Estudo Bíblico na 33ª Semana Comum ano A 2023

Estudo Bíblico na 33ª Semana Comum ano A 2023

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Lucas 18,35-43

O encontro de Jesus com o cego-mendigo de Jericó

 “Que queres que faça por ti? Senhor, que veja outra vez”

Jesus já está próximo de Jerusalém. Vem viajando desde Galileia, descendo para o sul pelo vale do Jordão até chegar a Jericó, a “cidade das palmeiras”. Aqui começará a subida da montanha até coroar a meta de sua peregrinação a Jerusalém e seu Templo.

A cura de um cego, antes de entrar na cidade, permitirá a Jesus chegar a Jericó acompanhado de um novo discípulo que dá testemunho de sua salvação.

Como no caso do leproso curado, a história deste cego-mendigo é uma preciosa ilustração do poder da fé: Tua fé te salvou (v.42; 8,48; 17,19; 18,42). A fé, abertura total do coração diante de Jesus, dispõe a pessoa para a ação salvífica de Deus.

Igualmente, nos encontramos hoje diante de uma catequese sobre a oração. Com efeito, a fé se exerce na oração. O cego-mendigo orou:

  • Antes da cura: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” (v.38);
  • Durante a cura: “Senhor, que eu veja!” (v.41b);
  • Depois da cura: “E lhe seguia glorificando a Deus” (v.43a).

Além do mais, o louvor do cego-mendigo, por sua cura, se transforma em um coral de louvor da parte de todo o povo (v.43b).

O cego-mendigo vive uma experiência de Jesus, da qual vale notar seus momentos fundamentais:

  •  Escuta a Palavra: Primeiro percebe o rumor dos passos do cortejo e toma conhecimento de que se trata da “passagem” de Jesus de Nazaré. O cego inquieto recebe um primeiro anúncio de Jesus e se interessa por ele (ver também que comentamos sobre Herodes no comentário de Lc 9,9);
  •  Clama a misericórdia do Senhor: O cego-mendigo começa a orar pedindo misericórdia. O título “Filho de Davi” indica que este homem o reconhece como Messias. É bom que notemos no texto o “crescente” dos gritos do cego.  Outra magnífica ilustração da perseverança na oração;
  • Jesus suscita uma súplica explícita: O cego pediu misericórdia, porém não diz para que. No diálogo que mantém com Jesus, que aparece no centro do relato, Ele lhe pergunta: “Que queres que te faça?”. Pareceria uma pergunta óbvia, porém não é. Para Jesus é importante que se tenha clareza sobre o que queremos e esperamos dele. Muitas vezes em nossa vida espiritual nos acontece o mesmo: Sabemos o que queremos de Jesus?
  • O cego é curado: É curado com o poder da Palavra de Jesus. Sua cura é instantânea;
  • O curado se torna discípulo: O texto diz: “E o seguia glorificando a Deus” (v.43ª). O termo que indica discipulado, “seguir”, e o verbo que descreve o louvor se colocam ao mesmo nível. Como ocorre com certa frequência em Lucas, o louvor acompanha as ações de poder de Jesus.

Louva aquele que se deixa maravilhar por Deus e esta capacidade de maravilhar-nos como os pequenos é o azeite que mantém ardente e festiva a lâmpada da oração.

Aprofundando com os nossos pais na fé

Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (+1942), carmelita, mártir, co-patrona da Europa

“Senhor, que eu veja”

Muitas vezes as forças pareciam querer abandonar-me. Mais vezes ainda, desesperava de ver a luz. Mas, no momento em que o meu coração estava amarrado pela dor, eis que uma estrela se elevou diante de mim. Ela conduziu-me e eu segui-a, primeiro com um passo hesitante, depois com confiança. Aquilo que tinha de esconder no mais profundo do meu coração, posso agora proclamá-lo alto e forte: eu creio, eu confesso. Senhor, será possível que renasça quem já viveu metade da sua vida? (Jo 3,4) Tu o disseste e isso verificou-se comigo. O fardo de uma longa vida de faltas e de sofrimentos caíu dos meus ombros. Ah! nenhum coração humano pode compreender o que Tu reservas aos que te amam. Agora que te agarrei, nunca mais te hei-de largar (Ct 3,4) Seja qual for o caminho que tome a minha vida, Tu estás comigo. Nada poderá separar-me do teu amor.

