ESTUDO BÍBLICO SEMANAL DE 31 DE MAIO A 06 DE JUNHO

BAIXAR EM PDF ESTUDO BÍBLICO SEMANAL PENTECOSTES 31 DE MAIO A 06 DE JUNHO DE 2020

ESTUDO BÍBLICO NA SEMANA DE PENTECOSTES

DOMINGO DE PENTECOSTES: Jo 20,19-23

A Igreja celebra hoje o dia em que veio sobre ela o Espírito Santo e começou sua missão. Jesus, antes de subir ao céu, havia deixado seus apóstolos à espera da Promessa do Pai: “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas” (At 1,8).

 

Essa promessa se cumpriu no quinquagésimo dia após a Ressurreição de Cristo: “Veio do céu um ruído como o de uma rajada de vento impetuoso… ficaram todos cheios do Espírito Santo e se puseram a falar, em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia expressar-se” (At 2, 2-3). Nesse mesmo dia começaram a anunciar e a dar testemunho de Cristo ressuscitado.

 

Porém, o Evangelho de João, que a liturgia nos apresenta hoje, nos relata outro acontecimento similar ocorrido no mesmo dia da Ressurreição de Jesus: “ao entardecer daquele dia” (v.19a). Nessa ocasião, apresentando-se no meio de seus apóstolos reunidos a portas fechadas, Jesus soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo” (v.22b).

 

Quando os apóstolos receberam o Espírito? No primeiro ou no quinquagésimo dia? Podemos supor que nesse primeiro dia o gesto de Jesus soprar sobre os apóstolos reunidos e dizer: “Recebei o Espírito Santo”, foi anúncio e garantia do dom efetivo do Espírito que haviam de receber no dia de Pentecostes.

Em João, Jesus explica o efeito desse dom com duas declarações.

 

Primeira, “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio” (v.21b). Mas, não vemos os apóstolos começarem, imediatamente, a missão. O que vemos é o contrário: estando os discípulos a beira do mar de Tiberíades, Pedro disse aos outros: “Vou pescar” (21,3a). Volta ao seu ofício anterior ao chamado de Jesus! “Também vamos contigo”, respondem os demais.

 

Segunda, “Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados; aos que retiverdes, ser-lhe-ão retidos” (v.23). O poder de perdoar pecados, que Jesus comunica a seus apóstolos, é necessário à missão a qual os envia, se esta havia de ser prolongação da mesma missão de Jesus.

 

De fato, este aspecto é essencial à missão de Jesus, tanto que explica seu próprio nome, como o anunciou o anjo a José: “a quem porás o nome Jesus, pois Ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21). E também sua morte na cruz: “Este é meu sangue… derramado por todos para o perdão dos pecados” (Mt 26,28).

 

Já, em Pentecostes, os apóstolos começaram a missão no mesmo dia, impulsionados pelo Espírito Santo que haviam recebido, de maneira que os presentes, homens vindos de todo o mundo, reconheciam: “Todos os ouvimos falar em nossa própria língua as maravilhas de Deus” (At 2,6b).

 

Essas maravilhas de Deus são o anuncio de Jesus Cristo e seu mistério de morte e ressurreição, o dom do Espírito Santo transmitido pelas mãos dos apóstolos, e o perdão dos pecados.

 

Isto foi o que pregou Pedro nesse mesmo dia: “Convertei-vos e que cada um de vós se faça batizar no nome de Jesus Cristo, para perdão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo…” (At 2,38).

+ Felipe Bacarreza Rodríguez, bispo Auxiliar de Concepción

 

  1. A estrutura do texto

 

Podemos dizer que o texto se divide em duas partes:

 

(1) Jesus se revela como Senhor ressuscitado: (20,19-20)

(2) Jesus partilha sua própria missão, vida e poder para perdoar pecados (20,21-23)

 

(1)     Jesus se revela como Senhor ressuscitado: (20,19-20)

 

Realiza três ações:

 

  • Põe-se “no meio deles” (20,19c)

 

A presença de Jesus ressuscitado suscita paz e alegria. Estes são os dois grandes dons do Ressuscitado.

 

  • Dá-lhes sua paz (20,19d)

 

O primeiro dom fundamental do Ressuscitado é a “paz”. Jesus havia prometido em suas palavras de despedida: “Deixo-vos a paz, minha paz vos dou; não dou como dá o mundo” (14,27). Três vezes, em 20,19.21.26, Jesus insiste nisto.

 

Agora, como alcançou sua meta, foi glorificado como vencedor do mundo (16,33) e em seu ir ao Pai, Jesus está em condições de “dar” a paz anunciada.

