão para pedir salvação e vida para sua filha (5,22); a mulher hemorroísa que se aproxima por trás entre a multidão e toca o manto de Jesus (5,27); a menina que Jesus toma pela mão e ressuscita (5,41).

Também vale notar que há um trajeto, um caminhar contínuo de Jesus, entre a beira do mar (5,21) e o leito de morte da menina (5,41). Ao longo do caminho vão se inserindo diálogos e os diversos momentos significativos. Detenhamo-nos brevemente no encontro de Jesus com as duas mulheres.

  1. Jesus e a hemorroísa

Uma mulher que não tem ninguém, (o contrário de 5,23) abre caminho na multidão e chega até Jesus. Seu sofrimento é extremo (ver 5,25-26): leva doze anos com uma hemorragia; recebera muito em mãos dos médicos que em vão tentaram curá-la; já gastara todo o dinheiro que tinha; não há resultados, senão agravamento de sua situação.

Esta mulher toca o manto de Jesus baseada em uma convicção: “Se conseguir tocar ainda que seja suas vestes, me salvarei” (5,28). Ela confia plenamente em Jesus. Ela então fica curada, sem mais traumatismos e de forma gratuita. Jesus, por sua parte, apesar da quantidade de toques que recebe da multidão, percebe que há um diferente, um que logra desprender de seu interior uma grande força. Quando Jesus perguntou quem o tocou, seus discípulos lhe respondem com uma ironia.

A mulher “atemorizada e trêmula se prostrou ante ele e lhe contou toda a verdade” (5,33; ver 5,22: o mesmo gesto de Jairo). Jesus então fala com ternura, lhe diz: “Filha”. A mulher que interrompe a viagem urgente de Jesus para salvar a vida de uma menina converte-se aqui na “Filha”. Enquanto ela se prostra atemorizada, Jesus a envia, declarando-a curada e felicitando-a por sua fé (5,34).

  • Jesus e a filha de Jairo:

Os portadores da notícia da morte vêm desanimar a fé de Jairo, que havia crido que Jesus evitaria a morte da filha (5,35a). Quando a tristeza invade o pai e considera que a viagem foi inútil (5,35b), Jesus então lhe pede um novo gesto de fé mais difícil que o primeiro: “Não temas, crê somente” (5,36).

Se Jesus “perdeu” tempo no caminho com a mulher hemorroísa, não o faz com aqueles que o distraem agora com o lamento das mulheres contratadas para chorar. Procede então em segredo e cria o ambiente, fica só com os pais da menina: não há exibicionismo. Um gesto e uma ordem de Jesus devolvem a vida à menina.

Tão profundo é este momento, que a tradição conservou as palavras de Jesus em aramaico: “Talitá kume” (5,41). Ao fim é a menina que empreende um caminho (5,42). Veja que tinha 12 anos, justo no momento, segundo a cultura hebreia, que uma menina se faz mulher.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

«Eu te ordeno, levanta-te!». Antes de ressuscitar uma defunta, querendo despertar a fé, Jesus inicia a curar a mulher que padecia de hemorragia. Esse fluxo estancou para nosso esclarecimento: enquanto Jesus se aproxima de uma, a outra já está curada. Assim, para acreditarmos na nossa vida eterna, celebramos a ressurreição temporal do Senhor que viveu sua Paixão… Os criados de Jairo que dizem: «Não importuneis o Mestre» não acreditam na ressurreição predita na Lei e consumada no Evangelho. Por isso, Jesus não leva consigo senão poucas testemunhas da ressurreição que vai ocorrer. A multidão, essa, ri-se de Jesus quando diz: A menina não morreu, está a dormir». Os que não crêem riem-se. Que chorem, pois, seus mortos aqueles que os julgam mortos. Quando se tem fé na ressurreição, não se vê na morte um fim, mas um descanso… E Jesus, pegando a mão da menina, curou-a; depois ordenou que lhe dessem de comer. É uma constatação da vida para não se pensar numa ilusão mas na realidade. Feliz aquela a quem a Sabedoria segura pela mão! Queira Deus que Ela também pegue na nossa, à hora de atuarmos. Que a Justiça segure minha mão; que o Verbo de Deus pegue nela, me introduza no seu recolhimento e afaste meu espírito do erro, recuperando aquele a quem salva! Que Ele mande dar-me de comer: o pão do céu é o Verbo de Deus. A Sabedoria que colocou sobre o altar os alimentos do Corpo e Sangue do Filho de Deus, disse: «Vinde e comei do meu pão e bebei do vinho que preparei!» (Pr 9, 5). (Santo Ambrósio (c. 340-397),bispo de Milão e doutor da Igreja)

Cultivemos a semente da Palavra na vida

  1. Que mais toca do encontro de Jesus com as duas mulheres?

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Com qual me identifico mais e por quê?

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  • A mulher hemorroísa ao tocar o manto de Jesus manifestou que confiava plenamente nele. Qual é meu grau de confiança no poder e a misericórdia de Jesus?

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Como atuo quando as coisas vão mal e tudo parece perdido?

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  • Que fazemos na família/grupo quando alguns dos membros passam por momentos de desalento?

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O animamos a que, apesar de tudo, continue crendo como fez Jesus com Jairo?

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QUARTA FEIRA (APRESENTAÇÃO DE JESUS)

Lucas 2,22-40

A APRESENTAÇÃO DE JESUS: UMA IMAGEM ELOQUENTE DA VIDA CONSAGRADA

 “Luz para iluminar as nações e gloria de teu povo Israel”

Há quarenta dias celebramos o Natal. Segundo Lucas, 40 dias depois Jesus foi levado a Jerusalém, ao Templo. Ali duas figuras proféticas, Simeão e Ana, reconhecem a este menino de apenas um mês e dez dias de nascido como o Messias e o autor da Salvação.

A cerimônia das velas com a qual hoje abre a liturgia nos põe frente à mensagem fundamental que está recolhida na oração de Simeão: “Meus olhos viram tua salvação… luz para iluminar aos gentis e glória de teu povo Israel” (Lc 2,30.32).

  1. O ofertório no Templo (2,22-24)

Esta é a primeira vez que Jesus entra no Templo. Assim havia profetizado: “E em seguida virá a seu Templo o Senhor a quem vós buscais” (Ml 3,1b).

O Evangelho começa dizendo que na apresentação do Menino Jesus, Maria e José procedem “segundo a Lei de Moisés” (2,22.23.25). Ali vão para:

  • Fazer a “consagração ao Senhor” de Jesus (2,23). Sendo Jesus o Filho primogênito (ver 2,7), pertence a Deus. Assim o estabelece Êxodo 13,2.12-15; e,
  • Oferecer o sacrifício pela “purificação” da Mãe: “quando se cumpriram os dias da purificação” (2,22a). Assim o determina Levítico 12,1-8.

Uma consagração especial

Por que o filho primogênito é consagrado a Deus? Porque tudo e todos pertencem ao Deus criador, de quem provém à vida. O filho é um dom de Deus. Nos rituais do Antigo Testamento, o “sacrifício” de animais tem como finalidade simbolizar a restituição a Deus do que previamente se tem recebido dele.

Com muita precisão a Lei prescreve que os primogênitos dos animais devem ser oferecidos em sacrifício, ao contrário os meninos primogênitos se resgatam com dinheiro (ver Nm 18,15-17). Chama a atenção em nosso texto que não se diz que Jesus tenha sido resgatado, mas “apresentado”, quer dizer, “consagrado” ao Senhor.

Isto se explica pelo fato de que Jesus deve a origem de sua própria existência ao poder criador de Deus. Por isso Jesus pertence a Deus de uma maneira singular. De fato, o Anjo havia dito a Maria:      “O que há de nascer será santo e será chamado Filho de Deus” (1,35).

Pelas mãos de sua mãe

Jesus é introduzido solenemente no lugar que lhe é próprio: o Templo, sinal da presença de Deus no meio de seu povo. Jesus está na casa de seu Pai (ver 2,49). Ali Jesus se dá a seu Pai, mas pelas mãos oferentes de sua mãe. É interessante que Lucas junte a oferenda do filho com a purificação de Maria.

A norma pede que se ofereça um sacrifício por sua purificação, concretamente um cordeiro e um par de pombos (Lv 12,8). Mas de Maria se diz que oferece um par de pombas, o qual era uma concessão especial que se fazia aos mais pobres que não tinham como adquirir o cordeiro (Lv 5,7: “Quando os recursos não alcancem”).

Portanto, a Mãe oferente é uma mulher pobre que sabe dar. Ao oferecer o sacrifício correspondente, se nos recorda que Maria é verdadeiramente mãe que vive em condições de pobreza e que seu coração está profundamente aderido à vontade de Deus manifestada na Lei.

  • Uma galeria de personagens em torno à consagração

A entrada de Jesus no Templo não passa despercebida. Por meio dele ocorre também a entrada do fogo da esperança que provém do Espírito em quem o rodeia. É significativo que, ao mesmo tempo, que o menino Jesus vem ao Templo, também Simeão “movido pelo Espírito, veio ao Templo” (2,27).

Tanto Simeão como Ana, ambos laicos, têm uma visão especial de Jesus naquele momento, que enche de alegria suas vidas que já estão quase no ocaso. Ambos lhe dão voz ao acontecimento captando seu grande alcance. A presença do recém-nascido é sinal de esperança para o ancião, que normalmente olha muito para trás e pouco para diante. Que acontece a cada um deles?

Simeão: acolhe entre seus braços o grande dom de Deus (2,25-32)

De Simeão conhecemos sua personalidade espiritual:

(1) Justo e piedoso;

(2) esperava a consolação de Israel;

(3) estava nele o Espírito Santo (ver 2,25).

O que chama a atenção é que, em contraste com os sacerdotes do Templo, Simeão aparece como um homem sensível à novidade da presença de Deus no pequeno menino, justo no lugar que lhe é próprio.Lucas nos mostra que, porque reúne todas as características enumeradas é que Simeão pode viver a grandeza do momento: ele sabe ver em profundidade e captar o instante preciso da vinda da salvação. O perfil que se nos dá de Simeão não é algo secundário: é uma pessoa orante que escuta a Palavra de Deus e é fiel a ela, perseverante na espera da consolação e sensível às revelações e moções do Espírito Santo.

Ele sabe calar e aguardar, escutar e acolher, viver os silêncios, porém também falar.A entrada do menino no Templo não o toma desprevenido: “Quando os pais introduziram o menino Jesus… lhe tomou nos braços e glorificou a Deus” (2,27-28). Quantos recém-nascidos deviam ter? Simeão apenas o vê exulta de alegria abraçando a luz de seu povo e todo o mundo.

Em seguida o ancião faz a série de proclamações que vêm sendo feitas sobre Jesus desde que começou o Evangelho:

  • O Anjo o apresentou na anunciação como o Filho do Altíssimo e como o que reinaria para sempre sobre a casa de Jacó (ver 1,32-33);
  • Os pastores, representantes dos pobres do povo, na noite do natal receberam o anúncio de que Ele era o Salvador, o Messias e Senhor (ver 2,11);
  • Agora Simeão vê que a missão de Jesus vai muito mais além da casa de Jacó e o proclama abertamente: (a) O reconhece como o portador da “salvação” para ele (2,30) e para todos os povos (2,31); e (b) O anuncia como “luz” dos pagãos e “glória” de Israel (2,32).

Como Simeão, a consagrada testemunha a abertura ao mistério de Deus, cala e capta com fina sensibilidade espiritual a presença do Senhor, sabe acolher o dom de Deus e celebrar em alta voz.

Simeão, que sabe viver a longa noite escura da fé na espera da plenitude da consolação, nos ensina todas estas atitudes chaves para a experiência de Deus na novidade de Jesus Cristo. É assim que se adquire as melhores disposições para “ver” em primeira pessoa “a salvação” e levar sua força iluminadora e renovadora aos rincões mais escuros e da ampla geografia humana.

Ana: testemunho da esperança (2,36-38)

Outra pessoa que sabe de esperança. Junto ao varão aparece agora uma mulher: Ana, em hebraico “dotada de graça”, é a filha de Fanuel, que significa “rosto de Deus”. Dela se diz expressamente que era uma “profetisa” (2,36a). Ela, depois de ficar viúva, se consagrou completamente ao Senhor: “Não se apartava do Templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações” (2,37).