Para cultivar a semente da Palavra na vida cotidiana:

  1. Quais são os passos do encontro vivo de Jesus com o cego de Jericó?

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  • Em minha relação com Jesus, sei o que quero d’Ele?

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  • Que me (ou nos) ensina o relato de hoje sobre a vida de oração?

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TERÇA-FEIRA – apresentação de Nossa Senhora

Mateus 12,46-50

SOMOS FAMÍLIA DE JESUS QUANDO VIVEMOS SEGUNDO A VONTADE DO PAI CELESTIAL

“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”

Estava falando à multidão…” (12,46), quando, de repente, chegaram os familiares de Jesus, “sua mãe e seus irmãos”, e ficaram esperando fora (12,16a). Quando Jesus toma conhecimento do propósito de sua família, responde: “Estes são minha mãe e meus irmãs, pois todo o que cumpre a vontade de meu Pai celestial, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (12,49b-50).

Bem sabemos que, na maneira de falar daquele tempo, aos parentes próximos, também se chamava “irmãos” (Lv 10,4). Por essa razão não haveria que buscar aqui motivos para por em discussão se a Virgem Maria teve mais filhos.

O certo é que, segundo o texto, a menção da palavra “irmãos” dá ocasião para que Jesus se pronuncie sobre qual é sua verdadeira família. Para isso, Jesus faz uma distinção entre a família natural (biológica) e a família espiritual que nasce do discipulado, onde os laços que geram vínculos são mais estreitos e fortes que os da família natural.

Segundo o texto, Jesus não sai ao encontro deles, mas, que, ao assinalar dentro da casa em que está, qual é sua verdadeira família, os convida a entrar, a tomar parte dela. O parentesco biológico com Jesus é insuficiente, pois, ter parte com Jesus leva a reconhecer a sua verdadeira identidade e não aprisioná-lo nos conceitos que se tenham dele pela simples convivência na infância. Em outras palavras, se requer a aprendizagem do Evangelho.

A família de Jesus é a comunidade dos “pequenos” que, mediante a escuta da Palavra e a conversão a ela, vai crescendo, levada pela mão do Mestre e conduzida para a plenitude de toda família, que é a relação trinitária (28,19). A comunidade de Jesus personifica a todas as pessoas que optam de coração por Ele e elegem viver segundo os critérios de seu Evangelho, encarnando as bem-aventuranças e todos os ensinamentos de Jesus, fazendo presente, desta forma, sua obra salvadora em suas vidas.

O núcleo da passagem encontra-se na frase: “cumprir a vontade de meu Pai Celestial” (12,50). Mateus menciona, expressamente, o termo “Pai” e não, simplesmente, “Deus”, já que a captação da vontade de Deus está intrinsecamente relacionada com esta revelação da paternidade divina, da qual Jesus faz derivar todo o Evangelho.

É a comunhão com este Pai que permite falar, com certeza, de uma “verdadeira família”. A vida desta nova família encontra seu sentido no mistério do Reino que se realiza na história, assim como veremos amanhã nas Parábolas de Jesus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Para que buscam os familiares (biológicos) a Jesus?

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  • Como se entende a palavra “irmãos de Jesus” nesta passagem?

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  • De que maneira uma pessoa se faz “familiar” de Jesus?

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QUARTA-FEIRA

Lucas 19,11-28

VIVER O SENHORIO DE JESUS EM NOSSAS VIDAS

“Estava Ele próximo de Jerusalém e acreditavam eles, que o Reino de Deus apareceria

de um momento para o outro”

A chave para compreender a parábola a encontramos na primeira linha do texto: “Estava Ele próximo de Jerusalém e acreditavam, eles, que o Reino de Deus apareceria de um momento para o outro” (19,11). Quer dizer, que a parábola tem relação com a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!” (19,38ª).