 

Jesus mesmo é o fundamento de sua paz. Não se trata de evitar as aflições do mundo (por isso havia dito: “no mundo tereis tribulações”, 16,33a), mas de dar-lhes segurança e confiança ante o mundo: “Ânimo, eu venci o mundo!” (16,33b).

 

  • Faz-lhes ver as marcas de sua crucifixão (20,20ª)

 

Jesus Cristo legitima-se diante dos discípulos expondo-lhes as suas chagas. Com este gesto quer dizer que o Ressuscitado é o Crucificado e não outro. Mas, a contemplação (esse “ver” os sinais) das chagas leva a descobrir outro sinal: O Ressuscitado venceu a morte! As chagas são sinal do imenso amor pelos seus: esses amigos, por quem deu a vida, são, verdadeiramente, amados. Estas chagas são, verdadeiramente, a de um Ressuscitado.

Assim, este amor não faltará nunca, aí estão os sinais dos cravos que o prenderam à Cruz. A fonte de vida que brotou de seu lado traspassado pela lança, não parará de jorrar a água do Espírito para todos que se aproximem dele.

 

E a reação não se faz esperar: “Os discípulos alegraram-se de ver o Senhor” (20,20b). É o gozo pleno de quem se sente amado: na Páscoa os discípulos fazem a experiência deste amor sem limites do Senhor. O contraste da situação inicial é notável.

 

Agora sabem que, em um mundo que infunde medo, eles contam com o vencedor do mundo. Em consequência, não devem, os discípulos, fecharem-se ante o mundo e seus desafios, senão entrar nele cheios de confiança.

 

Por isso Jesus lhes abre as portas, para que sejam capazes de ir ao encontro deste mundo, cheios de paz e de alegria e, desta maneira, serem os discípulos de Jesus portadores dos dons do Crucificado-Ressuscitado.

 

(2)     Jesus partilha sua própria missão, vida e poder para perdoar pecados (20,21-23)

 

Este é o momento propriamente dito da abertura das portas. O gozo pascal não permanece em si mesmo. Torna-se irradiação. O próprio Jesus ressuscitado faz avançar a experiência pascal. A partir de uma nova saudação de paz, partilha sua própria missão, sua vida e seu poder para perdoar pecados.

 

  • O dom da paz e o envio à missão: “A paz esteja convosco” (20,21)

 

A repetição da saudação da paz é significativa. A paz do Ressuscitado está associada ao dom da missão. Visto que em tudo estão em comunhão com Jesus, os apóstolos na missão terão necessidade desta segurança e confiança que provem d’Ele, já que o mundo os odiará (ver 15,18-20;17,14).

 

É verdade que o destino dos discípulos não será diferente do de Jesus, por isso, só arraigados em sua paz poderão levar até o fim a missão.

 

  • O envio à missão e o sopro do Espírito: “Como o Pai me enviou, também eu…” (20,21b)

 

Como o Pai o enviou, assim Jesus agora envia seus discípulos ao mundo (4,38; 17,18). Assim como deu a conhecer o Pai enquanto Filho, também os discípulos devem dar a conhecer a Ele.

 

Sua missão é conduzir todo o mundo a crer no Filho, de maneira que através d’Ele entrem em comunhão com o Pai.

 

Para realizar a missão, os enche de seu Espírito Santo. Desde o início do Evangelho João Batista havia anunciado que Jesus ia batizar no Espírito Santo (1,33).

 

Jesus o infunde sobre todos em seu último alento sobre a cruz (19,30), o transborda na água que emana de seu lado (19,34;7,39), e agora que foi glorificado O sopra, assim como na primeira criação Deus soprou no homem seu alento vital (Gn 2,7).

 

No Espírito Santo, Jesus comunica uma vida nova que não passa, esta vida nova põe os seus em comunhão profunda com a Trindade.

 

No Espírito Santo, os apóstolos são capacitados para compreender a fundo sua obra (14,26;15,26-27) e ser testemunhas dela. É o princípio da vida nova que deve ser anunciada e comunicada a todo homem.

 

  • O sopro do Espírito e o poder para perdoar pecados

 

Nesta comunhão com Jesus, por meio do Espírito, os apóstolos entram, a fundo, na missão dele, do que foi apresentado como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (1,29) e, de fato, assim fez até o instante final da Cruz (19,36-37).

 

Agora, ressuscitado, envia-os plenos de poder para perdoar os pecados. O perdão está associado à experiência do Espírito que purifica os pecados e no qual se nasce de novo “do alto” (3,3). Os apóstolos têm também o poder de “reter” os pecados (20,23b).

 

Quando o testemunho acerca de Cristo for acolhido com fé, deverão perdoar os pecados. Mas quando o anúncio for rejeitado deverão chamar por seu nome esta obstinação: “reter”. O “reter os pecados” não é uma condenação inapelável, mas, sobretudo um renovado chamado à conversão.

 

Quem pronuncia este mandato é o vencedor da morte, o Senhor glorificado, o Filho plenamente associado à potência misericordiosa do Pai. É assim que Jesus se constitui, verdadeiramente, “Salvador do mundo” (4,42) e como sua obra chega a todo homem, submergindo, a quem a Ele se abre, na paz com Deus.

 

 

 

  1. Aprofundemos com o Papa (emérito) Bento XVI

Este é o dia em que o poder do mistério pascal se manifesta no nascimento da Igreja. Este é o dia em que, ante Jerusalém, na presença dos habitantes da cidade e dos peregrinos, se cumprem as palavras que falou Jesus aos Apóstolos após a ressurreição: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22).

Lemos nos atos dos Apóstolos: “Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas estrangeiras, cada um na língua que o Espírito o sugeria” (At 2,4). Neste discurso, que compreenderam, em seguida, os que o escutavam, inclusive os que provinham de distintos países do mundo então conhecido, se manifesta o inicio da missão: “como o Pai me enviou, assim eu os envio” (Jo 20,21).

“Ide por todo o mundo e fazei discípulos a todos os povos” (Mt 28,19). A Igreja leva dentro de si desde o dia de seu nascimento a missão do Filho e do Espírito Santo, e, em virtude do Espírito de verdade, o Espírito-Paráclito, permanece nela a missão do Filho: o Evangelho da salvação eterna.

“Ouvimos-lhes falar das maravilhas de Deus em nossa própria lingua” (At 2,11), exclamam totalmente desconcertados os que participavam do Pentecostes de Jerusalém.

“Quantas são tuas obras, Senhor; a terra está cheia de tuas criaturas!… Envias teu alento e os crias, e repovoas a faceda terra” (Sl 103/104,24.30). Assim se expressa o Salmista.

Sem dúvida, “as maravilhas de Deus”, que anunciam os Apóstolos no dia de Pentecostes por meio de Pedro, têm um só nome: “Jesus Cristo”. E há uma só expressão do poder de Deus, que se manifestou entre nós: “Jesus é o Senhor” (1 Cor 12,3).

Esta grande obra de Deus, a maior de todas na história da criação e na história do homem, está unida ao nome de Jesus de Nazaré, o Filho de Deus que “se despojou de sua glória tomando a condição de escravo, submetendo-se, inclusive, à morte, e morte de Cruz, ao que Deus elevou e ao que Deus concedeu o “Nome-sobre-todo-nome”: Jesus Cristo –Senhor – para glória de Deus Pai” (cf. Fl 2,7-9.11).

Senhor – Kyrios – significa Deus (Adonai).

Precisamente esta verdade, esta “grande, a maior obra de Deus” é a que anuncia Pedro no dia de Pentecostes. Ele fala por virtude do Espírito Santo. “Ninguém pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’, se não é sob a ação do Espírito Santo” (1 Cor 12,3).

Desde o dia de Pentecostes de Jerusalém a Igreja pronuncia esta verdade salvífica: “Jesus é o Senhor”. Anunciam os Apóstolos, a acolhem os que os escutam, procedentes de diversos povos e nações da terra. E confessam: “Cristo, o crucificado o ressuscitado, é o Senhor!”.

Desde o dia de Pentecostes, em virtude do Espírito Santo, que dá vida, começa a peregrinação na fé do novo Israel, do povo messiânico. A dignidade de filhos de Deus em cujos corações mora o Espírito Santo como no templo, se converteu na herança deste povo. O mandato novo de amar como Cristo nos amou (cf. Jo 13,34) se converteu em sua lei. O reino de Deus, começado na terra pelo mesmo Deus, converteu-se em seu fim. Assim ensina o Concílio Vaticano II: “Este povo messiânico…, ainda que não exclua a todos os homens atualmente e com frequência pareça uma grei pequena, é, sem dúvida, para todo o gênero humano, um germe, por demais seguro, de unidade e de esperança de salvação” (LG 9).

______________________________________

 

 

TERÇA-FEIRA

Marcos 12,13-17

OS CONFLITOS QUE ENFRENTA JESUS (I): A IMPARCIALIDADE DE UM CORAÇÃO CENTRADO EM DEUS

“O de César, devolve a César, e o de Deus, a Deus”

 

Jesus está em Jerusalém, na explanada do Templo, onde propõe seu ensinamento (Mc 11,27). Precisa-mente nesta cidade, Jesus se move no meio de um campo conflitivo, de fortes tensões entre pessoas que tentam o poder, e gente orgulhosa.

 

Frente a Jesus passam diversos grupos de pressão política e religiosa. Os interesses de cada um dos grupos se vão fazendo sentir:

  • as autoridades (11,27),
  • a coalizão religiosa política dos fariseus e os herodianos (12,13),
  • os saduceus (12,18)
  • e os mestres da Lei (12,28).

 

No vai e vem da praça do Templo se falam também dos interesses da potencia dominadora romana, das fricções com a autoridade judia, do estado de ânimo do povo.

 

O povo toma partido por alguns destes grupos ou correntes que inclusive estão dispostos a usar a violência para defender ou promover seus interesses. O ambiente conflitivo envolve a Jesus (12,13). Com uma pergunta tratam de pegá-lo (12,14b). Porém frente a todos eles Jesus se apresenta como determinado somente por Deus, ao dizer: “O de César, devolve a César, e o de Deus a Deus” (12,17).

 

  1. A estima que os adversários tem de Jesus e a pergunta (12,13-15)

 

Os “fariseus e herodianos” já haviam sido apresentados no começo do evangelho como os inimigos de Jesus: “Os fariseus combinaram com os herodianos contra ele para ver como eliminar-lhe” (3,6). E em uma ocasião, Jesus pediu a seus discípulos que não imitassem o comportamento deles (8,15).

 

Quando se disse que estes vieram “para pegar-lhe em alguma palavra” (12,13a), sabemos que pretendem prender-lhe “para eliminar-lhe” (3,6). A intenção é violenta. Os adversários afirmam inesperadamente, porém corretamente que Jesus é “veraz”, que não olha “a condição das pessoas”, mas que ensina “com franqueza o caminho de Deus” (12,15a).

 

É como se lhe dissesse, em outras palavras: “Tu não estás preocupado pela aparência e poder dos homens, mas que te fixas unicamente à verdade; tu ensinas o caminho reto de Deus seja que agrade ou não aos poderosos e sem olhar as conseqüências que possa ter para ti; a vontade de Deus está acima de tua segurança, comodidade e tranquilidade”. Reconhece-se assim a imparcialidade de Jesus.

 

Pela primeira vez os inimigos de Jesus dizem o contrário do que sempre tem afirmado sobre Ele (2,17.16; 3,22; 7,5; e a acusação final 14,64). Porém é claro que se trata de uma adulação, não de uma convicção, que arrasta para a armadilha.

 

Jesus é colocado em meio dos poderes em conflito: Se, se pronuncia a favor do imposto de vassalagem, ganha a inimizade do povo. Se, se pronuncia contra, dá pretexto para que o acusem ante o império romano e o eliminem.

 

  1. Uma resposta brilhante que causa admiração (12,15-17)

 

Jesus havia traçado antes uma pergunta embaraçosa (11,30), agora devolve uma similar. Porém,  diferente da anterior, Jesus suscita admiração com sua resposta: “E se maravilhavam” (12,17b).

 

Jesus se comporta exatamente como o tem descrito: não trata de ganhar o favor de ninguém. E o melhor: tão pouco cai na armadilha.

  • Percebe e desvela a hipocrisia (12,15a).
  • Pede que lhe tragam um “denário” (moeda equivalente a um dia de salário) é lhes pergunta pela identidade da figura que aparece impressa –que devia ser a do imperador Tibério- e a inscrição – que devia dizer “Tibério César, Augusto filho de deus Augusto”- (12,15b-16a).
  • Frente à resposta evidente, faz uma declaração que deixa a todos em silencio (12,16b-17a).

 

Analisemos bem este procedimento:

  • Jesus eleva a pergunta a outro nível: não contrapõe a Deus com o imperador, visto que o político e o religioso tem seu próprio âmbito de competência. Em outras palavras: a fidelidade a Deus não se demonstra com a rejeição do pagamento do tributo ao imperador.
  • Jesus usa o mesmo comportamento dos que o interrogam e lhes exige coerência entre ensinamento e vida. Se eles tem a moeda e identificam nela o imperador, é porque se tem estado servindo dele, na prática vivem sob seu senhorio; portanto, se usam sua moeda cotidianamente, por que não a querem usar para o pagamento do tributo?  Se isso era um problema, por que não começaram por ai? Há uma incoerência entre a pergunta e o comportamento pessoal.

