EPIFANIA DO SENHOR (Estudo Bíblico)

Domingo da Epifania do Senhor

ANO C – Mateus 2,1-12

Introdução

Celebramos hoje a Epifania do Senhor, ou seja, a sua manifestação, a sua revelação a todas as nações do mundo do menino nascido em Belém.

Natal e Epifania são festas complementares que se enriquecem mutuamente. Ambas celebram, de diferentes perspectivas, o mistério da encarnação, a vinda e manifestação de Cristo ao mundo. Natal acentua mais a vinda, enquanto que epifania sublinha a manifestação.

Em outras palavras, o Natal insiste no nascimento humano do Filho de Deus, e a Epifania sublinha a manifestação de Deus, em Jesus de Nazaré, a todos os homens e povos. Manifestação universal que deve continuar a Igreja.

O que hoje celebramos na festa da Epifania, é a MANIFESTAÇÃO DE JESUS aos povos da terra, representados nos magos de Oriente.

Com uma linguagem poética e entusiasta já o havia anunciado Isaias e o temos  escutado na primeira leitura: “Levanta-te, Jerusalém, que chega tua luz, e todos os povos  caminharão a tua luz: todos se reuniram e vêm a ti” (Is 60,1).

Agora não é mais Jerusalém, a capital de Israel, a que atrai os pagãos. É Cristo Jesus, o  Salvador, quem se converteu no centro da humanidade.

Vejam, os que vinham do Oriente em sua busca, vieram, precisamente, a Jerusalém, mas ai não encontraram acolhida. Foi quando viram o Menino nos braços de sua Mãe que se alegraram em seus corações e se prostraram para adorá-lo.

Jesus foi dado à luz por Maria, a simples filha de Sião. E os pastores, obedecendo à palavra do Anjo, foram ate o presépio e encontraram ali o menino. 

Depois foi a vez dos reis magos, que, guiados pela estrela até Belém, chegaram até onde estava o menino. Dão-lhe o tratamento, não só de um «Rei dos judeus», mas de Deus mesmo, o único a quem se deve adoração.

Os magos já sabiam que havia nascido um rei, ao qual se deve adorar como Deus. Porém, o extraordinário é que também sabem que este rei, que é Deus feito homem, deverá morrer e ser sepultado; por isto oferecem: o ouro, que revela sua realeza; o incenso, que revela sua divindade; e a mirra, que é o unguento para sua sepultura.

Este mistério que estava escondido em Deus e anunciado obscuramente, por meio dos profetas, a Israel, foi manifestado a todos os povos, inclusive aos mais distantes, aqui representados pelos reis magos, vindos de Oriente.

  1. O texto

Primeiro, vemos que o texto se divide em duas partes:

  • A adoração dos Magos

distingue duas formas muito distintas de acolhida (vv.2-12)

  •  Da mãe e o menino, que os acolhem;
  •  De Herodes e Jerusalém, que os rejeitam
  • Um itinerário à maneira de um novo êxodo: Belém, Egito, Nazaré (vv.13-23).

Segundo, a narração, em seu conjunto, se desenvolve em quatro cenas:

  • A adoração dos Magos,
  • A matança dos inocentes,
  • A fuga ao Egito e
  • A volta de Egito.

Dois personagens estão presentes nas quatro cenas. São dois reis em planos opostos.:

  • Jesus, o protagonista principal;
  • Herodes, o antagonista cruel.

Mateus contrapõe o poder e crueldade de Herodes à debilidade e candura do Menino rei. Cada cena é comentada com uma citação do Antigo Testamento, de forma que o enfrentamento entre os dois reis se constrói e interpreta à luz das Sagradas Escrituras.

  • O contexto

No versículo 1 temos o contexto. Com efeito, o texto começa assim: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém” .

  •  Belém da Judeia

Uma antiga profecia de Miqueias, anunciada 800 anos aC, declarava a importância de Belém de Judá: «E tu, Belém Efrata, pequena entre os clãs de Judá, de ti sairá, para mim, aquele que governará Israel» (Mq 5,1).

Belém é um povoado localizado a cerca de 9 Km ao sul de Jerusalém, e o seu significado de origem hebraica é  “Casa do Pão”. Chama-se Belém de Judá, para a não confundir com outra Belém, menos conhecida, no território de Zabulão.

No Antigo Testamento, a importância da cidade de Belém está ligada a Davi. Foi ai que Davi viveu e foi ungido como rei, pelo profeta Samuel. No Novo Testamento está, especialmente, relacionada com o Nascimento de Jesus.

Em Belém, sobre o lugar ou a gruta onde nasceu Jesus, segundo escreveu São Justino, o Imperador Constantino e a sua mãe, santa Helena, mandou edificar uma Basílica com uma capela, indicando o lugar onde Jesus tinha nascido. Mais tarde, o imperador Justiniano (527-565), mandou substituir esta Basílica por uma nova que se chamou Igreja da Natividade.

Na região de Belém há ainda várias grutas de pedra calcária que têm servido, até em tempos mais recentes, como abrigo para homens e animais. Na presente Igreja da Natividade, há um lugar assinalado por uma estrela onde, segundo a tradição, Jesus teria nascido.

  •  O rei Herodes

Herodes, cognominado “o Grande”, chegou a ser chamado “o gênio malvado da nação judia”. Herodes não era judeu, mas de origem indumeia ou edomita. Os idumeus eram decendentes de Esaú (também chamado Edon), filho de Jacó e Rebeca. Estes foram conquistados no século II a.C. por Hircano e obrigados por este a viver como judeus, para ser considerados como tais

Herodes e seus filhos eram construtores. Com as rendas do reino na mão adornou seu território com cidades e templos em honra do imperador e dos deuses. Construiu, assim, Samaria e edificou Cesareia com seu magnífico porto. Devido a seus gostos gregos, Herodes erigiu teatros, anfiteatros e hipódromos para os jogos que se celebravam em tempos definidos, inclusive em Jerusalém.

Sua vida supera em muito à dos heróis de ficção. Os horrores da família de Herodes contrastavam fortemente com o esplendor de seu reino. Parecia sujeito a uma maldição. Havendo desposado dez mulheres com as quais teve muitos filhos, fez com que o demônio da discórdia provocasse frequentes tragédias familiares. Mandou matar Mariamna, esposa que muito amava, e os três filhos que teve com ela, os quais, Antípatro, filho nascido de Dóris, outra esposa, havia acusado de conspirar contra a vida de seu pai. Também este, foi morto por Herodes, após descobrir que o mesmo pretendia assassiná-lo.

Enfim, acometido de uma enfermidade que o levaria à morte, recolheu-se em um balneáreo a leste do mar Morto. Quando se acercava seu fim, deu ordens de encerrar no hipódromo de Jericó os principais personagens do país e matá-los enquanto ele morresse. Não foi obedecida ordem tão bárbara. Pelo contrário, os judeus celebraram o dia de sua morte como um dia de festa. (Grätz,”Gesch.D.Jud.”,III). Arquelau, um dos três filhos a quem Herodes havia nomeado herdeiro, o sepultou com grande pompa em Herodion, ao sudeste de Belém, na tumba que o rei havi preparado para si mesmo (Flávio Josefo).

  •  Os magos de Oriente

Os primeiros a aproximar-se de Jesus foram os pastores, que eram as primícias dos judeus e estavam perto; depois vieram os Magos, de longe, como ‘primícias dos pagãos’, na expressão de Santo Agostinho. Os magos são a demonstração mais clara da universalidade da salvação.