Uma das preocupações da comunidade lucana, como, em geral, foi também dos primeiros cristãos,  é a vinda próxima do Senhor Jesus, que entrou como Rei em Jerusalém (19,36-38), viveu sua morte como uma entrada à glória de seu Reino (23,42-43; 24,26) e, depois de sua ressurreição, voltará um dia como Rei e juiz (At 1,11).

A parábola nos situa precisamente neste plano do regresso de um rei, de maneira que descubramos com que atitudes nós devemos recebê-lo.

Por outra parte, a história do homem nobre (19,12), que regressa depois de receber a investidura real (v.15), e pede contas dos negócios que encarregou a seus servidores (vv.13.15-27), parece fazer eco a uma história real bem conhecida nos tempos de Jesus: o rei Arquelão, filho de Herodes o Grande, e único de seus herdeiros no poder, fez uma viagem a Roma no ano 4 aC para que ali o imperador o confirmasse como o herdeiro da dignidade real de seu pai.

Enquanto isso uma delegação judia fez uma viagem paralela para firmar, ante as autoridades imperiais, seu desacordo. Estes pediram ao imperador Augusto que o nomeasse unicamente rei da região da Judéia, com um título de menor categoria: etnarca.

Esta história de intriga política reflete-se nos vv.11-14. Jesus interpreta a oposição de seus adversários, por ocasião de sua chegada a Jerusalém, a partir desta história, fazendo-lhes os respectivos ajustes.

O mais importante destes é a má compreensão que seus seguidores têm de seu messianismo real; eles pensavam num acontecimento político, numa libertação nacional que ia realizar-se poucos dias: “Acreditavam, eles, que o Reino de Deus apareceria de um momento para o outro”  (v.11).

Uma compreensão inadequada da missão de Jesus pode chegar a converter-se em uma forma de rejeição de seu senhorio sobre nós. Pelo contrário, se compreendemos seu caminho da Cruz e as exigências de vida que daí se derivam, Jesus será, verdadeiramente, nosso Rei.

A parábola nos ensina a viver o senhorio de Jesus em nossas vidas comprometendo-nos com o desenvolvimento dos dons e capacidades que nos deu; desta forma o que é seu o tomamos também como nosso e o fazemos crescer.

Ao contrário do que acontece na versão de Mateus, notamos que os servos eram dez, que todos receberam exatamente o mesmo, porém, que cada um consegue fazer produzir seus talentos segundo suas possibilidades. O que não se admite é a preguiça, a passividade no assumir a obra do Senhor, por ser uma forma de rejeição de seu senhorio, que ao final nos coloca fora de seu Reino (v.27).

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São Serafim de Sarov (1759-1833), monge russo

“Fazei render a mina durante a minha viagem”

É na aquisição do Espírito Santo que consiste o verdadeiro objetivo da nossa vida cristã; a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras ações virtuosas feitas em nome de Cristo não são mais do que meios para o adquirir… Sabeis o que é adquirir dinheiro? Com o Espírito Santo, é parecido. Para a gente comum, o objetivo da vida consiste na aquisição de dinheiro, no ganho. Além disso, os nobres desejam adquirir honras, sinais de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado. A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno, fonte de graças, semelhante aos capitais temporais e que se obtém pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, o homem-Deus, compara a nossa vida a um mercado e a nossa atividade na terra a um comércio. Ele recomenda a todos: “Façam render até que eu volte” e São Paulo escreve: “Tirai bom partido do tempo presente porque os nossos dias são incertos” (Ef 5,16). Por outras palavras: Despachai-vos para obterdes bens celestes negociando mercadorias terrestres. Essas mercadorias não são senão as ações virtuosas praticadas em nome de Cristo e que nos conferem a graça do Espírito Santo.

Para cultivar a semente da Palavra na vida cotidiana

  1. Que relação há entre esta passagem e aquelas que lhe precedem (como a conversão de Zaqueu) e os que lhe seguem (a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém)?

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  • De que maneira concreta devemos acolher o Senhorio de Jesus em nossas vidas?

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  • Em que nos ocupamos enquanto esperamos a vinda do Senhor?

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QUINTA-FEIRA

Lucas 19,41-44

A CIDADE NO CORAÇÃO DE JESUS ORANTE

 “Se compreendesses o que conduz à paz!”