 

Quando Jesus disse “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (12,17a) quer dizer:

  • Por uma parte, que a fidelidade a Deus, a quem Ele conhece e anuncia, não exclui o tributo a Cesar. A responsabilidade com Deus não descarta a responsabilidade política cidadã.
  • Por outra, e nisto não deve haver equívocos, precisamente porque são diferentes, o que se dá a Deus não se deve dar a César: a divindade e o poder absoluto só é de Deus e de nenhum homem nem autoridade terrena.

As exigências de Deus superam as de César. Se bem Deus respeita o âmbito das autoridades terrenas, estas últimas se relativizam, visto que nunca devem pretender para si os atributos de Deus: “Daí a Deus o que é de Deus!”.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que nos quis ensinar Jesus com a expressão: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” Como é possível fazer vida no mundo de hoje?

____________________________________________________________________________

 

  • A Jesus “determinou” só a Vontade de Deus. Em minha vida diária, que me impulsiona a agir?

____________________________________________________________________________

 

  • De que tipo são minhas motivações pessoais? (humanas, sociais, políticas, de fé, etc.)

____________________________________________________________________________

 

 

 

 

 

QUARTA-FEIRA

Marcos 12,18-27

OS CONFLITOS QUE ENFRENTA JESUS (II): UMA RELAÇÃO QUE TRANSCENDE A MORTE

“Não é um Deus de mortos, mas de vivos”

 

Na passagem de ontem se disse “Dai a Deus o que é de Deus” (12,17a), porém não disse o que era  que havia de dar-lhe. Isto se esclarece no texto de amanhã, porém hoje se dão as bases: Deus é um Deus dos vivos e a relação com Ele está determinada por este aspecto.

 

“Se aproximam uns saduceus” (12,18a). Jesus tinha silenciado os fariseus e herodianos, agora são os saduceus (12,18). Do problema político passamos ao problema jurídico-religioso. Notemos que no texto anterior Jesus respondeu com delicadeza, com a força da argumentação, desta vez disse francamente: “Não estais em um erro…?” (v 24), “Estais em um grande erro” (v 27).

 

  1. A exposição do problema (12,18-23)

 

Desde o principio se disse que os Saduceus se caracterizam –entre outras coisas- porque afirmam que não há ressurreição dos mortos. Sobre este fio se desenrola a historia que contam a Jesus.

 

Trata-se de uma mulher que se casa com sete homens, os quais por cumprimento da Lei de Moisés (Dt 25,5-6) são todos irmãos. Vem então a pergunta: em caso de que haja ressurreição dos mortos, “de qual deles será mulher”? (12,23).

 

A hipótese do matrimonio com todos –sete maridos contemporaneamente- soa ridícula, a quem, então, lhe pertence o direito? É verdade que o exemplo que põem é exagerado. Porém a finalidade desta historia é mostrar que a ressurreição dos mortos gera situações absurdas e, portanto haveria que rejeitar por não ser razoável.

 

  1. A resposta de Jesus (12,24-27)

 

De novo se vê a habilidade dos adversários de Jesus: um problema jurídico complicado para quem eles vêem como um inculto profeta galileu.

 

A resposta de Jesus desfaz a trama dos adversários:

 

 

  • Os repreende (12,24). Em outras palavras, a pergunta está mal feita. Esta tem um pressuposto que deixa entrever a ignorância dos saduceus em matéria bíblica e de experiência de Deus.

 

  • Os instrui (12,25). Mostra-lhes que tem uma falsa concepção de Deus: para eles Deus é um Deus de normas legais, um Deus cujo poder parecera não poder superar os limites da vida terrena.

 

Ao contrário para Jesus Deus é o Deus de Aliança:

 

  • É o Deus cujo poder criador traspassa os limites da morte: por isso a ressurreição não é simples prolongação do estado terreno atual, mas nova criação (“serão como anjos no céu”);

 

  • É o Deus das relações pessoais e não simplesmente jurídicas. A relação com Ele é determinada por sua benevolência: Ele se ocupa do homem, o guia, e cumpre suas promessas. Por isso a relação com Deus sempre está vigente; a relação de Deus com os patriarcas não terminou com a morte destes: quando Moisés escuta a voz de Deus na sarça ardente (Ex 3,6) compreende que os patriarcas estão vivos e em relação com Deus: “Eu sou o Deus de Abraão…” (12,26);

 

  • É o Deus para quem tudo o que faz está destinado à vida, porque Ele é o Deus dos vivos (12,27). No céu Deus não está rodeado de defuntos, mas de pessoas vivas que, tendo concluído sua historia terrena, tem recebido de seu poder criador a plenitude da vida.

 

O poder criador de Deus é inesgotável! Jesus não fala de uma suspensão da morte terrena nem tão pouco pretende dar detalhes sobre como é a vida futura:

 

Porém sua resposta aos saduceus se ocupa de apresentar o fundamento da vida futura:

(1) Por parte de Deus: seu amor e seu poder são sempre vigentes;

(2) Por parte dos homens: a compreensão correta de Deus e sua resposta de fé em seu amor e poder.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Quem é Deus para Jesus?

____________________________________________________________________________

 

  • Quem é Deus para mim?

____________________________________________________________________________

 

  • Experimento profundamente a relação pessoal de Deus comigo?

____________________________________________________________________________

 

Como é minha resposta a essa relação de amor?

____________________________________________________________________________

 

De que forma essa resposta tem relação com as pessoas que me rodeiam?

____________________________________________________________________________

 

  • Que sinais concretos vivemos em nosso grupo, em nossa comunidade, em nossa família, que nos levem a manifestar o amor fiel de Deus?

____________________________________________________________________________

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA

Mc 12,28b-34

 

 

 

SEXTA-FEIRA

Marcos 12,35-37

PRIORIDADE EVANGÉLICA (II): UM CORAÇÃO QUE SE ABRE AO MISTÉRIO DO FILHO

“Como dizem os escribas que o Cristo é o filho de Davi?”

 

Ontem confessamos que “Deus é o único Senhor” (12,29), porém, quem é Jesus?

 

Desta vez Jesus não responde uma pergunta, mas toma a palavra por iniciativa própria (12,35a). Depois de todas as perguntas que outras pessoas lhe fazem, agora é Jesus quem põe o tema e espera que seus ouvintes reflitam e lhe dêem a resposta adequada.

 

O tema é importante. Os escribas costumavam discutir qual a origem do Messias: se vinha desta cidade ou daquela, se provinha de tal ou qual família. Jesus põe em questão a opinião generalizada de que o Messias “é filho de Davi” (12,25b): provem de Davi e pertence a sua descendência.

 

Para suscitar a reflexão, Jesus cita o Salmo 110,1. Afirma que Davi chama ao Messias “Senhor seu” e sobre esta premissa expõe a questão: “Como então pode (o Messias) ser filho de Davi?” (12,37).

 

Esta pergunta de Jesus tem como ponto de partida três pressupostos:

(1)  Que o Salmo citado provém de Davi, portanto a palavra de Davi é tomada como palavra de Deus;

(2)  Que a pessoa, à qual Davi se refere como “Senhor seu” e à qual lhe fala Deus, é o Messias;

(3)  Que um pai não pode chamar seu filho “Senhor”, simplesmente porque o pai é superior.

 

A primeira vista parece que Jesus está pressionando sobre uma questão meramente teórica. Inclusive dava a impressão que Jesus não estava falando de si mesmo, pela forma impessoal de seu discurso.

 

Porém, se recordamos que no começo desta seção do evangelho (o ministério de Jesus em Jerusalém: Mc 11-13) começou, precisamente, com a entrada triunfal na cidade santa, na qual mostrou que vinha como Messias (“Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem de nosso pai Davi!”, 11,8-9) então captaremos a transcendência do tema e por que Jesus o retoma neste momento.

 

A pergunta de Jesus tenta corrigir um equívoco conceitual na mente de seus ouvintes: Jesus pede que se clarifique qual é a verdadeira identidade do Messias, simplesmente porque este não pode ser um filho de Davi.

 

De onde provém, então, Jesus?

 

A resposta é dada:

  • no evangelho, desde a primeira linha: “O Cristo, o Filho de Deus” (1,1).
  • na manifestação do Batismo: “Tu és meu Filho amado, em ti me comprazo” (1,11);
  • na transfiguração: Este é meu Filho amado, escutai-o (9,7).
  • ainda na parábola dos vinhateiros homicidas: A meu filho respeitarão (12,6).
  • finalmente, na hora sublime da morte de Jesus, o tema volta ao primeiro plano: Este homem era, verdadeiramente, Filho de Deus (15,39).

Jesus é, antes de tudo, o “Filho de Deus” amado, predileto, querido por Deus Pai. É de Deus mesmo que provém sua missão e sua autoridade (11,28: “Com que autoridade fazes isto?”).

 

É verdade que os escribas admitem que o Messias, em última instancia, provém de Deus; porém, no caso de Jesus, mesmo sendo um descendente de Davi (Mt 1,1-17; Lc 1,32-33; Rm 1,3), sua filiação divina não se dá pelo fato de descender de Davi. Em conseqüência, Jesus é “da linhagem de Davi segundo a carne” (Rm 1,3), porém, é, ante de tudo, “Filho de Deus”.

 

Dai que devemos:

  • Por no centro da compreensão e da relação com Jesus, a relação estreita que Ele tem com o Pai;
  • Reconhecer e submeter-se à sua amável autoridade, e, portanto, assumir as implicações da Palavra que Jesus nos dirige como porta voz autorizado de Deus, porque seu ensinamento provém do proprio Deus; Jesus não é um profeta qualquer.

A pergunta não aparece por acaso quase ao final da vida pública de Jesus. A vivencia profunda e eficaz de todos os grandes momentos do ministério de Jesus depende da resposta à esta pergunta: de onde provem a pessoa e a missão de Jesus? Insistimos: é um tema importante.

O reconhecimento de Jesus, como verdadeiro e predileto Filho de Deus, coloca a vida do discípulo também num plano superior: a missão de Jesus, seu anuncio do Reino, o levará a fazer a experiência da Paternidade de Deus, a gozar de suas bênçãos, e também percorrer, com confiança e obediência, o caminho que conduz a Ele.

Então o amaremos com todas as nossas forças, e nossa vida começará a ter o sabor do Evangelho, cujo maior encanto é o rosto do Filho.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  • Que quer dizer que Jesus é “o Cristo”, “o Filho de Deus”? Que implicações tem para minha vida?
  • Como constato, em meu caminho de seguimento de Jesus, que sua Palavra tem orientado minha vida e tem gerado em mim processos de proximidade e identificação com Ele?
  • As pessoas com quem convivo, que traços descobrem em minha vida que dizem ser eu evangélico?

 

“Ó Jesus, Rei legítimo e soberano de todos os corações, sede tu o Rei de meu coração e que eu seja todo coração e amor por ti como tu és todo coração e amor por mim” (São João Eudes)

 

 

SÁBADO

Marcos 12,38-44

PRIORIDADE EVANGÉLICA (III): CONSAGRAR ATÉ O ÚLTIMO QUE TEMOS À CAUSA DE DEUS.

“Chegou também uma viúva pobre e lançou duas moedinhas”

A leitura deste sábado tem visão de conclusão:  apresenta-nos comportamentos essenciais e nos convida a fazer balanço do caminho percorrido. Termina a “leitura contínua” do evangelho de Marcos, que havia iniciado no mês de janeiro, quando, depois do tempo do Natal, começou o tempo “comum”.

Foram nove semanas do itinerário batismal de Marcos: um discipulado que, carregando a própria Cruz atrás de Jesus (Mc 8,34), se faz uma configuração, de “conversão” e “fé”, com Jesus.

A formação dos discípulos acaba com o chamado “discurso escatológico” (Mc 13), cuja última instrução é o chamado a viver em permanente vigília, discernindo os sinais na historia: “Vigiai!(13,37).

Porém, antes deste Jesus pronuncia uma lição explícita sobre o discipulado (“instrução”, 12,38a), fazendo passar à frente três personagens, para que se veja quem é que se parece mais ao discípulo do Reino, à pessoa que está em verdadeira sintonia com o “Filho”:

  • Os escribas ou “Mestres da Lei” (Mc 12,38-40);
  • Os ricos generosos (12,41;
  • Uma viúva pobre (12,42-44).

Os três personagens têm em comum o que consagram à causa de Deus:

  • os escribas o fazem com o ensinamento da Lei;
  • os ricos com sua esmola generosa para manutenção do Templo; e
  • a viúva, que não tem o prestigio dos primeiros nem o dinheiro dos segundos, dá-se, a si mesmo, a Deus, com o gesto das duas moedinhas.
  1. Os escribas (12,38-40)

O imperativo Guardai-vos com que começam as palavras de Jesus (12,38b) e que, em principio, se refere a “olhar atentamente uma situação para refletir sobre ela”, convida a:

  • discernir para distinguir o tipo de comportamento que não corresponde aos valores do Reino;
  • trabalhar internamente para evitar e, quando necessário, purificá-lo.

A observação centra-se nos seguintes comportamentos:

  • A exibição de sua roupagem: túnicas longas que eram tidas como sinal de nobreza (12,38c).
  • Receber a honra devida aos mestres nos espaços públicos de maior concorrência, de maneira que chamam a atenção do público para incrementar as reverencias (12,38d).
  • Ocupar o posto de honra nas cerimônias religiosas (sinagogas,12,39a) e civis (banquetes,12,39b).
  • Apropriar-se do dinheiro das mulheres ricas que, na viuvez, pedem assistência religiosa (12,40a).

Todos estes comportamentos têm que ver, em principio, com os “direitos” que correspondem a um mestre da Lei. Porém, Jesus analisa o “uso” que fazem deles, deste modo trás à luz as motivações internas daqueles externamente ao serviço de Deus, mas exploram sua posição para proveito próprio.

O último comportamento parece ser o mais grave.

Nos tempos bíblicos as viúvas dependiam dos escribas para que lhes preparassem documentos, defendessem seus direitos ante os irmãos ou os credores do falecido, inclusive ante os filhos que queriam, desde já, a herança; porém, estes conhecedores da Lei ficavam, ao final, com a melhor parte da propriedade que ajudavam a defender. A ira de Jesus ante esta situação se faz sentir: “Esses terão uma sentença mais rigorosa (12,40b).

2 – Os ricos generosos (12,41)

O texto nos situa no chamado “átrio das mulheres”, dentro do Templo de Jerusalém. Ali estava localizada a “Arca do Templo” (12,41), a qual devia ter treze recipientes de bronze com bocas em forma de trombeta, destinadas a receber dinheiro para diferentes propósitos.

Jesus “olhava como o povo colocava as moedas ali” (12,41b). O “olhar”, nesta ocasião, indica “contemplar”: observar cuidadosamente.  Jesus vê o “como” se fazem as doações. O primeiro que nota é que “muitos ricos deixavam muito” (12,41c). Chama a atenção o “muitos/muito”.

A questão não está nas doações, nem na quantidade, nem na procedência, mas no fato de que são tão notáveis que Jesus tem que chamar a atenção dos discípulos para se fixem na doação menos vistosa: a da viúva pobre (12,42).  Não é frequente nos determos para reparar no valor do pequeno.

3 – A viúva pobre (12,42-44)

A instrução de Jesus consiste em chamar a atenção para a grandeza do dom da viúva pobre. O ensino tem tom de solenidade (“vos digo de verdade”, 12,43b).

A viúva pobre “lançou duas moedinhas” (12,42b). As moedas, referidas aqui (em grego “lepton”), são as menores e de material mais barato (geralmente de cobre ou bronze) do mundo judeu.

Trata-se de um modo para indicar a insignificância deste donativo frente aos anteriores: frente ao “muitos/muito”, esta viúva aparece com muito pouco.

Porém Jesus tem um modo distinto de calcular as proporções (aqui um novo valor do Reino). O que Jesus “vê”, e parece que os outros não notam, é a proporção do dom com relação ao que tem cada um (não outros): tudo o que tem capacidade de dar. O caso da viúva pobre é verdadeiramente gritante.

Jesus faz três observações sobre o pequenino dom da mulher:

  • Deu “do que necessitava”;
  • Deu “Tudo quanto possuía”; e
  • Deu “Tudo o que tinha para viver

Dando “o que necessitava” a viúva se contrapõe com o que sobrava dos ricos (12,44ab). O “dar” não se mede pelo que se entrega, mas pelo que se fica. Tem-se a frase: “amar é dar até doer”. Mas fez mais ainda: a mulher se deu a si mesma.

 

Deu não só tudo o que possuía”, mas tudo o que tinha para viver”. Jesus utiliza o termo “bios” (vida), indicando, não o aspecto existencial (que é “zoé”), mas o que nos mantém em pé, o corpo que necessita de cuidados: a saúde, o alimento, o bem pessoal.

 

Esta mulher sabia o que é espiritualidade. O gesto da viúva pobre não foi dar uma esmola, mas o fazer um verdadeiro ato de culto no Templo (o que “vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios”, 12,33): deu sua “vida” (“bios”) a Deus.

 

Sua oferenda escondida (não como os escribas nem os ricos), a Deus, a levou a fazer, em sua extrema pobreza, a mais alta expressão de confiança e de oblação que possa existir: esvaziando-se de si mesma (tudo o que teria direito) e fazer depender de maneira radical, absoluta e íntegra, toda sua vida, de Deus. Assim como fez “o Filho” durante toda sua vida e, particularmente, na Cruz.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  • A qual tipo de pessoas faz alusão o texto de hoje e quais suas características?
  • “O dar não se mede pelo que entregamos, mas pelo que nos reservamos”. Quais são aquelas ‘posses’ (coisas, pessoas, idéias, etc.) das quais não quero desprender-me?

Sou capaz de dar tudo a Deus, como a viúva pobre? Como o faria?

  • Quais as características de uma comunidade (grupo, família) que se empenha seriamente em oferecer a Deus e aos demais tudo o que é e tem?

Que caminho comunitário nós devemos percorrer para ai chegar?

  • Quando dou algo a alguém, gosto que os outros percebam ou sou capaz de fazer em silêncio?

Que me diz o gesto da viúva?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

 

 

 

 

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: