ESTUDO BÍBLICO SEMANAL 27 SEMANA COM
PISTAS
Um apoio para a Lectio Divina 27ª Semana Do Tempo Comum
Autor:
SEGUNDA-FEIRA
Lucas 10,25-37
MINHA REGRA DE VIDA É O EVANGELHO
“Vai e faz tu o mesmo”
1. Na escola do Bom Samaritano
O evangelho de hoje nos coloca, ante uma opção radical para viver segundo o evangelho. Para o amor universal:
Quem é o próximo? Um doutor da Lei se dirige a Jesus e pergunta-lhe:
“Quem é meu próximo?
” (10,29).
Jesus responde contando-lhe a parábola do Bom Samaritano (10,30-35). Na resposta de Jesus, um escândalo:
Um samaritano ajudando a um judeu! Impossível! A pergunta do doutor da Lei encontra assim sua resposta: o
“próximo” não é alguem no meio familiar, social, racial, político ou religioso. Há uma visão mais universal: todo
homem. E não só todo homem, mas todo o que necessita de minha ajuda. Na parábola na realidade o “próximo”
é o inimigo. Já sabemos que os judeus e os samaritanos não mantinham boas relações (ver Jo 4,9).
Para um amor concreto: Como fazer-se próximo?
Porém, há mais. O problema não é só “quem” é meu próximo, mas “como” é que me faço próximo. É aqui onde
Jesus nos convida a observar, cuidadosamente, as ações do samaritano. Tudo o que ele faz é movido pela
“misericórdia”: se “aproxima”, “cura suas feridas”, cede-lhe seu próprio posto “montando-o na cavalgadura”, o
“leva a uma pousada” e “cuida dele” pessoalmente. Enfim, dá de seu próprio bolso para que o tratamento do
ferido vá até o final. E quando se despede, ainda prevê um novo encontro: “
q
uando voltar
”, diz o samaritano
ao dono da pousada (10,35b).
Cada uma das ações do bom samaritano é significativa. Hoje poderíamos deter-nos, por exemplo, no detalhe da
cavalgadura: “
o montou sobre sua própria cavalgadura
” (10,34) A ajuda ao irmão implica ceder-lhe nosso
lugar! Isto indica um compromisso profundo: amar é saber oferecer nosso próprio posto, saindo de nossa
comodidade, e pôr-se no lugar do outro. É assim que se fez próximo: com atos concretos, não só com palavras.
Trata-se de “atos” que doem em quem os faz.
Se o samaritano tivesse se contentado só com aproximar-se e tivesse dito ao ferido que estava debilitado: “sinto
muito!” “Que lhe aconteceu?” “Por onde foram os bandidos?” “Você tem seguro médico?” “Que Deus o abençoe”,
ou outras frases similares que costumamos dizer na hora das emergências, sua intenção de ajuda não serviria de
nada, não passaria de uma grosseria. Jesus disse claramente que na prática do mandamento do amor o que
importa é o “fazer”: “Faz
tu o mesmo
”. Este “fazer” consiste na “
prática da misericórdia
” (10,36), da qual não
se necessita mais lições que as já dadas pela prática do samaritano.
O agora e o depois
Um dos dilemas no exercício da caridade é o da contraposição entre o urgente e o importante: Socorrer o
indigente dando-lhe pão ou investir na construção da padaria onde o indigente poderá até trabalhar? E, se,
enquanto constróis a padaria morre o faminto?
A parábola traz também um ensinamento a respeito: tem que atender o urgente, porém também tem que pensar
no futuro. O bom samaritano não é imediatista. Ele atua de modo imediato no presente para socorrer a
emergência, é verdade, porém toma decisões para adiante (“
Cuida dele e, se gastar mais, te pagarei
quando voltar
”10,35). Vemos ainda como o bom samaritano, ao final, se afasta, continuando viagem. De algum
modo começa a desapegar-se confiando o ferido a outro que talvez cuide melhor que ele, e para isso se
compromete a responder pelos gastos necessários. Hoje temos espaços especializados que se parecem a esta
pousada onde o bom samaritano leva o judeu ferido.
Podemos falar de uma “caridade institucional”. Não se trata de tirar de cima de si a responsabilidade, mas de
saber trabalhar pelo próximo comunitariamente, assumindo cada um a tarefa que corresponde. Uma pessoa não
pode socorrer sozinha todas as necessidades. Para que seja profética e transformadora dos problemas de fundo,
a caridade individual deve vir unida a caridade institucional e é importante saber trabalhar juntos, apoiando as
diversas iniciativas que se tomam na Igreja e na sociedade.
