O trigo e o joio (EstudoBíblico)

16º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Ano A

Mateus 13,24-43

IV. O mistério do Reino dos Céus

2. DISCURSO EM PARÁBOLAS

(A parábola do trigo e do joio; do grão de mostarda e do fermento;

As multidões só entendem parábolas;

Explicação da parábola do trigo e do joio)

Introdução

Continuamos a leitura do discurso em parábolas de onde havíamos deixado domingo passado depois da parábola do semeador.

Este domingo se nos propõem outra três parábolas:

  • a parábola do joio semeado em meio do trigo com sua explicação,
  • a parábola do grão de mostarda e
  • a parábola do fermento na massa

Estas três parábolas e também as demais que inclui este capítulo 13 de São Mateus se introduzem com as mesmas palavras: “O Reino dos céus é semelhante a…”.

Imediatamente nos vem a pergunta: Que é o Reino dos céus? Que quer dizer Jesus com esta expressão que ele usou tão frequente?

Na realidade, do “Reino dos céus” não se pode dar uma definição exata. Tampouco o pôde fazer Jesus. E por isso recorreu às parábolas que estamos lendo.

Após tê-las lido todas teremos uma idéia mais clara sobre esse conceito. Agora diremos que “Reino dos céus” é a expressão que Jesus usou para chamar, de algum modo adequado e verdadeiro, a novidade que entrou no mundo com sua vinda. Na Pessoa de Jesus, Deus mesmo entrou na historia humana.

O Deus que “habita em uma luz inacessível e a quem nenhum ser humano nem o pode ver” (1 Tm 6,16), aquele cujo nome é tão transcendente que nem sequer se podia pronunciar, agora é parte de nossa historia humana; todo homem e toda mulher têm parentesco com Ele, pois todos partilham com Ele a natureza humana.

Isto é o que o quarto Evangelho nos diz em termos vigorosos:

“A Palavra era Deus… A Palavra se fez carne

e fez sua morada entre nós” (Jo 1,1.14).

Já não é um Deus distante e inacessível; agora habita entre nós, se fez um de nós.

O mistério admirável de que o Eterno tenha entrado no tempo e o Imenso se tenha feito uma pequena criança não se pode encerrar em fórmulas exatas; só se pode sugerir.

Com este fim recorreu Jesus ao conceito de Reino dos céus.

São Mateus o põe já na boca do Precursor:

“Por aqueles dias aparece João Batista proclamando no deserto de Judéia:

‘Convertei-vos, porque chegou o Reino dos céus’ (Mt 3,1-2).

São as mesmas palavras com que começa, Jesus Cristo, a sua pregação:

“Desde então começou Jesus a pregar e dizer:

‘Convertei-vos, porque chegou o Reino dos céus’(Mt 4,17).

E é o mesmo que enviou a pregar os seus primeiros enviados:

“Ide proclamando que o Reino dos céus está próximo” (Mt 10,7).

Por meio destas três parábolas que lemos este domingo Jesus Cristo quer destacar alguns aspectos do mistério de sua presença no mundo. 

            Felipe Bacarreza Rodríguez, Obispo de Santa María de Los Ángeles

  1. O texto: Mateus 13, 24-43

O texto de hoje nos indica que o Reino de Deus não é unicamente a plenitude da presença de Deus e a plenitude da felicidade humana, mas também uma história prévia, na qual terá que haver um combate constante entre o trigo e o joio.

Querer superar o combate antes do final da história é um grave pecado de impaciência. O Espírito é quem semeia em nós a Palavra que nos transforma e converte em filhos da luz.

Por isso não estamos no mundo para condená-lo, mas para salvá-lo. E se somos trigo limpo, quer dizer, «justos», um dia nós brilharemos como o sol, no reino do Pai.

O significativo das outras duas parábolas não está, precisamente, em assegurar a “grandeza” futura do Reino, nem muito menos em simbolizar sua atual “pequenez”.

O que nos querem expressar as parábolas é que o Reino, uma vez que se ponha em movimento, ele mesmo se desenvolverá desde a pequenez até a grandeza total, porque tem uma força interior que nada, nem ninguém, poderá frustrar.


O grão de mostarda, esta pequena semente que se faz árvore com ramas poderosas que servem de abrigo para as aves do céu, está bem escolhida para anunciar a grandeza futura do Reino semeado na pequenez por Jesus.

E o fermento? A minúscula pitada do fermento é capaz de fermentar toda a massa; do mesmo modo, o Reino de Deus, inaugurado na debilidade, “levedará”, um dia, toda a massa da humanidade.

  • A estrutura do texto

Está dividido em três partes:

  • As parábolas (vv.24-33)
  • A parábola do trigo e do joio (vv.24-30);
  • A parábola do grão de mostarda (vv.31-32)
  • A parábola do fermento na massa (v.33);
  • A excelência do método das parábolas (vv.34-35);
  • A explicação da parábola do trigo e do joio (vv.36-43).
  • As parábolas (vv.24-33)
  • A parábola do trigo e do joio (vv.24-30)

O texto de hoje, uma das três parábolas da “semente”, nos coloca frente a uma realidade frequente que levamos dentro de nós: a impaciência.

Jesus nos ensina a ampliar os horizontes a partir deste caso concreto e a tomar atitudes em consonância com o modo como acontece o Reino dos Céus no mundo.

A parábola do “trigo e o joio” se desenvolve ante forte contraste de duas realidades opostas que, numa dinâmica própria, conduz à vitoria final daquilo que havia sido ameaçado: o trigo e o joio podem estar juntos durante muito tempo, ainda que em detrimento da primeira, mas, ao final serão separadas.

A parábola responde ao escândalo que sobrevém a alguns discípulos do Senhor: há muito mal no mundo, simbolizado no “joio”, e se quer que Deus intervenha com todo seu poder para colocar o mal em seu lugar e exaltar aos bons, porém parece não acontecer nada.

A parábola nos ensina que aqui na terra tudo se mistura: ao lado dos bons estão os maus. Esta convivência, de acordo com o patrão da parábola, continuará: “Deixai que ambos cresçam juntos até a ceifa” (13,30a).

Mas, isto não deve desanimar os discípulos: de nenhum modo deverão ceder aos ataques do mal. Ao contrario, terão que manter vigilância ativa e esforço um grande de evangelização.

Contudo, há uma luz de esperança: esta situação não durará para sempre. É claro que não dá no mesmo ser trigo ou joio. Dai que, ao final dos tempos, se fará um julgamento: “E ao tempo da ceifa, direi aos ceifadores: Recolhei primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado, quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro” (13,30b).

Pelo destino final que tem cada uma das plantas se compreende que, com as decisões e ações de cada pessoa, se põe em jogo o próprio futuro, o destino final. Portanto, devemos ser responsável com a vida.

Junto a este sentido de responsabilidade que deve ter cada pessoa com sua vida, esta parábola nos deixa uma belíssima lição sobre a paciência: assim como o patrão, Deus dá tempo a cada pessoa para que se habilite e, com esta atitude, estará esperando por sua conversão até o final.

O mesmo devemos, nós, fazer aos nossos irmãos, com os quais temos perdido a paciência, por sua reticência no pecado. É preciso insistir, dar-lhe uma oportunidade, esperar sem desanimar pela sua conversão, a cada dia.

Enfim, tenhamos em conta que há um segundo motivo importante pelo qual o patrão não permite que se arranque o joio.

Este, o sabemos todos, por experiência: ninguém é completamente trigo (é preciso escutar os santos: sempre se reconhecem pecadores) nem completamente joio (não há ninguém que, por muito mau que seja, não tenha, no fundo, um bom coração).

Portanto, não devemos cair na atitude equivocada dos que separam, radicalmente, bons e maus. Em cada pessoa há um pouco de cada.

É preciso examinar-se continuamente, e trabalhar todos os dias pela santidade. Enfim, não compete a nós julgar, mas examinar a nós mesmos (ver também 7,1-5).

As parábolas do grão de mostarda e do fermento na massa (vv.31-33)

Crer no valor pequeno que poderá transformar o mundo

Como vimos, as parábolas do Reino nos educam no discernimento cristão.

Mas deve-se ver que tal discernimento não se faz só no individual, mas também no comunitário. Efetivamente, a comunidade de Mateus parece eclesial em estado de discernimento (um tema que vale a pena explorar amplamente).

Quando as parábolas são examinadas, vai se notando como ali também está contido um retrato de cada comunidade que a escuta.

Estas comunidades necessitavam de animação: para que a semente boa crescesse adequadamente e expressasse todo o seu vigor; e para que as sementes nocivas também fossem detectadas a tempo e, adequadamente, trabalhadas.

Hoje nos encontramos com duas situações típicas da vida comunitária:

  • A parábola do grão de mostarda (vv.31-32)

A imagem do grão de mostarda é útil para mostrar algo que parece insignificante. A pergunta lógica é: de uma coisa tão pequena pode brotar algo de calculável importância? 

A primeira impressão parece negativa. Mas o Reino é, precisamente, assim: sempre começa por ações pequenas e muitas vezes quase invisíveis e, assim, sumamente, frágeis.

Uma comunidade em estado de discernimento deve saber detectar a força do pequeno brotando dentro dela. Trata-se de ações, de iniciativas, de pessoas concretas que se deve valorizar.

  • A parábola do fermento na massa (v.33)

Quando se fazem análises da realidade em função da pastoral, frequetemente se escutam suspiros desconsolados deste tipo: mas, que vamos alcançar, frente a tamanhos desafios?

Então o ceticismo, um dos pecados mais graves na pastoral, nos invade e paralisam a capacidade de criar e de arriscar-se.

A parábola do fermento retrata muito bem o sentimento desproporcional que se acaba de mencionar. Mas a comunidade dos “pequenos” do Reino tem a força do evangelho, que é suficiente para fermentar toda a massa.

O Reino de Deus pode chegar, com sua capacidade penetrante, a todas as realidades humanas, mesmo as mais escondidas e difíceis, para realizar sua obra. É importante recordar que o Reino de Deus está ai para chegar a todos.

  • A excelência ao método das parábolas (vv.34-35)

No fato de que Jesus fale em parábolas às mul­tidões ver, Mateus, aí, o cumprimento do Salmo 78,2. Para ele, todo o Antigo Testamento tem valor profético (cf.5,17;11,13).

A menção das parábolas e das multidões fecha a inclusão aberta no versículo 3. A razão disso é dita por Jesus mesmo: as multidões estão impedidas de receber a mensagem com clareza, devido a ideologia messiânica nacionalista que espera a restauração gloriosa do reino de Israel.

“As coisas escondidas” correspondem ao secreto do reino (v.10). Nunca se havia dado uma revelação semelhante do reinado de Deus.

Estas parábolas revelam um conceito de Deus muito diferente do que aparece no Antigo Testamento. Não é o Deus triunfador, o inacessível, mas o Deus hu­milde.

Dentro da historia sua obra não é esplendorosa, mas mo­desta (como o grão de mostarda); não se faz sem obstáculos, mas entre eles (como o joio). O amor é ao mesmo tempo forte e débil.

  • A explicação da parábola do joio (vv.36-43)

Assim como a parábola do semeador,esta parábola, ele a interpretou pessoalmente. A explicação foi dada em resposta à pergunta dos discípulos: “Explica-nos a parábola do joio do campo” (v.36).

A passagem, na qual Jesus explica a parábola do trigo e do joio, nos permite, nesta ocasião, colorir, mesmo que brevemente, seu contexto.

Com esta parábola Jesus (e a comunidade de Mateus) estava dando uma resposta ao movimento fariseu de segregação muito forte na época. 

Segundo os fariseus, somente os “puros” (ritualmente falando) poderiam constituir a comunidade da aliança com Deus. Jesus, ao contrário, como já temos visto, misturava-se com pecadores e admitia, em sua companhia, os publicanos.

  • Conclusão

O tema da “paciência de Deus” volta a aparecer neste contexto. Os fariseus não usavam pedagogias para acompanhar os processos de volta a casa “das ovelhas perdidas da casa de Israel” (10,6). Simplesmente se faziam acenos de categorias de pessoas e se anunciava o castigo vindouro para quem perseverava na pérfida conduta. Porém, a aceitação da evangelização é a paciência.

A explicação da parábola, de todos os modos, recorda que há um juízo de Deus. O faz de maneira total para provocar no ouvinte uma atitude mais vigilante e cuidadosa no cumprimento da Palavra. Porém é claro que a finalidade não é infundir terrorismo espiritual.

Ao julgamento de Deus deve corresponder uma Igreja que não negocia os princípios do evangelho, e que mantém o anuncio, ainda que nas ocasiões nas quais não encontre a esperada resposta.

Sem dúvida, é mais importante a pedagogia da paciência que trabalha, a fundo, as realidades negativas que se opõem ao evangelho.

Para isso, o primeiro passo não pode ser o julgamento (“a arrancamos?”), mas o respeito; não a intransigência, mas a misericórdia de quem sabe aproximar-se com a prontidão de Jesus (assim foi com o leproso, o centurião, os gadarenos, levi …; não foram, inicialmente, dignos dele). E não esqueçamos que, de todas as maneiras, o terreno é d’Ele.

  • Aprofundemos com os Padres da Igreja:

Digo a vós, minhas ovelhas: isto disse o Senhor Deus: “Eis que eu julgo entre ovelha e ovelha, e

entre carneiros e cabritos” (Ez 34,17). Que fazem os cabritos no rebanho de Deus?

Estão aqui nos mesmos pastos, nas mesmas fontes; esses cabritos destinados à esquerda, estão com as ovelhas destinadas à direita; porém logo serão separados os que até então haviam sido tolerados. Deste modo se exercita a paciência das ovelhas, igualmente que a paciência de Deus.

Virá a hora em que fará a separação: uns à esquerda; outros à direita.

Agora Ele cala, enquanto queres falar. Por que queres falar? Porque Ele cala. Tu alegas vingança do juízo, não a palavra de correção. Ele não separa ainda e tu já queres fazê-lo. O que semeou tolera.

Se queres que o trigo esteja limpo antes da colheita, farás mal (…)

Que disse acerca do trigo? No tempo da colheita direi aos ceifadores: Recolhei primeiro o joio, atai-o

em feixes para queimá-lo; meu trigo, em troca, guardai-o no celeiro. Passará a promiscuidade do campo; virá a separação da messe. O Senhor exige de nós a paciência que apresenta em si mesmo,

ao dizer: Se eu quisesse julgar agora, seria injusto meu juízo? Se quisesse julgar agora, poderia equivocar-me, acaso? Se, pois, eu que sempre julgo retamente e não posso equivocar-me, retardo

meu juízo, como te atreves a julgar antes de tempo, tu que ignoras como serás julgado?.

Vede irmãos, como o dono não permitiu aos servos, que queriam arrancar o joio antes de tempo,

que o fizessem nem sequer na colheita. Disse, em efeito: No tempo da colheita direi aos ceifadores: Não disse: “Direi a vós”. Mas, que ocorreria, se os próprios servos fossem os ceifadores? Mas não.

Expôs tudo, detalhadamente e disse: Os ceifadores são os anjos (Mt 13,24-30;37-43).

Tu, homem limitado pela carne, que levas a carne, e que, talvez, não és mais que carne, quer dizer, carne no corpo e carne no espírito, te atreves a usurpar, antes de tempo, um oficio alheio, que nem sequer a colheita será tua? Isto com respeito à separação da cizânia.

Que disse dos cabritos? Quando vier o Filho do homem, e todos os anjos de Deus com Ele, se sentará no trono de sua glória, congregará em sua presença todos os povos e os separará como o pastor separa as ovelhas dos cabritos (Mt 25,31-32). Virá e os separará. Chegará a colheita e eles serão separados. Agora, pois, não é tempo da separação, mas da tolerância.

E não dizemos isto, irmãos, para que durma o afã de corrigir. Mas, para, ao contrário, não chegar como incautos àquele juízo, ou como cegos que descuidam de sua cegueira; para que não nos encontremos, de repente, à esquerda: com este fim, imponha-se a disciplina, porém não se antecipe o juízo.

(Santo Agostinho, Sermão 47,6)

  • Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
  1. Que ensina a parábola do trigo e do joio?

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Por que não foi arrancado o joio imediatamente?

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  • O mal no mundo atormenta e leva até a protestar a Deus: “por que não intervéns?”.

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Que implica a paciência de Deus para aqueles que fazem frente ao mal?

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Deus aprova o mal que fazem? Que exige Deus?

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Qual minha atitude ante algumas situações de pecado que são evidentes na sociedade na qual vivo?

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  • Que é a pedagogia da paciência?

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Como se prega hoje o julgamento de Deus?

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O tema nos diz algo?

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  • Qual é o ensinamento central das parábolas do grão de mostarda e do fermento?

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  • A comunidade em que vivo também necessita ser motivada e animada para que não perca a confiança ante àquilo que parece ultrapassar suas capacidades de transformação?

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Que atitudes devem caracterizar uma comunidade missionária?

Pe. Fidel Oñoro, cjm

Centro Bíblico del CELAM

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