ESTUDO BÍBLICO NA 16ª SEMANA COMUM ANO 2019

PISTAS

Um apoio para a Lectio Divina 16ª Semana da Tempo Comum

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

SEGUNDA-FEIRA

João 20,1-2.11-18

ENCONTRO COM O RESSUSCITADO (II): NA AUSÊNCIA DE UMA PLENA COMUNHÃO NA ALIANÇA.

“Mulher, por que chorar? A quem buscas?”

 

Maria Madalena foi a primeira a descobrir o túmulo vazio e a levar, aos discípulos, a notícia, dando sua própria explicação: “Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde lhe puseram” (Jo 20,1-2).

 

Ela também tem o privilégio de ser a primeira a encontrar o Senhor (20,11-18). Sua notícia então será diferente: “Eu vi o Senhor” (20,18). É assim como Maria passou do escuro da madrugada à luz radiante da Páscoa. Hoje faremos com Maria de Magdala este caminho.

(1) As lágrimas de Maria (20,11ª)

Enquanto os dois discípulos voltam para casa, deixando atrás a tumba vazia com suas vendas pelo solo (20,10), Maria permanece em lágrimas junto à tumba, fechada a última recordação tangível que lhe resta de Jesus: “Estava Maria junto ao sepulcro chorando” (20,11ª).

Maria está agarrada ao que de alguma maneira lhe transmite uma proximidade com Jesus. Porém, agora a dor é dupla: segundo ela, roubaram o corpo do Senhor (20,2.13.15).

Nos primeiros versículos se repete a palavra “chorar” quatro vezes. Porém cada vez é diferente: Maria, já faz num caminho pascal, que tem seu momento cume no reconhecimento do Amado e se projeta ainda muito além, na nova comunhão de vida à qual a convida o Jesus glorioso.

(2) Um progressivo reconhecimento de Jesus (20,11b-16)

Maria dá um passo importante em seu caminho de fé quando é capaz de olhar dentro do sepulcro, saindo, assim, de sua paralisia emocional e quando começa a dizer o que sente. Primeiro a interrogam os dois anjos que estão sentados sobre o sepulcro: “Mulher, por que choras?” (20,13).

Em sua resposta (20,13b) se nota um fio de esperança: crer que o assunto vai se solucionar apenas recupere o corpo. Logo a interroga Jesus Ressuscitado, a quem ela não reconhece a primeira vista: “viu a Jesus, de pé, porém não sabia que era Jesus” (20,14). Maria o confunde com o jardineiro.

Desta vez a pergunta tem um novo elemento: “A quem buscas?” (20,15a). Esta pergunta é conhecida no Evangelho: aparece no começo e ao final do caminho do discipulado (1,38 e 18,4.7). O assunto não é um “que”, mas um “quem”, uma pessoa, uma relação viva, que faz falta.

Maria vai sendo, pouco a pouco, conduzida ao núcleo do mistério. A resposta de Maria reflete, então, todo seu amor: “eu o buscarei!” (20,15b). E é aqui onde se revela Jesus, chamando-a, como o Bom Pastor (10,3), por seu próprio nome: “Maria!”. Ela compreende e o reconhece: “Mestre!”, um título que, em João, somente os discípulos usam para dirigir-se a Jesus (1, 38.49; 4,31;9,2; 11,8).

Jesus e Madalena se chamam reciprocamente segundo a maneira como o faziam antes da sua morte. A relação entre Jesus e seus amigos não muda internamente, mas sim, pelo novo estado do Ressuscitado, muda sua forma externa. A experiência do Ressuscitado é a resposta a um chamado.

É no reconhecimento de sua voz que se dá o verdadeiro reconhecimento de Jesus. Esta voz nos chama em todas as circunstâncias e encontros da vida, nos quais temos viva a chama do amor, estaremos em capacidade de ler, nos sinais, um toque do esplendor de Jesus em todas as coisas.

(3) Maria e seu novo estilo de relação com Jesus (20,17-18)

 

Maria cai aos pés de Jesus para abraçá-lo, porém Jesus lhe diz: “Não me toques, não subi ao Pai” (20,17ª).

O intento de reter Jesus parece indicar a vontade de permanecer aferrada ao Jesus que conheceu em sua etapa terrena. Porém, Jesus a leva a olhar para o futuro da relação: “Vai aos meus irmãos e diz-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus” (20,17b).

 

Jesus deixa entender, a Maria, que não está vivendo sua existência terrena e que ela não o terá como antes: Ele regressa ao Pai onde tem seu lugar próprio. Está na última etapa de seu caminho.

Maria e os discípulos estão convidados a percorrê-lo, para isto devem compreender que significado tem para eles a plena comunhão de Jesus com o Pai: Pela primeira e única vez Jesus os chama “meus irmãos”; Pela primeira e única vez Jesus declara que Deus é o “Pai” dos discípulos.

 

Eis aqui uma nova revelação do Ressuscitado: os discípulos sabem que Deus também é seu Pai e que através deste Pai eles estão unidos a Jesus como irmãos.

Chega-se, assim, ao cume da Aliança. A antiga fórmula Eu serei vosso Deus e vós sereis meu povo”, tem uma nova expressão na Páscoa de Jesus que, por este caminho, insere os discípulos de maneira plena em sua estreita relação com o Pai: “Meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.

Este é o extraordinário dom de amor que os discípulos receberam do sacrifício do Filho na Cruz (3,16): este é o amor que Deus oferece ao mundo… Assim, por meio de sua morte e ressurreição Jesus regressa ao Pai, não para separar-se dos seus, mas para unir-se a eles de modo pleno e definitivo através de sua comunhão com o Pai (14,1-3; 16,7.22;).

Maria Madalena chorava um defunto, porém, Jesus Ressuscitado a orienta pelo caminho correto pelo qual deve agora buscá-lo: a relação viva de amor, que havendo começado com o Jesus terreno se orienta de maneira definitiva para a comunhão total com a Trindade.

A Ressurreição de Jesus não é uma perca, pois agora o Mestre está mais unido que nunca aos seus e os atrai, vigorosamente, para a perfeita aliança. Em que se parece o caminho de fé de Maria ao meu?

 

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

 

Maria é a discípula que fica paralisada frente à tumba e, portanto, frente ao feito da morte; o Evangelho a retrata como a discípula das lágrimas. Pois bem, Maria é cada um de nós frente à dor, às desgraças que nos desanimam.

Nas lágrimas de Maria estão as lágrimas de cada um de nós, sinal de nossa debilidade. Choramos porque nos deparamos com a barreira de nossas limitações, com o cruel fato de que há coisas que, por mais que queiramos, não podemos mudar. Choramos porque nos sentimos incapazes dos sinais do ressuscitado, porquenão vemos um caminho de saída para nossas angústias, para nossas inquietudesmais profundas, nossas perguntas sérias. Como se vê na passagem seguinte, transcender as lágrimas é um dom de Deus. Será Jesus ressuscitado que, com sua sabia pedagogia e sua misericórdia, abrirá os olhos à realidade da ressurreição. O que você viu no caminho, Maria, naquela manhã? ‘O meu Senhor glorioso, a sepultura abandonada, anjos testemunhas, sudários e mortalha. Ressuscitou Verdadeiramente! Meu amor e minha esperança!'” (Da Liturgia Romana)

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TERÇA-FEIRA

Mateus 12,46-50

SOMOS FAMÍLIA DE JESUS QUANDO VIVEMOS SEGUNDO A VONTADE DO PAI CELESTIAL

“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”

Estava falando à multidão… ” (12,46) quando, de repente, chegaram os familiares de Jesus, “ sua mãe e seus irmãos ”, e ficaram esperando fora (12,16a).

Quando Jesus toma conhecimento do propósito de sua família, responde: “Estes são minha mãe e meus irmãs, pois todo o que cumpre a vontade de meu Pai celestial, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (12,49b-50).

Bem sabemos que, na maneira de falar daquele tempo, aos parentes próximos, também se chamava “irmãos” (Lv 10,4). Por essa razão não haveria que buscar aqui motivos para por em discussão se a Virgem Maria teve mais filhos.

O certo é que, segundo o texto, a menção da palavra “irmãos” dá ocasião para que Jesus se pronuncie sobre qual é sua verdadeira família.

Para isso, Jesus faz uma distinção entre a família natural (biológica) e a família espiritual que nasce do discipulado, onde os laços que geram vínculos são mais estreitos e fortes que os da família natural.

Segundo o texto, Jesus não sai ao encontro deles, mas, que, ao assinalar dentro da casa em que está, qual é sua verdadeira família, os convida a entrar, a tomar parte dela.

O parentesco biológico com Jesus é insuficiente, pois, ter parte com Jesus leva a reconhecer a sua verdadeira identidade e não aprisioná-lo nos conceitos que se tenham dele pela simples convivência na infância.