Acompanhamos Jesus em sua subida a Jerusalém. Neste caminho, o Mestre tem dado as lições mais importantes sobre o discipulado, nelas tem ficado claro em que consiste o Evangelho. Neste caminho, ante Jesus aparecem os rostos daqueles que necessitam de salvação: o homem ferido no caminho, a mulher encurvada, o hidrópico, o filho pródigo, o mendigo Lázaro, o rico Zaqueu, o cego de Jericó; os pobres, aleijados, coxos e cegos convidados ao banquete. Estes o têm acolhido.

Porém, neste mesmo caminho Jesus também tem encontrado rejeição: em Samaria não o recebem porque se dirige a Jerusalém; as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum fecham as portas aos missionários; os fariseus e legistas tramam contra Ele, o criticam porque come com pecadores e ajuda o povo no sábado, Herodes ameaça sua vida. Pois bem, Jesus agora chega a Jerusalém e ali encontra a maior resistência. Resistência de toda uma cidade que o levará à morte.

O texto começa dizendo: “Ao aproximar-se de Jerusalém, vê a cidade e chorou por ela” (19,41). A tradição vê neste momento da vida de Jesus, um momento de oração (há atualmente uma capela no Monte das Oliveiras de onde se vislumbra a cidade de Jerusalém, conhecida como “Dominus Flevit”).

E não há dúvida de que esta pausa no caminho, próxima à entrada da cidade santa, momento culminante do longo caminho para Jerusalém, envolta na atmosfera da oração (do começo ao fim o ministério de Jesus é orante), sem dúvida, nela, Jesus não fala ao Pai, mas à cidade. Sua maneira de fazer e o conteúdo de suas palavras são de ensinamento para nós.

1. Que faz Jesus frente à cidade (19,41)

A descrição lucana é muito significativa: um homem só, frente a uma cidade inteira. A atenção do leitor enfoca para um cenário simples, onde tem lugar o monólogo do profeta frente à capital, frente à sede da atividade política e religiosa, da qual já se sabe que “apedreja aos profetas” (13,34-35). As três ações iniciais de Jesus indicam um itinerário também interno. O ponto de referência é “a cidade”. Frente a ela, Jesus “se aproxima”, a “” e “chora”. Em três passos Jesus se insere no coração da cidade e também insere a cidade em seu coração.

Notemos que há um processo de captação profunda. Aqui se revela um aspecto novo da misericórdia de Jesus, que não só capta as pessoas – individualmente – por dentro, mas também todo o tecido urbano; esse mundo urbano em que se vive funcionalmente, em que se trava, come, dorme e se diverte, porém ao qual não lhe percebe facilmente um coração. Jesus, em sua oração percebe o essencial daquilo que é complexo e o relê desde o projeto de Deus.

2. Que disse Jesus à cidade (19,42-44)

Jesus traduz suas lágrimas em palavras. Não são palavras de ameaça, mas de um coração dolorido que lança um último chamado à conversão desde o amor. A dor do profeta expressa sua visão antecipada das trágicas consequências que tem para o povo o não ter reconhecido o tempo em que foi visitado. Em suas palavras podemos notar a seguinte ênfase:

  • Jerusalém é convidada a viver sua vocação. O nome da cidade inclui o termo “shalom”, que significa “paz”. Jesus traz a “mensagem da paz” (este é o conteúdo do Evangelho: Lc 1,79; 2,14) que a pode ajudar à realização de seu projeto.
  • Jerusalém deve responder com urgência. Para ela Jesus expõe a pressa do tempo: “este dia” (de paz; v.42) se contrapõe ao “virão dias” (de violência; v.43). A visita de Jesus (v.44), o tempo da salvação que se realiza em Jesus (Lc 4,19;1,68;7,16), última chance para reverter a história.
  • A dureza da cidade virá abaixo por causa de sua autossuficiência.não ficará pedra sobre pedra” (v.44; cujo desmonte se dá dentro da progressão do sítio de Jerusalém: rodeiam-na, apertam o cerco e a invadem arrasando-a). Este é um exemplo claro de que “dispersa os soberbos” (Lc 1,51), no fundo está a pedagogia de Deus que coloca substituir, agora, Jerusalém por Jesus como ponto de referência do atuar salvífico de Deus.
  • Há uma contraposição entre “conhecer” (falado duas vezes) e “ocultar”. Jesus não está tirando toda possibilidade a Jerusalém, senão que indica que a cidade terá que fazer o caminho lento que passa pela sombra da cruz e se desvela na glória da ressurreição.

É assim como Jesus trás à luz a realidade da cidade, desde o projeto que Deus tem sobre ela e que está a ponto de realizar-se definitivamente em um novo anúncio da “mensagem de paz”. Esta nova proclamação do Evangelho já não brotará de seus lábios no alto do Monte das Oliveiras, mas do silêncio das lágrimas na entrega de si mesmo desde o Monte onde se planta a Cruz.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Orígenes (cerca de 185-253), presbítero e teólogo

“Vendo a cidade, Jesus chorou sobre ela”. Quando se aproximou de Jerusalém e a viu, o nosso Senhor e Salvador chorou sobre ela: “Ah! se neste dia tivesses compreendido, também tu, a mensagem da paz! Mas por agora ela está ainda escondida aos teus olhos. Sim, cairão sobre ti os dias em que os teus inimigos te hão-de sitiar”… Provavelmente alguém dirá: “O sentido destas palavras é claro; com efeito, elas realizaram-se a propósito de Jerusalém: o exército romano cercou-a e devastou-a até à exterminação e virá o tempo em que dela não restará pedra sobre pedra.” Não o nego, Jerusalém foi destruida por causa da sua cegueira, mas faço a pergunta: será que aquele choro não dizia respeito à nossa própria Jerusalém? Porque nós somos a Jerusalém sobre a qual Jesus chorou, nós que estamos convencidos de ter uma visão tão penetrante. Se, depois de ter sido instruido nos mistérios da verdade, depois de ter recebido a palavra do Evangelho e o ensinamento da Igreja…, um de nós peca, esse provocará lamentações e choros, porque não se chora sobre nenhum dos pagãos mas sobre aquele que, depois de ter feito parte de Jerusalém, dela saíu. Sobre a nossa Jerusalém derramam-se lágrimas porque, em razão dos seus pecados, “os inimigos vão cercá-la”, quer dizer, as forças adversas, os espíritos maus. Elevarão à sua volta uma barricada, sitiá-la-ão e “não deixarão pedra sobre pedra”. É o que acontece quando, após uma longa continência e vários anos de castidade, um homem sucumbe, vencido pelas seduções da carne… Eis, pois, a Jerusalém sobre a qual se derramam as lágrimas…

Para cultivar a semente da Palavra na vida cotidiana

  1. De que modo às lágrimas de Jesus, sobre a cidade fechada ao Evangelho seguem derramando hoje?

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Por que as cidades grandes são as mais difíceis de evangelizar?

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  • Por que isto acorre também nos ambientes mais religiosos como o era Jerusalém?

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  • De que modo Jesus vai evangelizar finalmente à cidade santa?

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Que se deve fazer nos ambientes e com as pessoas que fecham as portas ao Evangelho de Jesus?

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SEXTA-FEIRA

Lucas 19,45-48:

Respeitar o templo.

“Minha casa é casa de oração”

Entrando no Templo, começou a lançar fora os que vendiam, dizendo-lhes: «Está escrito: Minha Casa será Casa de oração. Porém vós a haveis feito um covil de ladrões!»

Ensinava todos os dias no Templo. De sua parte, os sumos sacerdotes, os escribas e também os notáveis do povo buscavam matá-lo, mas não sabiam como fazer, porque todo o povo lhe ouvia boquiabertos.

Jesus culmina sua viagem para Jerusalém. Frente à cidade, vendo o panorama urbano, chora por ela como uma expressão do quanto a ama e quanto lhe dói sua rejeição (v.41) e com um dito profético, anuncia o destino daqueles que, por cegueira espiritual, não acolhem sua mensagem de paz (vv.42-44).

Tal como o prefigurou o relato de “Jesus entre os doutores”, nos relatos de infância (Lc 2,46-50), Ele entra com propriedade na casa que chamou “de seu Pai” (2,49).  Começa então a última etapa – que é também o cume– de seu ministério. No interior do Templo, onde dialogará com as máximas autoridades do povo de Israel, escutamos a palavra de Jesus, o mestre por excelência.

O texto que lemos hoje nos apresenta a introdução desta nova etapa. Distinguem-se duas partes:

  • A entrada solene de Jesus no Templo: como profetizou Malaquias 3,1;
  • A expulsão dos vendedores (19,45-46):

Um resumo da ampla atividade de Jesus na área do Templo (ver 19,47-48). O ambiente do Templo de Jerusalém era muito animado. Em seus espaços o povo ia e vinha, encontravam amigos, resolviam problemas, e ali, inclusive, os grupos religiosos da época aproveitavam para reunir seus partidários.

Que a parte mais ampla, o “pátio dos gentios”, se encontrassem alguns comerciantes não tinha nada de estranho, afinal o lugar dos sacrifícios e das orações não era esse.

Eles estavam ali por razões práticas: visto que um peregrino nem sempre estava em condições de carregar sua oferenda (um animal pesado) desde um lugar longe, o melhor era trazer o dinheiro e adquirir ali mesmo no templo para realizar o sacrifício. Também se adquiriam outros elementos necessários para o culto, como vinho, aceite e sal.

Por isso não devemos entender a expulsão dos vendedores do Templo (vv.45-46) como uma rejeição das atividades comerciais, mas bem como uma ação profética de Jesus frente a quem se aproveita do culto do Templo para justificar-se, sem esforçar-se verdadeiramente pela conversão.

Por essa razão Jesus cita duas profecias:

  • De Is 56,7 Jesus toma a frase: “Minha Casa será Casa de oração. A frase mostra qual a real finalidade do Templo. Se a ele podem vir os pagãos (como disse a frase em Isaías) é porque ali podem ter um encontro com Deus que os pode transformar (Lc 18,11-14).
  • De Jr 7,11 Jesus toma a frase: “Covil de ladrões”. Desta vez, em contraste com o ideal, Jesus mostra a que chegou o culto a Deus: uma área de segurança (como ocorre ao ladrão ao chegar à área onde sabe que já não será perseguido).

O legítimo comercio para poder realizar os sacrifícios estava acompanhado de injustiça! Por trás de tudo, como também denunciou Jeremias, realizava-se um culto sem conversão. O culto tranquilizador de consciências (“Estamos seguros!”, Jr 7,10), enquanto que, ao voltar à vida cotidiana seguia as mesmas atitudes e comportamentos (“roubar, matar, adulterar… seguir outros deuses”, Jr 7,9).

O gesto de Jesus e suas primeiras palavras ao entrar no Templo, se constituem em um novo ensinamento.  A este lhe segue um ciclo de ensinamentos, dos quais o evangelista nos faz um breve resumo: Ensinava todos os dias no Templo (19,47ª).  

O que Lucas parece querer dizer-nos é: “Olhem desde onde lhes está agora falando Jesus, Ele tem plena autoridade”.

Ao mesmo tempo Lucas nos faz ver que Jesus ali se encontra cara a cara com seus adversários (19,47). Estes são identificados claramente (“os sumos sacerdotes, os escribas e os notáveis do povo”) e nos diz que tem também uma intenção bem clara: buscavam matar-lhe”.  

Sem dúvida, Jesus também tem um auditório que está “boquiaberto”, que o leva a sério e que é semente do novo povo de Deus.

Para cultivar a semente da Palavra na vida cotidiana:

  1. De que Jesus quer purificar o Templo?
  2. Que me ensina o texto de hoje para minha vida de oração?

SÁBADO

Lucas 20,27-40

PARTICIPAR NA VIDA PLENA DE JESUS

 “Não é Deus de mortos, mas de vivos”

A felicitação que um rabino faz a Jesus, “Mestre, falaste bem” (v.39), e o silêncio de seus adversários que “já não se atrevem a perguntar-lhe nada” (20,40), nos mostra a importância desta passagem.

O Senhor Jesus nos criou para a vida, a que não se esgota aqui, mas que transcende até a eternidade. A vida na eternidade tem características novas, com relação ao que agora conhecemos.

E a realização plena do agora está apenas como uma semente: o potencial da vida divina que levamos no interior.

A discussão de Jesus com um grupo de saduceus, aqueles “que mantém que não há ressurreição” (20,27), dá impulso para que Ele exponha o que nos aguarda na vida futura. A figura de Moisés e com ela dois modos de entender a experiência de Deus aparecem no ápice da discussão:

Para os saduceus

É antes de tudo o legislador de Israel que ditou o procedimento que se devia seguir quando uma mulher ficava viúva e não deixava descendência a sua família (v.28): a lei do “levirato”, segundo a qual em caso de viuvez a mulher não buscará marido em uma família estranha, mas um de seus cunhados a desposará (Dt 25,5-10).

Para Jesus

Sem negar o anterior, é o pastor que fez uma experiência do Deus da aliança no Monte Horeb quando O descobriu na Sarça ardente (v.37): ali se revelou como o Deus da vida, “não um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos vivem” (v.38).

Aplicando a lei mencionada ao caso hipotético de uma mulher que teve sete maridos (ainda conhecemos uma em Tobias 6,14), os saduceus ironizam da crença na ressurreição: “De qual deles (os sete maridos) será a mulher na ressurreição?” (v.33).

O ensino de Jesus se expõe nestes termos:

  • Expõe uma diferença entre “este mundo” e “aquele mundo” (vv.34-35). Ou seja, que não tem que por no mesmo nível a vida terrena e a vida na ressurreição. Se somos os mesmos, haverá também novidades significativas entre os “filhos deste mundo”(v.34) e os “filhos da ressurreição” (v.36b).
  • Nessa mesma ordem de ideias haverá de entender que na vida futura não terá que ficar preocupado pela vida sexual para ter filhos (“nem eles tomarão mulher, nem elas marido”,
  • v.35), já que a morte desaparecerá (“nem podem morrer”,v.36ª). De fato, na vida terrena – segundo a mentalidade bíblica – a geração de filhos tem como finalidade substituir os mortos, porque há que manter viva a promessa do Deus da Aliança.
  • A grande novidade consiste em ser “filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição” (20,36b) sublinha a eficácia da ressurreição. O jogo de palavras “filhos de… filhos de…”, nos remete ao mistério da filiação divina da pessoa de Jesus (cf. vv.41-44). Se quer dizer que, participando na ressurreição de Jesus, um discípulo do Senhor participa do mistério de sua filiação divina.
  • Para viver esta ressurreição temos que ser “dignos” dela (v.35).

A ressurreição é a realização plena da vida e a ela nos chama o Deus da Aliança, o Deus das relações vivificantes e vivificadoras, para que -enquanto estão n’Ele- “todos vivam”.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Orígenes (c. 185-243), padre e teólogo 

«São filhos de Deus, sendo herdeiros da ressurreição»

No último dia, a morte será vencida. A ressurreição de Cristo após o suplício da cruz, misteriosamente, contém a ressurreição de todo o Corpo de Cristo. Tal como o corpo visível de Cristo é crucificado, amortalhado e depois ressuscitado, assim o Corpo inteiro dos santos de Cristo é com Ele crucificado

e já não vive em si mesmo. Mas quando chegar a hora da ressurreição do verdadeiro Corpo de Cristo, do seu Corpo total, então os membros de Cristo, hoje semelhantes a ossos secos, juntar-se-ão, articulação a articulação (Ez 37,1s),cada um encontrando o seu lugar e «todos juntos constituirão um homem perfeito à medida da plenitude do corpo de Cristo» (Ef 4,13). Então a multidão de membros será um corpo, pois todos pertencem ao mesmo corpo (Rm 12, 4).

Para cultivar a semente da Palavra na vida cotidiana:

  1. Que imagens de Deus aparecem contrastadas na discussão de Jesus com os saduceus?

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  • Como entende Jesus a vida futura?

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  • Qual é o chamado que o Senhor nos faz hoje através de sua santa Palavra?

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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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