Lectio Divina na 30 semana do tempo comum ano 2019

Comunidade Paz e Bem – Lectio Divina 30ª Semana comum ano 2019

BAIXAR EM PDF lectio divina 30 semana 2019

SEGUNDA-FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2019- Santo Simão e Judas Tadeu

São Simão e Judas Tadeu, Apóstolos e Mártires (+século I)– Os dois Apóstolos são, desde tempos imemoriais, venerados conjuntamente nesta data. Simão, chamado Zelota e Cananeu, é o Apóstolo sobre o qual as Escrituras dá menos informações. Segundo antiga tradição, era aparentado com Nosso Senhor e foi crucificado pelos judeus. São Judas Tadeu era irmão do Apóstolo São Tiago o Menor, sendo ambos filhos de Cleófas e de Maria, primos de Nosso Senhor. Há notícias de mais dois filhos do mesmo casal, um dos quais de nome Simão (que alguns autores identificam com o Apóstolo celebrado neste dia). São Judas Tadeu pregou a Boa Nova do Evangelho em várias regiões do Oriente Próximo e é autor de uma Epístola. Não há informações seguras sobre o local e as condições em que verteu seu sangue por amor ao Divino Mestre.

Lucas 6,12-19 (Escolha dos doze) =Mt 10,1-4; Mc 3,13-19 – Jesus detém uma atenção toda par­ticular sobre os doze, seus discípulos: primeiro os elege, depois os institui como colégio (Mc 3,13-19) e, mais tarde, os envia em missão (Mt 10,1-15). Assim, pois, dentro do grupo de seus discípulos, Jesus reserva aos doze um trato especial: certamente em vistas a sua missão, que é também especial. Para pro­ceder à eleição decisiva de seu ministério público, Ele se prepara e Lucas o sublinha passando toda uma noite orando no monte. Por isso, na tradição da Igreja, toda grande decisão se prepara com uma intensa e prolongada oração. Antes da eleição, Jesus chama-os seus discípulos: a vocação figura sempre na origem de toda instituição ou ministério eclesial. Depois Jesus os chama «apóstolos». Ainda que este título pareça, aos espe­cialistas, ter cor e origem pascal, aqui Lucas o atribui ante litteram aos doze, com a intenção de evidenciar a importância que tem este colégio na Igreja que Jesus vai fundar.

 

 

Ef 2,19-22 (Reconciliação dos judeus e gentios entre si e com Deus) – Para Paulo, o mistério de Cristo e o da Igreja está intimamente unido. Cristo é nossa paz: nele, todos, os afastados (pagãos) e os próximos (judeus), encontram o caminho da unidade. Já não há dois povos, já não há separação entre diferentes, mas unidade entre semelhantes. Tudo é dom de Deus Pai, por meio de Cristo, no Espírito Santo. Neste contexto, Paulo imagina a Igreja como um grande edifício, um templo santo, como a mora­da de Deus. Os fundamentos desse edifício, no qual todos habitam como «concidadãos dentro do povo de Deus; Sois família de Deus» (v.19), são os após­tolos e os profetas. A «pedra angular», sem dúvida, é «o próprio Cristo» (v.20): ele é a chave de abóboda que consolida o conjunto, nele todo o edifício encontra sua compatibilidade e pode crescer de um modo ordenado. Desta perspectiva cristológica, a doutrina ecle­siológica de Paulo assume claridade absolutamente particular. Nela a presença, o papel e o ministério dos apóstolos assume toda sua importância. A Igreja de Cristo, portanto, é una, santa, católica e apostólica: no sentido de que nela os apóstolos, por vontade de Deus e por opção histórica de Jesus, constituem o fundamento da comunidade dos crentes.

Salmo 18/19 (Iahweh, sol de justiça)- Quais os princípios que nos orientam? Se eles forem pecaminosos, toda a nossa vida será injusta; mas se eles forem justos, o nosso agir será reto. Os Salmos nos convidam a ter nossas vidas coerentes com a Palavra. A doçura da Palavra de Deus sacia o nosso coração. Que a nossa boca não fale mentira, que o nosso falar seja reto e honesto.

Ó Senhor, preserva-me do orgulho de ser santo e melhor que os outros. Que eu sempre tenha no coração a humildade. Se eu faço o bem, é por ti; se eu fujo do mal, é pela tua bondade. Nada sem ti podemos fazer. Contemplar e fazer o bem são os maiores desejos que temos dentro de nós. O bem está presente em todas as pessoas, portanto dá-me olho para enxergá-lo e coração para amá-lo. Amém.

MEDITATIO: A liturgia de hoje nos põe ante a relação entre oração e missão. Primeiro Jesus aparece como modelo insubstituível. Seu exemplo está expli­citado por Lucas de modo totalmente evidente, não só nesta, mas também em muitas outras circunstancias. Permanecer em oração antes de decidir, orar para discernir segundo o plano de Deus, orar em vista às grandes decisões da vida, tanto no âmbito pessoal como no comunitário: desta perspectiva a oração não é um momento separado da vida, mas como uma atitude prévia que nos introduz na experiência pessoal e eclesial. Empreender a missão depois que a comunidade e seu responsável se tenham recolhido em uma prolongada oração significa confiar a missão e seu desenlace àquele que é seu primeiro responsável: o dono da vinha, o pastor do rebanho, o Senhor de seu povo. Quando se diz que a oração é vida e que a vida pode ser oração não se faz outra coisa mais que confirmar a certeza de que, em uma visão de fé, tudo acontece por vontade divina, pela vontade d’Aquele a quem nos confiamos, precisamente, mediante a oração.

ORATIO: O mundo necessita de ti, Senhor: envia teus apóstolos para que cheguem aos confins da terra e proclamem, em teu nome, a Boa Noticia de Jesus. O mundo necessita de ti: elege, também hoje, entre nós, pessoas capazes de falar em teu nome, com extrema coragem, em qualquer situação de vida. O mundo necessita de ti:não só aqueles que não te conhecem ainda, mas também os que, ainda que te conheçam, não te reconhece como único Senhor e Mestre. O mundo necessita de ti: pedimos-te, com todo impulso de nosso coração, que tua Igreja, de uma maneira corajosa e humilde, se faça porta-voz tua e te proclame ante toda a humanidade como o úni­co Senhor e Salvador.

CONTEMPLATIO: A esperança! Se esta virtude não se mantém, não é certa nossa perseverança e podemos nos perder no caminho; o que, por desgraça, hoje, é muito fácil. É fácil renunciar aos ideais da vida cristã: primeiro, por serem difíceis e longínquos; segundo, por a psicologia do homem moderno está dirigida à consecução, mais, ao gozo de bens fáceis e imediatos, exteriores e sensíveis, mais que aos interiores e morais; terceiro, por o oportunismo está em moda. O êxito próximo e próprio ocupa o lugar dos ideais, obrigado a duras resistências e antipáticas posições. O entusiasmo da resistência, da coragem, do sacrifício, é substituído pelo cálculo da utilidade, a aceitação da moda, a confiança na maioria, o desconforto de manter-se à parte de uma firme, forte e incômoda impopu­laridade; posições psicológicas e outras semelhantes que não sabem viver a esperança. A esperança é a consciência que tem o cristão de estar inserido desde já, mediante a graça do Espírito, em um grande plano de salvação, com o qual sua própria sorte está comprometida, por uma promessa não ilusória (Paulo VI).

AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra:

«Jesus elegeu entre eles a doze, a quem deu o nome de apóstolos» (Lc 6,13)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Morremos, com freqüência, por dispor dirigentes com a convicção de que é isto, sobretudo, o que faz falta para que a coisa funcione, e a coisa seria a Igreja. E o que deveríamos fazer antes de tudo é ser e fazer progredir autênticos «ges­tos espirituais», como o encontro com Deus, a conversão ao Evangelho, o arrependimento, a ação apostólica corpo a corpo ao próximo, etc. Bem pouco serve polir a estrutura de um pro­grama ou de um trabalho: o que conta é uma ação pública ou privada que seja uma verdadeira oração; uma metanóia que seja verdadeiramente um movimento de penitencia e de conversão; uma comunhão que seja uma verdadeira intimidade; uma fé que seja uma convicção decisiva. Sem dúvida, são muitos os que se matam detrás de uma pastoral das coisas, onde os homens, valam muito ou pouco, servem só para preencher o cargo que se lhes foi entregue, como se sua tarefa fosse só a de manter em pé um sistema ajustado de coisas e, se é possível, fazê-lo prosperar. Assim, dentro de certos programas otimamente polidos de «religião» falta, precisamente, o ato religioso, o gesto espiritual. É evidente que, em um ambiente semelhante, os cristãos devem en­contrar muitas dificuldades para nascer. Portanto, em primeiro lu­gar, se deve buscar e suscitar o «movimento espiritual» do homem, um ato que seja próprio de alguém que se comprome­ta com toda sua espiritualidade e o Espírito possa agir nele (Yves-Marie Congar).

______________________________________________________________________________________

QUARTA-FEIRA, 30 DE OUTUBRO DE 2019-

Lucas 13,22-30 (A porta estreita, rejeição dos judeus; chamado dos pagãos) Começa nova etapa na viagem a Je­rusalém, marcada pela breve referência do caminhar de Jesus por povoados e aldeias e seu incessante ensinamento (v.22). A pergunta que abre a nova seção tem relação com os que farão parte do Reino (v.23). Jesus não dá uma resposta direta sobre o número dos que se salvarão, mas exorta a estarem preparados e solícitos na acolhida do Reino que vem. Trata-se da clara urgência de comprometer-se com todo nosso ser, de concentrar todas as forças, como faríamos se tivéssemos que passar por uma porta estreita (v.24). «Hoje» é o momento oportuno para este compromisso que não devemos adiar: a salvação é o dom de Deus ao qual aderimos fazendo o bem, não simplesmente reivindi­cando vínculos de familiaridade com Jesus (vv.25ss). A imagem do banquete escatológico, no qual parti­cipam todos os povos da terra (v.29), revela a salvação ofertada a todos e acolhida por muitos pagãos. Assim, estes, os «últimos» em receber o anúncio do Evangelho, serão os «primeiros» a entrar no Reino, enquanto que Israel, primeiro em escutar o anúncio, se verá excluído se não o acolhe (v.30). A salvação não é questão de pertença étni­ca, mas de fé em Jesus. Não é o ser filho de Abraão que assegura a participação no Reino (v.28), mas a realização das obras de Abraão (cf.Jo 8, 39), o qual, com a esperança da redenção futura (cf.8,56), teve fé e por esta foi acolhido como justo (cf.Tg 2,23).

 

 

Ef 6,1-9 (Moral domestica)– Após exortar os cônjuges a viver a vida matrimonial conforme sua identidade cristã (cf. Ef 5,22-33), o apóstolo se dirige aos filhos e aos pais. Também a eles dirige o convite ao mútuo respeito, na comum obediência a Cristo (cf.5,21). Aos filhos recorda o mandamento mosaico: «Honra teu pai e tua mãe» (Ex 20,12a). A obe­diência aos pais tem que ver com a relação com Deus. Ele liga a esta relação sua benção, expressa­da em termos de fecundidade, segundo a doutrina da retribuição temporal (v.3; cf. Ex 20,12b). Aos pais foi confiada a tarefa de educar os filhos e devem realizá-la com mansidão e diligência, não seguindo seus próprios interesses, mas como servidores da obra de Deus (v.4): nele deve inspirar-se e orientar-se a ação educadora. A relação com o Senhor e a obediência a sua vontade qualificam, pois, as relações entre pais e filhos, iluminando e afirmando a paciente e suave firmeza de uns e o respeito dos outros. Também as relações entre escravos e amos recebem nova luz do anúncio cristão. Trata-se de relações entre pessoas submetidas, todas elas, ao mesmo «Senhor» (v.9b), que, sem favoritismo algum, reconhece e aprecia o bem realizado por cada um, não a situação social que tem (v.8). Tanto para os escravos como para os amos vale a mesma Palavra de Jesus: «Vos asseguro que quando fizeste com um destes, meus irmãos pequeninos, comigo fizestes» (Mt 25,40). Por isso, o escravo, quando obedece a seu amo, obedece a Cristo: seu serviço, realizado com simplicidade e generosidade, assume um valor religioso que exclui todo tipo de servilismo e a busca de ambíguas complacências (vv.5-7). O amo, por sua parte, deve tratar o escravo do mesmo modo que trataria a Cristo, com um coração caridoso, isento de arrogância e autori­tarismo (v.9a).

 

Salmo 144/145 (Louvor ao Rei Iahweh) – Quando se deseja rezar, já se está rezando. Por isso, o apóstolo Paulo, nos recorda sabiamente que quer você coma, beba, durma ou faça qualquer outra coisa, que tudo seja feito para honra e glória de Deus. Segundo São João da Cruz: “o amado sempre pensa na amada e a amada no amado”. Deus quer que a nossa oração seja sincera, forte e corajosa, mesmo nas dificuldades.     O orante do nosso Salmo sente-se sofrido, abandonado, mas também sente um grande desejo de louvar e bendizer a Deus por muitos motivos que surgem em seu coração. Rezar não significa sair da realidade, abandonar as nossas atividades e ficar o dia todo rezando ave-maria e pai-nosso. Há, sim, momentos de profunda oração, mas na maior parte do tempo devemos assumir atitudes orantes, isto é, fazer tudo com reta intenção e com amor profundo. Não esqueça, porém, de encontrar diariamente, como verdadeiro apaixonado e amante de Deus, momentos de silêncio e solidão para estar a “sós com o Só”, que é o Senhor.

Senhor, quero louvar por tudo que acontece na minha vida. És força e refúgio. Quero lembrar de ti a cada momento, da tua presença e teu profundo amor. Que do meu coração subam louvores e ação de graça a todo momento. Que minha oração seja como o perfume agradável do incenso que sobe até ti, que sejam rápidas orações, jaculatórias, pensamentos, flechadas de amor que lanço ao céu. Que todo meu respiro seja louvor a ti. Que nada te ofenda em mim e nos outros. Contemplamos a bondade de Deus em Jesus, nosso Senhor, que também viveu sempre em comunhão com o Pai. “E agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha antes junto de ti, antes que o mundo existisse. Manifestei teu amor aos homens que, do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu os deste a mim; e eles guardaram tua palavra. Agora, eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, porque eu lhes dei as palavras que Tu me deste, e eles a acolheram; e reconheceram verdadeiramente que eu saí de junto de Ti e creram que Tu me enviaste” (Jo 17,5-8).

 

 

 

MEDITATIO: Nossa comunhão com o Senhor tem seu começo agora, nesta terra, e durará além da morte, durante um tempo sem fim. Trata-se de um começo muito concreto: alcançamos fazendo o bem e não o mal. Este modo de proceder se converte no sinal distintivo que nos faz ser reconhecidos como pessoas que pertencem a Jesus Cristo. A fé n’Ele não pode deixar de converter-se em amor que penetra as relações com os outros. Não temos que olhar muito longe: a família é o primeiro «lugar» onde podemos converter a fé em Jesus em comportamentos consequentes. Se eu invoco o nome do Senhor, acaso posso pretender apelar a certas hierarquias de poder para regular sobre elas as relações com os que vivem junto a mim? A salvação toma forma na entrega, no respeito, na delicadeza com que vivo meu papel familiar e meu papel social. Não tem nenhuma saída positiva buscar outros caminhos.

 

ORATIO: Senhor, seria muito fácil demorar-me em argumentos sobre tua mensagem de salvação sem comprometer-me. Perdoa-me: parece-me «estreita» a porta do amor aos que vivem mais próximo de mim, o úni­co amor no qual, verdadeiramente, estou disposto a arriscar a verdade de minha fé em ti. Prefiro a porta aberta das grandes afirmações verbais, que não me exigem um compromisso, de uma familiaridade formal com as coisas da Igreja, às quais não me preocupo de dar resposta na vida. Diz-me que isto é ilusão e que só se amo em verdade, não os que estão longe, mas os que vivem junto a mim, aqueles que primeiro e, sobretudo, me con­fiaste, então, só então, viverei a salvação que és Tu.

 

CONTEMPLATIO: Recorda, meu filho, do que diz a Escritura: «Uma boa palavra vale, com frequência, mais que um rico dom”… Recorda de que, visto que sou eu quem recebe tudo o que dás, dizes ou fazes aos outros, não basta dizer, fazer ou dar coisas boas; é preciso fazê-las também com suavidade, de um modo tão grato como as farias se eu, Jesus, estivesse ante teus olhos… É necessário que todas as relações com o próximo, por pequenas que sejam, transbordem de amor (Charles de Foucauld).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:«Te és o Senhor de todos» (cf Ef. 6,9)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Nossa missão é uma missão de amor. É uma missão de bondade, sobretudo hoje, em que há tanta fome de Deus. Noto que, com tempo, cada um de nós se transformará em mensageiro do amor de Deus. Para obter isto, devemos mergulhar em nossa vida de amor, de oração, de sacrifício. É muito difícil dar Jesus aos outros se não o temos em nosso coração. Se isto não nos interessa, estamos perdendo o tempo, porque limitar-se a trabalhar não é um motivo suficiente: sim o é, em contrário, levar a paz, o amor e a bondade ao mundo de hoje, e para isso não temos necessidade nem de metralhadoras, nem de bombas. Necessitamos um amor profundo e uma profunda união com Cristo para sermos capazes de dar Cristo aos outros. Agora bem, antes de poder viver esta vida com o exterior, devemos vivê-la em nossas famílias. O amor começa em casa, e devemos ser capazes de olhar a nosso redor e dizer: “Sim, o amor começa na família”. Por isso nosso primeiro esforço deve ir encaminhado a fazer de nossas famílias outros tantos ‘Nazarés’ onde reinem o amor e a paz. Isto só se consegue quando a família se mantém unida e reza unida. A todos vós vos oferece uma magnífica oportunidade a grande missão de viver esta vida de amor, de paz, de unidade. E, fazendo isto, proclamareis aos quatro ventos que Cristo está vivo (Madre Teresa de Calcutá, La alegria de darse a los demás, Ediciones San Pablo, Madrid).

