Santa Catarina de Sena (#ep9)
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“A amizade cuja fonte é Deus, nunca se esgota”
Catarina Benincasa nasceu em 1347, em Siena, na Itália no bairro Fontebranda , vigésima quarta filha, dos vinte e cinco vindos ao mundo, de Jacopo Benincasa um tintureiro que tocava seus negócios com a ajuda de seus filhos, e Lapa Piacenti, a filha de um poeta local. Nesta época, a Europa vivia chagada pelas guerras e pelas doenças principamente a peste negra. A Igreja também enfrentava uma época sofrida, com o Cisma do Oriente e a mudança da capital de Roma para Avignon.
Uma criança muito feliz, Catarina recebeu da família o apelido carinhoso de “Eufrosina”, que deriva da palavra grega para “alegria” e era também o nome de uma das santas cristãs mais antigas, Santa Eufrosina.
Com apenas sete anos, na presença espiritual da Virgem Santa Maria, ela consagrou sua virgindade a Cristo, plenamente consciente do valor que o voto de virgindade e de amor exclusivo a Cristo comportava. Numa visão que nunca mais se cancelou do coração e da mente de Catarina, Nossa Senhora apresentou-a a Jesus, que lhe confiou um anel maravilhoso, dizendo-lhe: “Eu, teu Criador e Salvador, desposo-te na fé, que conservarás sempre pura, até quando celebrares Comigo no Céu as tuas bodas eternas”.
Ainda atormentada pelo luto pela morte de sua irmã mais velha, Boaventura, a jovem Catarina, com apenas 16 anos, foi pressionada pelos pais a se casar com o viúvo dela. Absolutamente contrária à ideia, iniciou um duríssimo jejum, prática que havia aprendido com a irmã recém-falecida e cujo marido não apreciava, pois mais de uma vez Boaventura havia conseguido mudar suas atitudes recusando-se a comer. Mais adiante, Catarina desapontou a mãe ao cortar os longos cabelos para protestar contra a constante pressão para que melhorasse sua aparência para conseguir atrair um bom marido.
Muito tempo depois, Catarina recomendaria que Raimundo de Cápua, quando tivesse que enfrentar um problema, seguisse uma prática que criara em sua adolescência: “Construa uma cela em sua mente da qual você jamais possa escapar”. Nesta cela mental, ela transformou seu pai numa representação de Cristo, sua mãe, na Virgem Maria, e seus irmãos, nos apóstolos. Servi-los com humildade tornou-se uma oportunidade de crescimento espiritual para ela e, desta forma, Catarina conseguiu resistir ao costume do casamento e da maternidade por um lado e, por outro, a tornar-se uma freira, escolhendo viver uma vida ativa e piedosa fora do claustro dos conventos, mas seguindo o modelo dos dominicanos. No fim, o pai de Catarina desistiu e permitiu que a filha vivesse como bem entendesse.
Uma visão de São Domingos deu-lhe ainda mais forças, mas seu desejo de juntar-se à sua ordem incomodava Lapa, que levou a filha consigo até as termas em Bagno Vignoni numa tentativa de melhorar sua saúde. Ao contrário do esperado, Catarina ficou muito doente, acometida de uma violenta coceira, febre e dores no corpo, o que, convenientemente, serviu como pretexto para que sua mãe aceitasse tentar conseguir a sua admissão no “Mantellato”, a associação local dos terceiros dominicanos. Lapa foi então às irmãs da ordem e as convenceu a aceitarem sua filha, o que deu algum trabalho, pois a ordem até então só aceitava viúvas. Em questão de dias, Catarina se recuperou completamente, saindo da cama para receber o hábito preto e branco da Ordem Terceira de São Domingos das mãos de um frade terceiro. No Mantellato, Catarina aprendeu a ler e, ali, ela passou a viver solitariamente em silêncio total.
Por volta de 1368, aos vinte e um anos, Catarina experimentou o que ela própria descreveu em suas cartas como um “casamento místico” com Jesus, um tema que se tornaria extremamente popular na arte cristã com o nome de “Casamento Místico de Santa Catarina” (igualmente como Santa Catarina de Alexandria). Segundo relatos de Raimundo, Cristo a teria pedido que deixasse a vida reclusa e se dedicasse à vida pública no mundo. Assim, Catarina voltou pra casa e passou a ajudar os pobres e doentes, em casa e nos hospitais. Suas atividades piedosas em Siena logo atraíram um grupo de seguidores, homens e mulheres, que se juntaram a ela em sua missão. Catarina tinha por hábito distribuir roupas e comida aos pobres sem pedir permissão à família, o que tinha um considerável custo; porém, em contrapartida, nada pedia para si própria. Ao permanecer no seio de sua família, sentia a rejeição ao seu modo de vida mais fortemente, principalmente por que ela não aceitava a comida deles citando a mesa que havia sido posta para ela no céu por sua verdadeira família.
Conforme as tensões políticas e sociais se aprofundavam em Siena, Catarina se viu tentada a intervir na arena política. Ela viajou pela primeira vez para Florença em 1374, provavelmente para ser entrevistada pelas autoridades dominicanas no capítulo geral que se realizou em maio de 1374, embora o tema seja ainda debatido: se ela foi de fato entrevistada, a ausência de evidências sugere que ela foi considerada suficientemente ortodoxa. Aparentemente, foi também nesta época que Raimundo de Cápua tornou-se seu confessor e diretor espiritual.
Depois desta viagem, Catarina passou a viajar com seus seguidores pelas regiões norte e central da Itália defendendo a reforma do clero e aconselhando o povo que o arrependimento e a renovação poderiam ser alcançados através “do amor total a Deus”. Em Pisa, em 1375, Catarina utilizou de toda sua influência para evitar que a cidade e também Lucca se aliassem às forças contrárias ao papa, que na época vinham se fortalecendo e ganhando momento. Ela também ajudou com seu entusiasmo na formação de uma nova cruzada. Segundo Raimundo, foi em Pisa, em 1375, que ela recebeu seus estigmas (visíveis, depois de um pedido dela, somente para ela).
Suas viagens não eram a única forma que Catarina utilizava para fazer conhecer suas opiniões. A partir de 1375, ela começou a ditar cartas para diversos assistentes endereçadas inicialmente a homens e mulheres de seu círculo de amigos e, gradativamente, a uma audiência mais ampla, incluindo figuras políticas a quem ela pedia paz e o retorno do papado de Avinhão para Roma. Ela manteve ainda uma duradoura correspondência com o Papa Gregório XI, na qual pedia-lhe que reformasse o clero e a administração dos Estados Papais.
No final de 1375, Catarina retornou para Siena para ajudar um jovem prisioneiro político, Niccolò di Tuldo, em sua execução. Em junho do ano seguinte, foi pra Avinhão pessoalmente como embaixadora de Florença para tratar da paz com os Estados Papais (em 31 de março de 1376, Gregório XI interditou Florença). Sem sucesso, acabou sendo desautorizada pelos líderes florentinos, que enviaram embaixadores para negociar seus próprios termos continuando o caminho já iniciado por Catarina; ela, por sua vez, enviou uma calorosa carta a Florença. Ainda em Avinhão, Catarina tentou convencer Gregório a voltar para Roma, o que ele de fato fez em janeiro de 1377. Porém, o peso real da influência de Catarina é tema de acalorado debate moderno.
Catarina voltou para Siena e passou os primeiros meses de 1377 fundando um mosteiro de estrita observância para mulheres fora da cidade, na antiga fortaleza de Belcaro. O resto do ano passou em Rocca d’Orcia, por volta de 35 quilômetros de Siena, numa missão de paz e pregação. Durante o período, no outono de 1377, ela teve uma nova experiência que a levou a escrever seu “Diálogo” e a passar a escrever por conta própria, apesar de continuar utilizando assistentes em suas correspondências.
No final de 1377 ou início do ano seguinte, Catarina foi novamente para Florença por ordem de Gregório XI para tentar negociar a paz entre florentinos e romanos. Depois da morte do papa em março de 1378, revoltas irromperam em Florença a partir de 18 de junho e, na violência que se seguiu, Catarina quase foi morta. Finalmente, em julho, a paz foi negociada entre as duas cidades e ela pôde voltar para casa.
No final de novembro de 1378, depois do cisma, o novo papa, Urbano VI, convocou-a a Roma e ela permaneceu na corte papal tentando convencer nobres e cardeais da legitimidade do novo papa romano, pessoalmente ou através de suas cartas. Passou a viver numa residência na Piazza di Santa Chiara conhecida ainda hoje como Casa di Santa Caterina.
Por muitos anos, Catarina se acostumou a períodos de rigorosa abstinência. A comunhão diária era, muitas vezes, sua única “refeição”. Esta forma extrema de jejum já parecia pouco saudável aos olhos do clero, de suas irmãs e de seu confessor, que tentavam fazê-la comer adequadamente. Mas Catarina alegava que era incapaz e descrevia sua incapacidade como uma infermità (doença). A partir do início de 1380, Catarina já não conseguia nem comer e nem beber água, e em 26 de fevereiro, não podia mais andar. Catarina de Sena faleceu em 29 de abril de 1380, vítima de um derrame quando tinha apenas trinta e três anos de idade, a mesma idade de Cristo. Em tão pouco tempo de vida, esta mulher admirável realizou muito pela Igreja e pela humanidade. A cabeça de Santa Catarina está na cidade de Sena. Lá se conserva a casa onde ela viveu. Seu corpo foi trasladado para Roma. Fica na Igreja de Santa Maria Sopra Minerva.
Num decreto em 13 de abril de 1866, o Papa Pio IX declarou Santa Catarina copadroeira de Roma. Em 18 de junho de 1939, o Papa Pio XII declarou-a padroeira da Itália juntamente com São Francisco de Assis. Por seu rico material espiritual, Em 1970, o Papa Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja, e no dia 1° de outubro de 1999, São João Paulo II tornou-a também padroeira da Europa, juntamente com São Bento (480-547), os Santos irmãos Cirilo e Metódio (missionários entre os povos eslavos no século IX), Santa Brígida da Suécia (1303-1373) e Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), uma judia convertida que morreu no campo de Concentração de Auschwitz (1891-1942).
Sobre as obras de Santa Catarina de Sena temos 3 importantes:
“O Diálogo da Providência Divina”, iniciado provavelmente em outubro de 1377 e certamente terminado em novembro do ano seguinte. Contemporâneos de Catarina afirmam unanimemente que a maior parte da obra foi ditada enquanto Catarina experimentava seus êxtases, embora seja possível também que a própria Catarina possa, depois, ter reeditado muitas passagens no livro. Trata-se de um diálogo entre uma alma que ascende a Deus e o próprio Deus.
As cartas de Catarina são consideradas uma das grandes obras da literatura toscana primitiva. Muitas delas foram ditadas, embora a própria Catarina tenha aprendido a escrever em 1377. Quase quatrocentas sobreviveram. Em suas cartas ao Papa, ela geralmente se refere a ele afetuosamente simplesmente como “papa” (“papai”) ao invés do pronome de tratamento formal “Sua Santidade”. Outros correspondentes incluem seus vários confessores, entre eles Raimundo de Cápua, os reis da França e da Hungria, o infame mercenário John Hawkwood, o rei de Nápoles, membros da família Visconti de Milão e numerosas figuras religiosas. Aproximadamente um terço delas era endereçada a mulheres. E por fim sua coletânea de orações
A festa de Santa Catarina de Siena é comemorada no dia 29 de abril tanto no Brasil quanto aqui na Itália.
Referencias