Em outras palavras, se requer a aprendizagem do Evangelho. A família de Jesus é a comunidade dos “pequenos” que, mediante a escuta da Palavra e a conversão a ela, vai crescendo, levada pela mão do Mestre e conduzida para a plenitude de toda família, que é a relação trinitária (28,19).

A comunidade de Jesus personifica a todas as pessoas que optam de coração por Ele e elegem viver segundo os critérios de seu Evangelho, encarnando as bem-aventuranças e todos os ensinamentos de Jesus, fazendo presente, desta forma, sua obra salvadora em suas vidas.

O núcleo da passagem encontra-se na frase: “cumprir a vontade de meu Pai Celestial” (12,50).

Mateus menciona, expressamente, o termo “Pai” e não, simplesmente, “Deus”, já que a captação da vontade de Deus está intrinsecamente relacionada com esta revelação da paternidade divina, da qual Jesus faz derivar todo o Evangelho.

É a comunhão com este Pai que permite falar, com certeza, de uma “verdadeira família”. A vida desta nova família encontra seu sentido no mistério do Reino que se realiza na história, assim como veremos amanhã nas Parábolas de Jesus.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Santo Agostinho

 

Quando oramos, nunca devemos perder-nos em tantas considerações, tentando saber

o que temos a pedir e temendo não conseguir orar como nos convém.

Por que não dizer com o salmista:

“Uma coisa peço ao Senhor e é o que busco: habitar na casa do Senhor por

 toda minha vida,contemplar a beleza do Senhor examinando seu templo”

(Salmo 26,4)

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  • Para que buscam os familiares (biológicos) a Jesus?
  • Como se entende a palavra “irmãos de Jesus” nesta passagem?
  • De que maneira uma pessoa se faz “familiar” de Jesus?

 

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QUARTA-FEIRA

Mateus 13,1-9

A Parábola do Semeador

 “Saiu um semeador a semear…”

Começa uma nova seção do Evangelho de Mateus. Trata-se do terceiro grande discurso formativo de Jesus a seus discípulos. Os dois primeiros, (a) o Sermão da Montanha (5-7) e (b) o Manual da Missão (10), constituem como dois degraus no caminho de maturidade dos discípulos.

Este novo discurso se centra em um aspecto importante do discipulado: Jesus não só disse o que deve fazer, mas, tendo em vista a maturidade da fé dos seus, também os ensina a discernir a vontade de Deus em cada circunstância da vida.

Para isto usa parábolas, as quais são verdadeiros exercícios de discernimento espiritual que tratam de captar o acontecer discreto do Reino em meio às diversas circunstâncias da vida e motivam para fazer a eleição correta da vontade de Deus. É assim como se descobre a natureza surpreendente do Reino.

O ensinamento de Jesus se desenvolve ao longo de sete parábolas bem ordenadas. Após breve introdução (13,1-2), começam as parábolas: (1) O semeador (13,1-9); (2) O joio e o trigo (13,24-30); (3) O grão de mostarda (13,31-32); (4) O fermento (13,33); (5) O tesouro escondido no campo; (6) A pérola do mercador (13,45-46) e  (7) A pesca na rede que apanha tudo (13,47-50). Finalmente, encontramos outra breve conclusão (13,51-52).

Observemos que: (1) As quatro primeiras parábolas estão baseadas em tema de vegetação e educam no discernimento propriamente dito; (2) As outras três parábolas são para motivar a decisão. É que é possível ter claro que fazer mas nunca se chega a fazer; e (3) A última parábola confirma que estas estão apresentadas em chave de discernimento: é como o pescador que a cada dia senta a beira do mar a recolher da rede o que lhe serve e devolver ao mar o que não serve ou ainda não está maduro.

Assim, a vida do discípulo, todos os dias e neste esforço contínuo, deve perseverar para conduzir uma vida segundo a vontade do Deus do Reino.

Notemos o ambiente do discurso: “Aquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se a beira do mar” (13,1). Sai da casa onde estava e vai à beira-mar. A multidão que se reúne ao redor é grande (13, 2). Ele sentado em uma barca e a multidão de pé à beira-mar. Neste belo cenário inicia o seu ensinamento.

A parábola do semeador (13,3-9), a primeira a contar, distingue diversos tipos de terrenos nos quais caem as sementes lançadas pelo semeador, destacando, ao final, um terreno apto para a imensa produção de que é capaz uma simples semente.

Para penetrar o sentido desta parábola, tenhamos em conta esta e a explicação que vem mais adiante (que é muito mais que uma explicação, é quase outra parábola), na realidade constituem as duas faces de uma moeda: a primeira enfatiza a “graça” de Deus e a segunda a “responsabilidade” humana.

O comportamento do semeador, que é um profissional na matéria, certamente, parece estranho quando deixa cair algumas sementes em terreno impróprio para o cultivo.

Sem dúvida, isto corresponde à realidade do Evangelho: mais que a qualidade da terra, o que vale é a qualidade da semente. Assim fazia Jesus: lançava sua semente nos corações sobre os quais os fariseus já haviam dado seu ditame negativo e consideravam excluídos da salvação.

Então a imagem de um semeador lançando as sementes nos três primeiros terrenos é um retrato da obra de Jesus que não veio “chamar justos, mas pecadores” (9,13).

Sobretudo se proclama a bondade de Deus, que não tem limites para oferecer suas bênçãos (6,45), porém, isto implica, da parte de cada homem, o fazer de si mesmo “boa terra” para que a semente da Palavra possa crescer.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo Agostinho

Para alcançar esta vida bem aventurada, a própria verdadeira Vida, em pessoa,

nos ensinou a orar, não com muitas palavras, como se por isso, fossemos melhor escutados quanto mais prolixos sejamos (…).

Pode parecer estranho que Deus ordene fazer petições quando Ele já conhece,

antes que o peçamos, o que necessitamos.

Devemos, sem dúvida, considerar que a Ele não importa tanto manifestar nossos

desejos, coisa que conhece perfeitamente, mas que estes reavivem em nós mediante

a súplica para que possamos obter o que já está disposto a conceder-nos (…)

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  • Em torno a qual idéia fundamental gira a exposição das sete parábolas de Mt 13?

Qual é a mensagem da parábola do semeador?

  • Como aparece retratado o ministério profético de Jesus nesta primeira parábola?
  • Atrevo-me a fazer as mesmas ações nas quais todos crêem que não há esperança de mudança?

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QUINTA-FEIRA

Mateus 13,10-17

CONHECER OS SEGREDOS DO REINO

“A vós foi dado conhecer os segredos do reino”

Jesus acabara de contar a parábola do semeador para uma multidão que havia se juntado na margem do lago disposta a escutá-lo. O texto o apresenta subindo a uma barca.

Terminado o relato, ou melhor, os relatos, porque, segundo diz o texto: “explicou-os muitas coisas em parábolas” (v.3), os discípulos então se aproximaram e perguntaram-lhe por que falava Ele em parábolas à multidão (v.10).

A resposta de Jesus é um pouco enigmática, e quase, diríamos, divide seus ouvintes em dois grupos:

  • Aqueles que fizeram um processo na compreensão, assimilação e vivência da Palavra; e
  • Aqueles que, mesmo tendo-a escutado, não se empenharam em um caminho de conversão pessoal.

Jesus disse a seus discípulos que não é por eles que fala em parábolas, pois já fizeram um caminho na compreensão dos ‘segredos do reino’.

Passemos à resposta de Jesus (vv.11-17): “A vós foi dado a conhecer os mistérios do Reino dos céus, porém, a eles não” (v.11).

Não podemos pensar que se trate de um privilégio ‘dado’ a alguns (que compreendem), e ‘negado’ a outros (que não compreendem). O compreender ou não, é fruto de um caminho de conversão, de intimidade com Jesus e abertura consciente à sua palavra, e requer esforço.

Não é um simples ouvir a Palavra e deixar que resvale, sem que toque a vida. “Pois, àquele que tem, será dado mais ainda, e terá em abundância; mas o que não tem, será tirado até o pouco que tem.” (v.12).

Para quem fez um caminho sério de abertura e confrontação com a Palavra de Deus, tudo o que acontece é ocasião de crescimento, de riqueza interior: ser-lhe-á dado mais.

Porém, para quem não percorreu este caminho, o pouco que poderia ter, o perde. Jesus é muito duro quando diz: “ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado”.

“É por isso que lhes falo em parábolas, porque vêem sem ver, e ouvem sem ouvir nem entender” (v.13). Então, estas pessoas se torna impermeável à ação de Deus e a todas os modos como Ele quer se aproximar delas. Jesus, nesta hora, cita uma dura profecia de Isaias: (vv.14-15).