______________________________________________________________________________________

QUINTA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2019

Lucas 13,31-35 (Herodes, uma raposa; Palavra sobre Jerusalém) – A maior iniquidade (cf.Lc 13,27), compêndio de todas as outras, será a morte de Jesus. Este é incomodo a Herodes (v.31), mas também e, sobretudo aos chefes religiosos de Israel. Seja qual for a motivação, simpatia ou hostilidade, pela qual alguns fariseus lhe aconselham que se afaste do território governado por Herodes, isto permite e Jesus afirmar sua fidelidade ao mandato recebido do Pai: anunciar o tempo da salvação definitiva (cf.2Cor 6,2), da qual são sinais a expulsão de demônios e as curas (v.32). Não há perfídia humana que possa mudar o desígnio do amor de Deus. O evangelista assinala que Jesus é consciente de sua morte cruenta (cf.Lc 9,22;9,44;17,25;18,31-33), sorte que não é diferente da dos profetas (vv. 33-34a;cf.6,22ss). Ocorrerá na cidade santa de Jerusalém, a qual, em contradição com seu próprio nome, “Cidade da paz”, foi o lugar do massacre dos enviados de Deus. É um ato deliberado esse com o qual Jerusalém, símbolo dos israelitas incrédulos, não acolheu a Palavra que Jesus lhe pronunciou em mais ocasiões, manifestando o desejo do Pai de convertê-la em centro de unidade de seu povo eleito (v.34b). Jesus predisse sua ruína (v.35a), que é, ao mesmo tempo, material (a cidade será submetida ainda mais duramente aos romanos e o templo será destruído) e espiritual. De fato, Israel, ao rejeitar a Jesus, não recebe o cumprimento da promessa. Sem dúvida, posto que “os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis” (Rm 11,29), o evangelista entrevê, no sinal da aclamação triunfal do Messias ao final de sua viagem (v. 35b; cf. Lc 19,28-39), a acolhida de Jesus por parte de todo Israel, ao final dos tempos, quando judeus e pagãos, convertidos todos em cristãos bendirão juntos o nome do Senhor.

 

 

Ef 6,10-20 (O combate espiritual) – A vida do cristão é uma luta contra as forças adversas a Deus, umas forças que se opõem a seu senhorio no mundo e tentam separar o homem do Criador (v.11b). Trata-se de umas forças obscuras, não identificáveis com facilidade, superiores ao homem (v.12). Sem dúvida, o cristão que vive em comunhão com seu Senhor recebe dele a força necessária para o combate (v.10), para esse combate que se desenrola na situação real em que vive. Paulo, empregando imagens militares, em continuidade com aquelas que apresentavam, no Antigo Testamento, a Iahweh como um guerreiro (cf. Is 42,13; Sb 18,15; Sl 35,1-3), exorta o cristão, despojado do homem velho no batismo (cf. Ef. 4,22; Cl 3,9), a revestir-se das armas para a luta (vv.11-13a). A cintura, a couraça, as sandálias, o escudo, a espada destas armas espirituais são a verdade, a justiça, a paz, a fé, a salvação, a Palavra de Deus (vv. 14-17). Trata-se dos dons que Deus distribui aos batizados e que estes estão chamados a acolher e pôr em prática para viver a liberdade dos filhos do Pai celestial, libertos de seu medo e das insidias do maligno, fortes e perseverantes nas provas até a consumação dos tempos escatológicos (v.13). A oração é o meio indispensável para poder receber os dons de Deus e levar a batalha a bom termo, isto é, para agir de modo cristão: uma oração incessante, guiada pelo Espírito Santo (v.18a). Paulo chama a atenção a fim de que o cansaço e o desânimo não levem a desistir na difícil luta: é necessário perseverar (v.18b). A tal fim, recomenda Paulo à oração de uns pelos outros e, em particular, por ele próprio, enviado por Deus a anunciar o Evangelho, para que possa cumprir seu mandato com audácia e inteireza (vv.18-20).

 

Sl 143/144 (Hino para a guerra e a vitória) – O ser humano deseja viver bem. Deseja ser santo, ter uma vida confortável, não se preocupar com nada e ter alimento todos os dias. Esta também é a vontade de Deus. No projeto do Senhor para nós não existe miséria ou fome, mas abundância. Por isso a Bíblia nos apresenta imagens de suculentos manjares, bons vinhos e prosperidade. E tudo isso é fruto da benção de Deus. Mas as provações também fazem parte da abundância do amor de Deus por nós. Não é por acaso que a cruz seja a riqueza prometida por Jesus Cristo: “Felizes sois vós, quando vos injuriares e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim”(Mt 5,11). Como cristãos, qual a verdadeira abundância que devemos pedir a Deus para nós e para os outros? Uma cebola, um pedaço de pão duro e consciência tranquila são melhores que um cabrito e a consciência suja, nos recorda a Palavra de Deus. Os verdadeiros valores não são conhecidos pelo dinheiro no banco nem pelo cheque especial. São de outra natureza. Devemos buscar os valores espirituais, olhar as coisas do alto, mas sem esquecer de pedir e lutar pelo pão de cada dia.

Senhor conscientemente hoje peço-te que na minha mesa não falte o pão material, que eu tenha uma vida serena e tranquila e possa, quando me sentar à mesa, agradecer-te pelo pão que como e que ele tenha o sabor do suor da minha fronte. Que a minha riqueza não pingue sangue injusto nem corrupção, mas que seja fruto de negócios transparentes. Que eu nunca me aproveite do pobre para tirar vantagens e que nunca busque compromissos contrários a tua lei para ter lucros humanos e vantagens. Que a minha honra seja a minha pobreza, o meu trabalho, a minha família, a tranquilidade de minha consciência. Senhor, dá-me os verdadeiros bens: paz e alegria, e que as palavras de Paulo orientem a minha vida: “Pois o Reino de Deus não é comida e bebida, mas é justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). Senhor, que eu seja capaz de lutar com honestidade pelos valores do teu reino, que não sofre nem a ferrugem nem traça. Amém.