Esse modo de ser do Bom Samaritano, que, ao mesmo tempo, atende as conseqüências, também remedia as
causas dos males sociais: se todos entendessem que a prioridade é o outro, que deve viver em função dos
demais, não haveria mais feridos nem agressores no caminho de Jericó. Como queria são Francisco, esta
parábola tem que encarnar-se, agora, na vida cotidiana. Nossas ruas e praças são como aquele caminho de
Jericó onde alguém, que talvez não conhecemos e que pode ser inclusive uma ameaça para nós, aguarda por
nossa misericórdia. Deixemos que o imperativo de Jesus nos impregne no coração e se converta em regra de
vida: “
Vai e faz tu o mesmo!”
(10,36).
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
1)
Quais as pessoas ao meu redor que mais necessitam de mim e a quem algumas vezes tenho negado minha
ajuda oportuna? Que ajuda me pede cada uma delas? Como me farei próximo delas?
2)
Alguma vez tenho agido como o sacerdote ou o levita e sendo consciente de alguma necessidade, tenho
preferido “fazer-me de vista gorda”? Por que o tenho feito? Que tenho sentido depois?
3)
Recorda a última vez que agiu como bom samaritano. Com quem foi? Que fiz? Que interesses pessoais passou
a segundo plano? A mão que estendi essa vez foi só de momento ou ainda hoje continuo dando minha ajuda?
SEGUNDA FEIRA
Lucas 1,26-38
COMPROMETER-SE COM O PLANO DE DEUS A MANEIRA DE MARIA
Ao sexto mês, foi enviado por Deus, o anjo Gabriel, a uma cidade da Galiléia…”
Ao longo do ano lemos várias vezes o relato da anunciação e cada vez, ao ritmo da liturgia, somos convidados a
pôr de relevo um dos múltiplos aspectos desta passagem tão rica e densa.
Neste dia em que celebramos Maria, sob o título de nossa Senhora do Rosário, a orante perfeita que apóia nossa
oração, nos detemos, particularmente, nas primeiras palavras do Anjo:
“Alegra-te, cheia de graça, o Senhor
está contigo”
(Lc 1,28).
Quando saudamos a Maria repetidamente na oração do santo rosário com estas palavras, estamos dizendo que a
vida desta mulher simples de Nazaré (1,26) foi abraçada pelos braços amorosos de Deus. Deus entra em sua
vida com ternura e com poder, com coração e com compromisso, com palavras e com ação. É com esta maneira
de entrar em sua vida, que lhe dá e redireciona seu projeto de vida inicial (ver 1,27) para inseri-lo em seu plano
de salvação.
Estas três palavras que nunca nos cansamos de repetir, não fazem mais que, como a Maria, situar-nos da
maneira justa no coração do caminho de Deus, o qual nos chama para que o façamos realidade na história com
nossas mãos e com nossos passos.
E com Maria aprendemos que: essa é nossa vocação fundamental;
Isto é possível graças a obra mesma do Senhor;
Os indicadores de uma resposta autêntica ao Senhor são:
a alegria; o amor; e a certeza do apóio fiel do Senhor.
Estudemos um pouco o sentido de cada uma das três palavras:
“Alegra-te”
O Anjo antecipa a Maria que o anúncio será para ela motivo de imensa alegria; que a Palavra do
Senhor vai tocar o mais íntimo de seu ser; e que sua reação ao fim não poderá ser outra que a exultação.
Nota-se que Maria não responde de imediato (não tem a superficialidade dos que reagem rápido sem pensar)
mais começa, a partir de agora, um caminho interior que culminará com o canto feliz do “Magníficat”. O Anjo
agora disse “Alegra-te”, porém sou muito depois, depois de fazê-lo maduro no coração, Maria dirá:
“Meu
espírito se alegra em Deus meu Salvador”
(1,47
Cheia de Graça”
Maria é habitada pela graça divina, e este é o motivo de sua imensa alegria. Com esta
palavra, Deus lhe faz conhecer a imensidão de seu amor predileto por ela, cumulando-a de seu favor e de sua
complacência. Este amor é definitivo e irrevogável. E é tão importante esta afirmação que o Anjo vai repeti-la
em seguida (ver 1,30). A confiança que se necessita para poder responder ao chamado do Senhor é a certeza
de seu amor.
“O Senhor está contigo”
Junto ao amor vem o compromisso concreto. Deus, que a chama para partilhar
seu projeto, ele mesmo, em pessoa, lhe oferece sua ajuda fiel para poder levar a cabo o que se lhe pede. A
Maria faz a mesma promessa que fez aos grandes personagens da Bíblia.
Estas três palavras do Anjo, que descrevem a ação de Deus em Maria, se realizam nas palavras que pronuncia
mais adiante:
“O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”
(1,35).
Com sua potência vivificante, criadora, Deus torna Maria capaz de colocar-se ao serviço da vida e do ministério
de Jesus. Esta benção divina, prolongamento das bênçãos da primeira página da criação (Gn 1,22.28), será
captada por Isabel, que, com toda razão dirá:
“Bendita tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu
ventre”
(1,42).
As palavras bíblicas da “Ave Maria” nos ensinam a aderir, solidamente, ao projeto de Deus Pai. Deixemos que
elas ressoem em nós como o eco do mar em uma concha que encontramos na praia, se a pomos em nossos
ouvidos, o som do mar conquistará e envolverá em seu encanto todo nosso ser, impregnando sua melodia em
nossa memória e em nosso coração.
Repitamos hoje, e sempre que seja possível, apoiados no esquema oracional do Rosário, com consciência e com
força, estas palavras, até que, lentamente, sejam absorvidas no mais profundo de nosso coração, e sejamos
conduzidos, assim, a ritmo de oração e pelo poder vivificante do Espírito criador, até a humanidade nova que é o
TERÇA FEIRA
Lucas 10,38-42
UMA ESCOLA DE ORAÇÃO E VIDA NA CASA DE MARTA E MARIA
“Uma só coisa é necessária”
O entretenimento e o repouso que nos inspira um Jesus que tem tempo para compartilhar com suas amigas,
detendo-se em sua casa em meio da viagem, sugere uma nova atmosfera oracional para a Lectio de
hoje. Momentos como este são importantes.
A Maria lhe parecia mentira que o Mestre estivesse ali em sua casa, tão próximo dela e falando só para ela.
Agora podia escutar em silencio suas palavras de vida eterna. A vemos bem recolhida aos pés do Mestre, como
costumavam fazer os discípulos nos tempos bíblicos.
Marta, a vemos no fundo. Passa de um lado para outro, bem atarefada. Os “muitos
afazeres
” (10,40) de que
fala o evangelho são as tarefas domésticas, as quais se multiplicam quando há visita: limpeza, comida,
ambientação, quarto de hospedes, etc.
São muitas coisas ao mesmo tempo para atender, sobretudo a comida. Nesse ir e vir nota-se que Marta está
tensa, preocupada em agradar a Jesus. Até que se dirige a Jesus (para que ouça Maria): “
Senhor, não te
importa que minha irmã…
” (10,40).
A estima que Jesus sente também por Marta suporia que não lhe agradasse vê-la carregar, sozinha, todo o
trabalho da casa. O “
não te importa?
” tem tom de ironia. Então Jesus a responde com uma frase carregada de
sentido e que abre grandes horizontes: “
Marta, Marta,…”
(10,41-42).
Por que Jesus chama a atenção de Marta? É claro que não é pelo serviço, já que ele mesmo fala da importância
do serviço (22,27). Na descrição de Marta foi dito que ela estava “
atarefada por muitos afazeres
” (10,40):
corria de um lado para outro, fazia muitas pequenas coisas com o tempo bastante fragmentado. O problema é
que em toda a agitação, a ocupação se tornou ansiedade, perdeu a paz.
O que Jesus desaprova não é a atividade de Marta, mas seu ativismo. No ativismo se perde de vista a meta, é
difícil manter a concentração, se desgastam as motivações e acabamos fazendo as tarefas mal. Esta vida
frenética – que também ocorre em alguns apostolados – é uma das características de nosso tempo, queremos
fazer muitas coisas ao mesmo tempo: estudar e trabalhar, estar na casa e estar fora, falar por telefone e ver
televisão, e assim muitas mais.
Ocupar-nos dos ofícios com o coração ansioso indica que perdemos o norte, que perdemos de vista o que era
essencial, que terminamos escravos do trabalho. Isto prejudica tanto a qualidade de vida como a qualidade do
serviço. Para resolver isto, Jesus nos disse que o melhor modo de ser Marta é ser Maria.
Quem cultiva o bom hábito da reflexão, do cultivo da vida interior na serenidade da oração e em atenta escuta
da Palavra, logra a capacidade de ver tudo desde o ponto de vista da eternidade, purifica suas ações, capta as
prioridades. Com Maria se aprende a inteligente calma que ajuda a fazer tudo bem e inclusive a fazer mais do
que o esperado.
Mas não se pode separar as duas, pois são irmãs. A escuta contemplativa deve levar ao compromisso e a
atividade deve partir da escuta atenta do querer do Senhor. Como disse o Cardeal Martini: “Para servir no Reino
tem que servir primeiro ao Rei”. Senão faremos muitas coisas que consideramos “serviço” ao Senhor, porém, era
isso o que Ele queria que fizéssemos?
Enfim, o melhor e mais seguro é ter as mãos de Marta, porém, o coração de Maria. É preciso encontrar tempo –
e tempo de qualidade – para a escuta do Mestre, para reencontrar-nos com nosso centro, para considerar os
motivos do que fazemos, para estar em contato com nosso ser profundo e com Deus que habita dentro de nós.
As palavras do Mestre serão nossa guia na viagem interior. Ainda que haja muitas coisas “urgentes” para fazer,
isto é o verdadeiramente “necessário”.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
1)
Como me vêem os demais? Que espaço de meu tempo dedico a dialogar com Jesus, a escutá-lo? Poderia
dedicar ainda más?
2)
Com as pessoas que convivo, que momentos dedico para estar como Maria aos pés de Jesus? Será que lhe
dedicamos pouquíssimo tempo enquanto que para nossos
afazeres
dedicamos todo o dia ou quase todo o
dia? Em que podemos melhorar?
3)
“
Uma só coisa é necessária
”,
disse Jesus a Marta. Qual é? E para mim que é o único necessário: o
trabalho, o dinheiro, a saúde, minha família, Deus…? Será que o Senhor me pede que mude minha escala de
valores? Como o farei?
QUARTA-FEIRA
Lucas 11,1-4
ORAR COMO JESUS
“Senhor, ensina-nos a orar”
Como seria uma oração ao lado de Jesus? Os discípulos tiveram esse privilégio e o evangelista Lucas nos permite
também participar nesta maravilhosa experiência através do evangelho.
A maneira de Jesus devia ser muito atrativa. Quando o viam os discípulos ficavam tão impressionados que
sentiam desejo de orar como ele. “
E sucedeu que, estando orando (Jesus) em certo lugar
”, nos conta Lucas,
“
quando terminou o disse um de seus discípulos: „Senhor, ensina-nos a orar, como ensinou João a
seus discípulos
”
(11,1). A solicitude se poderia abreviar nestes termos: “Senhor, ensina-nos a orar como fazes
tu”.
Os discípulos querem sentir o que Ele sente, repetir o que diz, tomar a postura física que Ele toma, descobrir os
lugares de retiro mais apropriados, ter seu mesmo ritmo de respiração, porém sobretudo, sair da oração como
ele sai. De fato, o pedido se lhe faz “
quando terminou
(de orar)
”. Como estaria Jesus nesse momento?
Quem toma o clamor em nome da comunidade, sabe que está solicitando uma oração que identifique a
comunidade, por isso coloca uma referência:
“(assim) como ensinou João a seus discípulos
”. Todo profeta,
inclusive João Batista, ensinava a orar seu grupo de seguidores. Os discípulos de Jesus não querem ser a
exceção. Porém há algo novo em Jesus que cativa e que é a verdadeira motivação dos discípulos para querer
orar de sua maneira.
Como se notará no “Pai Nosso” que Jesus ensina em seguida, é o sentido de intimidade, a grande confiança que
mostra naquele a quem chama “Pai”, o que maravilha. Jesus responde sem tardar:
“
Quando orardes, dizei:
“Abbá”, Papaizinho
”
(11,2).
Sabemos o desconcerto que um apelativo assim provocava em um ambiente no qual o povo nem sequer se
atrevia a chamar a Deus por seu nome próprio de “Yahvé” (preferiam dizer “Adonai”). O respeito para com Deus
se mostrava desde a própria forma de invocá-lo. Porém Jesus se dirige a Ele de maneira diferente: se apresenta
como um bebezinho, como um filho que ama e se sabe amado.
Atrever-se a chamar “Papai” ao Todo poderoso, ao Senhor que criou o céu e a terra! A oração de Jesus manda ao
chão qualquer barreira que possa interromper a presença de Deus. Não há distância entre Deus e as pessoas,
cada um pode dirigir-se a Ele diretamente, sem necessidade de intermediários. Uma verdadeira revolução na
história das religiões!
No termo “
Papai
”, Jesus nos faz conhecer o mistério de Deus e o seu próprio. De um lado, a confiança e
intimidade que o Filho tem pelo Pai; e de outro, a ternura protetora de Pai para com cada um de nós.
Nem sequer os grandes amigos de Deus na Bíblia haviam alcançado algo assim. Ainda quando o Gênesis nos
conta que Deus passeava no jardim de Adão e Eva, sabemos que eles partilhavam o espaço, porém não
encontramos a comunicação de coração a coração, na surpreendente proximidade da relação, que tinha Jesus.
Nem Abraão, chamado o amigo de Deus, a quem Deus fez transparentes suas intenções quando quis destruir
Sodoma e Gomorra:
“Porventura vou ocultar a Abraão o que faço…?
”
(Gn 18,17). É como se disesse: “Não
posso esconder a um amigo minhas intenções”.
Porém, entre Jesus e o Pai, o conhecimento é, ainda mais, profundo. O mesmo se poderia dizer de Moisés, que
“
falava cara a cara com Deus como faz um homem com seu amigo
”
(Ex 33,11), que quis contemplar a
glória de Deus, porém Deus lhe disse:
“
Meu rosto não poderás vê-lo…
”
(Ex 33,20).
Com Jesus é diferente. E o que parece incrível é saber que também os discípulos podem orar como Jesus, que
Jesus lhes concede o pedido de ensinar-lhes a orar como Ele o faz, ou seja, experimentando a surpreendente
proximidade do Pai que se faz presente com todo seu amor, saciando aos discípulos do dom de seu Santo
Espírito:
“
O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedem
”
(11,13).
Neste ambiente o “Tu” do Pai se faz presente em sua obra santificadora e no Reino que se instaura. De seu
coração de Pai provém o pão dos filhos, o amor que reconcilia e a fortaleza contra o tentador. Todo isso mostra a
ilimitada disponibilidade do Pai para vir ao nosso encontro na oração.
Ainda quando pronunciamos, fielmente, o “Pai Nosso” que saiu dos lábios de Jesus (ver a Lectio do 25 de Julho
passado), o que realmente conta é o coração e a confiança. A consciência de quem somos em sua presença nos
permitirá vislumbrar quem e como é Ele. Santa Teresinha, seduzida por este sentimento de confiança em Deus,
se atreveu a dizer em seu poema “O abandono é o fruto delicioso do Amor”: “
Dá-me neste mundo um oceano de
paz. E nesta paz tão profunda, descanso eu, sem cessar
”.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
1. Quando oro com o Pai Nosso, quais são meus sentimentos? Confio plenamente em meu Papai-Deus, assim
como fazia Jesus?
2. Em que se diferencia a oração de Jesus de todas as demais orações bíblicas?
3. O que seduz os discípulos de Jesus para quererem submergir-se no mundo da oração do Mestre? Minha vida
de oração é atrativa para os de minha família e as outras pessoas que me conhecem?
“O amor que não teme, e que dorme e se esquece
.
Como um menino pequeno no coração de seu Deus”
(Santa
Teresinha do menino Jesus).
QUINTA-FEIRA
Lucas 11,5-13
ESCOLA DE PAIS: UMA ORAÇÃO QUE RENOVA NOSSO ESPÍRITO FAMILIAR
“Quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem”
Não podemos deixar passar a riqueza do evangelho de hoje, o qual é uma maravilhosa escola de pais.
O ambiente familiar dos ensinamentos que Jesus propõe depois do “Pai-nosso” (Lc 11,1-4), é claro.
Ali se fala da casa e da família do amigo, de seus filhos que não quer importunar, dos pais que sempre pensam
no melhor para seus filhos e, sobretudo, no Papai Deus que dá seu Espírito Santo como o maior de seus dons
para todos os seus filhos.
É claro que Jesus se apóia na família para dar seu ensinamento sobre a oração aos discípulos. Assim é a
importância dda família! Por isso, hoje estamos convidados a por maior atenção na oração em família.
1.
A oração em família: um espaço que eleva a fé
A oração pessoal é importante, mas, a oração comunitária em família é melhor. A comunidade familiar encontra
na oração um espaço que faz crescer o espírito do amor. E, vice-versa, a vida de oração cresce quando é
partilhada com aqueles que percorrem, conosco, os mesmos caminhos de crescimento, particularmente os
caminhos da fé.
É verdade que, às vezes, não achamos o tempo para orar em família. Cada um tem algo diferente a fazer, os
horários não coincidem nem, tampouco, os estados de ânimo. Acontece, também, que os momentos em que nos
estamos em casa coincidem com aqueles nos quais estamos cansados e com menor disposição para a oração.
Portanto, é da oração que necessitamos quando estamos assim: que bom começar com uma partilha sobre o que
temos feito e expressar sentimentos e ideais! Logo poderíamos unir tudo em oração na presença do Senhor.
Então percebemos como a amorosa companhia de nosso Pai celestial e também a de nossos queridos termina
sendo a constante de nossa vida.
2.
Que bençãos derrama o Senhor na oração familiar
A Bíblia nos ensina que a vida de casado tem sua raiz e sua força na relação com Deus. E quando a relação
encontra esta raiz, conta também com uma fonte que mantém o amor sempre renovado, sempre em
crescimento e cada vez mais perfeito.
Então dos lábios do casal vão sair, espontaneamente, expressões de gratidão pela experiência do amor recíproco,
invocarão, juntos, o dom da geração da vida, pedirão ajuda ao Senhor para que acompanhe e proteja a vida que
está por nascer, suplicarão a valentia para ter o gozo de perdoar-se mutuamente e querer-se cada dia mais.
O Papa João Paulo II nos ensinou que
“só orando junto com os filhos, o pai e a mãe descem em profundidade no
coração, deixando rastros que os eventos futuros da vida não poderão apagar”
(Familiaris Consortio, 60).
3. Pistas para a oração familiar
3.1. Para fazê-la, primeiro tem que tomar a decisão
Não tem que deixar que a desculpa da fadiga nos roube o espaço mais belo do dia.
Tiremos um tempo para parar e entrar em oração. É preciso tomar a decisão pessoal e logo a iniciativa na casa.
Quando se dá os primeiros passos, logo se nota como todos, em meio das pressões a jornada, vão sentindo a
necessidade deste momento.
Muitas famílias que se reúnem, semanalmente, para orar juntas, partem da Lectio Divina.
E as testemunham como, nas condições de vida de hoje, em meio das tantas ocupações, dentro do cansaço, da
enfermidade, da dor que, não poucas vezes, se experimenta na experiência familiar, o Senhor os tem
presenteado com o dom da oração. E esta se converteu na anti-sala da celebração eucarística dominical, à qual
vão também como família.
3.2. Suplicar o dom da oração familiar
Muitos temores bloqueiam a pais de família que têm a intenção de fazer de seu lar uma escola de oração para
todos: muitas vezes o medo do “não” dos outros, porém, o temor mais frequente é “se nós mesmos não
sabemos orar, que vamos ensinar aos filhos?”.
Esta era a preocupação dos apóstolos, que sabiam que na missão teriam que educar as comunidades na oração.
Um dia, quando Jesus estava orando, alguém lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar” (11,1). Também nós não
tenhamos medo de dirigir esta súplica ao Senhor, admitindo que não sabemos.
Façamos desta súplica o nosso pedido mais importante de todos os que levamos no coração. E não nos cansemos
de repeti-la, seja como esposos, seja como pais de família, ou como filhos. O Pai, assim como nos assegura
Jesus, “o concede o Espírito Santo aos que o pedem” (11,13) e é o Espírito Santo que conduz nossa oração.
3.3. Orar a vida mesma
A oração partilhada faz fluir as expressões do afeto esponsal e, também, paterno-filial. Com a oração se celebra
a acolhida agradecida do dom da vida, se acompanha o partilhar alegre da comida, se agradece a benção da
alegria da saúde e da cura, se oferecem as enfermidades e os sofrimentos, o ter ou a carência do trabalho, do
colégio e das férias.