São Beda, o Venerável (673-735), Doutor da Igreja e monge beneditino, é quem, por primeira vez, escreveu o nome dos três: Gaspar, Melquior e Baltasar. O nome “Magos” não deve ser tomado com as conotações próprias de nossos tempos. Naquela época, este termo era atribuído a certas pessoas que tinham poder e muita distinção, em especial pelos conhecimentos científicos, sobretudo de astronomia. Além disso, a tradição os apresenta como reis. É também por tradição que consta serem três, terem sido batizados mais tarde por São Tomé Apóstolo e, tempos depois, martirizados. As relíquias dos Reis Magos se encontram hoje na catedral da cidade de Colônia, na Alemanha.

Sobre o país de origem – Caldeia, Arábia ou Pérsia -, são puras hipóteses. Para São Beda, como para os demais doutores da Igreja que falaram deles, os três representavam os reis de todo o mundo. Mas, o mais importante a considerar na história desses misteriosos personagens é o real e profundo motivo da longa viagem empreendida por eles: adorar o rei divino.

Essa adoração prestada pelos Magos comprova a verdadeira ação do Espírito Santo nas suas almas. Também seus presentes: ouro, o que na Antiguidade queria dizer reconhecimento da realeza, pois era presente reservado aos reis; incenso, em reconhecimento da divindade, era reservado aos sacerdotes; e mirra, em reconhecimento das dores da Paixão redentora, presente para um profeta.

Deste modo, é Jesus reconhecido como Rei, Deus e Profeta. Em coerência com essa visão, a exegese católica interpreta a chegada e a adoração dos Reis Magos como o cumprimento da profecia de Davi: “Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons. Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações” (Sl 71,10-11). O maravilhoso destes magos de Oriente, que caminharam até Jerusalém desde a escuridão de seu paganismo, é que foram capazes de ver o Rei que buscavam no Menino que encontraram.

Não se volta a saber nada mais deles nas Escrituras, porém nenhum rei da história da humanidade, do qual sabemos pontualmente sua trajetória desde o nascimento até a morte, resistiu ao tempo mantendo intacta sua popularidade e seu frescor como estes três Reis Magos que, todos os anos, passam pelo mundo fazendo o milagre de partilhar com os demais a alegria que viveram em Belém.    Os homens que abandonaram suas comodidades para caminhar seguindo a estrela da fé, nos ensinam a não desanimar, quando temos a impressão de que fracassamos, pois o fracasso significa que ainda não nos temos esforçado o suficiente para conseguir o que desejamos, o que Deus tem para nós planos que, sem dúvida, são melhores que os nossos.

  • Aprofundando
  •  A estrela de Jesus(v.2)

Nas Sagradas Escrituras vemos Deus, muitas vezes, comunicar-se aos homens por meio de sinais na natureza: a brisa da tarde no Paraíso, o arco-íris após o dilúvio, a sarça ardente, a diáfana nuvem de Santo Elias etc. E em seu próprio nascimento, quis Ele usar de um sinal no céu: a Estrela de Belém. Esse fato nos é narrado apenas por um dos quatro evangelistas: São Mateus

Embora várias tentativas de explicação científica não tenham dado respostas plenamente satisfatórias ao mistério da Estrela de Belém, isso em nada diminui o mérito dos esforçados estudiosos que, com reta intenção, buscam desvendar os enigmas da natureza.

Mas deixando essas hipóteses de lado por um momento, voltemos nossos olhos à outro aspecto da questão: o campo teológico, onde se considera que essa estrela era a realização da profecia do Antigo Testamento: “Uma estrela avança de Jacó, um cetro se levanta de Israel” (Nm 24,17).

Alguns defendem que Mateus fez uma interpretação das tradições da época, referindo-se ao astro não como uma estrela no sentido literal, mas como símbolo do nascimento de um personagem importante.

Mas São Tomás de Aquino já havia pensado nisso em sua época e resolveu a questão na sua Suma Teológica (III,q.36,a.7), usando cinco argumentos tirados de São João Crisóstomo:

  • Esta estrela seguiu um caminho de norte ao sul, o que não é comum ao geral das estrelas;
  • Ela aparecia não só de noite, mas também durante o dia;
  • Algumas vezes ela aparecia e outras vezes se ocultava;
  • Não tinha um movimento contínuo: andava quando era preciso que os magos caminhassem,

e se detinha quando eles deviam se deter, como a coluna de nuvens no deserto.

  • A estrela mostrou o parto da Virgem não só permanecendo no alto, mas também descendo,

pois não podia indicar claramente a casa se não estivesse próxima da terra.

Mas se esse astro não foi propriamente uma estrela do céu, o que era ela? Segundo o próprio São Tomás, ainda citando São João Crisóstomo, poderia ser:

  • O Espírito Santo, assim como ele apareceu em forma de pomba sobre Nosso Senhor em Seu batismo, também apareceu aos magos em forma de estrela;
  • Um anjo, o mesmo que apareceu aos pastores, apareceu aos reis magos em forma de estrela;
  • Uma espécie de estrela criada à parte das outras, não no céu mas na atmosfera próxima à terra, e que se movia segundo a vontade de Deus.

Como solução ao mistério da Estrela de Belém, São Tomás de Aquino acreditava ser mais provável e correta esta última alternativa.

De qualquer forma, temos a certeza de que essa estrela continua a brilhar não só no alto das árvores de Natal, mas principalmente na alma de cada cristão ao comemorar a Luz nascida em Belém para iluminar os caminhos da humanidade.

  •  O sobressalto de Herodes e Jerusalém (v.3)

No versículo três deste evangelho se diz: “Ouvindo isto, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém”. Esta é a realidade de todos os que habitam nas sombras. Estão dominados por um estado permanente de medo, dúvida e confusão.

Nas sombras está o palácio de Herodes e o poder de Jerusalém; temiam serem derrubados de seus tronos, de suas posições privilegiadas, dos favoritismos que lhes proporcionavam o poder vigente, de seu gênero de vida desonesto que oprimia e gerava revolta no coração do povo simples de Israel.

Fica, pois, à sombra, de modo paradoxal, precisamente o lugar onde os três Reis Magos levam a notícia do nascimento do Messias, a qual não suscita alegria, mas temor e reações hostis. Misterioso desígnio divino, como está escrito: A luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más” (Jo 3,19).

Mas, nas sombras estava, ainda, todo o povo simples de Israel que cria que o Messias viria, mas não como um frágil menino, mas como um poderoso rei, revestido de ufania e poder a fim de salvá-los do jugo dos poderosos de seu país e da tirania de todos os reis da terra.

Não sabiam, todos eles, que tanto quanto distam os céus da terra, assim distam os pensamentos de Deus dos pensamentos dos orgulhosos: “Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou” (Lc 1,51-52)

Sem dúvida, não saem das sombras em que vivem porque sua “sabedoria” não é capaz de pô-los em movimento rumo à luz que anunciam, mas, que, ao contrário, os põe em guarda contra ela.

  • A Herodes, a resposta dos entendidos serve para atacar, violentamente, ao Rei descoberto, no qual vislumbra, ainda que confusamente, uma ameaça para seu trono e seu gênero de vida.
  • Aos intérpretes da lei a Profecia de Miqueias serviu para por em perigo a vida de Jesus, que foi salvo da morte, graças ao anjo que apareceu em sonhos a São José.
  • Ao povo em geral os fatos correntes serviram para gerar um estado de exaltação puramente humano e inteiramente contraditório àquela alegria que tomou conta do coração dos pastores de Belém ao receberem a mensagem do coro de anjos anunciando-lhes o nascimento do Salvador.

Apenas a um pequeno “resto”, os verdadeiros filhos de Israel, um povo tão humilde e tão pequeno, que ninguém tinha em conta, Deus revelou seus caminhos e por meio dos mesmos levou a termo seu plano de salvação. “Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre!” (Lc 2,54-55).

À frente destes “pobrezinhos” Deus colocou uma mulher escolhida por Ele e a descendência dela: um Menino gerado em seu ventre por pura obra do Espírito Santo. “Maria então disse: ‘Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus, em meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão bem aventurada, pois o todo poderoso fez grandes coisas em meu favor’” (Lc 2,46-49)

Só eles sabiam até que ponto esse Menino ia socavar os alicerces da vida dos orgulhosos de seu país e ia mudar radicalmente o curso da história da humanidade, deixando a descoberto a debilidade dos sistemas e planos humanos, tanto pessoal como político, social e religioso.

  • Os intérpretes das Escrituras de Israel(vv.4-6)

Como já foi dito antes, nas sombras estavam os intérpretes das Escrituras de Israel, pois sabiam muito bem o que estava escrito na Sagrada Escritura.

Com efeito, ao serem consultados, responderam com toda exatidão à pergunta que, forçados pelas circunstâncias, os fez Herodes sobre a origem do nascimento do Rei Messias, citando a profecia de Miqueias: «E tu, Belém Efrata, pequena entre os clãs de Judá, de ti sairá, para mim, aquele que governará Israel” (Mq 5,1).

Preferiram ficar do lado de Herodes. Obcecados pelo prestígio e o poder, sabiam também até que ponto esse Menino ia socavar os alicerces de suas vidas deixando a descoberto a debilidade dos sistemas e planos humanos, tanto pessoal como político, social e religioso.

Preferiram ficar com a Lei. Confundidos, não percebiam que esta lei já não libertava. De tantos adendos que foram sendo acrescentados, chegou a se tornar um jugo pesado e impossível de ser levado, até mesmo por eles próprios.

Não foram capazes de acolher no coração a simplicidade e candura de Deus manifestada num menino recém-nascido e posto entres panos num cocho de animais, na mais completa pobreza.

Por isso, ironicamente, os líderes religiosos que criam no cumprimento literal das profecias, quando foram alertados pelos magos de que seu Redentor havia nascido, apesar de recordarem profecias não creram e nem jamais aceitaram Jesus quando iniciou seu ministério público.

  • Os planos malévolos de Herodes (v.7)

“Herodes chamou em segredo aos Magos”. Não quer que seus planos sejam conhecidos. Mostra sua hipocrisia enganando aos Magos. Aferrado a seu poder e egoísmo, resiste à luz e quer expulsá-la.

O erro de Herodes foi o não dar-se conta de que a oportunidade de uma viagem para a felicidade e salvação lhe estava sendo ofertada por Deus, ao enviar, até ele, os reis magos para que tivesse a graça de conhecer o Rei Messias a fim de viver. Como o ladrão arrependido, por os olhos no olhar daquele recém-nascido e sentir-se perdoado de todas as sua culpas. Mas preferindo as trevas à luz, continuou no seu caminho de morte e escuridão. De fato, Herodes morrerá desastra­damente dentro de pouco tempo, enquanto Jesus viverá e será bendito por toda a humanidade de todos os séculos. Na história da Igreja se tem repetido este exemplo centenas de vezes.

Admiremos a inutilidade dos esforços do homem contra Deus, revelada na ocasião presente. Herodes é poderoso, sagaz, com sábios conselheiros e auxiliares; oculta, cuida­dosamente, seus planos; não esquece nenhum dos fatores que po­dem levá-lo ao conhecimento de Jesus a fim de matá-lo.

Deus se ri dele. Muitas vezes recorre, Deus, a meios extraordinários de sua Providência para vencer o humano e ineficaz esforço, como neste caso, em que contempla milagrosamente os Magos.

Não os desanimou nem o longo caminho, nem as ambigüidades de Herodes, nem a indiferença dos judeus, nem o ocultamento da estrela… Pois vez e outra voltava a estrela a aparecer e, então, se enchiam de profunda alegria. Até que veio a deter-se, exatamente onde estava o Menino e sua mãe. E, assim, caindo de joelhos, o adoraram e tiraram de seus cofres, embora mesclados com o pó e a areia do deserto, o ouro, o incenso e a mirra… e voltaram, então, para as suas casas, com seus corações transbordantes de alegria.

  •  A mudança de planos dos magos (v.12)

É difícil crer como os reis magos não captaram a astúcia de Herodes, que não queria localizar o Rei dos judeus para adorá-lo, mas para executar o plano diabólico que concebera em seu coração de eliminá-lo, a fim de livrar-se deste adversário de uma vez por todas.

Ainda que os magos tivessem a intenção de voltar a Jerusalém para comunicar a Herodes onde podia encontrar o Rei dos judeus, com certeza receberam uma revelação, mediante a qual souberam que deviam voltar a sua terra – segundo nos indica a tradição-, tomando um atalho pelo rio Jordão.

Encontrar-nos com Jesus, vai sempre significar que temos que mudar, radicalmente, os nossos planos e, até mesmo de vida. Somos capazes de abrir-nos à Palavra de Deus, para que o Espírito Santo possa soprar novos ventos e levar-nos por caminhos por onde, certamente, não queremos ir?

  • Aprofundemos com os Padres da Igreja:

São João Crisóstomo (c.345-407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Irmãos, sigamos os Magos, deixemos os nossos costumes pagãos.

Partamos! Façamos uma longa viagem para vermos Cristo.

Se os Magos não tivessem partido para longe do seu país, não teriam visto Cristo.

Abandonemos também os interesses da terra.

Enquanto estavam no seu país os magos só viam a estrela, mas, quando deixaram

a sua pátria, viram o Sol da Justiça (Mc 3,20).

Melhor dizendo: se não tivessem empreendido generosamente sua viagem,

nem sequer teriam visto a estrela.

Levantemo-nos pois, também nós, e mesmo que todos se espantem em Jerusalém,

corramos até o local onde está o Menino.

Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe; e, ajoelhando, prostraram-se

 ante ele; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe seus presentes.

«Que motivo os levou a prostrarem-se ante esta criança?

Nada de assinalável quer na virgem, quer na casa; nem um objeto capaz de ferir o

olhar e os atrair.

E, contudo, não contentes de se prostrarem, abriram os seus tesouros, presentes que

não se oferecem a um homem, mas apenas a Deus – o incenso e a mirra simbolizam a

divindade. Que razão os levou a agir dessa forma?

A mesma que os decidira a abandonar a sua pátria, a partir para essa longa viagem.

Foi a estrela, quer dizer, a luz com que Deus enchera o seu coração e que os conduzia,

a pouco, a um conhecimento mais perfeito.

Se não tivessem tido essa luz, como poderiam ter rendido tais homenagens, se aquilo

que viam era tão pobre e tão humilde?

Se não há grandeza material, mas apenas a manjedoura, um estábulo, uma mãe despida

de tudo, é para que vejas mais nitidamente a sabedoria dos Magos, e compreendas que

vieram, não até um homem, mas até um Deus, seu benfeitor.

  • Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
  1. Será que nós, os discípulos do Senhor, somos capazes de testemunhar a salvação definitiva que Deus nos trás por meio de Jesus?

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  • Somos capazes de dar este testemunho, manifestar aos demais com nossa vida de família, somos capazes de dar este testemunho mediante um comportamento que todos os demais podem ler em nós e que lhes fale de Deus?

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Refiro-me a um comportamento de cordialidade, de simpatia, de respeito, de tolerância, de cuidado por você.

  • Jesus manifestava Deus em seu rosto bendito, em sua carne humana, em sua maneira de ser e em todas as duas atitudes. Não será que nós também não devemos manifestar em nossa carne e em nossas atitudes que vivemos segundo os valores do Reino?

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     E é assim que vos convido à oração. 

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