“Quem não é contra nós é a nosso favor”. (EFC)
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Marcos 9,38-40
“Porque quem não é contra nós é por nós”
Situamo-nos na instrução que Jesus dá aos doze em Cafarnaum (9,33-50) imediatamente depois do segundo anuncio da Paixão. Cafarnaum é um dos lugares nos quais mais agiu Jesus (Mc 1,21; 2,1ss). Esta é a última vez que se menciona esta cidade no Evangelho.
Os discípulos já não estão no caminho, mas em uma casa (9,33; 1,29; 2,1; 3,20). Na visão que Marcos nos dá do discipulado, a “casa” é o lugar do aprofundamento: ali é onde os discípulos pedem a Jesus que aprofunde algum de seus ensinamentos ou, ao contrário, onde Jesus lhes faz pergunta e lhes esclarece situações.
Depois de ter confrontado seus discípulos sobre o tema que vinham conversando pelo caminho (9,33-34), Jesus lhes explica que o verdadeiro caminho para a grandeza é o da pequenez humilde no serviço (9,35-37); logo lhes fixa o comportamento com relação aos que não são da comunidade (9,38-40).
É o que nos fala o evangelho de hoje. A passagem esta formada:
- por um diálogo entre João e Jesus (v.38);
- pela resposta de Jesus (vv.39-40)
O relato de João
Um dos três discípulos mais próximos a Jesus, o discípulo João (3,16-17; 5,37; 9,2; 14,33), expõe a Ele algo que aconteceu aos discípulos: “Mestre, vimos alguém que expulsava demônios em teu nome e não vem conosco e tratamos de impedir-lhe porque não vinham conosco” (9,38).
Ao contrário do relato anterior, os discípulos não ficam calados ante Jesus, mas lhe contam o que lhes causou preocupação – uma pessoa que expulsava demônios valendo-se do nome de Jesus – e a maneira como resolveram o conflito – o proibiram
O tema da expulsão de demônios aparece desde o começo do ministério de Jesus (1,25.39…) e fez parte da recomendação que Jesus deu a seus missionários (3,15; 6,7.13).
Não esquecer que está também entre os objetivos do discipulado: “Estar com Jesus e ser enviados a pregar com poder de expulsar demônios” (3,15). Apesar de ter cumprido o encargo (ver 6,30), depois de sua resistência frente ao tema da Cruz, os discípulos pareciam impotentes para expulsar demônios (9,18.28).
Mas o argumento que os discípulos dão para impedir que outra pessoa faça o mesmo é: “Porque não vinham conosco”. Quer dizer, que somente quem é discípulo de Jesus e pertence ao grupo dos discípulos pode também agir em seu nome.
A resposta de Jesus (9,39-40)
A reação de Jesus parece desconcertante, já que desautoriza o que fizeram os discípulos. Jesus dá um critério a seus discípulos: onde se faz o bem no nome e com o nome seu, não há que impedir-lhe. Mas isto não quer dizer que uma pessoa assim esteja sendo admitida automaticamente como discípulo seu.
Simplesmente a correção é posta em horizonte mais amplo:
- É positivo o fato de que essa pessoa:
- se abstenha de falar mal dele (9,39);
- de agredir a Ele a e seus discípulos (9,40).
- É bom que uma pessoa faça o bem, ainda no mínimo, como dar um copo de água, com a consciência de que os discípulos “são de Cristo” (9,41), já que está assegurada a recompensa.
Se é verdade, por una parte, que os discípulos estão em estreita relação com Deus (“são de Cristo”, 9,41a), também é verdade que Deus não só bendiz a eles, mas a todo o que faz o bem (“não perderá sua recompensa”, 9,41b).
Se este é um valor que Deus reconhece a todos, então os discípulos devem fazer o mesmo. Dai que o grande parâmetro do comportamento dos discípulos também tenha vigência no campo conflitivo com os de fora da comunidade: “Ser o último de todos e o servidor de todos” (9,35).