Ela está ali, quer contemplar o rosto de Deus e é imagem de Israel e de toda a humanidade que espera a vinda do Redentor. Também como Simeão, ela se destaca por sua perseverança, que é a teimosia do amor, está com Deus, porém ainda assim continua buscando, esperando com jejuns e vigílias, com dor e desejo, a realização da promessa.

Igualmente Ana está ali na hora precisa, “como se apresentasse naquela mesma hora” (2,38a), e percebe a realização da esperança. Pelo que significa para ela mesma, “glorificava a Deus” (2,38b); por que o seu é um povo que aguarda a vinda do Messias, ela “falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (2,38c).

Assim como Ana, o consagrado é uma pessoa que sabe viver contemplativamente o mistério da espera. Ele olha adiante: a plenitude da manifestação da glória que ainda não se revelou. Porque é testemunho do definitivo (“escatológico”), a vida do consagrado é um protesto silencioso contra um mundo no qual há gente que a curto espaço de tempo parece que esgotam a vontade de viver e perde os horizontes.

O consagrado está aí com sua presença, sua oração e ação, para dizer que este mundo não é justo, que não é ainda o que Deus queria e, portanto deve vir um mundo diferente parecido ao que o Criador e Rei sonhou um jardim da vida. Na espera do definitivo este é o compromisso.

  • Maria: a oferenda mais alta em comunhão com a Cruz do Filho (2,33-35)

Dos anciãos passemos de novo à jovem mãe. Esta festa da Apresentação do Senhor também é uma festa de Maria. À luz do mistério de seu Filho, Maria, em estreita comunhão com Ele, aparece uma vez mais como a discípula fiel que o segue até as últimas consequências.

Este discipulado de Maria não está separado de uma nova expressão de sua maternidade: será plenamente “mãe” oferecendo-o e oferecendo-se com Ele na hora dolorosa.

  •  As palavras proféticas de Simeão a Maria: como se fossa uma nova anunciação

Após Simeão exaltar a grandeza do que veio ao mundo nas circunstâncias mais baixas e ter em seus braços, como um fraco menino, do anúncio de “glória” passa ao da “cruz”. José e Maria, que estavam “admirados” (2,33), agora escutam: “Este está posto para queda e elevação de muitos…” (2,34).

Se até agora tudo fora felicitações e esplêndidas afirmações, neste momento a profecia de Simeão estende um manto obscuro sobre o destino de Jesus. Sua vinda ao mundo gerará efeitos contraditórios entre as pessoas: condenação a uns e salvação a outros. Jesus não é propriamente um Messias exaltado por todos, mas alguém que encontra em seu caminho fortes resistências e rejeições. A hostilidade o levará à morte.

Maria, que esteve estreitamente unida às origens, concepção, parto e proteção do pequeno ameaçado, também estará ligada ao destino de Jesus, como diz a misteriosa palavra de Simeão: “E a ti uma espada te atravessará a alma!” (2,35a). Palavras fortes escuta Maria, da parte de Deus quando lhe anuncia abertamente o mistério da Cruz.

Duas palavras com amplo alcance simbólico merecem destaque. Simeão diz que ela também estará ali, na hora cruel da morte de Jesus, com sua “alma”, ou seja, com sua vida total (a iconografia cristã a tem representado com um coração).

A vida de Jesus é também sua vida. Ali, no fundo, ela será ferida. A “espada”, instrumento para ferir e matar, é por natureza hostil à vida. A hostilidade que experimentará Jesus também traspassará a Maria e lhe doerá até o mais profundo. A ferida de Jesus é também sua ferida.

Um arco se estabelece entre as primeiras palavras do Anjo Gabriel e as últimas de Simeão: a Mãe não só experimenta uma grande alegria, “Alegra-te” (1,28), mas também uma grande dor “Uma espada te atravessará a alma” (1,35ª).

Maria então é perfeita discípula e mãe que acompanha a Jesus não só nos gozos do Reino, mas nas dores de seu parto. A comunhão entre Jesus e Maria é total. Como exclamava santa Catarina de Sena: “Ó dulcíssimo Amor, aquela espada que recebeste no coração e na alma foi à mesma espada que atravessou o coração e a alma de tua Mãe!”.

(b) Uma oferenda “Eucarística”: Maria modelo de todo consagrado

  • Uma relação “cordial” com Jesus

A imagem forte da “alma traspassada” pela dor do Filho nos diz qual deve ser a autêntica relação com Jesus. Um discípulo não tem uma relação fria e distante com Jesus, mas ao invés, visto que vive tocado profundamente por Ele, é uma relação intensa animada pela escuta, pela oração, pela opção de vida segundo seus valores, pela missão. Assim, discípulo é o que abre sua vida inteira a todos os aspectos do destino de Jesus, nada de Jesus, nenhum estado, nem mistério do Mestre, lhe é indiferente.

Neste sentido Maria é claramente modelo de todo “consagrado” que é chamado não só para ser um servidor eficiente. Mas, antes de tudo, um amigo fiel de Jesus, quer dizer, uma pessoa que se joga, toda, pelo Mestre, participando de suas obscuridades, sofrimentos, humilhações e rejeições no meio de todas as contradições internas e externas que lhe acarreta a opção radical por Ele.

Em outras palavras, aqueles que redescobrem o mistério de sua identidade pessoal no “dom” – o ser “vida oferecida” a Deus para dar vida aos irmãos – estão chamados a ser perfeitos enamorados de Jesus, gozando o ser como Ele, assumindo na dor o custo do amor.

  • Em “comunhão eucarística” com Jesus

Mas é, sobretudo, de cara à Cruz eucarística do Mestre, que esta maravilhosa página da “Apresentação” de Jesus nos dá sua melhor lição. Maria entra na “lei da Cruz”, que não é outra que a dinâmica do dar para receber, a do perder para encontrar, a do morrer para viver, a da pobreza total para possuir tudo.

O que acontece na Cruz está significado e atualizado em cada Eucaristia. A imagem da “alma” atravessada pela “espada” de dor da Cruz, da entrega absoluta nos dá também uma lição Eucarística. Maria vive, assim, a mais perfeita simbiose com Jesus: aquela que fez bater o coração do filho quando lhe deu vida em seu ventre, agora, com impulsos de amor e de dor, deixa que seu coração palpite ao ritmo do coração de seu Filho Crucificado.

Maria, não só oferece agradecida, eucaristicamente, o seu Filho no Templo, ela também se oferece como dom total para Deus. Maria, não só consagra a seu Filho àquele que está na origem de sua vida e de sua missão, ela também se consagra junto com Ele em uma comunhão perfeita de vida e de missão.

E esta é a dinâmica interna da Eucaristia: os dons que levamos ao altar não são coisas externas, mas sinal de uma vida inteira que se está dando porque o coração está “atravessado” pelo amor total, puro e intenso da Cruz de Jesus.

Nenhuma oblação tem sentido pleno nem alcance salvífico fora da de Jesus na Eucaristia, porque ninguém pode “entregar” sua vida a Deus se não é dentro da entrega mais perfeita de Jesus na Cruz. Que belo celebrar a festa da Apresentação do Senhor! A vida consagrada, provocação profética para que o mundo inteiro se faça discípulo de Jesus, encontra sua identidade mais profunda na Eucaristia.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que relação nós encontramos entre esta festa da Apresentação de Jesus e a vida consagrada?

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Em nosso entorno existe alguma forma de vida consagrada? Que relação nós temos com ela?

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Como poderíamos nos relacionar melhor?

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  •  “Só uma pessoa orante que escuta a Palavra de Deus e é fiel a ela, pode captar a presença de Deus na vida”. A mim é fácil reconhecer Deus nos acontecimentos?

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Como grupo, família ou comunidade, como vamos progredindo na escuta e fidelidade à Palavra?

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  • Que relação tem em minha vida a cruz e a Eucaristia?

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Que efeitos concretos tem a participação na Eucaristia em relação com minha vida de cada dia?

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QUINTA-FEIRA

Marcos 6,7-13

UMA MISSÃO EFICAZ AO ESTILO DE JESUS

“Deu-lhes poder sobre os espíritos imundos”

Lemos hoje o relato do envio missionário dos doze. A obra salvífica, expressão da realização do Reino, realizada por Jesus nos capítulos precedentes do Evangelho de Marcos, é continuada por aqueles que foram escolhidos pelo Mestre. Já se havia anunciado programaticamente: “Instituiu doze, para que estivessem com ele, e para enviá-los a pregar com poder de expulsar os demônios” (3,14).

Marcos expõe esta página do Evangelho depois de apresentar-nos sumariamente Jesus realizando a missão:       “E percorria os povoados circunvizinhos ensinando” (6,6b). Em seguida, seguindo um esquema triparte nos põe ante a missão dos doze: (1) Jesus os chama e os envia revestindo-os de poder (6,7); (2) Dá uma série de instruções para a realização eficaz da missão (6,8-11); e (3) Assistimos também de modo sumario a realização da missão dos discípulos (6,12-13).

Temos então uma página que justapõe fortemente a missão de Jesus e a de seus apóstolos. A missão parte de Jesus e segue as orientações que ele mesmo dá; os missionários atuam com a mesma autoridade recebida do Mestre. A missão da Igreja sempre se mira e se confronta neste espelho. Entrando nesta escola de missão, releiamos algumas da série de indicações que há que ter em conta quando se vai em missão:

  • Começou a enviá-los de dois em dois” (6,7) Jesus quer que seus apóstolos trabalhem em equipe. São enviados em par, como os embaixadores oficiais dos tempos antigos. O andar dois em dois, que em princípio significa “testemunho”, aponta a necessária complementaridade de carismas, ao apoio mútuo que os missionários se oferecem e inclusive à correção fraterna para que a missão não perca credibilidade. Os missionários terão que pôr-se de acordo, isto é, fazer projeto. Visto que a missão aponta para a formação da comunidade, eles, desde o princípio, darão exemplo de convivência fraterna segundo os valores do Reino.
  • Ordenou-lhes que nada tomassem pelo caminho…” (6,8ª) Muita gente não se lança à missão por medo, geralmente por não se sentir preparada ou não crer contar com os recursos necessários. Ao dizer aos seus apóstolos que não se preocupem pelo que têm que levar, Jesus lhes infunde confiança e os lança à aventura. Os missionários aprenderão a apoiar-se todo no Deus providente que os assiste: o Pai, origem última da missão. Também confiarão em seu povo, aguardando sua hospitalidade. Assim se inserem a fundo na vida das pessoas que evangelizam: convivendo com ela são portadores de esperança sem afastar-se da vida cotidiana.
  • Senão: ‘Calçados com sandálias e não vistais duas túnicas’” (6,9) Importa muito o modo como os missionários se apresentam diante das pessoas. Inclusive seu hábito externo é significativo: eles vão pobremente, mas com dignidade, por isso as sandálias. A outra túnica que Jesus menciona não é tanto a de trocar, mas a que se põe por cima para incrementar a aparência. A simplicidade é critério fundamental pois o que deve atrair a atenção das pessoas é a mensagem e não o mensageiro.
  • Quando entrem em uma casa, ficai nela até marchar dali” (6,10): O lugar de referência da missão é a “casa”: o ambiente familiar. Quando uma casa se abre ao Evangelho, o missionário não a deve abandonar, mas acompanhar até que dê passos de crescimento e maduração. Quando se começa uma comunidade, esta se torna “base de operações” para criar outras. Na primitiva Igreja sabemos que aos poucos se ia criando uma “rede” de casas. Por isso a perseverança do missionário em sua comunidade é importante, se bem que não tira a liberdade para partir.
  • Se não vos recebe e não vos escutam, saí dali sacudindo o pó da planta de vossos pés em testemunho contra eles” (6,11): Nunca faltam os conflitos, não é verdade? O missionário deve saber manejar os problemas que surgem. Jesus aqui se refere ao ambiente de hostilidade e de rejeição que se cria em uma missão. Mas também neste caso a conduta do missionário deve adequar-se à resposta que recebe sua presença e trabalho.

Do missionário se espera que confie na capacidade das pessoas para entrar em um processo novo, porém quando isto não acontece tampouco deve desanimar-se; é o que na cena anterior ocorreu a Jesus em sua própria terra, ali Jesus “se maravilhou de sua falta de fé” (6,6ª) e seguiu adiante com a missão “percorrendo os povos vizinhos” (6,6b).

O sacudir o pó dos pés não é uma afronta, com raiva, contra o povo renegado, mas uma declaração de que não participará no destino fatal que se estão ganhando com sua obstinação. É um gesto profético que adverte claramente que o que estão fazendo é grave.

É assim, escutando e pondo em prática a maneira como Jesus quer que se faça a missão, como se veicula a autoridade do Mestre sobre o mal que dobra ao homem, abrindo espaço para o acontecer do Reino e constatando sua eficácia através das mãos simples dos missionários: “expulsavam muitos demônios, e ungiam com azeite a muitos enfermos e os curavam” (6,15).

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Explique duas das recomendações que Jesus dá a seus apóstolos que mais lhe chamaram a atenção?
  2. Tenho tido alguma vez conflitos na missão? Como os tenho resolvido?
  3. Como podemos como família ou em comunidade, viver estas recomendações que Jesus nos faz hoje?

SEXTA-FEIRA

Marcos 6,14-29

O CONTEXTO CONFLITIVO DA MISSÃO

 “Quero que agora mesmo me dês, em uma bandeja, a cabeça de João batista”

Marcos interrompe a narração da missão dos doze para introduzir a da execução do Batista. A razão pela qual Marcos escolhe este momento para introduzir a morte João Batista é porque todo discípulo deve saber que a missão do Reino ocorre em meio a conflitos, perseguições e não se exclui o martírio.

1. A evangelização toca as estruturas políticas corruptas (6,14-16)

Marcos inicia dizendo: “O rei Herodes ouviu falar dele, pois seu nome se tornara célebre” (6,14). O rei galileu estava atento ao que estava suscitando com o movimento de Jesus. O fato que na corte de Herodes Jesus não é um desconhecido. Sua pregação se torna incômoda ao rei, que sabe de Jesus, mas não consegue entender sua identidade. O que acontece a Jesus reviva o ocorrido com João Batista, que também havia feito tremer seu trono. Para o rei Herodes, Jesus não parece ser indiferente. O mesmo para sua corte: Jesus é uma ameaça.

Em 3,6 se havia dito que a primeira ameaça de morte de Jesus partiu de um grupo de herodianos unidos aos fariseus. É assim como a pregação profética de Jesus e seus discípulos chegam até as estruturas do poder político e causa estremecimento.

O medo do “profeta”: Herodes escuta uma versão popular acerca da identidade de Jesus: Alguns diziam: ‘João Batista ressuscitou dentre os mortos e por isso atuam nele forças milagrosas’(6,14). A Herodes a notícia de uma espécie de “fantasma” de alguém que o comoveu profundamente.

Herodes tinha respeito e admiração por João: (6,20). Antes João comporta-se como verdadeiro “profeta” (6,15). A conclusão repentina à que chega Herodes trás à luz a história de um erro: “Aquele João, a quem eu decapitei, esse ressuscitou” (6,16).

  • A morte de João (6,17-29)

As respostas das pessoas e de Herodes sobre a identidade de Jesus são corrigidas pelos discípulos em missão. Mas é ocasião para que nos inteiremos da morte de João: “É que Herodes…” (6,17).

O motivo do rei: A morte de João ocorre aparentemente por uma denúncia de imoralidade: (6,18), dizia João a Herodes. Porém como enfoca o relato de Marcos, a morte de João parece dever-se mais a um erro do rei, que é incapaz de retratar-se depois de um juramente realizado durante um momento de alta emoção, caindo assim sob a intriga de duas mulheres. Quase que, do ponto de vista do rei, o mata por matá-lo: não há argumento. Herodes aparece reunido com os nobres de sua corte, os oficiais de seu exército e os líderes políticos da Galileia (6,21). É uma ocasião importante: o aniversário do rei. Na festa entra a bailarina que determina a sorte do profeta: “Dançou e agradou muito a Herodes e aos convivas” (6,22). O rei perde os estribos.

O erro do rei: O rei faz algo que não deve fazer: “Te darei o que me pedires, até a metade de meu reino” (6,23). O rei não pode fazer esse oferecimento e muito menos com juramento público e oficial. Então vem o conhecido: a jovem consulta a sua mãe e cai à cabeça de João Batista, de quem ela não podia suportar suas denúncias. Em meio de tudo vemos uma paródia dos métodos vergonhosos para tomar decisões em uma corte: há interesses pessoais, cobiça, vingança, intriga. Dessa forma se cometem muitos erros. O pior: se pisoteia uma vida humana para salvar o prestígio do rei.

Muito mais que uma anedota

O fato de que a execução de João, o batista, se realize mediante decapitação é significativo. Herodes negocia a “cabeça”, que no mundo antigo é símbolo da honra de uma pessoa, do profeta para proteger a integridade de seu juramento realizado em um momento emotivo, talvez ébrio. Claro, há também outras versões.

Na literatura do século I dC, o historiador Flávio Josefo nos deixou seu ponto de vista a respeito: “Herodes decidiu que seria muito melhor cortar o mal pela raiz e livrar-se dele antes que sua obra arrastasse à população a um levante, que esperar uma insurreição que provocasse uma situação difícil e se constatasse seu erro” (“Antiguidades Judias”, 18,2). Quer dizer que, segundo este historiador, a execução se devia ao medo que Herodes tinha do movimento provocado pelo Profeta Batista.

De qualquer forma, a leitura de hoje nos mostra como o Evangelho também entra no mundo complexo da política, não para dar pontos de vista, mas para questionar a honestidade do coração humano. Se um político não é reto, se não tem controle de si mesmo, se não toma posturas firmes no campo dos valores, o país inteiro está em perigo e é indigno de seu cargo. É assim como nosso texto denuncia como atrás da arrogância de um rei o que se esconde é uma grande estupidez.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Até onde chega a pregação do Reino no Evangelho de hoje?
  2. Que importância tem na evangelização de hoje?
  3. Que diz (ou me diz) o relato de hoje a quem exerce algum cargo de autoridade? Que se exige?

Como minha comunidade está chamada a ser presença profética no contexto no qual vivemos?

SÁBADO

Marcos 6,30-34

O PASTOR EDUCADOR: NUTRIDOS PELA PALAVRA DO MESTRE

“Sentiu compaixão deles, pois estavam como ovelhas sem pastor”

Hoje estamos ante um texto maravilhoso que desenha um precioso quadro que retrata Jesus como Pastor de sua comunidade de discípulos-apóstolos e de todo o povo de Israel.

Hoje no centro de nossa atenção está à pessoa de Jesus, dele contemplamos sua pressa, sua capacidade de convocação, sua liderança, sua resposta acertada a cada um dos desafios que vão aparecendo em seu caminho. Tudo e todos convergem a Ele, fora d’Ele não há caminho, nem projeto.

Em torno ao Mestre-Pastor se congregam dois círculos concêntricos, dois espaços comunitários que tendem a ser um (veremos próximo domingo), aos quais lhes oferece a atenção particular que requer:

  • A comunidade estreita dos “apóstolos” (os doze) que “está” permanentemente com Jesus e regressa de sua primeira experiência missionária;
  • Um amplo grupo de pessoas, “vindas de todas as cidades”, as quais são resgatadas de sua “dispersão” e se convertem em comunidade na escuta unânime da Palavra.

Os primeiros estão em uma etapa mais avançada de vida comunitária, é a “comunidade modelo” no Evangelho, e sua tarefa será continuando as ações e o estilo do Mestre ajudar os segundos a viverem plenamente seu discipulado formando uma só comunidade no projeto comum de Jesus. O texto é breve, porém em cada frase se vai dando uma pincelada que descreve com uma grande força e profundidade o rosto de Jesus Pastor que forma em torno a Ele uma comunidade que é vivificada por seus dons.

Neste domingo se põe de relevo o dom de sua “Palavra” (a que dirige a seus discípulos-apóstolos e à multidão na grande liturgia da Palavra a beira do mar da Galileia), o próximo domingo se porá em primeiro plano o dom do “Pão” (no relato da multiplicação). Porém não o percamos de vista: a comunidade começa com a escuta da Palavra.

Guiar e formar é a primeira resposta de Jesus às necessidades de sua comunidade. Vemos realizadas assim as palavras do Salmo 23,2b-3: “Pelos prados de ervas frescas me apascenta. Para as águas de repouso me conduz. Restaura minhas forças. Guia-me por sendas de justiça, por graça de seu nome”.

Com as pistas que demos inicialmente e observando os grupos de personagens que aparecem no texto, podemos distinguir duas partes no texto: (a) vv.30-31: A comunidade apostólica em torno a Jesus Pastor; e (b) vv.32-34: As multidões vindas das cidades em torno a Jesus Pastor.

A comunidade apostólica em torno a Jesus Pastor (vv.30-31)

Os apóstolos regressam da missão e devido o fluxo de gente, Jesus lhes propõe que se detenham a repousar em um lugar separado. Notemos que o centro da cena é Jesus:

  • em torno a Ele se reúnem os missionários;
  • a Ele lhe reportam tudo o que hão falado e feito;
  • Ele toma a iniciativa de leva-los a parte a descansar.

Os apóstolos não deixam de ser discípulos, o Mestre segue conduzindo-os para indicar-lhes não só a forma de fazer a missão, mas o que fazer também depois dela.

O regresso dos apóstolos (v.30)

Como já notamos, Jesus é o centro da comunidade apostólica. Os discípulos, que regressam fatigados da missão, se congregam em torno ao Mestre e lhe contam os detalhes da missão vivida. Com relação ao “congregar-se”, no texto grego se nota uma verdadeira reunião, um “estar juntos”, uma experiência comunitária a qual se lhe dá valor. A comunidade corre o risco de dispersar-se nas diversas tarefas apostólicas e perder seu centro, o que hoje poderíamos chamar o “calor do lar”.

Para que se veja a importância disto, se vai mais adiante, em Mc 6,45, ao fim da multiplicação dos pães, à simples, mas precisa anotação “obrigou seus discípulos a subir na barca”, Jesus pressiona aos discípulos para que evitem uma das tentações apostólicas mais frequentes: é mais fácil ficar com o povo recebendo os aplausos, que estar na comunidade fraterna, onde eventualmente se vivem confrontos.

E o ambiente da reunião que menciona Marcos devia ser gozoso. Em Lc 10,17, fala explicitamente de uma reunião festiva. Porém Marcos prefere acentuar o fato de que o conteúdo da reunião com Jesus foi à narração das vivências na missão “tudo o que haviam feito e o que haviam ensinado”.  

“Tudo” é tudo. Supõe que nada se oculta a Jesus, tudo se converte em tema de oração, o coração se abre sem dissimulação. Além do mais, este “informe” –realizado no diálogo fraterno- é uma expressão da “responsabilidade” do missionário com aquele que o enviou. Os dois verbos que descrevem a missão apostólica, “fazer” e “ensinar”, recordam que a missão não consiste só em “palavras”, mas, também, em ações transformadoras que realizam o que anuncia a pregação.

Recorda-se, também, que o ensino dos apóstolos tem a sua raiz na vida de Jesus e que a sua ação corresponde, pontualmente, ao encargo recebido de “pregar a conversão” (6,12) e fazer ações libertadoras do mal e restauração das pessoas (“exorcismos e curas”, 6,13). Nesta primeira parte, Jesus simplesmente escuta, acolhe o que os discípulos lhe apresentam. Porém vem em seguida sua reação.

O convite a descansar (v.31)

Neste Evangelho, Jesus não se pronuncia (fazendo algum tipo de valorização) sobre a notícia dos discípulos, já que se tem dado por certo que entre o Mestre e os discípulos há uma estreita comunhão.  Neste Evangelho Jesus dá um passo adiante, inédito com relação aos outros evangelistas, para indicar-lhes o que devem “fazer” imediatamente depois da missão. A palavra de ordem agora é “descansar”.

“Para descansar um pouco”. Trata-se do repouso da fatiga da missão.  Recordemos que o Jesus de que descreve o Evangelho de Marcos é um missionário que conhece poucos repousos, razão pelo qual alguns o tem qualificado de “hiperativo”; e ao mesmo ritmo vão os discípulos. Este retrato de Jesus e comunidade reflete a intensidade com que a Igreja, desde suas origens, assumiu a missão. Porém, atenção! Jesus também disse uma palavra sobre o descanso.

Sua palavra sobre o descanso faz eco a uma frase do Salmo 23 onde domina a atmosfera do repouso: por prados de fresca erva me apascenta (v.2). Para quem peregrina na geografia palestinense, na paisagem caracterizada pelo calor e a aridez dos campos queimados pelo sol inclemente, esta frase é forte.  Neste caminho se tem um pouco de água que mata a sede, de alimento que restaura a força, de fresca brisa que reconforta. Tudo isto está contido no “descansar” e é a esta deliciosa experiência que Jesus convida seus discípulos.

Jesus, então, se está comportando como bom pastor de seus discípulos. O pastor “competente” é o que conhece os lugares secretos e as rotas seguras para levar seu rebanho ali onde há frescura, erva abundante e água pura. Ali o rebanho se recosta satisfeito e sereno, sob o olhar amoroso do pastor. Não é este o conteúdo do convite de Jesus a seus discípulos?

Se isto é assim, então, as palavras de Jesus vão muito mais além da proposta de uma escala técnica em meio da missão. Más, se trata de um profundo ensinamento sobre o ritmo de vida do missionário. Poderíamos dizer que este consiste em um entrar constantemente na presença de Deus desde a presença da sociedade e sair da presença de Deus à presença dos semelhantes.

Vamos a explicar. Não é por casualidade que Marcos tem colocado a motivação principal do descanso: “Pois os que iam e vinham eram muitos, e não lhes ficava tempo nem para comer” (v.31b).

Daí podemos tirar duas lições sobre a vida do missionário, uma em positivo e outra em negativo:

Em positivo:

O fato de os discípulos não terem tempo “nem para comer”, em meio das muitas tarefas, deveria ser um motivo de orgulho (no bom sentido), já que assim lhe acontecia também ao Mestre (3,20: “Voltar a casa. Se aglomera outra vez à multidão de modo que não podiam comer”). Dai que o sentir-se fatigado pelas tarefas apostólicas indique um bom nível de sintonia com Jesus.

Em negativo:

E como já se anotou antes, não é bom deixar-se absorver pelo “corre corre” apostólico. No equilíbrio de vida deve vencer duas tendências erradas:

  • Perder nossos espaços. Como assumir as cargas da vida se não temos contato com o Senhor da Vida e se não temos espaços pessoais para fazer uma apropriação do projeto que Ele tem para nós?
    • Retirar-nos demasiado. Que fazer para que a oração não seja o entrar em um espaço cômodo que  nos afasta dos conflitos com os demais? Que fazer para que a comunhão com Deus não seja um evitar a comunhão com os demais, mas um preparar-nos para ela? A verdadeira oração sempre deve desembocar na ação comprometida com os irmãos!

As duas tendências se pode superar se também “seguimos” Jesus em seu modo de enfrentá-las e vencê-las. Jesus tinha Deus sempre no centro de seu ministério, o encontrava na oração e também em suas atividades.

Desde seu primeiro dia de “seguimento” os discípulos receberam do Mestre uma lição sobre o equilíbrio de vida do missionário: após um dia intenso de trabalho “de madrugada, quando ainda estava muito escuro, se levantou, saiu e foi a um lugar solitário e ali se pôs em oração” (1,35;1,45), e depois disso disse “Vamos a outra parte… a fim de pregar também ali ” (1,38).

Jesus não pede aos discípulos nada que não haja feito primeiro. Por isso, Jesus ao final desse dia, após a multiplicação dos pães, realiza o que havia proposto quando os convidou a estar “a sós”: “Depois de despedir-se deles, foi ao monte a orar” (6,46).

Jesus é o modelo. Ele sabe estar na presença de Deus e na presença da sociedade, sem perder o centro nem a força. Por este caminho de missão e oração, de expansão e concentração, de trabalho e descanso, o seguem seus discípulos.

As multidões vindas das cidades em torno a Jesus Pastor (vv.32-34)

Jesus e seus discípulos marcham com o propósito de realizar o plano proposto no v.31. E em seguida notamos uma dupla correria: a da comunidade apostólica, na barca e a das multidões, a pé, pela beira do mar.

O povo, que capta o propósito de Jesus (“muitos caíram em conta”), se antecipa ao Mestre para que prolongue, todavia um pouco mais –antes do descanso e a oração- sua missão em meio deles. A tomada de distância termina ao contrário: uma monumental jornada missionária.

 A viagem de Jesus e os apóstolos (vv.32-33)

Encontramo-nos ao norte do lago da Galileia. Nesta parte (onde está Magdala, Genesaré, Cafarnaum e Betsaida), o lago tem uns seis km – se o atravessamos em barca em linha reta – e uns quinze km – se o atravessamos por terra seguindo as bordas.

Esta desproporção se explica pelo fato de que a costa norte do lago está cheia de enseadas profundas, cujas entradas e saídas triplicam sua longitude. O curioso é que, quando não há brisa favorável as proporções se invertem e o caminho terrestre torna mais curto, e isto poderia explicar por que as multidões chegam primeiro que Jesus ao lugar onde iam descansar (que, pelo visto, não era secreto; até nisso Jesus era conhecido).

Enquanto o evangelista Marcos se limita a dizer de maneira vaga que se foram “a parte, a um lugar solitário”, tanto Lucas (“a Betsaida”, Lc 9.10) e João (“ao outro lado do mar”, Jo 6,1) são mais precisos. A amplitude de Marcos permite que se destaque que o essencial é estar a sós com o Mestre, o mapa do discípulo é o caminhar de Jesus, o ponto de referência é Ele mesmo.

O fato de ir juntos na mesma barca, no espaço apertado e em meio do calor humano que esta provoca, isto é, o estar juntos (como nos espaços comunitários na barca em 5, 21.24.27.30.31) é  o que conta. O recolhimento é “juntos”. O retiro não é um afastamento da comunidade, mas apenas uma tomada de distância da atividade missionária.

Frente à comunidade, já compacta, dos doze, se coloca agora o quadro de uma multidão que começa a fluir de “todas as cidades”. Chama a atenção, a ênfase no urbano, que é o espaço onde o tecido social soa ser mais forte. Porém estas “cidades” não parecem ser “comunidade”, já que Jesus os vê “como ovelhas que não tem pastor” (v.34).

Porém aqui não só há uma lição sobre a solidão e a dispersão que se vive no mundo urbano, mas que se aponta ao fato de que a missão de Jesus é universal (como se mostra também em 3,7-8 e 6,53-56): todos os homens e sua realidade toda são o centro de atenção da obra de Jesus, nada nem ninguém está fora de seu agir salvífico.

Toda esta multidão de gente que “corre” ao encontro de Jesus porque amava o que Ele lhes podia dar, logra seu propósito: chega primeiro que a barca; e assim, o lugar “solitário” se converte no lugar das pessoas “sós” (“como ovelhas que não tem pastor”) que necessitam ser congregadas.

O encontro de Jesus com as multidões (v.34)

Jesus desce da barca e se encontra com a multidão. Notemos que Jesus não se incomoda pelo fato de ver invadida sua intimidade, mas que se comove e os convida, os faz parte da comunidade.

Ponhamos nossa atenção nas ações de Jesus: “vê” as multidões; “sentiu compaixão deles”; e “se pôs a ensinar”.  Há um movimento interno na pessoa de Jesus, que é exemplar para o discípulo e missionário: captar a realidade; apropriar-se; e responder a ela.

O que Jesus vê e se apropria se sintetiza na frase “estavam como ovelhas que não tem pastor”. Que acontece a uma ovelha sem pastor?

Vai lhe acontecer uma destas três coisas:

  • Não pode encontrar o caminho. É claro que sozinhos, nos perdemos na vida. Como escreveu uma vez Dante: “Despertei no meio do bosque, e estava escuro, e não se via nenhum caminho”;
  • Não pode encontrar pastos nem água. É claro que enquanto estamos nesta vida, temos que buscar       constantemente o sustento para recuperar as forças. O problema é que buscamos onde não é e por isso andamos insatisfeitos, com o espírito em jejuns, com o coração inquieto;
  • Não tem defesa frente aos perigos que a espreitam. Uma ovelha sem seu pastor está perdida frente aos perigos: os ladrões, as feras. É claro que tampouco nos bastamos a nós mesmos frente aos perigos da vida, necessitamos dos outros e deste Outro em particular que é Deus.

Esta frase, “como ovelhas sem pastor”, vem de uma essência espiritual mais profunda do que parece a primeira vista. Evoca outra já conhecida na Bíblia.

Vejamos completa para que captemos o contexto: “Falou Moisés a Yahweh e lhe disse: “Que Yahweh, Deus dos espíritos de toda carne, ponha um homem ao frente desta comunidade, alguém que saia e entre diante deles e que os faça sair e entrar, para que não fique a comunidade de Yahweh como rebanho sem pastor (Nm 27,15-17; e ecos desta frase encontramos em 1 Re 22,17; 2 Cr 18,16; Jd 11,19; Ez 34,5-6).

Moisés pedia a Yahweh um sucessor, um como ele, capaz de conduzir o povo até a terra, alguém capaz de congregar o povo entre si e com Deus, um homem com coração de povo e com coração de Deus, um homem de aliança. Por isso, Marcos nos está deixando entender que Jesus é essa pessoa que o povo estava esperando, aquele que encarnaria a pressa pastoral de Deus com seu povo de Israel (como o descreve belamente: Gn 48,15; Is 40,11; Jr 31,10 e o Sl 23).

Moisés e Davi foram os pastores “fieis” do povo de Israel, porém Jesus supera a todos eles porque é o pastor dos tempos definitivos (Jr 23,4), que forma realmente o povo de Deus, que gera a fundo a comunhão entre os homens e com Deus (Mc 14,27-28 e 16,7), fim último de toda a história da salvação e destino da história.

O pastoreio de Jesus tem sua raiz na “misericórdia”: “Sentiu compaixão deles”. Jesus está convidando totalmente desde o fundo de seu ser na missão (ver traços da misericórdia de Jesus no Evangelho de Mc em 8,2 e 9,22). Ele encarna o pastor no Sl 23: “Bondade e amor me acompanharão todos os dias de minha vida” (v.6).

O termo que acabamos de traduzir por “amor” corresponde ao hebraico “Hésed”, que significa “fidelidade amorosa”, o qual pertence ao vocabulário da misericórdia na bíblia hebreia.

Encarnado na pessoa de Jesus, que interpreta esta “fidelidade amorosa” do Deus companheiro e amigo de seu povo, nos permite compreender a grandeza do amor de Deus: Ele caminha solidariamente ao lado dos seus, compartilha suas alegrias e seus contratempos, seu amor não para nunca e acompanha a todo homem no arco inteiro de sua existência.  Esta é a “compaixão” do pastor, que em realidade é sua “fidelidade”.

E foi assim como Jesus “se pôs a ensinar-lhes muitas coisas”. Em contraste com os mestres de Israel, que fracassaram em sua tarefa (ao final o povo seguia dispersa e desorientada), Jesus é o verdadeiro Mestre de Israel que conduz eficazmente ao povo no projeto de Deus. O Salmo 23 segue sendo interpretado por Jesus, ainda neste aspecto, pelo Pastor é um Mestre (Salmo 23,3: “me guias”).

Porém, por que Jesus responde precisamente com a “formação”? Jesus lhe põe remédio à dramática situação de um povo que percebe “como ovelhas sem pastor” com seu ensinamento, porque ele trata da conversão, de um novo estilo de vida (1,14-15). Não se trata de palavras vazias. Jesus quer ajudar ao povo com uma instrução sólida, que lhes de critérios de vida fortes e um projeto comum.

A falta de critérios, de valores e de projetos comuns destrói a unidade e a comunhão de um povo e o reduz a uma massa de homens e mulheres privados de orientação, em luta de interesses entre si e, portanto, vítimas fáceis dos falsos pastores e de suas promessas enganadoras.

Por isso, o primeiro dom, serviço, que Jesus oferece ao povo sem pastor é o ensinamento. Concluamos recordando que o interesse principal do pastor é a vida de suas ovelhas e, para isso, tarefa iniludível é a nutrição. Jesus é o novo Moisés que nutre o povo com o pão do ensino (8,14-21) e em seguida o fará, veremos nos próximos domingos, com o pão da Eucaristia, sua própria vida (Palavra feita carne).

5. Cultivemos a semente da Palavra na vida

  1. Quais as ações de Jesus neste Evangelho? Que faz Jesus de particular com seus discípulos e com as multidões? Para onde aponta todo seu agir?
  2. Quais os traços de Jesus Pastor mais destacados?

Como integrar equilibradamente missão e oração, trabalho e descanso, serviço aos de fora e vida comunitária com os dentro?

  • Que nos ensinam as ações de Jesus frente à multidão? Como aplicá-las no trabalho pastoral? Qual o conteúdo teológico, espiritual e pastoral da “misericórdia” de Jesus neste texto do Evangelho?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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