Estudo Bíblico Semanal ano B 2021
Estudo Bíblico Semanal ano B 2021
Comunidade Paz e Bem
SEGUNDA-FEIRA
Lucas 10,25-37
MINHA REGRA DE VIDA É O EVANGELHO
“Vai e faz tu o mesmo”
1. Na escola do Bom Samaritano
O evangelho de hoje nos coloca, ante uma opção radical para viver segundo o evangelho. Para o amor universal: Quem é o próximo?
Um doutor da Lei se dirige a Jesus e pergunta-lhe: “Quem é meu próximo?” (10,29). Jesus responde contando-lhe a parábola do Bom Samaritano (10,30-35). Na resposta de Jesus, um escândalo: Um samaritano ajudando a um judeu! Impossível!
A pergunta do doutor da Lei encontra assim sua resposta: o “próximo” não é alguem no meio familiar, social, racial, político ou religioso. Há uma visão mais universal: todo homem.
E não só todo homem, mas todo o que necessita de minha ajuda. Na parábola na realidade o “próximo” é o inimigo. Já sabemos que os judeus e os samaritanos não mantinham boas relações (ver Jo 4,9).
Para um amor concreto: Como fazer-se próximo?
Porém, há mais. O problema não é só “quem” é meu próximo, mas “como” é que me faço próximo. É aqui onde Jesus nos convida a observar, cuidadosamente, as ações do samaritano.
Tudo o que ele faz é movido pela “misericórdia”: se “aproxima”, “cura suas feridas”, cede-lhe seu próprio posto “montando-o na cavalgadura”, o “leva a uma pousada” e “cuida dele” pessoalmente. Enfim, dá de seu próprio bolso para que o tratamento do ferido vá até o final. E quando se despede, ainda prevê um novo encontro: “quando voltar”, diz o samaritano ao dono da pousada (10,35b).
Cada uma das ações do bom samaritano é significativa. Hoje poderíamos deter-nos, por exemplo, no detalhe da cavalgadura: “o montou sobre sua própria cavalgadura” (10,34)
A ajuda ao irmão implica ceder-lhe nosso lugar! Isto indica um compromisso profundo: amar é saber oferecer nosso próprio posto, saindo de nossa comodidade, e pôr-se no lugar do outro. É assim que se fez próximo: com atos concretos, não só com palavras. Trata-se de “atos” que doem em quem os faz.
Se o samaritano tivesse se contentado só com aproximar-se e tivesse dito ao ferido que estava debilitado: “sinto muito!” “Que lhe aconteceu?” “Por onde foram os bandidos?” “Você tem seguro médico?” “Que Deus o abençoe”, ou outras frases similares que costumamos dizer na hora das emergências, sua intenção de ajuda não serviria de nada, não passaria de uma grosseria.
Jesus disse claramente que na prática do mandamento do amor o que importa é o “fazer”: “Faz tu o mesmo”. Este “fazer” consiste na “prática da misericórdia” (10,36), da qual não se necessita mais lições que as já dadas pela prática do samaritano.
O agora e o depois
Um dos dilemas no exercício da caridade é o da contraposição entre o urgente e o importante: Socorrer o indigente dando-lhe pão ou investir na construção da padaria onde o indigente poderá até trabalhar? E, se, enquanto constróis a padaria morre o faminto?
A parábola traz também um ensinamento a respeito: tem que atender o urgente, porém também tem que pensar no futuro.
O bom samaritano não é imediatista. Ele atua de modo imediato no presente para socorrer a emergência, é verdade, porém toma decisões para adiante (“Cuida dele e, se gastar mais, te pagarei quando voltar”10,35).
Vemos ainda como o bom samaritano, ao final, se afasta, continuando viagem. De algum modo começa a desapegar-se confiando o ferido a outro que talvez cuide melhor que ele, e para isso se compromete a responder pelos gastos necessários. Hoje temos espaços especializados que se parecem a esta pousada onde o bom samaritano leva o judeu ferido.
Podemos falar de uma “caridade institucional”. Não se trata de tirar de cima de si a responsabilidade, mas de saber trabalhar pelo próximo comunitariamente, assumindo cada um a tarefa que corresponde.
Uma pessoa não pode socorrer sozinha todas as necessidades.
Para que seja profética e transformadora dos problemas de fundo, a caridade individual deve vir unida a caridade institucional e é importante saber trabalhar juntos, apoiando as diversas iniciativas que se tomam na Igreja e na sociedade.
Esse modo de ser do Bom Samaritano, que, ao mesmo tempo, atende as conseqüências, também remedia as causas dos males sociais: se todos entendessem que a prioridade é o outro, que deve viver em função dos demais, não haveria mais feridos nem agressores no caminho de Jericó.
Como queria são Francisco, esta parábola tem que encarnar-se, agora, na vida cotidiana. Nossas ruas e praças são como aquele caminho de Jericó onde alguém, que talvez não conhecemos e que pode ser inclusive uma ameaça para nós, aguarda por nossa misericórdia.
Deixemos que o imperativo de Jesus nos impregne no coração e se converta em regra de vida: “Vai e faz tu o mesmo!” (10,36).
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Quais as pessoas ao meu redor que mais necessitam de mim e a quem algumas vezes tenho negado minha ajuda oportuna?
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Que ajuda me pede cada uma delas?
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Como me farei próximo delas?
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- Alguma vez tenho agido como o sacerdote ou o levita e sendo consciente de alguma necessidade, tenho preferido “fazer-me de vista gorda”?
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Por que o tenho feito? Que tenho sentido depois?
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- Recordo a última vez que agi como o bom samaritano. Com quem foi?
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Que fiz?
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Que interesses e necessidades pessoais passaram a segundo plano?
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A mão que estendi essa vez foi só de momento oo ainda hoje continuo dando minha ajuda?
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TERÇA-FEIRA
Lucas 10,38-42
UMA ESCOLA DE ORAÇÃO E VIDA NA CASA DE MARTA E MARIA
“Uma só coisa é necessária”
O entretenimento e o repouso que nos inspira um Jesus que tem tempo para compartilhar com suas amigas, detendo-se em sua casa em meio da viagem, sugere uma nova atmosfera oracional para a Lectio de hoje. Momentos como este são importantes.
A Maria lhe parecia mentira que o Mestre estivesse ali em sua casa, tão próximo dela e falando só para ela.
Agora podia escutar em silencio suas palavras de vida eterna. A vemos bem recolhida aos pés do Mestre, como costumavam fazer os discípulos nos tempos bíblicos.
Marta, a vemos no fundo. Passa de um lado para outro, bem atarefada. Os “muitos afazeres” (10,40) de que fala o evangelho são as tarefas domésticas, as quais se multiplicam quando há visita: limpeza, comida, ambientação, quarto de hospedes, etc.
São muitas coisas ao mesmo tempo para atender, sobretudo a comida. Nesse ir e vir nota-se que Marta está tensa, preocupada em agradar a Jesus. Até que se dirige a Jesus (para que ouça Maria): “Senhor, não te importa que minha irmã…” (10,40).
A estima que Jesus sente também por Marta suporia que não lhe agradasse vê-la carregar, sozinha, todo o trabalho da casa. O “não te importa?” tem tom de ironia. Então Jesus a responde com uma frase carregada de sentido e que abre grandes horizontes: “Marta, Marta,…” (10,41-42).
Por que Jesus chama a atenção de Marta? É claro que não é pelo serviço, já que ele mesmo fala da importância do serviço (22,27). Na descrição de Marta foi dito que ela estava “atarefada por muitos afazeres” (10,40):
corria de um lado para outro, fazia muitas pequenas coisas com o tempo bastante fragmentado. O problema é que em toda a agitação, a ocupação se tornou ansiedade, perdeu a paz.
O que Jesus desaprova não é a atividade de Marta, mas seu ativismo. No ativismo se perde de vista a meta, é difícil manter a concentração, se desgastam as motivações e acabamos fazendo as tarefas mal. Esta vida frenética – que também ocorre em alguns apostolados – é uma das características de nosso tempo, queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo: estudar e trabalhar, estar na casa e estar fora, falar por telefone e ver televisão, e assim muitas mais.
Ocupar-nos dos ofícios com o coração ansioso indica que perdemos o norte, que perdemos de vista o que era essencial, que terminamos escravos do trabalho. Isto prejudica tanto a qualidade de vida como a qualidade do serviço. Para resolver isto, Jesus nos disse que o melhor modo de ser Marta é ser Maria.
Quem cultiva o bom hábito da reflexão, do cultivo da vida interior na serenidade da oração e em atenta escuta da Palavra, logra a capacidade de ver tudo desde o ponto de vista da eternidade, purifica suas ações, capta as prioridades. Com Maria se aprende a inteligente calma que ajuda a fazer tudo bem e inclusive a fazer mais do
que o esperado.
Mas não se pode separar as duas, pois são irmãs. A escuta contemplativa deve levar ao compromisso e a atividade deve partir da escuta atenta do querer do Senhor. Como disse o Cardeal Martini: “Para servir no Reino tem que servir primeiro ao Rei”. Senão faremos muitas coisas que consideramos “serviço” ao Senhor, porém, era isso o que Ele queria que fizéssemos?
Enfim, o melhor e mais seguro é ter as mãos de Marta, porém, o coração de Maria. É preciso encontrar tempo – e tempo de qualidade – para a escuta do Mestre, para reencontrar-nos com nosso centro, para considerar os motivos do que fazemos, para estar em contato com nosso ser profundo e com Deus que habita dentro de nós.
As palavras do Mestre serão nossa guia na viagem interior. Ainda que haja muitas coisas “urgentes” para fazer, isto é o verdadeiramente “necessário”.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
1) Como me vêem os demais? Que espaço de meu tempo dedico a dialogar com Jesus, a escutá-lo? Poderia dedicar ainda más?
QUARTA-FEIRA
Lucas 11,1-4
ORAR COMO JESUS
“Senhor, ensina-nos a orar”
Como seria uma oração ao lado de Jesus? Os discípulos tiveram esse privilégio e o evangelista Lucas nos permite também participar nesta maravilhosa experiência através do evangelho.
A maneira de Jesus devia ser muito atrativa. Quando o viam os discípulos ficavam tão impressionados que sentiam desejo de orar como ele.
“E sucedeu que, estando orando (Jesus) em certo lugar”, nos conta Lucas, “quando terminou o disse um de seus discípulos: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como ensinou João a seus discípulos” (11,1). A solicitude se poderia abreviar nestes termos: “Senhor, ensina-nos a orar como fazes tu”.
Os discípulos querem sentir o que Ele sente, repetir o que diz, tomar a postura física que Ele toma, descobrir os lugares de retiro mais apropriados, ter seu mesmo ritmo de respiração, porém sobretudo, sair da oração como ele sai. De fato, o pedido se lhe faz “quando terminou (de orar)”. Como estaria Jesus nesse momento?
Quem toma o clamor em nome da comunidade, sabe que está solicitando uma oração que identifique a comunidade, por isso coloca uma referência: “(assim) como ensinou João a seus discípulos”.
Todo profeta, inclusive João Batista, ensinava a orar seu grupo de seguidores. Os discípulos de Jesus não querem ser a exceção. Porém há algo novo em Jesus que cativa e que é a verdadeira motivação dos discípulos para querer orar de sua maneira.
Como se notará no “Pai Nosso” que Jesus ensina em seguida, é o sentido de intimidade, a grande confiança que mostra naquele a quem chama “Pai”, o que maravilha. Jesus responde sem tardar: “Quando orardes, dizei: “Abbá”, Papaizinho” (11,2).
Sabemos o desconcerto que um apelativo assim provocava em um ambiente no qual o povo nem sequer se atrevia a chamar a Deus por seu nome próprio de “Yahvé” (preferiam dizer “Adonai”). O respeito para com Deus se mostrava desde a própria forma de invocá-lo. Porém Jesus se dirige a Ele de maneira diferente: se apresenta como um bebezinho, como um filho que ama e se sabe amado.
Atrever-se a chamar “Papai” ao Todo poderoso, ao Senhor que criou o céu e a terra! A oração de Jesus manda ao chão qualquer barreira que possa interromper a presença de Deus.
Não há distância entre Deus e as pessoas, cada um pode dirigir-se a Ele diretamente, sem necessidade de intermediários. Uma verdadeira revolução na história das religiões!
No termo “Papai”, Jesus nos faz conhecer o mistério de Deus e o seu próprio. De um lado, a confiança e intimidade que o Filho tem pelo Pai; e de outro, a ternura protetora de Pai para com cada um de nós.
Nem sequer os grandes amigos de Deus na Bíblia haviam alcançado algo assim. Ainda quando o Gênesis nos conta que Deus passeava no jardim de Adão e Eva, sabemos que eles partilhavam o espaço, porém não encontramos a comunicação de coração a coração, na surpreendente proximidade da relação, que tinha Jesus.
Nem Abraão, chamado o amigo de Deus, a quem Deus fez transparentes suas intenções quando quis destruir Sodoma e Gomorra: “Porventura vou ocultar a Abraão o que faço…?” (Gn 18,17). É como se disesse: “Não posso esconder a um amigo minhas intenções”.
Porém, entre Jesus Cristo e o Pai celeste, o conhecimento é, ainda mais, profundo. O mesmo se poderia dizer de Moisés, que “falava cara a cara com Deus como faz um homem com seu amigo” (Ex 33,11), que quis contemplar a glória de Deus, porém Deus lhe disse: “Meu rosto não poderás vê-lo…” (Ex 33,20).
Com Jesus é diferente. E o que parece incrível é saber que também os discípulos podem orar como Jesus, que Jesus lhes concede o pedido de ensinar-lhes a orar como Ele o faz, ou seja, experimentando a surpreendente proximidade do Pai que se faz presente com todo seu amor, saciando aos discípulos do dom de seu Santo Espírito: “O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedem” (11,13).
Neste ambiente o “Tu” do Pai se faz presente em sua obra santificadora e no Reino que se instaura. De seu coração de Pai provém o pão dos filhos, o amor que reconcilia e a fortaleza contra o tentador. Todo isso mostra a ilimitada disponibilidade do Pai para vir ao nosso encontro na oração.
Ainda quando pronunciamos, fielmente, o “Pai Nosso” que saiu dos lábios de Jesus (ver a Lectio do 25 de Julho passado), o que realmente conta é o coração e a confiança. A consciência de quem somos em sua presença nos permitirá vislumbrar quem e como é Ele.
Santa Teresinha, seduzida por este sentimento de confiança em Deus, se atreveu a dizer em seu poema “O abandono é o fruto delicioso do Amor”: “Dá-me neste mundo um oceano de paz. E nesta paz tão profunda, descanso eu, sem cessar”.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Quando oro com o Pai Nosso, quais são meus sentimentos?
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Confio plenamente em meu Papai-Deus, assim como fazia Jesus?
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- Em que se diferencia a oração de Jesus de todas as demais orações bíblicas?
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- O que seduz os discípulos de Jesus para quererem submergir-se no mundo da oração do Mestre?
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Minha vida de oração é atrativa para os de minha família e as outras pessoas que me conhecem?
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“O amor que não teme, e que dorme e se esquece. Como um menino pequeno no coração de seu Deus” (Santa Teresinha do menino Jesus).
quinta-feira
Lucas 1,26-38 – Nossa Senhora do Rosário
COMPROMETER-SE COM O PLANO DE DEUS A MANEIRA DE MARIA
“Ao sexto mês, foi enviado por Deus, o anjo Gabriel, a uma cidade da Galiléia,…”
Ao longo do ano lemos várias vezes o relato da anunciação e cada vez, ao ritmo da liturgia, somos convidados a pôr de relevo um dos múltiplos aspectos desta passagem tão rica e densa.
Neste dia em que celebramos Maria, sob o título de nossa Senhora do Rosário, a orante perfeita que apóia nossa oração, nos detemos, particularmente, nas primeiras palavras do Anjo: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28).
Quando saudamos a Maria repetidamente na oração do santo rosário com estas palavras, estamos dizendo que a vida desta mulher simples de Nazaré (1,26) foi abraçada pelos braços amorosos de Deus.
Deus entra em sua vida com ternura e com poder, com coração e com compromisso, com palavras e com ação. É com esta maneira de entrar em sua vida, que lhe dá e redireciona seu projeto de vida inicial (ver 1,27) para inseri-lo em seu plano de salvação.
Estas três palavras que nunca nos cansamos de repetir, não fazem mais que, como a Maria, situar-nos da maneira justa no coração do caminho de Deus, o qual nos chama para que o façamos realidade na história com nossas mãos e com nossos passos.
E com Maria aprendemos que: essa é nossa vocação fundamental; Isto é possível graças a obra mesma do Senhor; Os indicadores de uma resposta autêntica ao Senhor são: (1) a alegria; (2) o amor; e (3) a certeza do apóio fiel do Senhor. Estudemos um pouco o sentido de cada uma das três palavras:
- “Alegra-te”: O Anjo antecipa a Maria que o anúncio será para ela motivo de imensa alegria; que a Palavra do Senhor vai tocar o mais íntimo de seu ser; e que sua reação ao fim não poderá ser outra que a exultação. Nota-se que Maria não responde de imediato (não tem a superficialidade dos que reagem rápido sem pensar) mais começa, a partir de agora, um caminho interior que culminará com o canto feliz do “Magníficat”. O Anjo agora disse “Alegra-te”, porém sou muito depois, depois de fazê-lo maduro no coração, Maria dirá: “Meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (1,47).
- “Cheia de Graça”: Maria é habitada pela graça divina, e este é o motivo de sua imensa alegria. Com esta palavra, Deus lhe faz conhecer a imensidão de seu amor predileto por ela, cumulando-a de seu favor e de sua complacência. Este amor é definitivo e irrevogável. E é tão importante esta afirmação que o Anjo vai repeti-la em seguida (ver 1,30). A confiança que se necessita para poder responder ao chamado do Senhor é a certeza de seu amor.
- “O Senhor está contigo”: Junto ao amor vem o compromisso concreto. Deus, que a chama para partilhar seu projeto, ele mesmo, em pessoa, lhe oferece sua ajuda fiel para poder levar a cabo o que se lhe pede. A Maria faz a mesma promessa que fez aos grandes personagens da Bíblia.
Estas três palavras do Anjo, que descrevem a ação de Deus em Maria, se realizam nas palavras que pronuncia mais adiante: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (1,35).
Com sua potência vivificante, criadora, Deus torna Maria capaz de colocar-se ao serviço da vida e do ministério de Jesus. Esta benção divina, prolongamento das bênçãos da primeira página da criação (Gn 1,22.28), será captada por Isabel, que, com toda razão dirá: “Bendita tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu ventre” (1,42).
As palavras bíblicas da “Ave Maria” nos ensinam a aderir, solidamente, ao projeto de Deus Pai. Deixemos que elas ressoem em nós como o eco do mar em uma concha que encontramos na praia, se a pomos em nossos ouvidos, o som do mar conquistará e envolverá em seu encanto todo nosso ser, impregnando sua melodia em nossa memória e em nosso coração.
Repitamos hoje, e sempre que seja possível, apoiados no esquema oracional do Rosário, com consciência e com força, estas palavras, até que, lentamente, sejam absorvidas no mais profundo de nosso coração, e sejamos conduzidos, assim, a ritmo de oração e pelo poder vivificante do Espírito criador, até a humanidade nova que é o mistério de Cristo que habitou em Maria.
Sexta-feira
Lucas 11,15-26.
UM DISCÍPULO UNIDO A JESUS É MAIS FORTE QUE O MAL
“Se pelo dedo de deus expulso os demônios, é que já chegou a vós o Reino de Deus”
No ensinamento do “Pai Nosso”, a segunda invocação que Jesus pede aos discípulos que pronunciem é “Venha teu Reino” (11,3). O “Reino” vem na pessoa de Jesus e o maior de todos os seus dons é o Espírito Santo (11,13).
Pois bem, a passagem de hoje dá um passo adiante neste tema mostrando-nos que graças à vinda do Reino um discípulo de Jesus vive sob o Senhorio de Deus, descartando completamente qualquer dominação de Satanás. A vida no Reino de Deus supõe vitória sobre as forças do Mal.
Por experiência pessoal, os discípulos, quienes já hão estado em missão sabem que contam com um respaldo que lhes permite vencer o mal: “Eu via a Satanás cair do céu como um raio” (10,17), lhe disse Jesus quando eles regressavam felizes de sua experiência missionária.
Agora, com os discípulos detrás d’Ele, depois de realizar um exorcismo, Jesus recebe um ataque que saca a relucir o porque de sua confrontação com Satanás. Os adversários afirmam que Jesus: “Pelo (poder do) príncipe dos demônios, expulsa os demônios” (11,15). Ele lhes responde que tal afirmação não é coerente, porque se assim fosse, então deveriam dizer o mesmo dos exorcismos que ele mesmos costumavam realizar (11,19).
Posto que os exorcismos, não necessariamente, eram prova de um poder divino, naquela época costumavam pedir “um sinal do céu” (11,16). Jesus aclara que seus exorcismos são, precisamente, um sinal do céu, porque se trata do “dedo de Deus” realizando esta obra (11,20; o “dedo de Deus” é uma designação bíblica do poder de Deus, como figura em Ex 8,15;3,18; Dt 9,10 e também na literatura antiga). Com isto Jesus lhe disse a seus críticos que enquanto Ele expulsa os demônios como uma manifestação autêntica do agir de Deus, eles não fazem mais que realizar atos mágicos que, à hora da verdade não tem eficácia sobre o mal (ver contexto da primitiva Igreja, em At 9,13-17).
No texto se distingue entre o “Príncipe dos demônios” e os “demônios” (11,15 e 19). A idéia é que Satanás(aqui com o título de “Beelzebul”) é o chefe da quadrilhas de demônios. Sobre isto, Jesus ensina que as vitórias sobre os “demônios” que se realizam ao longo de seu ministério, são uma antecipação da vitória final sobre Satanás que se realizará na Cruz (4,13 e 22,3).
Desde esta perspectiva, o ministério de Jesus e também nossa vida como discípulos d’Ele, se apresenta como um campo de batalha (11,2-22) no qual teremos que definir-nos: De que lado estamos? (11,23).
Finalmente, Jesus dirige seu olhar para todo aquele que já há começado uma vida nova: há de estar sempre vigilante. Não há que confiar-se porque pode haver recaídas e estas –a experiência o demonstra– normalmente deixar à pessoa numa situação pior que a inicialmente superada (11,24-26).
Não se deve dar chance ao demônio com um retrocesso. Para impedi-lo, uma pessoa libertada deve manter-se na linha de frente, no campo de Jesus, construindo a fidelidade na renovação continua da fé e na aprendizagem do Evangelho. Este é o verdadeiro “estar e recolher comigo” (11,23).
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Que relação há entre a catequese sobre a oração em Lc 11,1-13 e esta passagem?
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- Que implica a “vinda do Reino de Deus” que suplicamos na oração para a vida do discípulo?
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- Quais as formas do “mal” (e de um reino do mal organizado) que atacam aos discípulos de Jesus?
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“Tenho visto tantas almas voar como pobres mariposas e queimar as asas, seduzidas por essa falsa luz, e logo voltar à verdadeira, à doce luz do amor que lhes emprestava novas asas, mais brilhantes e mais ligeiras, para voar para Jesus, esse Fogo divino ‘que queima sem consumir-se’(Ex3,2)”
(Santa Teresinha do Menino Jesus)
Sábado
João 2,1-11
PRESENÇA ATIVA
“Fazei o que Ele vos disser”
É muito significativo que a Igreja nos proponha, hoje, esta passagem, na qual Maria aparece em primeira pessoa sempre atenta a nossas necessidades para dar-lhes uma solução efetiva.
O texto se abre anunciando as bodas que se celebrava em Caná e sublinhando a presença de Maria (2,1) como se o evangelista João quisesse pôr em primeiro plano, antes de falar de Jesus, a figura daquela que, em certo modo, seria protagonista do que se iria viver ali.
Além do mais, para João, a presença de Maria em sua vida deve ter sido muito significativa e profunda porque os últimos dias os viveu ao lado dela, depois de Jesus haver se entregado na cruz.
João nos disse em três versículos (2,1-3) como foi esta presença de Maria. Ela não esteve ali somente como uma convidada a mais desfrutando da festa. A sua foi uma presença ativa, atenta àquilo que se poderia oferecer.
Ela, seguramente, notou o ir e vir angustiado dos serventes, anunciando-lhe ao dono da casa que as provisões de vinho haviam se esgotado, coisa que os demais comensais e até o mesmo Jesus, parece não ter notado.
Maria, não espera que lhe peçam o favor, se adianta, “sai ao encontro”. Sabe muito bem que o único que pode remediar a situação é seu filho e sem muitas palavras, só três, lhe expõe a situação: “Não tem vinho”. Ela não se perde em explicações, nem sequer pergunta a Jesus que pode fazer.
Sabe que essas três palavras são suficiente linguagem entre ela e seu Filho para salvar a situação. Ainda que a resposta de Jesus não fora muito alentadora, ela não desanimou. É possível que para Jesus não tivesse chegado sua hora, porém quando se trata de ajudar ao outro, de dar uma mão, as coisas podem e devem mudar.
Maria não insiste. Simplesmente age. Algo há a fazer! Ela ajuda a preparar tudo, o resto Ele fará. E pronuncia uma das frases mais belas que em muitos momentos podem ressoar em nossas vidas: “Fazei o que Ele vos disser” (2,5). Quer dizer: agora tudo depende d’Ele, eu já fiz minha parte.
Essas duas frases pronunciadas por Maria em uma situação difícil fazem que Jesus, em certo sentido, ‘adiante sua hora’.
E assim faz Jesus. Comprometido pela palavra de sua Mãe ordena aos serventes que encham as talhas de água. Eles as enchem até a borda e até a borda se realiza o milagre. Como para insinuar que, quando se trata das coisas do Reino é necessário dar tudo e não meias medidas.
A festa pôde continuar ante a admiração dos convidados ante o dono da casa que, contrariamente à tradição, havia deixado para o final o melhor vinho.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.
- Por que podemos dizer que Maria, nas Bodas de Caná teve uma presença ativa?
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- Sinto que sou uma pessoa detalhista e que percebo as necessidades dos demais para ajudar?
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Qual foi a última vez que o fiz?
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- Que podemos propor como família para sermos mais atentos e serviçais pensando mais cada um no outro que em si mesmo?
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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM