São João Evangelista (EFC)

João 20,2-8

A honra de ser testemunho de Jesus (II):

O DISCÍPULO AMADO

“Então entrou também o outro discípulo, o qual havia chegado primeiro ao sepulcro; viu e creu”

Sem dúvida, não deixa de ser fascinante o fato do autor do quarto Evangelho apresentar a si mesmo como testemunha privilegiada de Jesus: “Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que as tem escrito, e sabemos que seu testemunho é verdadeiro” (Jo 21,24).

O discípulo “amado” é modelo do discípulo ideal. Nós o temos visto associado à contemplação do mistério da encarnação: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Desde então esteve presente como testemunho privilegiado nos principais momentos da segunda parte do Evangelho. Com efeito, ele é o que:

  • Encosta sua cabeça sobre o peito de Jesus (13,20);
  • Recebe Maria por mãe ao pé da cruz (19,26);
  • Acentua a credibilidade do testificado sobre a morte de Jesus (19,35-36);
  • Testemunha o sepulcro vazio (20,8).

Sobre esta base, no quarto Evangelho, o autor parece querer dizer constantemente: “Eu vivi estas coisas e sei que são verdade”.

O Evangelho de hoje se detém, precisamente, na cena, na qual o discípulo amado se converte em testemunha da ressurreição de Jesus. A ressurreição gera mudança profunda na relação dos discípulos com Jesus. A última coisa que presenciaram de Jesus, “Verbo encarnado”, foi sua morte e sepultura. Seu corpo rígido e frio, envolto em vendas, como se costumava fazer naquela época.

Mas Jesus vence a rigidez da morte, se levanta e entra na vida eterna. Isto fora anunciado pela Escritura, como diz o texto de hoje: “Até então não haviam compreendido que segundo a Escritura Jesus devia ressuscitar dentre os mortos” (20,9). É a partir do encontro com Jesus ressuscitado que os discípulos poderão entender a Escritura e interpretar tudo o que se disse sobre Ele. O Evangelho, então, nos mostra os primeiros passos através dos quais passam Pedro e o discípulo amado, para chegar à experiência do Ressuscitado.

Encontramos Maria Madalena que, depois de ter visto que havia sido tirada a pedra do sepulcro (20,1), corre onde está Pedro e onde está o discípulo amado para dizer que levaram o corpo de Jesus e que não sabe onde está (20,2). Porém, enquanto Maria Madalena está preocupada pelo cadáver, Jesus já está ressuscitado. Os dois discípulos percorrem o caminho que Madalena passou em direção à tumba. Assustados, querem constatar pessoalmente as palavras da discípula (20,3). Cada um corre à velocidade que lhe é possível.

Ao chegar à tumba cada um deles vê um pouco mais do que viu o anterior: Maria só havia visto a pedra corrida, o discípulo amado, que foi o primeiro em chegar, viu as vendas no chão, e Pedro viu, além do mais, o detalhe do sudário dobrado em um lugar a parte (20,5-7). O que Pedro vê contradiz a explicação dada por Madalena, porque é muito improvável que uma pessoa que rouba um cadáver se ponha primeiro a desenrolá-lo das faixas que o cobrem e, muito menos, se ponha a dobrá-los cuidadosamente.

Porém, a tumba vazia não pretende ser uma prova contundente da ressurreição, mas um sinal de que Jesus deixou a tumba e venceu a morte. O ponto é que Pedro constata, com muita precisão, o estado atual do sepulcro, porém, não sabe interpretar o sinal. Ao contrário, o discípulo amado vê, afinal, o mesmo que viu Pedro, e é capaz de dar um passo adiante: “Viu e Creu” (20,8).

É verdade que só as aparições do Ressuscitado, farão inequívoco o sinal da tumba vazia e conduzirá os discípulos até o crer, porém, o caso do discípulo amado é diferente. Para ele foi suficiente “ver” alguns sinais para dar o passo do “crer”. O que convenceu ao discípulo amado foi o que viu com seus próprios olhos.

Porém, para entender, a partir de pequenos sinais, se necessita o amor. O amor deu a este discípulo visão para ler os sinais. E este amor não provém de si mesmo, mas do extraordinário amor que recebeu primeiro, por isso leva o título de “Discípulo Amado por Jesus”.

Todo o quarto Evangelho respira esta experiência fundamental. João nos dá seu testemunho oferecendo sinais para que também nós, como ele, possamos “crer” e, por esta relação estreita com Jesus, fazer o caminho que conduz à plenitude de vida que o distingue enquanto Filho de Deus (ver Jo 20,31).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

Nestes dias nos são dado muitos sinais do amor e da presença do Senhor. O discípulo amado nos ensina o caminho e as atitudes que necessitamos para lê-los e nutrir nossa comunhão tanto com Deus, como com todos os que nos rodeiam. O mistério da encarnação nos coloca na porta de entrada de um caminho espiritual profundo. A manifestação do Senhor no Natal é uma provocação para percorrê-lo.

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