 

 

MEDITATIO: Há que manter uma luta para ser autenticamente cristãos; uma luta entre as muitas sugestões e persuasivos reclamos que freiam o impulso de adesão ao Senhor e tentam murchar o vigor da obediência à sua Palavra. O Senhor nos sustenta, assegurando-nos sua presença poderosa nos sinais sacramentais. Com o dom da fé, da Palavra, da capacidade de discernir o que está bem do que está mal, nos atrai para ele a fim de que, em comunhão com ele, demos a conhecer no mundo sua presença, que é fonte de vida para todos, sem distinções entre judeus e gregos. Porém talvez hoje seja mais difícil que nunca fazer calar ao que se opõe a tudo isto e nos separa do Senhor e dos outros. Talvez a causa resida em que não nos deixamos abraçar pelo desejo de recolher-nos na unidade – nós, seres tão doloridos pelas dispersões interiores, tão fragmentados em nossas relações vitais. A oração nos ajuda a voltar e a permanecer no centro de nós mesmos, nesse lugar onde o Espírito Santo não cessa de recordar-nos o amor do Pai e a ternura do Filho.

ORATIO: Senhor, te pedimos, seguindo o convite dos apóstolos, que os irmãos que vivem situações de prova sejam capazes de resistir à tentação do desânimo. Faz que escutem teus chamados e não abandonem a Palavra que ouviram; a verdade na qual creram; a justiça que acolheram. Pedimos-te em particular, Senhor, pelos anunciadores do Evangelho: que, seguindo teu exemplo, perseverem contra todo opositor, visível ou invisível; que sejam fieis a tua vontade, testemunhos que eles são os primeiros em receber como dom; que sua única preocupação seja que tu sejas conhecido e amado.

CONTEMPLATIO: Deus nos outorgou tanta graça que é nosso refúgio e nos deu boas armas. E posto que foi  morto e vencedor no campo de batalha (foi morto e, ao morrer no lenho da santíssima cruz, saiu vencedor, e ao morrer nos deu a vida), e tendo voltado à cidade do Pai eterno com a vitória de sua esposa, ou seja, de nossa alma, sigamos, pois, seus vestígios, expulsando o vício com a virtude; a soberba com a humildade; a impaciência com a perfeita humildade e continência; a vanglória com a glória a honra de Deus. Que o que façamos e imaginemos seja para a glória, louvor e honra de Jesus.

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Que o senhor nos conforte com sua força poderosa” (cf. Ef 6,10)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Nossa presença é motivo de discórdia: alguns a contestam até o ponto de organizar atentados contra nós. Porém os ataques contra nossa comunidade fazem nossa presença ainda mais manifesta. O temos visto claramente depois do rapto dos monges e, mais ainda, depois de sua imolação. A maior parte dos muçulmanos argelinos têm se unido a nós na oração a Deus para que preservasse sua vida e dobrasse o coração dos raptores. Mais tarde, após o anúncio de sua morte, hão voltado a viver ainda conosco a consternação, a condenação e a vergonha que semelhante crime há suscitado. As provas pelas quais passamos, vividas sem espírito de vingança e abertos ao perdão evangélico, assumem um papel nas obras da reconciliação e da paz. “… Temos tido que permanecer firmes em nossa rejeição a deixar-nos identificar com um ou outro campo, permanecer livres para contestar de maneira pacifica as armas e os meios da violência e da exclusão. Segue sendo o que somos neste contexto significa anunciar de modo concreto um Evangelho de amor a todos, um Evangelho que implica o respeito à diferença. Esta é uma autêntica boa notícia! O incremento da proximidade de nossos vizinhos e sua aceitação do que somos fazem que acolhamos certamente sua própria mensagem. Uma felicidade feita para crescer!” (Irmão Chritian).

 

SEXTA-FEIRA, 01 DE NOVEMBRO DE 2019-

Lucas 14,1-6 (Cura de um hidrópico em dia de sábado) – A refeição na casa de um chefe dos fariseus (v.1a) oferta a Jesus a ocasião de reafirmar a subordinação da lei do sábado à lei do amor (cf. Lc 6,1-11;13,10-17) e de pôr em evidencia a redução hipócri­ta que os doutores da Lei e os fariseus faziam da mesma. O evangelista sublinha que a atenção de todos estava centrada em Jesus, dado que “eles lhe observavam» (v.1b). Jesus toma, de novo, a iniciativa, como no caso da mulher encurvada (cf.13,12), porém, nesta ocasião, é ele mesmo quem suscita a controvérsia sobre a observância do preceito sabatico, lançando esta pergunta: «É licito curar no sábado ou não?» (v.3). Uma vez realizada a cura, Jesus interpela, outra vez, seus interlocutores com uma pergunta retórica, uma pergunta na qual se sobressai sua observância não escrupulosa do repouso sabático quando via comprometido seu interesse pessoal (v.5). O silencio (vv.4a.6), com o qual reagem os doutores da Lei e os fariseus às perguntas de Jesus, põe de manifesto o caráter irrebatível dos argumentos aduzidos pelo Nazareno e as insuficientes razões com as quais estes mantinham a interpretação da Lei de Moisés.

 

 

Fl 1,1-11 (Ação de graças e oração) – A carta que Paulo escreve aos filipenses durante um dos períodos que passou no cárcere (v.7c; v.14a), mas cuja data é incerta, figura entre as mais afetuosas do epistolário paulino, testemunho de suas ótimas relações com a primeira comunidade da Europa. Na saudação do envio (vv.1ss), Paulo, que se associa a seu discípulo Timóteo, não acha necessário explicitar, como o faz em outros lugares (cf. Gl.1,1), sua qualidade de apóstolo, plenamente reconhecida pelos filipenses. A eles, Paulo e Timóteo, desejam a plenitude dos dons de Deus Pai e de Cristo ressuscitado e glorioso (v.2). De toda a co­munidade dos batizados, chamados «santos» (v.1a): pois participam da santidade do Senhor Jesus, men­ciona, especificamente, «os dirigentes e colaboradores»; (v.1b), que é como dizer bispos e diáconos, aos quais foi confiado um serviço particular: provavelmente o governo e a administração aos primeiros, e o cui­dado dos pobres e o anuncio do Evangelho aos segundos. Na ação de graças que Paulo dirige a Deus, pelos filipenses, manifesta o afeto profundo que o une a eles. A recordação que tem deles é constante, assim, como sua oração por eles, e é motivo de alegria pois os filipenses, desde que acolheram a Palavra de Deus, graças à pregação de Paulo, se tornaram mem­bros ativos e solícitos missionários. Isso reforça, no apóstolo, a certeza de que o Espírito do Senhor os anima; o mesmo Espírito os fará perseverantes até o momento da parusia, «o dia em que Cristo Jesus se ma­nifestar» (v.6). O fundamento da estima de Paulo pelos cristãos de Filipos é firme: compartilharam sua missão e não o abandonaram durante o tempo que esteve no cárcere, tomando parte ativa na evangelização. Isso tem alimentado no apóstolo ternura entranhável, arraigada no amor de Cristo, da qual Deus mesmo é testemunha (vv.7ss). Da super abundancia de seus senti­mentos brotam, ainda, uma oração e um desejo: que cresça a caridade que anima os filipenses e os faça capazes de compreender a vontade de Deus em toda circunstânc­ia; ao cumpri-la, se tornarão cada vez mais puros, mais ricos em obras boas. Assim os encontrará o Senhor na sua volta ao final dos tempos. Deste modo, através de uma vida autenticamente cristã como a sua, Deus será glorificado e exaltado (vv.9ss).

 

Salmo 110/111 (Elogio das obras divinas) – O salmista é sempre um homem de muita fé. Mas, e as mulheres? Será que algum Salmo foi escrito por uma? Sim, houve participação delas: muitas das que aparecem na Bíblia louvavam a Deus de maneira mais admirável que os homens. Temos, por exemplo, os cânticos de Débora, de Judith, da Virgem Maria e de tantas mulheres santas que estão espalhadas pelos livros sagrados da Bíblia. Nesta oração o salmista quer louvar a Deus publicamente, na comunidade, no culto litúrgico. É um testemunho maravilhoso de ação de graças e de louvor por tudo o que ele e sua família têm recebido do Senhor. A melhor forma de nos admirarmos com a grandeza de Deus é por meio de testemunhos. Como seria bom se os tivéssemos em todas as liturgias, a fim de contar e cantar as maravilhas do Senhor!

Senhor, também quero cantar tuas maravilhas, os dons que, em Jesus, nos dás. Todos os dias participamos da celebração da mais bela memória do teu amor, que é a celebração eucarística, em que fazemos a memória de Jesus, rezamos os Salmos na Liturgia das Horas e caminhamos na história de ontem, mas atualizada no nosso hoje. Tu sempre caminhas conosco em todos os tempos. Celebramos a memória viva do nosso passado, das pessoas que se foram, mas ficam conosco por meio de seus exemplos. Celebramos os santos, nossos irmãos na fé, que viveram com intensidade a tua Palavra: celebramos os novos mártires que a cada dia regam com sangue e lágrimas as terras áridas onde há conflitos religiosos. Senhor, encontro na minha vida de cada dia a tua passagem silenciosa ou forte, que me chama a viver com fidelidade a tua Palavra. Dá-me olhos para ver-te, ouvidos para escutar-te e língua para louvar-te por tudo e em todos. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: Jesus é o Senhor. Todos os aspectos da vida recebem dele um novo significado, um novo valor, uma nova forma. Porém, faz-se necessário a nossa livre adesão a Ele, para que esta realidade se torne «carne» em nossa historia. Pode­mos desnaturalizar a Lei de Deus, como os fariseus, adaptando-a a nossos interesses, ou fazer como os fili­penses, escutar com simplicidade e disponibilidade o anun­cio do Evangelho e converter-nos em seus testemunhos. São dois modos diferentes de usar a liberdade. Qual é seu fruto? Muitíssimo amargo no primeiro caso, visto que a mesquinhez seca o coração, põe barreiras ao encontro com o outro; no segundo, alegria profunda, visto que acolher a Jesus como Senhor dilata e fecunda o espaço da comunhão. Descubramos, a despeito de antigos lugares comuns, que conhecer a Jesus, acolhe-lo, segui-lo, faz crescer, e não mortificar, nossa humanidade, liberta os sentimentos mais profundos e nos faz capazes de expressá-los de verdade, com intensidade e de modo concreto. Ai onde se manifesta o amor, Deus está presente e recebe gloria.

 

ORATIO: Peço-te, Jesus, pelos irmãos cristãos: todos eles, em algum momento preciso de sua histo­ria e, com freqüência, graças à mediação de outros irmãos, aderiram à tua Palavra, confirmaram sua fé em ti, te reconheceram como seu Senhor. Sustenta-os, a fim de que, nas inevitáveis provas e contradições que marcam a existência, não desistam, mas, ao contrário, se firmem na opção que tomaram. Liberta-os, Senhor, da tentação de converter tua lei de vida em instrumento a seu serviço, reduzindo-a a uma pragmática «via ao céu». Liberta-os, Senhor, da ilusão de uma cômoda fé privada. Faz que saibamos experimentar a alegria de seguir o sopro do Espírito, fazendo da vida um serviço ao Evangelho.   ‘

CONTEMPLATIO: A “lei do Espírito de vida», como disse o apóstolo, é a que opera e fala no coração, e a lei da letra é a que se realiza na carne. A primeira, de fato li­berta o intelecto da lei do pecado e da morte. A outra cria, de maneira insensível, um fariseu que pensa e cumpre a lei, só no sentido corporal e cumpre-os para ser visto. Os mandamentos seriam como o corpo. As virtudes, enquanto qualidades, são os ossos. E a graça seria como a alma viva, que se move e realiza as operações dos mandamentos, quase seu corpo. Quem queira fazer crescer o corpo dos mandamentos mostre-se solícito em desejar o leite racional e genuíno da graça mãe. É ai, de fato, onde amamenta todo o que busca e deseja crescer em Cristo. Entende por «lei dos mandamentos» a fé que opera no coração, que é uma realidade não mediata. Através dela, com efeito, é como brota cada mandamento e opera a iluminação das almas, cujos frutos, pro­venientes da fé veraz e operante são a continência e o amor. O fim é a humildade, dom de Deus, principio e apoio do amor (Gregório Sinaita, “Utilissime capitoli in acróstico”)

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Leva a bom termo, Senhor, a obra que iniciaste em mim” (cf. Fl.1,6)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL- Os crentes mostram, com frequência, atitude passiva e de aceitação do que acontece. Os cristãos carecem de alegria pela fé em Cristo e entusiasmo por uma clara profissão de fé: carecem de esperança numa ação generosa que tenha impacto na sociedade e esteja destinada a salvar toda a nação. Há uma grande fé, porém cada um professa a sua de maneira privada, em casa ou na Igreja, porém não em público, em seu lugar de trabalho e no lugar da sociedade em que vive. Por isso a fé não se converte em movimento, mas permanece estática e estéril. Existe movimento quando dois ou três pessoas que têm uma clara fé em Cristo se unem e professam com palavras atos essa fé no lugar onde vivem trabalham. Duas ou três dessas pessoas em uma escola, ou em um hospital, ou em uma oficina, ou em um quartel, ou em um partido político… agem com coragem para iniciar uma mudança no lugar no qual vivem e trabalham. Outros de boa vontade se unirão a eles (E. Castelli [ed.], Uganda: la difícil esperanza, Encuentro, Madrid).

 

 

 

SÁBADO, 02 DE NOVEMBRO DE 2019 (Finados)

Mateus 5,1-12 (As bem-aventuranças) = Lc 6,20-49 – O Evangelho de Mateus pode ser estruturado em torno de cinco grandes discursos que acompanham o decorrer dos capítulos. O primeiro, que inicia neste texto, amplia e destaca o anúncio profético originário de Jesus: «Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo» (Mt 4,17;cf 3,2;10,7). É como um grande tecido, onde temas e palavras se reclamam formando um quadro global de grande efeito. Em nosso texto se pode sublinhar, primeiro, a fórmula das bem-aventuranças: todas estão construídas seguindo um modelo semelhante. Parte-se da proclamação da bem-aventurança, que se dirige sempre a categorias «débeis» na história, para anunciar que esta debilidade está posta nas mãos de Deus (este é o sentido da forma passiva e do tempo futuro dos verbos). Em todas elas, de fato, a promessa contida na segunda parte corresponde à expectativa da primeira. Aos que choram corresponde o consolo de Deus (v.4); aos humildes, Deus entregará a terra (v.5); aos que têm fome e sede da vontade de Deus (de justiça, cf. outras traduções), Deus os saciará; aos que têm um coração misericordioso se mostrará misericordioso (v.7) e se mostrará plenamente transparente aos que têm o coração puro (v.8); tomará como filhos aos que constroem a paz (v.9). Deste esquema geral se diferenciam, em certo modo, a primeira e a oitava bem-aventuranças, que formam uma grande inclusão, posto que, ambas prometem aos «pobres no espírito» (v.3) e aos «perseguidos por fazer a vontade de Deus» (a justiça, segundo outras traduções) (v.10) o Reino dos Céus. Estas duas bem-aventuranças adquirem, assim, densidade especial, enquanto que a última aplica este anúncio evangélico à situação de perseguição pela qual passa a comunidade cristã (vv.11ss). O «Reino dos Céus» se converte deste modo no código que permite compreender as bem-aventuranças e todo o Evangelho (conforme, a título de exemplo, as parábolas que se encontram em Mt 13). Enfim, podemos sublinhar o fato de que haja uma última expressão ligada ao Reino dos Céus: trata-se da expressão «vontade de Deus» («justiça», segundo outras traduções) (5,10; cf 6,33). Seu sentido não corresponde a nenhuma atitude legalista, que, em 5,20, está inclusive condenada expressamente. Vontade de Deus ou justiça remetem, aqui e em outros lugares, ao desígnio do Pai sobre à história e à transformação que Deus provoca na mesma, daí que a exortação final desta primeira parte do Evangelho, à primeira vista excessiva, seja na realidade anúncio da verdade do cristão como filho de Deus: «Vós sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito» (v.48).

 

 

Ap 7,2-4.9-14 (Os que servem a Deus serão preservados; Triunfo dos eleitos no céu) – A história vai se desenvolvendo pouco a pouco e está chegando a seu termo final. A abertura dos «sete selos» – tal como se descreve no Apocalipse- impõe um ritmo a esta duração e já mostrando seus componentes à medida que se revelam (cc.6ss). O fragmento de hoje se insere entre o sexto e o sétimo selos – ou seja, o último – como uma grande liturgia que, ao mesmo tempo, cria expectativas e promessas para o futuro. Esta liturgia celebra a salvação já presente. Essa salvação está destinada a uma «multidão enorme» (v.9), a todos os «que vêm da grande tribulação, os que lavaram e alvejaram suas túnicas no sangue do Cordeiro» (v.14). Trata-se, pois, de uma salvação universal, aberta a todos, em particular a todos os que se viram submetidos de algum modo pela perseguição (thlipsis, «tribulação», converte-se no sinal de toda perseguição) e saem dela purificados. Como premonição e como sinal desta salvação, aparece um grupo eleito marcado com «o selo do Deus vivo». Não está claro o que significa este selo (trata-se de uma citação de Ez 9,4?, da unção batismal?, da cruz?). Provavelmente torna-se mais fácil identificar aos «144 mil» (v.4) que estão marcados com ele: é a plenitude do novo povo de Deus, o Israel renovado em todos os seus componentes e posto na história como sinal de que o poder de Deus se revela em seus «servidores» (v.3).

 

1 Jo 3,1-3 (Somos filhos de Deus) – O texto faz parte da seção da primeira carta de João centrada na justiça de Deus (2,29-4,6). O distintivo que permite reconhecer o que «nasceu de Deus» é a capacidade de operar a justiça e de não cometer pecado (2,29;3,9). A adequação da vida à justiça de Deus poderia parecer uma tarefa desmedida, porém esta carta nos ajuda a compreender que isso não é simples fruto da ascese ou de lutas gloriosas: o filho do Justo tem a capacidade de operar a justiça não por simples mérito seu; a recebe de quem o gera para a vida (2,29), do mesmo modo que quem recebe a luz é iluminado interiormente por ela e pode ver inclusive como é Deus, sustentando seu olhar (3,2ss). A experiência da filiação divina, a experiência de dever ao Pai a própria vida de fé e de amor nos céus (cf 5,1-4) se repete várias vezes ao longo da carta (tékna, téknia: 2,1.12.28;3,1.2.7.10.18;4,4;5,2, enquanto que o termo “hyiós” assumiu agora uma conotação técnica destinada a expressar a pessoa do Filho de Deus: cf 1,3.7;2,22.23; 3,8.23;4,9.10.14.15) e se revela, portanto, como experiência originária dos cristãos. Se parece obscuro o que falta ainda para a consumação desta filiação, é porque será revelada quando se reconstrua nossa semelhança com Deus (3,2).