A causa de tal fechamento é o coração endurecido que não deixa penetrar a ‘boa nova’ de Cristo. Mateus sublinha três partes do corpo: coração, olhos, ouvidos. O coração fechado impede ver e ouvir.

É dura a expressão do profeta Isaías que então cita Jesus: “Por mais que escutem não compreenderão. Por mais que olhem não verão”. É a surdez e a cegueira espirituais causadas pela também espiritual arterioscleroses do coração.

Jesus termina com uma bem-aventurança para seus discípulos:

Mas felizes os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, e ouvir o que ouvis, e não ouviram” (vv.16-17).

Não tanto porque têm olhos e ouvidos bons, mas porque seu coração é bom e reto e capta, sem dificuldade, a mensagem de Jesus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  • Segundo Jesus, qual é a verdadeira causa de não ouvir, ver, nem compreender sua Palavra?
  • Examino meu coração, como o acho em relação com a escuta da Palavra?
  • Que me pede o Senhor em relação ao Evangelho de hoje?

 

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SEXTA-FEIRA

Mateus 13,16-17

DITOSOS OS OLHOS QUE VÊEM E OS OUVIDOS QUE OUVEM:

“Muitos profetas e justos desejaram ver…, e não viram, ouvir…, e não ouviram.»

 

Todo o que foi dito nos versículos anteriores explica esta frase final: Ditosos vossos olhos, porque vêem, e vossos ouvidos, porque ouvem! Pois os asseguro que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, porém não o viram, e ouvir o que vós ouvis, porém não o ouviram” (vv.16-17).


Mas, afinal de contas, ver e ouvir o que? Ver a Deus encarnado, na pessoa de seu Filho, e ouvir a novidade de seus ensinamentos.

 

A novidade dos ensinamentos das parábolas de Jesus:

 

O povo fica impressionado com a maneira que Jesus tem de ensinar. “Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente da dos escribas!” (Mc 7,28).

 

Jesus tinha uma capacidade muito grande de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida que o seu povo conhecia, e experimentava, em sua luta diária para buscar sobreviver. Isto supõe duas coisas:

  • Estar por dentro das coisas da vida da gente;
  • Estar por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus.

 

Em algumas parábolas acontecem coisas que não costumam ocorrer na vida.

 

Por exemplo, onde se viu:

  • Um pastor de 100 ovelhas que abandona as 99 para encontrar a única que se perdeu? (Lc 15,4);
  • Um pai que acolhe, com uma festa, o filho que gastou muito mal todos os seus bens, sem dizer-lhe uma palavra de reprovação? (Lc 15,20-24);
  • Um samaritano ser melhor que um levita e um sacerdote? (Lc 10,29-37).

 

A parábola: (a) Induz-nos a pensar sobre o que quer nos dizer; (b) Leva-nos a entrar na história desde a nossa própria experiência de vida; e (c) Faz com que nossa experiência nos leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano de nossa vida tão passageira, tão frágil e tão efêmera.

 

A parábola é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não nos dá tudo pronto em um minuto. Não faz saber, leva a descobrir.

 

A parábola muda o olhar, faz com que a pessoa seja contemplativa, observadora da realidade. Aqui está à novidade do ensinamento das parábolas de Jesus, distinta do ensinamento dos doutores que ensinavam que Deus se manifestava só na observância da Lei.

 

Para Jesus, o Reino não é fruto de observância. O Reino não é fruto de qualquer outra coisa. O Reino é. O Reino está presente no meio de nós (cf. Lc 17,21). Porém, os ouvintes nem sempre o percebem.

 

Por isso: “Felizes os vossos olhos porque vêem…”

 

“Quando tudo está pacificado, a alma volta à sua essência e a todas as suas faculdades; reconhece-se como imagem real d’Aquele de quem saiu. Os olhos que mergulham até esse nível podem, realmente, ser chamados bem-aventurados, pois vêem. Descobre-se, então, a maravilha das maravilhas, o que há de mais puro, de mais seguro…“ (Jean Tauler, Sermão 53)

 

E mais: «Muitos profetas e justos desejaram ver o que vós estais vendo…»

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

“Logo nos primeiros tempos da Igreja, antes do parto da Virgem,

 houve santos que desejaram a vinda de Cristo na sua encarnação.

E no tempo em que estamos, a partir da Ascensão, a mesma Igreja

conta com outros santos que desejam a manifestação de Cristo para julgar os vivos e os mortos.

Este desejo da Igreja não cessou nem por um momento, desde o início até o fim dos tempos, exceto durante o tempo que o Senhor esteve

neste mundo em companhia dos discípulos.

De modo que, adequadamente, se compreende que é todo o Corpo

de Cristo, gemendo nesta vida, que canta no salmo: «A minha alma suspira pela vossa salvação: espero na vossa palavra» (Sl 118,81).

Sua palavra é a promessa; e a esperança permite esperar, com paciência, o que os crentes ainda não vêem”

(Santo Agostinho).

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

Jesus disse: “Eis que a vós foi dado a conhecer os mistérios do Reino dos Céus”.

 

  • Quando leio os Evangelhos, sou como os que não entendem nada ou como

aquele a quem foi dado a conhecer o Reino?

  • Qual é a parábola de Jesus com a qual mais me identifico? Por quê?
  • Que me pede o Senhor em relação ao Evangelho de hoje?

 

 

SÁBADO

Mateus 13,24-30

Aprender a paciência de Deus: SENHOR NÃO SEMEASTE BOA SEMENTE?

Outra parábola lhes propôs…” (12,24)

 

O texto de hoje, uma das três parábolas da “semente”, nos coloca frente a uma realidade frequente que levamos dentro de nós: a impaciência. Jesus nos ensina a ampliar os horizontes a partir deste caso concreto e a tomar atitudes em consonância com o modo como acontece o Reino dos Céus no mundo.

A parábola do “trigo e o joio” desenvolve-se ante forte contraste de duas realidades opostas que, numa dinâmica própria, conduz a vitória final daquilo que havia sido ameaçado: o trigo e o joio podem estar juntos durante muito tempo, ainda que em detrimento da primeira, mas, ao final serão separadas.

A parábola responde ao escândalo que sobrevém a alguns discípulos do Senhor: há muito mal no mundo, simbolizado no “joio”, e se quer que Deus intervenha com todo seu poder para colocar o mal em seu lugar e exaltar aos bons, porém não parece acontecer nada.

A parábola nos ensina que aqui na terra tudo se mistura: ao lado dos bons estão os maus. Esta convivência, de acordo com o patrão da parábola, continuará: “Deixai que ambos cresçam juntos até a ceifa” (13,30a).

Mas, isto não deve desanimar os discípulos: de nenhum modo deverão ceder aos ataques do mal, ao invés, terão que manter vigilância ativa e esforço numa grande de evangelização.

Contudo, há uma esperança: esta situação não será para sempre. É claro que não é o mesmo ser trigo ou joio. Ao fim dos tempos haverá um julgamento: “E ao tempo da ceifa, direi aos ceifadores: Recolhei primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado, quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro” (13,30b).

Pelo destino final que tem cada uma das plantas se compreende que, com as decisões e ações de cada pessoa, se põe em jogo o próprio futuro, o destino final. Portanto, devemos ser responsável com a vida.

Junto a este sentido de responsabilidade que deve ter cada pessoa, esta parábola nos deixa uma belíssima lição sobre a paciência: assim como o patrão, Deus dá tempo a cada pessoa para que se habilite e, com esta atitude, estará esperando por sua conversão até o final.

O mesmo devemos fazer a nossos irmãos com os quais temos perdido a paciência por sua reticência no pecado: é preciso insistir, dar-lhe uma oportunidade, esperar por sua conversão.

Enfim, tenhamos em conta que há um segundo motivo importante pelo qual o patrão não permite que se arranque o joio. Este, o sabemos todos, por experiência: ninguém é completamente trigo (é preciso escutar os santos: sempre se reconhecem pecadores) nem completamente joio (não há ninguém que, por muito mau que seja, não tenha, no fundo, um bom coração).

Portanto, não devemos cair na atitude equivocada de separar, radicalmente, o mundo dos bons e o dos maus. Em cada pessoa há um pouco de tudo. Mas, é preciso examinar-se, continuamente, e trabalhar sempre pela santidade. Enfim, nãocabe a nós julgar, mas examinar a nós mesmos (ver também 7,1-5).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  • Seguimos fazendo dicotomias entre as pessoas: bons e maus? Que ensina a parábola a respeito?

Por que não foi arrancado o joio imediatamente?

  • O mal no mundo atormenta e leva inclusive a protestar diante de Deus: “por que não intervéns?”
  • Que implica a paciência de Deus para aqueles que fazem o jogo do mal?

Deus aprova o mal que fazem? Que exige Deus?

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