4º DOMINGO DO ADVENTO ANO – C (Estudo Bíblico)

Lucas 1,39-45

“Bendita és tu entre mulheres e bendito o fruto de teu seio”

Introdução

O evangelho deste domingo nos convida a por nossa atenção no acontecimento histórico do nascimento de Jesus, especialmente, dentro da sequencia dos relatos prévios que estamos lendo, ordenadamente, nestes dias.

Como detalhe particular, nosso texto coloca, em lugar destacado, o rosto de Maria, modelo da acolhida do Senhor, e nos convida  a nos alegrarmos com ela.

No relato da Visitação Maria começa com a anotação lucana: “Naqueles dias, se levantou Maria e se foi, com prontidão, à região montanhosa, a uma cidade de Judá” (1,39). 

Que move a Maria? Maria parte das palavras do Anjo, “Isabel, tua parente, concebeu um filho em sua velhice” (1,36), e as interpreta como um convite para ir a estar com ela. Maria vai ao encontro do “sinal” que Deus lhe deu de que “nenhuma palavra é impossível para Deus” (1,37).

No encontro, as duas mulheres favorecidas por Deus expressam o que, progressivamente, vinha já ardendo em seus corações.

Hoje vemos como Isabel, invadida pelo Espírito Santo, disse o que pode compreender de Maria. Logo se verá como Maria confessa o que, por sua parte e, ajudada, também, pelas palavras de Isabel, pode compreender da ação de Deus nela mesma.

Quando se lê o relato da visitação com um pouco mais de atenção nota-se uma bela dinâmica. Detenhamo-nos nos movimentos, externo (=a viagem), interno (=da solidão à exclamação) e confessional (=o reconhecimento do mistério do outro), desta narração, rica de ensinamentos, para nosso Advento.

Texto: Lucas 1, 39-45

39.Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá.
40.Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.
41.Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo.
42.Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!
43.Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar?
44.Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre.
45.Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”.

1. O movimento externo: a viagem de Maria de Nazaré a Judá (1,39-40)

A viagem é um gesto concreto de obediência à Palavra de Deus (1,36). Maria o faz sem tardar, “com prontidão” (1,39).

A distancia entre Nazaré e a cidade de Judá (a tradição disse que é Ain-Karem) não é pouca. Não se menciona nenhum outro personagem na viajem, fora de Maria.

Este longo percurso e a solidão silenciosa de Maria são significativas: podemos ver, no trajeto percorrido, uma primeira etapa da tomada de consciência que ela está realizando.

A viagem de Maria coincide com um tempo de silencio, no qual ela pode captar melhor o significado do que está acontecendo em sua vida, aprofundando nas palavras do Anjo.

Ao mesmo tempo, Maria não perde de vista a meta de sua viagem: ver aquela mulher de quem lhe falara o Anjo, que também foi contemplada pela misericórdia de Deus; com ela será solidaria.

O evangelista nos está mostrando que, depois da anunciação, Maria vive um momento de pausa, de interiorização, de meditação. Isto é importante, também, para nós: a ação do Espírito Santo solicita o cultivo da interioridade.

2. O movimento interno: a ação do Espírito Santo (1,41 y 44)  

Entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel” (1,40).

As duas mulheres, quando se saúdam, captam a vibração do Espírito e se abraçam com uma imensa alegria.

Não conhecemos o conteúdo da saudação de Maria a Isabel, porém, sim, seu efeito: é, de tal maneira, fulgurante, que faz saltar a criança em gestação no ventre de Isabel e provocar-lhe a unção do Espírito Santo (1,41).

Saltou de gozo o menino em seu seno”.

O encontro entre as duas mulheres faz saltar de alegria o menino de Isabel, o qual é manifestação da ação do Espírito. A partir deste momento, muitos saltarão de gozo, ao longo de todo o evangelho, cada vez que se encontrem com Jesus.

O Messias é portador da alegria, expressão de plenitude de vida que provem de Deus. Começa a festa da vida que traz o Evangelho daquele que traz alegria para todo o povo (ver 2,10).

Isabel ficou plena do Espírito Santo”.

A voz de Maria é portadora do Espírito Santo que a encheu e com ela introduz, Isabel, no âmbito de sua experiência: o de uma emoção profunda, capaz de estremecer e fazer dançar de alegria.

Guiada pelo Espírito, Isabel capta a grandeza do acontecido em Maria e o expressa abertamente. As duas mulheres, uma anciã e uma jovem, se compreendem, a fundo, e são capazes de dizer, uma a outra, o que levam por dentro, o que cada uma capta da outra.

Suas vidas, mergulhadas no silencio, por fim, encontram ouvidos dignos de seus segredos, ambas se sentem compreendidas.

Nessa proximidade, na qual também atua o Espírito, as duas elevam hinos de louvor. Levanta-se, assim, um movimento de reconhecimento público e de respeito que desvela o que, desde tempo atrás, vem amadurecendo no coração.

3. O movimento confissional: o cântico de reconhecimento de Isabel a Maria (1,42-45)

E exclamando em alta voz, disse…” (1,42a). O que até o momento era somente segredo de Maria agora Isabel o anuncia, aos gritos e com o coração desbordante. O conteúdo é a ação criadora do Deus da vida na existência de Maria, por meio da qual se realizou a encarnação do Filho de Deus.

Isabel disse a Maria duas palavras claves que descrevem sua personalidade: “Bendita” e “feliz”.

  • “Bendita”:

Em primeiro lugar, Isabel louva a Deus pelo que Ele fez em Maria, isto é, a tem enchido de graça e abençoado com seu poder criador que a fez capaz de transmitir a vida ao Filho de Deus.

Abençoar é “gerar vida” e, precisamente por isso, Maria é “a bendita” por excelência: se toda mulher é benção para o mundo, pelo fato de gerar vida, muito mais Maria, é a “bendita entre todas as mulheres”: ela traz ao mundo o Senhor da vida que vence a morte e dá a vida eterna.

Alem do mais, porque seu filho não é um menino qualquer, mas o “Filho do Altíssimo”, Maria tem, com suficiente fundamento, a dignidade de “Mãe de Deus (do Senhor)” (1,43).

  • “Feliz”: 

Em segundo lugar, Isabel lhe faz eco às palavras pronunciadas por Maria na anunciação: “Faça-se em mim segundo tua Palavra” (1,38), e qualifica sua atitude como um ato de fé: “Feliz a que acreditou que se cumpririam as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”.

Que quer dizer Isabel sobre Maria? Quer dizer que Maria “acreditou” no cumprimento da Palavra, quer dizer, a tomou a serio, abandonou-se a seu poder criador, confiou na fidelidade de Deus à sua promessa.

A alegria de Maria provém da fonte inesgotável de sua fé sempre viva, porque ela, como nenhuma outra, está sempre aberta a Deus.

Este mesmo gesto de Maria será pedido, ao longo do Evangelho, a todas as pessoas que Jesus cruzar em seu caminho (ver, por exemplo: Lc 7,9.50;8,48).

Na fé terão que ser educados, de maneira especial os futuros evangelizadores (ver 24,25). Aparece assim uma definição clara da fé: se é crente quando se sabe “ouvir a Palavra de Deus e pô-la em prática” (8,21; 11,27-28).

Enfim… Com o “Bendita tu és…” e com o “Feliz tu que crestes”, se entoa o primeiro canto mariano das comunidades cristãs. Um canto que, no mínimo, com a frase “Bendita tu és e bendito é o fruto de teu ventre: Jesus”, continua se repitindo, até nossos dias, na oração da “Ave Maria”.

Os motivos da “benção” e da “bem-aventurança” foram dados: a fé, com a qual, Maria obedeceu a Palavra que lhe foi dita da parte do Senhor e que fez gerar vida na qualidade de “Mãe do Senhor”.

4. Releamos la Palabra con un Padre de la Iglesia

(O texto, que propomos a seguir, se adapta melhor à segunda leitura deste domingo)

“As palavras de promessa, quando se cumpre aquilo que prometem, deixam de ser ditas. Até o momento de dar, se promete; quando já se cumpre, mudam as palavras. Já não se diz “darei” aquilo que se comprometera a dar, mas diz “dei”: mudou o verbo […] Portanto, os antigos sacrificios, enquanto palavras de promessa, foram abolidos. Que foi dado como cumprido? O corpo que conheceis, porém, não todos… Sacrificio e oblação não quiseste. Que diremos então? Será que fomos deixados neste tempo sem sacrificio? De nenhuna maneira: Formaste um corpo! Portanto, deixaste de querer aqueles, para preparar este… A realização das promessas fez caducar as palavras que prometiam, porque, estas só seriam válidas se ainda não houvesse sido cumprida a promessa. Esta promessa se realizava mediante determinados senais: foram suprimidos os sinais da promessa, porque foi exibida a realidade prometida. Nós estamos neste Corpo, somos partícipes deste Corpo, conhecemos o que recebemos […] O Corpo para nós está perfeito: aperfeiçoemo-no Corpo” (Santo Agostinho)

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

1. De que maneira o itinerário de Maria nesta página do Evangelho, pode me ajudar a tomar consciência e a proclamar a obra de Deus em minha vida?

2. Tomo tempos de “silencio” (que podem coincidir com retiros ou outros espaços prolongados de meditação e oração) para tomar consciência da obra de Deus em minha vida?

3. Maria e Isabel viveram fortes experiências de Deus e as compartilharam entre elas. Nossas comunidades são espaços vivos que permitem compartilhar e celebrar a experiência de Deus que vive cada um? Encontros assim nos ajudam a vivenciar a presença do Espírito Santo na comunidade?

4. Que lição nos dá o Evangelho de hoje para nossa vivencia do natal? Que encontros Deus nos pede que vivamos? Como quer que os vivamos?

Oremos…

Virgem Santa Maria,

enche nossos corações do Espírito divino que cumula o teu;

que, de tua plenitude, recebamos, nós,

que nosso espírito seja destruido

e que o Espírito de teu Filho se estableça,

plenamente, em nós,

para que não vivamos, falemos e atuemos

senão pelo Espírito de Jesus. Amem

(São João Eudes)

“Ó Maria,

sê bendita, entre todas as mulheres,

pelos séculos dos séculos.

Porque hoje tu nos deste de tua farinha.

Hoje a divindade está unida e amassada com nossa humanidade,

de maneira tão forte que, esta união, jamais poderá ser separada

nem pela morte nem pela nossa ingratidão”

(Santa Catarina de Sena)

Autor: Pe. Fidel Oñoro, cjm (Centro Bíblico del CELAM)

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