 

Sl 23/24 (Quem subirá a montanha do Senhor!) – Subir a montanha do Senhor é o nosso grande ideal. E os Salmos são como guias para essa aventura: mostram-nos os caminhos que devemos seguir para alcançar o topo e, então, contemplarmos a glória do Senhor. Nunca devemos esquecer que o Senhor revela-se em experi6encia durante a noite, na montanha e no deserto. São lugares nos quais nos encontramos sozinhos com aquele que nos ama com Amor de Pai.

Senhor dá-me a coragem de me despojar de todo o peso que me impede de subir a montanha; liberta-me dos ídolos do egoísmo e de toda superstição. Que a palavra de Jesus seja para mim programa de vida. Não se pode servir a dois senhores, ou se amará um, ou o outro. Quero sempre estar diante de Ti, Senhor, em adoração e amor. Amém.

 

 

MEDITATIO: A santidade pertence unicamente a Deus, e ninguém pode reclamá-la nunca para si. A distância entre nosso caráter de criaturas e o Criador, a fratura entre nossos desejos e nossas realizações, a necessidade de ajustar as contas com os compromissos e dores da história nos impede de crer que nossa filiação divina seja algo que devemos tomar posse. Partindo deste ponto de vista, o balanço da história é também ruim: não somos santos. Contudo podemos construir a santidade em parte, harmonizando nossa própria vida com o desígnio de justiça que Deus pensou para o mundo. Fazem-no «os pobres no espírito», que não conseguem encontrar neles mesmos, motivos para ir adiante e se confiam ao grão de mostarda do Reino de Deus. Fazem-no os «servidores» do Senhor, que intentam imitar o misericordioso de Deus na história para converter-se em um possível sinal de salvação, em um pouco de fermento do Reino de Deus. Trata-se de tarefas desmedidas, que ninguém consegue chegar a termo por si só. Unicamente se nos confiamos àquela parte ainda não revelada de nós mesmos, à semelhança que nos faz filhos e filhas de Deus e amados por Ele, só se cremos e nos confiamos com fé e amor à promessa de nosso batismo, chegaremos a compreender como a salvação já faz parte de nossa vida e que é próprio da santidade de Deus sustentar nossa santidade.

 

ORATIO: Pai santo, tu nos chamaste filhos teus. Nós te damos graças por tua santidade, que conduz a história. Não compreendemos, ainda, em profundidade, o que significa se sentir amado por tua santidade, porém, tu manténs viva, em nós, a imagem que projetaste para cada um de teus filhos. Filho justo do Pai, tu nos abriste uma passagem na história, onde conseguimos ver como atua o Pai na história e como opera nela o Filho. Ajuda-nos a imitar tua única filiação, faz-nos capazes de confiar-nos ao Pai. Espírito de justiça e de santidade, se tu não purificas nossos corações nunca seremos capazes de abrir nossos olhos à visão de Deus, nunca seremos capazes de cantar os louvores de Deus na liturgia, não conseguiremos chamar-nos filhos. Infunde em nosso coração a capacidade de escutar a voz do Pai que nos chama filhos seus amados.

 

CONTEMPLATIO: Também nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus. E o que produz em nós a imagem divina não é outra coisa que a santificação, isto é, a participação no Filho no Espírito. Assim, depois que a natureza humana houvesse se encaminhado à perversão e houvesse se corrompido a beleza da imagem, fomos restaurados ao estado original, pois mediante o Espírito foi reformada a imagem do Criador, quer dizer, do Filho, através do qual vem tudo do Pai. Também o sapientíssimo Paulo disse: “Filhos meus, por quem estou sofrendo de novo dores de parto até que Cristo chegue a tomar forma definitiva em vós!” (Gl 4,19). E ele mesmo mostrará que a figura da formação da qual se fala aqui foi impressa em nossas almas por meio do Espírito, proclamando: “Porque o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor há liberdade. Por nossa parte, com a cara descoberta, refletindo como em um espelho a glória do Senhor, nos vamos transformando nessa mesma imagem cada vez mais gloriosa, como corresponde à ação do Espírito do Senhor” (2Cor 3,17ss) (Cirilo de Alejandría, Dialoghi sulla Trinitá, Roma 1982).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Vós sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito» (Mt 5,48)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Tua verdadeira identidade é ser filho de Deus. Essa é a identidade que deves aceitar. Uma vez que a tenhas reivindicado e te tenhas instalado nela, podes viver em um mundo que te proporciona muita alegria e, também, muita dor. Podes receber tanto o louvor como a censura que te cheguem como ocasiões para fortalecer tua identidade fundamental, porque a identidade que te faz livre está ancorada além de toda glória e de todo opróbrio humano. Tu pertences a Deus e, como filho de Deus, tu foste enviado ao mundo. Dado que esse lugar profundo que há dentro de ti e onde se arraiga tua identidade de filho de Deus o tens desconhecido durante muito tempo, os que eram capazes de afetar-te têm tido sobre ti um poder repentino, e com frequência, opressor. Porém não podiam levar aquele papel divino, e por isso te deixaram, e te sentiste abandonado. Porém, é esta experiência de abandono a que te tem atraído à tua verdadeira identidade de filho de Deus. Só Deus pode habitar plenamente no mais profundo de ti. Pode ser que faça falta, muito tempo e muita disciplina para voltar a unir teu “eu profundo”, escondido, com teu “eu público”, que é conhecido, amado e aceito, ainda que também criticado pelo mundo; sem dúvida, de maneira gradual, poderás começar a sentir-te mais conectado a Ele e chegar a ser o que verdadeiramente és: filho de Deus (H. J. M. Nouwen, La voce dell’amore, Brescia, 1997).

 

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: