“A paz esteja convosco” (EFC)

Lucas 24,35-48 

ENCONTRO COM O RESSUSCITADO: OS TESTEMUNHOS PASCAIS.

“Vós sois testemunhas destas coisas”

O Evangelho deste 3º Domingo de Páscoa nos apresenta a aparição de Jesus ressuscitado a seus onze apóstolos reunidos a comentar o que haviam contado os discípulos de Emaus. Os apóstolos até que aceitaram o que fora dito por esses discípulos baseando-se no testemunho de Pedro (Lc 24,34). Isso acontece em Jerusalém, pouco depois da ressurreição.

Apesar de tudo, o ambiente é de medo, de perturbação e de dúvida. Quando, nesta mesma ocasião, Jesus ressuscitado aparece no meio deles, a reação é esta: “Sobressaltados e assustados, acreditavam ver um espírito”. Jesus mostra a eles que sua volta à vida é “ressurreição da carne”: “Vede minhas mãos e meus pés…”. E para maior demonstração comeu diante eles. Retomando a catequese que deu Jesus aos discípulos de Emaus, São Lucas introduz um segundo elemento essencial e que faz com que a luz do rosto de Jesus ressuscitado brilhe sobre nós. Trata-se da escuta e meditação das Sagradas Escrituras. É esta a catequese que São Lucas quer levar às comunidades cristãs de sua época.

A ressurreição de Jesus terá sido uma simples invenção da Igreja primitiva, ou um piedoso desejo dos discípulos, esperançados em que a maravilhosa aventura que viveram com Jesus não terminasse no fracasso da cruz e num túmulo? É, sobretudo a esta questão que Lucas procura responder. Na sua catequese, Lucas procura deixar claro que a ressurreição de Jesus foi um fato real, indubitável, que os discípulos descobriram e experimentaram somente após muitas dúvidas e incertezas.

Com efeito, todos os relatos das aparições de Jesus ressuscitado falam das dificuldades que os discípulos sentiram em acreditar e em reconhecer Jesus ressuscitado. São apresentados como um grupo crédulo, idealista e ingênuo, prontos a aceitar qualquer ilusão; mas como um grupo desconfiado, crítico, exigente, que a muito custo acabou por reconhecer Jesus vivo e ressuscitado.

Foi esse o caminho que os discípulos percorreram na sua experiência com o Cristo ressuscitado, até chegarem à certeza da ressurreição. É essa certeza que os relatos da ressurreição, na sua linguagem muito própria, procuram transmitir-nos. O anuncio da Ressurreição de Jesus não provém de uma teoria, mas da experiência dos que foram testemunhas dela mediante os encontros com o Ressuscitado e logo afirmaram: “Nós o temos visto. Ele tem aparecido. Ele vive”.

No relato de hoje vemos como os discípulos chegam à fé na ressurreição por meio de uma experiência suscitada pelo mesmo Jesus. A iniciativa provêm d’Ele. Jesus se apresenta e se mostra aos discípulos. O primeiro que acontece no encontro com Jesus ressuscitado é a saudação da paz: “A paz esteja convosco” (24,36). A paz é seu dom pascal (ver evangelho do próximo domingo).

Por sua parte, os discípulos devem vencer o medo, as duvidas e suas reflexões pouco claras, para convencer-se de que não se trata de um fantasma, mas de Jesus em pessoa. Logo o texto nos mostra três gestos de Jesus: (a) Jesus mostra as mãos e os pés: os sinais de sua morte na cruz (24,39ª).  Dessa  maneira lhes mostra que é o mesmo que morreu na cruz. (b)Jesus dá permissão para que o toquem (24,39b). © Jesus come peixe diante deles (24,41-43). Deixa claro que não é um fantasma, mas que está diante deles com realidade concreta.

A ressurreição de Jesus não significa que Ele tenha regressado da morte à vida terrena, ficando exatamente igual a como o conheceram antes de sua morte. Se assim fosse, Jesus teria que morrer de novo. E a ressurreição de Jesus é muito mais que isso: significa que a Ele, que morreu em uma cruz e foi sepultado, Deus lhe deu uma vida nova e definitiva, que supera a morte.

Os discípulos não se deixaram enganar por um espírito, nem por uma ilusão: trata-se de Jesus mesmo, em pessoa, o que conheceram antes da cruz, porém ao mesmo tempo gloriosamente diferente. Ele vem ao encontro de seus discípulos com uma existência e uma realidade nova e definitiva. Jesus mesmo, por iniciativa própria, os convenceu de que superou a morte e que realmente vive. Jesus tem de si mesmo e de sua vida poderosa o conteúdo, a essência do testemunho de seus discípulos.

Logo, em 24,44-48, o vemos como o Ressuscitado explica a seus discípulos que seu destino se compreende desde o plano de Deus e lhes ajuda a entender o sentido das Escrituras, assim como já havia feito antes com os discípulos de Emaús. Com sua morte e ressurreição, Jesus completou o conteúdo da mensagem que deve ser anunciado a todos os povos. No nome de Jesus, e no testemunhar a Ele, a partir de tudo o que se tem manifestado através de sua obra e seu caminho até a cruz e a ressurreição, devem ser anunciados a todos a conversão e o perdão dos pecados.

Todos os homens, portanto, são chamados a converter-se ao Deus que, através do caminho de Jesus, compartilhou nosso destino humano até a morte na cruz e a ressurreição vencedora da morte. Todos os homens são chamados a converter-se ao Deus que demonstrou seu amor e seu poder. 

A conversão se levará no apoiar-se com confiança nas mãos deste Deus, então perdoará todos os pecados e dará a plena comunhão com Ele. O encontro com o Ressuscitado faz dos discípulos verdadeiras testemunhas. Todo anuncio deve partir deste testemunho e não de especulações, ideias ou opiniões pessoais e sim sobre o fato mesmo e sobre as instruções pascais do Senhor Jesus.

Toda a transmissão da mensagem pascal depende do fato de que os apóstolos são testemunhas oculares dignos de fé e tem prestado um serviço fiel a sua Palavra. Em síntese, Jesus convence seus discípulos da realidade de sua vida nova, os leva à compreensão da Escritura e de seu caminho, lhes mostra o conteúdo do anuncio e em que consiste sua tarefa missionária e finalmente os confirma como seus testemunhos. Sobre esta base se faz a experiência de Jesus ressuscitado.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: